Uma análise do comparecimento de eleitores às urnas em 2018, por Jairo Nicolau

Presença do eleitorado no primeiro turno de 2018 pode favorecer Lula em 2022

Foto: Ricardo Stuckert

Por Jairo Nicolau*

Pela primeira vez, olhei com calma os dados do comparecimento eleitoral no primeiro turno das eleições presidenciais de 2018. Fui motivado por uma série de matérias surgidas nos últimos dias sobre quais candidatos à presidência poderiam se beneficiar da abstenção em 2022.

Nesse texto, analiso a relação entre o comparecimento e três variáveis: escolaridade, sexo e faixa etária. Ao contrário da tradição brasileira de assinalar o número dos que não foram votar (abstenção), prefiro enfatizar o número dos que foram votar. Não se trata apenas de uma questão de enquadramento, mas também de seguir a estatística internacional sobre o tema, que também usa o comparecimento.

Os dados originais foram disponibilizados pelo TSE e trabalhados por mim. Até aonde eu saiba, essa forma de apresentá-los é inédita.

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Os principais achados podem ser resumidos em cinco tópicos:

  1. Além se serem maioria no eleitorado, as mulheres comparecem mais do que a dos homens. No primeiro turno de 2018 o percentual de comparecimento feminino foi de 80.4%, enquanto o masculino foi de 79,2%.
  2. A escolaridade do eleitor é um fator decisivo para o comparecimento eleitoral; o percentual cresce de maneira constante à medida que aumenta a faixa de escolaridade. Entre os analfabetos, apenas 49,2% compareceram às urnas, enquanto entre os eleitores com curso superior o percentual de comparecimento foi de 88.4%, uma diferença de mais de quase 40 pontos percentuais. Vale lembrar que o voto não é obrigatório para os analfabetos.
3. Apenas nas duas faixas inferiores (analfabetos e eleitores que sabem apenas ler e escrever) o comparecimento masculino é superior ao feminino. Nas outras seis faixas, as mulheres compareceram mais do que homens.
4. A segmentação por faixa etária não revela diferenças tão intensas quanto a observada na escolaridade. Chama a atenção apenas a baixa participação de eleitores com mais de 70 anos. A partir dessa idade, o voto deixa de ser obrigatório e a norma parece ser decisiva para a abstenção desse segmento.
5. Nas faixas etárias até os 59 anos a participação feminina supera a masculina. Na faixa entre 60 e 69, os homens participam um pouco mais do que as mulheres. Depois de 70 anos, apenas 33.2% das mulheres comparecem às urnas.

Se o padrão observado em 2018 se repetir em 2022, há uma boa e uma má notícia para a candidatura Lula. A boa é uma maior participação eleitoral das mulheres. Os números são pequenos, mas lhe favorecem. A má notícia é que eleitores de baixa escolaridade comparecem muito menos do que os de escolaridade alta e média; até agora, as pesquisas mostram que Lula lidera com folga entre os eleitores que cursaram até o fundamental completo ou não foram à escola.

Em 2018, a escolaridade foi um fator fundamental para a vitória de Bolsonaro (ele obteve amplo apoio dos eleitores de média e alta escolaridade). Pode ser novamente em 2022 para a vitória de Lula. Mas é fundamental que seus potenciais eleitores compareçam para votar. A convocação para que os eleitores de baixa escolaridade (e baixa renda) saiam de casa no dia 2 de Outubro pode ser decisiva para Lula.

*Jairo Nicolau é cientista político e professor titular da FGV

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

Redação

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