Um retrato da violência policial na quinta-feira, 13 de junho

Jornal GGN – A manifestação contra o aumento da tarifa do transporte público na cidade de São Paulo, convocada pelo Movimento Passe Livre e outras agrupações políticas e sociais, foi violentamente reprimida pela polícia nesta quinta-feira (13). A manifestação começou de forma pacífica, em frente ao Theatro Municipal, no Viaduto do Chá, no centro da cidade e a poucos metros da Prefeitura. A maior parte dos participantes eram jovens que passaram pela revista ostensiva feita por soldados da Polícia Militar, sob ordens do Tenente-Coronel Ben-Hur Junqueira Neto, antes de cantar palavras de ordem e fazer discursos contra o que consideram uma tarifa de transporte urbano excludente, além da intransigência das autoridades.

Em seguida à concentração no Municipal, a multidão começou a caminhar pela Rua Barão de Itapetininga, a todo momento acompanhada pela força policial. A meta era chegar à Avenida Paulista. A princípio, a PM bloqueou a trânsito da Avenida Ipiranga para permitir que os jovens caminhassem em direção à rua da Consolação. Nesse momento, cerca de 10 mil manifestantes marchavam pelas ruas de São Paulo.

Quando os primeiros manifestantes chegaram à altura da Praça Roosevelt, no encontro a Ipiranga com a Consolação, foram bloqueados por uma barreira de viaturas e motos da PM. Depois de muita negociação entre manifestantes e policiais, as autoridades informaram que fora permitido o avanço da manifestação em direção à Avenida Paulista. A permissão teve validade curta: só até a esquina seguinte, a da rua Maria Antônia, cena de famoso confronto entre estudantes de esquerda e da direita em 1968.

Mudança de planos

Foto: Nacho LemusA reportagem do Jornal GGN presenciou uma mudança na postura da polícia no momento em que o comandante  da operação, o tenente-coronel Ben-Hur, trocou seu quepe de tecido por um capacete. Logo em seguida, pequeno destacamento da Tropa de Choque avançou para o meio da rua da Consolação e atacou os manifestantes com tiros de balas de borracha e bombas de gás. O inesperado ataque bloqueou o avanço dos manifestantes e mudou o clima da manifestação, até então tranquila e sem sobressaltos.

Armado com granadas de efeito moral e lançadores de bombas de gás lacrimogêneo, além das escopetas de balas de borracha, e protegido por pesados escudos, o pequeno destacamento era a ponta de lança de uma tropa que passou a mostrar seu lado mais violento.

Alguns manifestantes reagiram à agressão jogando lixeiras, garrafas e pedras nos policiais. Daí em diante, foi uma batalha campal, com os manifestantes tentando fugir para as ruas laterais e subir em direção à Paulista, perseguidos pelos soldados. A seguir, relatos, imagens e sons de uma noite de violência policial indiscriminada como o centro de São Paulo não via há algum tempo.

Relatos da violência

  • – Publicação de Marco Antônio Gomes, no Facebook: “De repente, duas viaturas da Força Tática entraram abruptamente e pararam bem na esquina e os soldados desceram já metendo tiro de bala de borracha na nossa direção. Caraca, poucas vezes na vida tomei susto maior que esse; só comecei a correr e pular feito louco (que ninguém tenha filmado essa minha cena patética) em direção à Consolação… Com todo respeito à polícia, a quem rotineiramente mais defendo do que critico, mas o que testemunhei naquela esquina foi sim uma situação de excesso”.
     
  • – Testemunho de Talita Castro, no Facebook: “A polícia vindo, soltando bombas de efeito moral. Ficou difícil respirar pela primeira vez. Fomos todos sentido Rua Augusta, que estava cheia de carros e ônibus. Começamos a subir pela Augusta, pelo meio dos carros, com a polícia nas nossas costas. Não dava pra voltar pra Consolação pela Rua Caio Prado porque a tropa de choque a havia fechado. A gente tinha que continuar subindo. Até que ficamos novamente encurralados em um quarteirão da Rua Augusta, entre as ruas Dona Antonia de Queiroz e Rua Costa. A polícia começou a soltar bombas na frente e atrás do grupo. Nesse momento, o movimento tinha perdido unidade mas ainda éramos muitos naquele quarteirão”.
     
  • – Do jornalista Elio Gaspari, publicado na Folha de S. Paulo: “Num átimo, às 19h10, surgiu do nada um grupo de uns 20 PMs da Tropa de Choque, cinzentos, com viseiras e escudos. Formaram um bloco no meio da pista. Ninguém parlamentou. Nenhum megafone mandando a passeata parar. Nenhuma advertência. Nenhum bloqueio, sem disparos, coisa possível em diversos trechos do percurso.Em menos de um minuto esse núcleo começou a atirar rojões e bombas de gás lacrimogêneo. Chegara-se a Istambul“.
     
  • – Relato da repórter Giuliana Vallone, da Folha, no Facebook: “Sobre o aconteceu: já tinha saído da zona de conflito principal — na Consolação, em que já havia sido ameaçada por um policial por estar filmando a violência— quando fui atingida. Estava na Augusta com pouquíssimos manifestantes na rua. Tentei ajudar uma mulher perdida no meio do caos e coloquei ela dentro de um estacionamento. O Choque havia voltado ao caminhão que os transportava. Fui checar se tinham ido embora quando eles desceram de novo. Não vi nenhuma manifestação violenta ao meu redor, não me manifestei de nenhuma forma contra os policiais, estava usando a identificação da Folha e nem sequer estava gravando a cena. Vi o policial mirar em mim e no querido colega Leandro Machado e atirar. Tomei um tiro na cara. O médico disse que os meus óculos possivelmente salvaram meu olho”.
     
  • – Da repórter Tahiane Stochero, do G1: “A Tropa de Choque encurralou os últimos manifestantes naquele local e eu fiquei entre eles. As bombas de gás lacrimogêneo em grande quantidade assustaram. Eu corri e me juntei e um grupo de garotas que estava junto a uma parede. Chorei muito e não conseguia respirar de tanto gás. Sim, achei que ia desmaiar e morrer ali. A PM abusou do gás, muita gente passou mal. O que me salvou foi o vinagre, que uma colega recomendou”.

Veja abaixo um momento de repressão policial a manifestantes que pediam o fim da violência durante o protesto:

Redação

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