Será que Sérgio Moro sempre quis ser político?

Política não é para amadores, principalmente para quem quer se tornar presidente da República

Sergio Moro em evento do PSDB. Foto: Alexssandro Loyola/PSDB
Sergio Moro em evento do PSDB. Foto: Alexssandro Loyola/PSDB

Por Francis Ricken*

Sérgio Moro sempre foi político, mesmo quando não era oficialmente e exercia o cargo de juiz federal. Suas atuações e falas sempre foram voltadas ao mundo da política, uma postura incompatível com a função de magistrado e que foi determinante para sua suspeição pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento de Lula junto à Justiça Federal.

Moro sempre teve intenções políticas, e isso se comprovou quando aceitou de pronto o insignificante cargo de ministro da Justiça logo após a vitória de Jair Bolsonaro, em 2018, gerando apoio de seus seguidores ao presidente eleito. Em poucos meses, sentiu o peso de estar alinhado a Bolsonaro e ser subordinado a um presidente avesso ao diálogo e autoritário.

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O ex-juiz foi desautorizado como ministro em frente às câmeras e fritado por aqueles que um dia foram seus apoiadores claros. A sua saída da Esplanada dos Ministérios no dia 24 de abril de 2020 foi cercada de pompa e circunstância e gerou uma comoção que colocava o já combalido governo Bolsonaro nas cordas, mas foi apenas uma impressão. O presidente, como político astuto que é, virou o jogo e colocou Moro na lona. A saída foi tentar a vida fora do Brasil, na iniciativa privada, prestando assessoria para uma das empresas afetadas economicamente pela Lava-Jato, o que não pegou bem e, pelo jeito, não deu certo.

O retorno de Sérgio Moro ao Brasil soou como triunfal e, dessa vez, como possível candidato à Presidência da República em 2022. Diversos partidos conservadores cobiçaram seu nome, mas a sua escolha foi pelo Podemos, a sigla de todos os senadores do Estado do Paraná. Álvaro Dias, criador do partido, gostaria de ter Moro ao seu lado, mas tinha medo de que as pretensões do ex-juiz fossem ao Senado Federal pelo Paraná, o que inviabilizaria a sua reeleição ao cargo que exerce desde 1999.

O acordo foi que Moro seria cabeça de chapa presidencial do Podemos, e caberia ao candidato viajar pelo Brasil propagando seu nome e colhendo os louros da vitória, porém, a realidade veio em poucos meses, quando percebeu que o partido que escolheu era pequeno para suas pretensões e que seus aliados tinham mais medo dele que vontade de apoiar. Junto a isso, vieram as pesquisas que mostraram sua incapacidade de superar um dígito na intenção de votos. Sem apoio, sem caixa suficiente para a campanha presidencial, tendo como adversário de primeira ordem o presidente da República, Moro caiu na realidade e viu que aquela popularidade de 2018 acabou com o fim da operação Lava Jato. Todo mundo quer o apoio de Sérgio Moro, mas ninguém quer apoiar a sua candidatura.

No finalzinho do prazo de definição de filiação partidária para as eleições 2022, Moro ouve o canto da sereia que vem do maior partido com representação no Congresso Nacional, o recém-criado União Brasil. Com toda a certeza, o ex-juiz viu a possibilidade da sua última cartada e aceitou a filiação ao União, em detrimento do Podemos. O cálculo era de que seria ovacionado pelos membros do partido e alçado a candidato da tão falada terceira via. Seria sua volta por cima, só faltou combinar com seus colegas de agremiação.

Alguns dias depois da sua filiação, e sem saída para trocar de partido para as próximas eleições, Moro recebeu o comunicado de ACM Neto, dizendo que suas pretensões à Presidência da República não seriam possíveis dentro do União Brasil. Moro foi emparedado por seus aliados e pela sua inexperiência política que o colocaram nessa situação de fragilidade eleitoral. Sem teoria da conspiração, sem justificativa para os erros cometidos, Moro é adulto e capaz, e, sem dúvida, se colocou na situação em que se encontra.

A política não é para amadores, principalmente para aqueles que querem alçar o Palácio do Planalto. Para Moro, resta uma disputa interna no partido para uma vaga no Senado Federal pelo Estado de São Paulo, domicílio eleitoral que o ex-juiz escolheu em detrimento do Paraná, seu estado de origem. Na pior das hipóteses, será um deputado federal muito bem votado do União Brasil, o que deve ajudar seus colegas de partido a serem eleitos. A Moro, resta juntar os cacos e se submeter à situação que entrou ou desistir de mais uma empreitada política.

*Francis Ricken é advogado, mestre em Ciência Política e professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo (UP).

Publicado originalmente no site Banda B.

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