Um sopro de jornalismo no fim de semana

Neste final de semana, parece que um sopro de jornalismo moribundo varreu os últimos factoides plantados ao longo dos últimos meses.

Começou com a entrevista com o presidente da Colômbia Juan Manuel Santos às Páginas Amarelas da Veja.

Elogiou a diplomacia brasileira, os interesses comuns com o Brasil, admitiu que muito do que sabe sobre negociações aprendeu com diplomatas brasileiros.

A repórter Mariana Pereira de Almeida segue a risca a pauta definida pelo aquário. Diz que o partido de Lula, o PT, rem relações documentadas com as FARCs. Pergunta se Santos pretende obter de Lula o repúdio às FARCs.

Deve ser estranho a um dirigente de país latino-americano embarcar naquele que supõe ser o mais moderno país do continente e ser exposto a tais tipos de indagações, próprias de ambientes mais anacrônicos.

Santos reportou-se à visita do Ministro Nelson Jobim à Colômbia, onde declarou peremptoriamente que os guerrilheiros seriam recebidos a tiros se entrassem em território brasileiro. Completa dizendo não ter percebido nenhuma simpatia de Lula com o terrorismo.

A intréprida repórter prossegue com o jornalismo-intriga. Menciona os tais documentos encontrados no computador de Raul Reys (chefe das FARCs morto em 2008), revelando «contatos amigáveis» com o PT.

Resposta de Santos: é possível que tenham ocorridos os contatos, assim como com diversos políticos colombianos, «inclusive comigo».  E a resposta óbvia: «Uma coisa é estabelecer contatos; outra é ser cúmplice».

Não sei o que mais disse. O fato da revista ter deixado passar respostas honestas, que vão contra suas elucubrações, é espantoso. Mas aconteceu.

O segundo sopro foi a entrevista da Época com o ex-Ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (clique aqui).

Luiz Carlos manifesta a indignação com a quebra do sigilo mas é absolutamente racional e responsável nas suas respostas, não se mostrando disposto a participar de jogadas políticas.

ÉPOCA – Estamos distantes desse tipo de situação no Brasil, mas há governos na América Latina lançando mão de todo tipo de expediente condenável para manter o controle sobre a sociedade. Qual é o risco de que isso aconteça no Brasil?
Mendonça de Barros –
Esse tipo de comportamento político se desenvolve muito rápido em sociedades estruturadas institucionalmente de modo mais frágil. O Brasil tem instituições muito mais fortes e muito mais preparadas para enfrentar esse tipo de situação. Há outra vantagem aqui no Brasil. Se o governo tentar alguma coisa nessa linha, vai ser mais fácil identificar. E, se isso acontecer, não tenho dúvida de que a sociedade aqui no Brasil vai reagir. A começar pela imprensa. Se há alguém com condição de saber aonde isso chega, é a imprensa, porque é o primeiro veículo da sociedade a ser atacado e com mais virulência. Sinceramente, considerando os oito anos de governo Lula, não me parece crível que uma sucessora sua vá trilhar esse caminho. Mas aí vale aquela máxima: não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem.

ÉPOCA – A campanha da candidata petista Dilma Rousseff negou envolvimento com a quebra do sigilo, e o presidente do PT, José Eduardo Dutra, disse que o partido é o maior interessado em esclarecer os fatos e na punição dos culpados. O senhor acredita nisso?
Mendonça de Barros –
Acredito. Porque esse tipo de ação é tão truculento, tão medíocre e tão limitado que certamente vem de pessoas com menos sofisticação política do que o núcleo central do governo. Que vantagem eles teriam com uma coisa dessas? Mas sabemos que, dentro do todo político do governo Lula e, agora, da campanha da ex-ministra Dilma, existe um grupo mais truculento mesmo. Os nomes dessas pessoas sempre estiveram vinculados a ações desse tipo, como foi no caso da compra de dossiê contra o Serra em 2006 (no episódio que ficou conhecido como “escândalo dos aloprados”).

ÉPOCA – O fato de terem sido acessados irregularmente os dados do Ricardo Sérgio de Oliveira, também personagem do grampo de privatização da Telebrás, chama a atenção do senhor?
Mendonça de Barros –
A única coisa que me chama a atenção é que esse pessoal tem um software muito ultrapassado das relações do Serra. O Ricardo Sérgio, ao que eu saiba, não tem relação nenhuma hoje com o Serra. Um dos indícios de que a origem desse processo é de gente que tem mais truculência do que inteligência são esses pequenos detalhes. Eles usaram uma relação que talvez tenha sido importante e forte no passado, mas que não tem mais nada a ver nos dias de hoje.

 

 

Luis Nassif

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