Pesquisa mostra desinformação e preconceito entre jovens de 18 a 29 anos

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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da Agência Brasil

Aline Valcarenghi

Pouco mais de quatro em cada dez jovens entre 18 e 29 anos concordam, total ou parcialmente, com a ideia de que mulheres que se vestem de forma insinuante não podem reclamar se sofrerem violência sexual e pouco mais de 10% são indiferentes a esse tipo de violência. É o que mostra a pesquisa Juventude, Comportamento e DST/Aids, encomendada pela Caixa Seguros, aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília e feita com o acompanhamento da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids (DST/Aids) e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Os resultados mostram alto grau de desinformação, preconceito de gênero e contra homossexuais.

Para o coordenador da pesquisa, Miguel Fontes, que é doutor em saúde pública, o machismo ainda está muito presente entre os jovens, “principalmente os homens”. Pouco mais de 9% dos entrevistados concordam ou são indiferentes ao fato de um homem agredir uma mulher porque ela não quis fazer sexo e pouco mais de 11% têm a mesma opinião com relação a homens que batem na parceira que o traiu.

Para a socióloga do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea) Jolúzia Batista, essa geração de jovens sofreu um avanço conservador nos últimos anos. Na sua opinião, uma educação não sexista nas escolas é fundamental para mudar esse cenário. “Nós vemos que hoje a violência surge como uma forma de colocar a mulher nos trilhos, de corrigi-la. É preciso investir em educação para mudar isso“, defende.

Para a pesquisa foram entrevistados 1.208 jovens entre 18 e 29 anos em 15 estados e no Distrito Federal, sendo 55% mulheres. Os critérios da coleta de dados, feita em 2012, são semelhantes aos adotados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. O trabalho foi concebido e analisado pela John Snow Brasil Consultoria, e a coleta de dados foi feita pela Opinião Consultoria.

Entre os jovens entrevistados, apenas 30% estudam e 56% já foram reprovados no colégio. Mais da metade são católicos e quase um terço, evangélicos. De cada dez, seis acessam a internet com frequência e cinco navegam pelo menos duas horas por dia.  A maioria perdeu a virgindade entre os 14 e os 18 anos, 10% ainda não tiveram relação sexual, 95% se declararam heterossexuais, 3% disseram ser bissexuais e os 2% restantes, homossexuais.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. A pesquisa seria essa aqui,

    A pesquisa seria essa aqui, acho:

    http://www.caixaseguros.com.br/CaixaSeguros/arquivos/pesquisa_juventude_aids.pdf

    Se for, é uma pesquisa focada em DST/Aids e Hepatites Virais. Não que devemos ignorar os dados trazidos pela matéria, que são relevantes, mas é curioso não entrar no tema central da pesquisa.

    Por sinal, eu fiz uma leitura BEM dinâmica e não notei os dados relativos a agressão ou violência sexual no relatório. E dos 35 fatores pesquisados para montar o perfil de comportamento em relação as DSTs, nenhum parece ter relação com esse ponto. Imagino que tais dados sobre agressão tenham sido levantados pela pesquisa para estabelecer um perfil dos jovens, mas no fim, tais dados não entraram nem no relatório final.

    E como a ideia não é só criticar, mas sim contribuir para o debate e a circulação de conhecimento, trago alguns pontos interessantes não trazidos pela matéria:

    – de cada 10 jovens brasileiros, 4 acham que não precisam de camisinha num relacionamento estável;

    – e 3 ficariam desconfiados da fidelidade do parceiro caso ele propusesse o sexo seguro;

    – +40% não acreditam que a camisinha é um método muito eficaz pra evitar DSTs, AIDS e gravidez;

    – quase 20% sentiriam raiva (!!!) se @ parceir@ quisesse usar um preservativo ao fazer sexo;

    – 60% dos jovens acham que tem pouco ou nenhum risco de contrair uma DST;

    – 20% declarou que as moças que andam com preservativo na bolsa não servem para casar;

    – 31,6% acham embaraçoso pedir preservativo numa farmácia ou serviço de saúde.

    E apesar do relatório ser bonito, poderia ser mais informativo. Por exemplo, seria interessante ver a diferença de opinião entre os 2 sexos em vários pontos levantados. São raros os pontos onde esse dado é aberto, e tenho a leve desconfiança que em certos casos haveria alguma diferença significativa, que inclusive, poderia confirmar uma postura machista.

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