Recado à Dona ANVISA

   Escrevo para a Dona ANVISA, pois me disseram ser ela a culpada pelos meus dissabores nos últimos dias.

   Estou fazendo uso de medicamentos controlados, já faz algum tempo. Estava morando em Manaus, e depois de sair do consultório, eu comprava os medicamentos na farmácia, sem problemas.

   Meus problemas começaram, Dona ANVISA, quando tive que viajar. Descobri que não bastava ter a receita, a receita deveria ser de um médico do estado onde eu estivesse residindo. Não entendo porque isso, Dona ANVISA, já que todos os médicos devem ter registro nos CRMs e o registro está disponível na internet… Depois, descobri que para comprar medicamentos controlados com receita emitida em outro estado era ¨necessário que seja acompanhada da receita médica com justificativa do uso, quando para aquisição em outra Unidade Federativa¨, como está no artigo 41 da portaria 344/98. Sinceramente, Dona ANVISA,  porque um médico deve justificar uma receita para uma compra em outro estado, mas não precisa disso no próprio estado? Não entendi.

   A mais de uma semana atrás, ainda com as receitas emitidas em outro estado, estive na Farmácia X (farma-X) e a funcionária que me atendeu disse que havia ali o medicamento de que eu precisava, mas que ela não poderia vendê-lo para mim porque a receita indicava ¨uma caixa com 60 comprimidos¨, mas que na Farma-X havia somente caixas com 30 comprimidos, e portanto ela não poderia vender para mim. É sério isso, Dona ANVISA? Apesar de duas caixas com 30 comprimidos ou uma com 60 comprimidos conterem a mesma quantidade de medicamento, A SENHORA, Dona ANVISA, não permite a venda? Difícil acreditar, minha senhora…. 

   Bom, Dona ANVISA, mas no final das contas consegui receitas com médicos locais.

Mas não pense que meus problemas terminaram não, Dona ANVISA . . . Ficou pior!

   Retornei à Farma-X porque sabia que ali encontraria os medicamentos que procurava. Forneci ao funcionário da farmácia as receitas dos médicos locais com todos os carimbos que a senhora, Dona ANVISA, exige. Tudo em ordem.  Mas ele disse que não poderia me fornecer a quantidade prescrita na receita porque A SENHORA, Dona ANVISA,  não permitia. Eu questionei o funcionário, pois em Manaus, argumentei, nunca tive problemas com isso. O funcionário não gostou dos meus questionamentos, se tornou agressivo e soltou um ¨eu sou Doutor¨… mas teve que ouvir o meu ¨E DAÍ?¨ (Na verdade, Dona ANVISA, ele é famacêutico, mas o MEC permite que profissionais da área médica usem o título de ¨Doutor¨).

  O farmacêutico se afastou e outra funcionária estava me atendendo, e comentei com ela sobre o que ocorreu dias antes, quando outra funcionária disse que não poderia vender duas caixas com 30 comprimidos. A funcionária disse que era regra DA SENHORA, Dona ANVISA, e me convidou a ver uma lista que estava colocada na porta dos armários de remédios controlados, num local atrás do balcão. Fiu lá, mas não consegui verificar nada, pois o funcionário ¨Doutor¨ retornou exaltado e ordenou que eu saísse, pois não podeia estar ali. Eu tentei argumentar, dizer que fui CONVIDADO a ir ali, mas ele falava tanto, uma verborragia tão intensa, que meus protestos acabaram no vazio, Dona ANVISA.

   Claro queo clima já não estava bom, os funcionários não gostaram de serem questionados por mim. Eu argumentei que no Brasil havia liberdade de expressão. Eu sigo as regras, mas não sou obrigado a gostar delas não, Dona ANVISA.

   Aliás, este é o ponto central deste relato: AS REGRAS!

   Seguindo as SUAS REGRAS — segundo os funcionários da Farma-X — Dona ANVISA, saí da farmácia quase meio salário-mínimo mais pobre e com apenas METADE  da quantidade de medicamentos prescritos nas receitas. Eu tive o trabalho de procurar na internet pelas tais ¨regras¨ qua a senhora fez, Dona  ANVISA, e achei o que queria aqui (muito grande esse link, Dona ANVISA):

http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/anvisa/transparencia/!ut/p/c4/04_SB8K8xLLM9MSSzPy8xBz9CP0os3hTQwNfRydDRwN_N2cjA08XVzOPUF-PIGdvI_2CbEdFALBfe1Q!/?1dmy&urile=wcm%3Apath%3A/anvisa+portal/anvisa/trasparencia/assunto+de+interesse/publicacoes+transparencia/faq+-+perguntas+frequentes/medicamentos+controlados++informacoes+gerais

 

Nesse link, achei essa informação, diretamente da Senhora, Dona ANVISA:

A Notificação de Receita “A”  (…) poderá conter a quantidade correspondente no máximo a 30 (trinta) dias de tratamento. (art. 43)

  A receita do meu médico dizia para tomar dois comprimidos por dia, então para 30 dias seriam necessários 60 comprimidos…  Mas na Farma-X eles disseram que A SENHORA,  Dona ANVISA,  Não permirtia vender 60 comprimidos.

 Também não achei referência NENUMA sobre quantidade em cada caixa, quantidade DE caixas permitidas para compra…. Nada do que a primeira atendente me disse quando estive na Farma-X pela primeira vez.

   Sobre um outro medicamento controlado,  a senhora informa, no mesmo site:

A Notificação de Receita “B”  (…) a quantidade para o tratamento correspondente no máximo a 60 (sessenta) dias. (art. 46)

   A receita que eu tinha dizia para tomar dois comprimidos por dia, portanto, pelo que  A SENHORA diz no site, Dona ANVISA, eu poderia comprar 120 comprimidos. Mas eles disseram que a senhora NÃO DEIXAVA, Dona ANVISA,  e permitiram que eu comprasse apenas a metade….

   Claro que nunca mais volto lá….

   Mas Dona ANVISA…. EU NÃO SOU TRAFICANTE, NÃO, TÁ LEGAL?

   Existe muito pré-conceito com usuários deste tipo de medicamento, mas posso garantir: DETESTO TOMAR REMÉDIO! Nunca gostei, para mim eles estão associados à minha epilepsia, que me acompanha a mais de 48 anos.

   Talvez esse pré-conceito explique, em parte, o que ocorreu na Farma-X…

Eu sigo as regras, mas não deixo de  questionar regras idiotas, e me desculpe Dona ANVISA,  haja regra idiota!!!

  Quer saber uma regra idiota?  RETENÇAO DE RECEITA!!!!

   Uma pessoa honesta vai a uma farmácia com uma receita dada por um médico credenciado. A farmácia, fazendo alegações várias e esdrúxulas, vende apenas PARTE dos medicamentos prescritos na receita. O cidadão, para ter acesso ao medicamento, aceita isso.

     Ora, basta UM funcionário corrupto botar  a mão numa receita dessas para ele poder desviar os medicamentos, que deveriam ter sido vendidos a quem precisava, para o mercado negro de drogas. E isso tudo vai ficar EM NOME DO CLIENTE!!!  

Uma sugestão, Dona ANVISA:  acabe com a retenção da receita! No lugar dela, faça com que as farmácias, ao venderem remédios contolados, INUTILIZEM A RECEITA, colocando um carimbo nela dizendo que já foi utilizada, e DEVOLVENDO A MESMA AO CLIENTE.

 Não me agrada pensar, Dona ANVISA, que algumas das minhas receitas possam ter sido usadas com estas finalidades. 

  A senhora, Dona ANVISA, com certeza tem mais do que nunca VIGIAR!

Redação

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