A prisão de membros do Conselho de Direitos Humanos-PB

Do blog Vi o Mundo

Marcelo Zelic: “Estamos enxugando gelo”

Prezados Conceição Lemes e Luiz Carlos Azenha

Vivemos um momento de muita preocupação no campo dos direitos humanos no Brasil.

Na Paraíba, membros  do Conselho Estadual de Direitos Humanos da Paraíba (CEDH-PB) foram presos ilegal e arbitrariamente enquanto faziam fiscalização institucional de vistoria na penintenciária PB1.

Entre eles, Valdênia Paulino Lanfranchi, advogada e ouvidora de Polícia da Paraíba. Durante muitos anos, ela atou em Sapopemba, bairro na Zona Leste de São Paulo, contra a violência policial e o extermínio de pobres na região. Ameaçada de morte aqui, ela foi para lá, levando junto a sua contribuição e empenho.

Gostaria de ressaltar que uma das atribuições legais dos conselheiros do CEDH é justamente ter acesso a qualquer unidade ou instalação pública estadual para acompanhamento de diligências ou realização de vistorias, exames e inspeção. Essas visitas de monitoramento ao sistema prisional são um direito dos presos e de seus familiares e um dever do CEDH.

POr tudo isso, nós, do Tortura Nunca Mais -SP, nos solidarizamos com eles e pedimos ao Viomundo a divulgação da nota de repúdio (está abaixo) das entidades de direitos humanos da Paraíba contra essas prisões.

Infelizmente, o descontrole de setores das forças policiais não são exclusividade da Paraíba. Está ocorrendo em vários estados. Em Goiás, por exemplo, o que acontece é só a corrupção do Carlinhos Cachoeira? Um relatório produzido pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Goiás mostra que o que acontece é muito mais.

E em São Paulo o que se passa?

Causa-nos indignação o assassinato de Diego Luiz Bandeira, advogado da Comissão de Direitos Humanos da OAB de Caraguatatuba (SP), morto com 14 tiros na última semana, quando  chegava em casa. Diego denunciava irregularidades no presídio local, como o espancamento de presos e a superlotação de celas, e ainda  investigava o enriquecimento ilícito de policiais civis e militares da região. Chegou a montar um dossiê com essas informações.

Resultado: na área de direitos humanos no Brasil,  estamos enxugando gelo.

Atenciosamente,

Marcelo Zelic

Vice-presidente do Grupo Tortura Nunca Mais-SP,  membro da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e coordenador do Projeto Armazém Memória.
      

Nota de repúdio de da Comissão de Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba

O Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos e a Comissão de Direitos Humanos e o Centro de Referência de Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba repudiam o tratamento ilegal, constrangedor e abusivo praticado pela administração penitenciária do PB1, e por policiais militares, dispensado aos membros do Conselho Estadual de Direitos Humanos-CEDH-PB, durante uma fiscalização institucional, no dia 28 de agosto, para averiguar denúncias de familiares de presos sobre irregularidades cometidas naquela unidade prisional.

Faziam parte da delegação padre Francisco Bosco (presidente do CEDH-PB), Guiany Campos Coutinho (membro da Pastoral Carcerária), Socorro Praxedes (advogada da Fundação Margarida Maria Alves), a professora Maria de Nazaré T. Zenaide (Coordenadora do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da UFPB), Valdênia Paulino Lanfranchi (advogada e Ouvidora de Polícia da Paraíba), Lidia Nóbrega (Defensora Pública da União).

A equipe esperou cerca de 1 hora e meia para ter acesso aos pavilhões, ocorrendo esta após autorização concedida através de telefonema por parte do Cel. Arnaldo Sobrinho. Os conselheiros deixaram seus telefones celulares nos seus veículos ou em bolsas na sala da secretaria do PB1 e só adentraram no presídio com uma máquina fotográfica para registrar a situação prisional, o que é de praxe, pois o órgão elabora relatório de monitoramento.

Durante a fiscalização, os conselheiros fotografaram as condições deprimentes, desumanas e contrárias à lei de execução penal das celas coletivas do PB1. Neste ínterim, membros da PM e da Administração Penitenciária do PB1, que antes haviam se negado a acompanhar os conselheiros ao segundo pavilhão, deram voz de prisão aos membros do CEDH-PB conduzindo-os para uma sala da penitenciária e mantendo-os detidos. Nesse período, chegou à unidade prisional reforço policial para transferir os conselheiros detidos para a Delegacia. Os conselheiros comunicaram a ilegalidade que estava sendo cometida, ao Procurador Federal do Cidadão, Dr. Duciran Farena, ao Chefe de Gabinete do governador, Waldir Porfírio da Silva e à Defensoria Pública da União.

Os conselheiros detidos não puderam identificar os agentes penitenciários e os policiais militares envolvidos porque estes não portavam os distintivos de identificação. Logo após a detenção chegou ao estabelecimento prisional, representando a Secretaria da Administração Penitenciária, o Cel Arnaldo Sobrinho que reuniu na sala da direção o chefe de disciplina e os conselheiros detidos. Foi também nesse momento que se apresentou no estabelecimento o Diretor do PB1, Major Sérgio que, mesmo estando de férias, era quem dava as ordens, através do sistema rádio de comunicação, o qual determinou a prisão dos conselheiros, com o argumento de que não podíamos registrar as condições dos apenados.

Somente após a chegada dos representantes do Ministério Público Estadual, Dr. Marinho Mendes e da Ordem dos Advogados do Brasil, Laura Berquó é que os membros do CEDH foram liberados, sob a contestação do diretor do presídio e de membros da PMPB.

Diante da gravidade dos fatos relacionados acima, o Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos e a Comissão de Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba de público reivindicam ao Governador do Estado, Ricardo Vieira Coutinho, o imediato afastamento do Diretor do PB1 e dos demais funcionários estaduais envolvidos no episódio e a abertura de procedimentos administrativos para a apuração dos fatos neste documento denunciados e a punição dos culpados.

João Pessoa, UFPB, 29 de agosto de 2012

 Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos, Comissão de Direitos Humanos e Centro de Referência dos Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba


Luis Nassif

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