Michelle Bachelet eleita nova Presidente do Chile

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Frederico Füllgraf

Santiago do Chile

Especial para o Jornal GGN

Como era esperado, a pediatra divorciada, mãe de três filhos e ex-Presidente (2006-2010) Michelle Bachelet ganhou também o segundo turno da disputa presidencial com 62% dos votos contra 37% da candidata  direitista Evelyn Matthei, deste modo consagrando-se como a primeira mulher a governar pela segunda vez o Chile.

Matthei, ex-ministra do Trabalho do governo Sebastián Pinheira, que substituiu o candidato escolhido nas prévias partidárias da Alianza direitista, Pablo Longueira – no meio da campanha afetado por grave crise de depressão e desde então recolhido a emblemático silêncio – chorou diante dos jornalistas. Seu pai, o Gal. da reserva, Fernando Matthei – que em 1974 ignorou a prisão do colega, Brigadeiro Alberto Bachelet, ministro de Salvador Allende e pai da presidente eleita, preso, torturado e morto nas dependências da Aeronáutica pinochetista – denunciou que sua filha foi deixada “sozinha” durante a campanha, confirmando as brigas e defecções nas hostes da direita, que após um interregno de 4 anos do governo de Sebastián Piñera, 24 anos após o fim da era Pinochet retorna à oposição.

“O resultado é de minha exclusiva responsabilidade, não fui capaz de nadar contra a maré”, lamentou Matthei em coletiva à imprensa. Ato de decência, ocorido na contramão de todas as expectativas que a identificam por seu estilo habitualmente rude e palavras grosseiras, Matthei dirigiu-se à sede do comando de campanha de Michelle Bachelet, onde foi felicitá-la.

Contudo, durante o debate televisivo realizado entre as duas candidatas, dez dias atrás, Matthei, em ato de desespero, advertiu os telespectadores que, caso eleita, as medidas anunciadas por Bachelet (leia também “Michelle Bachelet: entre “os mercados” e o clamor das ruas https://jornalggn.com.br/tag/blogs/michelle-bachelet) “destruirão o crescimento econômico no Chile”.

De nada adiantou, a imagem de Bachelet parece intocável. Comentando a vitória da ex- Diretora Executiva de ONU-Mulheres, o sociólogo Alberto Mayol, da Universidade do Chile, disse no domingo à noite: ““Ela não pode se equivocar, mas sempre se equivoca com  boas intenções. Quem se engana são os que estão no seu entorno,  e quanto mais perversos e siniestros sejam os que a rodeiam,  mais ela resplandece. Então ela é uma figura cristológica. É invulnerável.”

Mas nem tudo são rosas para os comandos partidários. O novo voto facultativo já supreendera situação e oposição um mês atrás, durante o primeiro turno da campanha, encerrado com 52% de abstenções. Apesar do insistente apelo, principalmente de Michelle Bachelet e da coligação de centro-esquerda Nueva Mayoría, mais 700 mil eleitores optaram por gazear o ato cívico, elevando o índice de abstenções para 59%.

Não há consenso sobre os motivos dos chilenos para matar a elieção. Se por um lado, com esses números o Chile poderia equiparar-se ao comportamento eleitoral nos EEUUA ou  na Alemanha, países onde o voto facultativo revela acentuado aumento de abstenção nos últimos 20 anos, por outro, setores da esquerda chilena não alinhados com a Nova Maioria justificam o abstencionismo como sinal de advertência ou “impugnação” a suposta falta de credibilidade da coligação de Bachelet para reduzir as gritantes desigualdades sociais. Que a abstenção forçosamente beneficiaria a direita, é argumento refutado com alusão à tendência verificada já no início do ano, quando as primeiras pesquisas de opinião registravam a queda livre dos índices de popularidade de Sebastián Piñera e, em sentido oposto, a certeira vitória de Michelle Bachelet como seu sucessor.

De todos modos, Bachelet registra duas marcas inéditas na história politica do Chile: não apenas é a primeira mulher a governá-lo pela segunda vez, mas a que, com 62%, alcança o mais alto índice de votação de todos os presidente eleitos após a era Pinochet.

Contudo, a presidente eleita sabe que até sua posse em 11 de março de 2014, o país estará distraído com as festas de final de ano e as férias de verão, mas que no dia seguinte vence a trégua dos movimentos sociais que cobram profundas reformas para a redução das desigualdade sociais.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Foi uma vitória de Pirro?

    Foi publicado aqui, do mesmo autor acima, a matéria: “Chile: a vitória de Pirro de Michelle Bachelet

    Foi uma vitória esmagadora da candidatda da esquerda oposicionista desde o primeiro turno onde teve quase o dobro da canditdata do governo, imensa vantagem agora confirmada no segundo turno.

    Bachelet venceu as eleições mesmo com a economia bombando nos últimos anos, o que demonstra que o crescimento não é suficiente para garantir vitórias (Não é a economia, estúpido). No primeiro semestre deste ano o PIB do Chile cresceu 4,3% e no segundo semestre o crescimento foi de 4,1% ante igual período de 2012. Em 2012 o PIB cresceu  5,6% e em 2011 alcançou 5,9%

  2. Vitória de Bachelet

    Assis, exatamente, se é isto que você falou, acabou aquela certeza que se a economia andasse bém, o candidato fatalmente ganharia a reeleição, agora é preciso mesmo que o social ande na frente! 

  3. Deus salve a América do Sul!

    O Chile, como o Brasil, também precisa de uma vez exorcizar os resquicios da ditadura. Ha trinta anos, o general Matthei colaborou com um regime fascista, hoje sua filha colhe os frutos. Avante, Michelle!

  4. Pinochetando

    “Bachelet ya fue presidenta (…). Ella no hizo mucho comparado con los que estuvieron antes que ella, especialmente Pinochet. Si pasa eso buscamos otro Pinochet.”

    (Del empresario chileno Sven von Appen, millonario y uno de los dueños del Grupo Ultramar, al emitir su voto ayer en ese país.)

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