O estilo Murdoch e o caso Chalita pela Veja

Pessoal, essa matéria do Terra vale a pena ser postada.

Rebekah Brooks não escreverá sobre Gabriel ChalitaReutersFoto de arquivo mostra o magnata Rupert Murdoch acompanhado de Rebekah Brooks, ex-executiva da News International

Foto de arquivo mostra o magnata Rupert Murdoch acompanhado de Rebekah Brooks, ex-executiva da News International

Edmilson Lopes Júnior
De Natal

 

Quando me deparei com a notícia da prisão de Rebekah Brooks não pude deixar de pensar em Gabriel Chalita. Pela manhã, enquanto amargava a espera na fila do supermercado, ao folhear uma revista semanal que é disposta aos montes perto dos caixas, fui levado a leitura de uma, como direi?, “matéria” sobre o político paulista. Tradução de um jornalismo em ascensão nestes tristes tópicos, o texto sobre ex-secretário de Educação de São Paulo em tudo era similar aos materiais produzidos alhures por órgãos de imprensa de um império cujas práticas nefastas começam a ser agora desnudas.

Gabriel Chalita, fosse súdito da rainha, poderia ter sido vítima de um dos asseclas de Rebekah Brooks. Mas o fato de ter nascido nos trópicos não o livrou do jeito Brooks de fazer jornalismo. Quem quiser conferir, procure a tal revista.

Voltemos à Brooks. Ela foi nada menos que a editora do recém-falecido tabloide sensacionalista “News of the World”, um dos braços mais vistosos do império midiático de Murdoch na Inglaterra. A publicação foi alavancada por um jornalismo similar ao que se praticou na edição deste final de semana da tal revista contra Gabriel Chalita. O que alimenta esse tipo de publicação é a divulgação de situações e dados de celebridades. Para conseguir esse intento, vale quase tudo. Até a mobilização de serviços para-policiais, como o fez (ou mandou fazer), a torto e a direito, contra famosos e anônimos, a jornalista agora presa.

Brooks era admirada e temida. Próxima do círculo de poder de Murdoch, ela aparecia, em não poucas fotos, sempre sorridente ao lado do seu poderoso chefe. Talvez essa proximidade tenha lhe dado a certeza da impunidade e lhe tirado qualquer senso de limite. Amarga, agora, a desgraça que atinge o império do qual foi uma das comandantes.

As fronteiras entre o jornalismo investigativo e o contrabando de informações de interesse de grupos que se nutrem são sempre tênues. Essas fronteiras só funcionam quando determinados limites éticos são impostos. Foi isso o que faltou ao News of the World. Não é leviano suspeitar que coisa parecida ocorra nestas plagas.

Obviamente, esse jornalismo não impõe sua pauta a uma sociedade inerte, dominada. É esta que, treinada pela assistência de reality shows, quer consumir mais e mais escândalos e intimidades das celebridades. E os políticos, com a dessacralização de sua atividade, quedaram-se felizes a essa bizarra condição de celebridades. Não adianta vituperar, como o fazem os adeptos de escatológicos teorias da conspiração, contra a subordinação dessa ou daquela publicação a determinados interesses políticos. Na verdade, não são jornais e revistas que se orientam pela defesa de determinados interesses políticos, mas grupos políticos que se subordinam ao universo moral e ideológico de uma imprensa sem travas éticas na produção de suas mercadorias.

Rebekah Brooks não escreveu, e nem escreverá, sobre Gabriel Chalita. O político paulista, repentinamente transformado em vidraça, sobreviverá ao para-jornalismo de que foi alvo. Outras vítimas virão. Mas, certamente, poucos questionarão essa prática jornalística entre nós. Quem o fizer corre o risco de ser encarado como mais um ressentido inimigo da “liberdade de imprensa”.

Pensando bem, Brooks deveria vir para o Brasil e investigar o Chalita. O que de pior poderia lhe ocorrer? Tornar-se âncora de algum programa de TV…

Luis Nassif

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