O “turn key”

Estou enfurnado no Rio, pesquisando os arquivos do CPDOC e entrevistando velhos personagens para uma biografia que estou completando. Por isso, estou sem condições de acompanhar de perto os desdobramentos desse acidente com a estação do Metrô. Mas vão aí algumas considerações preliminares.

Apontado como vilão no desastre do Metrô de São Paulo, o sistema “turn key” (ou porteira fechada) é uma boa alternativa de contratação pública. Por ele, fecha-se um preço, que não pode ser revisto, e a empreiteira que se vire. Com isso, evitam-se duas jogadas preferidas nas licitações: os aditamentos contratuais, que acabavam dando ampla margem de manobra a quem contrata; e as medições, que podem ser facilmente burladas. O inquérito de Água Espraiada tem vários documentos comprovando essas práticas.

No sistema convencional, a dose de arbitrariedade permite ao contratante definir, inclusive, o vencedor. Basta que o candidato favorito jogue um preço baixo, tendo a garantia de que haverá os aditamentos, ou as medições erradas.

Além disso, todo o risco da obra é do contratante, não do executor. Os aditamentos são justificados por questões geológicas não percebidas antecipadamente, por problemas que surgem no decorrer da obra, de uma maneira geral sem nenhuma transparência. Com o “turn key” o risco passa a ser de quem faz o trabalho.

Onde mora o perigo? Definido o preço, a rentabilidade do projeto consistirá na economia e na rapidez com que a obra seja feita. E poderá ocorrer de, na ânsia por reduzir o custo ou de apressar a obra, a contratada atropelar normas básicas de segurança de projeto.

Pode ser que tenha ocorrido isso no acidente do Metrô – e os laudos finais comprovarão ou não. Mas esse tipo de problema não é inerente ao “turn key”. Um contrato bem feito tem que prever multas, responsabilidade cível, normas básicas de segurança, acompanhamento, prazo etc. Obviamente, para exercer essa fiscalização, o contratante tem que dispor de quadros técnicos capazes de exercer esse papel, e de amplo acesso às obras em questão.

Um dos túneis da prefeita Martha Suplicy enfrentou problemas no final, também pela pressa em ser entregue. E a modalidade de contratação não era pelo sistema “turn key”.

Não me lembro quem arcou com o custo adicional do acidente do túnel.

Enviado por: Afonso

Nassif,

O túnel da Faria Lima talvez não seja o melhor exemplo.

O túnel do Tribunal de Justiça sim, é o grande exemplo:

1.O corrégo do sapateiro (que deságua no Ibirapuera e “cruzava” o túnel) rompeu-se e alagou o túnel em construção;

2.Equipamentos foram inutilizados com o alagamento. Felizmente, sem vítimas.

3.A prefeitura pagou tudo, inclusive deu o “Cebolinha” como aditamento para as empresas que construiram os túneis do TJ e do Ibirapuera (CBPO+Constran).

Esse é o exemplo: prefeitura paga o erro e ainda faz um aditamento, literalmente, do “tamanho de um viaduto”.

Luis Nassif

38 Comentários

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  1. Nassif,

    O túnel da Faria
    Nassif,

    O túnel da Faria Lima talvez não seja o melhor exemplo.

    O túnel do Tribunal de Justiça sim, é o grande exemplo:
    1.O corrégo do sapateiro (que deságua no Ibirapuera e “cruzava” o túnel) rompeu-se e alagou o túnel em construção;
    2.Equipamentos foram inutilizados com o alagamento. Felizmente, sem vítimas.
    3.A prefeitura pagou tudo, inclusive deu o “Cebolinha” como aditamento para as empresas que construiram os túneis do TJ e do Ibirapuera (CBPO+Constran).

    Esse é o exemplo: prefeitura paga o erro e ainda faz um aditamento, literalmente, do “tamanho de um viaduto”.

  2. Muito esclarecedor.Assim
    Muito esclarecedor.Assim fica-se com uma base de conhecimento mínimo que espero evite a famosa caça as bruxas , que acaba gerando anomalias como a da escola de base.

    Se o contrato é feito pelo sistema “turn key” , se entendi bem, cabe a empresa a responsabilidade e qualidade da obra, pelo preço acordado.

    Ponto.

  3. Olá Nassif,
    É isso: “na ânsia
    Olá Nassif,
    É isso: “na ânsia por reduzir o custo ou de apressar a obra, a contratada atropelar normas básicas de segurança de projeto.”
    Olha, tem um dito assim: “no mundo todo se cozinha com água”. Por quê ninguem desconfia de prazos inexeqüíveis ? Já disse que enquanto a (boa) técnica continuar a fazer amém aos murros na mesa do pessoal de custos e prazos é este o resultado. Se esquecem que preço e prazo são basicamente conseqüências e não causas da escolha e execução de qualquer que seja a (boa) técnica selecionada.
    [ ]´s

  4. Nassif, muito do que contesta
    Nassif, muito do que contesta nessa obra é fruto da arrogância do antigo governador de São Paulo ao utilizar o termo “Choque de Gestão”. O Metrô é a maior obra na cidade de São Paulo em anos, mas em nome desse tal “Choque” os principais jornais da cidade, a Folha e o Estado, pouco comentaram. Aposto que esses jornais fizeram mais reportagens sobre o calçadão da Av. Rebouças do que sobre essa linha 4. A mídia tem um poder fiscalizador essencial à democracia, mas ao omitirem fatos em nome de disputas partidárias cria-se um clima nefasto, propício às burladas que as principais construtoras do país parecem ter cometido na obra.

  5. Nassif,
    Oportuna a sua
    Nassif,
    Oportuna a sua colocação sobre o desastre que abate sobre a nossa cidade. Gostaria de realçar que sou favorável as PPP e ao sistema “turn key” (porteira fechada), pelas razões que o caro jornalista já descreveu. Mas, esse sistema só funciona bem, quer dizer, sem maiores problemas para a população se houver uma fiscalização na execução das obras. Fiscalização exercida pelo poder executivo, nesse caso, o contratante o governo do estado de São Paulo. Não queremos uma caça as bruxas, mas esse caso está cheirando muito mau. A atitudes das autoridades no dia da tragédia, foram lamentáveis, quizeram esconder os fatos (as vítimas). Esperamos que a “grande” imprensa e a mídia em geral, investique a fundo esse episódio, para que o mesmo não se repita e que a justiça seja feita as vítimas. Ou, por se tratar de um governo tucano, vai ser jogada essa sujeira , para debaixo da tapete?

  6. É, como você diz, uma análise
    É, como você diz, uma análise preliminar, no estilo que nada pode ser a priori. Sua análise peca por comparar o formato de contratação tradicional (e suas falhas) com a contratação via porteira fechada (e suas vantagens). Um contratante privado tem facilidades no manuseio de ambas as formas de contratação. O poder público tem dificuldade com ambas, em especial quando permite-se que as quatro principais empreiteiras do país formem um consórcio e não se vigiem pelo mecanismo da concorrência; quando, ao mesmo tempo, está posta a concessão da prestação de serviços do metrô Linha 4 às mesmas empresas. Como em praticamente todas as empresas públicas do país, o metrô de SP teve sucateada sua parte técnica. Segundo o sindicato dos metroviários em entrevista a Paulo Henrique Amorim, “o corpo técnico de projetos, de construção civil e de montagem tinha em torno de 800 a 900 técnicos. Hoje, possui em torno de 300.”. Disso resulta que a simples possibilidade de fiscalização foi extinta. Os governos tucanos e seus maravilhosos choques de gestão (de fato, é um choque, de 138 mil volts, pois acaba com o que toca) deixam mais uma herança para a população e fazem até com que Paulo Maluf seja revivido. Algumas questões ficam claras, a meu ver:
    1. O formato de contratação turn key não é adequado para nosso modelo de administração pública, historicamente frágil na fiscalização. É, como diria nossos avós, o barato que sai caro. A indução ao menor prazo, à economia em toda a obra (paga-se bônus, segundo a FSP, pela economia no projeto), à terceirização sem fim em todo o processo de construção.
    2. O fim da fiscalização da obra, entregue ao próprio consórcio construtor, sem qualquer controle por parte do metrô. Diversos eventos ocorreram ao longo da construção sem que fossem relatados ao metrô, ou, se relatados, foram ignorados por esse e enviados para o consórcio, que os ignorou.
    3. A covardia de Alkmin, responsável direto pela obra, e que não se manifestou até o momento.
    4. A falta de sensibilidade ao drama vivido pelas famílias das vítimas por parte dos senhores Portela e Serra, o primeiro chegando a negar, no início, a existência de vítimas.
    5. A falta de cobrança, pela mídia, de ações do governo Serra que respondam efetivamente ao fato, como a suspensão da obra e sua completa reavaliação, incluindo o modelo de contratação. Se o governo fosse petista, os editoriais estariam clamando e demonstrando, quem sabe, a promiscuidade das relações entre os responsáveis pela obra e o governo. Quem sabe mostrando os valores postos na campanha eleitoral para financiamento de campanha.
    6. Por fim, a engenharia brasileira vive momentos difíceis. Os episódios desse verão, com o rompimento da barragem de contenção na região de Muriaé e esse do metrô, associados ao apagão de 2001, ao fim da malha rodoviária, destruída por falta de manutenção, mostram que a categoria tem assistido calada ao predomínio da visão financista em nosso país. Os advogados constantemente se pronunciam em defesa da democracia; os médicos, em defesa do SUS. Os engenheiros, se calam. As entidades corporativas pouca relevância possuem no atual debate nacional, em qualquer tema, sejam elas conselhos, sindicatos ou simples associações. As grandes empresas de consultoria de engenharia acabaram. Mesmo as grandes empreiteiras são hoje apenas repassadoras de obras para subcontratadas. Uma das últimas foi a notícia que a Thyssen solicitou a vinda de 300 engenheiros chineses para a construção da usina de aço no Rio. Sem uma engenharia forte e presente no debate nacional é difícil mudar o atual quadro de rentismo.

  7. Infelizmente a discussão está
    Infelizmente a discussão está caindo no mero prejuízo financeiro que o turn key evita. Isso é o de menos. O que importa é que cada vez mais o espaço público está sendo submetido a essa lógica financeira. Ninguém quer prejuízo, isso é óbvio. Quero que sejam esclarecidas as denúncias que estão aparecendo sobre a conivência contratual do ESTADO em relação ao acompanhamento da obra. Em São Paulo, infelizmente, a Assembléia há muito não oferece qualquer resistência ao Executivo. Falar da imprensa, é lugar comum.

  8. Sobre o “turn key” ou
    Sobre o “turn key” ou qualquer anglicismo que o valha, o que não posso concordar é com o agigantamento dessa nefasta prática instaurada, de fato depois do governo Figueiredo (em nome da liberdade, diga-se), e na legalidade já com o do primeiro Fernando de entregar o dinheiro e não enviar o fiscal atrás. O volume de dinheiro repassado pelo Tesouro Nacional, por exemplo, depois de 1994, especialmente a prefeituras e Estados é impressionante, especialmente depois da entrada dos fundos de educação e saúde. E cadê os fiscais? Os fernandos trataram de destruir a base fiscalizadora federal – que já era precária – criando artificialismos como uns tais conselhos, na prática gerido por comadres de “Os Donos do Poder” (que falta faz o autor desta) de plantão em cada instância. A praga do afrouxamento se alastrou e aí vem o tal de “turn key”. Mais pragmáticos e conhecedores de quem tinham, os sucessivos reis de Portugal costumavam delegar poderes simbólicos às câmaras municipais, todavia, os oficiais do fisco e cabeças de governo eram súditos legítimos da corte de S. M. que Deus o guarde. Ora, se numa república, por formação de natureza liberal como a americana a Enron e outros escândalos de vez em quando afloram; o que dizer de um país de cultura paternalista, feudal até, onde quase todos acham que roubar o governo (Estado) é uma virtude?

  9. Se alguém fecha um
    Se alguém fecha um contrato com uma empresa de porte internacional, e ainda tem que ficar de fiscal o tempo todo, este País é inviável , presentemente.

    Como disse o Serra são feitas medições em períodos determinados para efetuar os pagamentos. A medição verifica quantidade e qualidade.

    O que mais é preciso?

  10. Sugestão ao Edison, com todo
    Sugestão ao Edison, com todo respeito: que tal contratar uma empresa no sistema “turn key” para construir, digamos, a sua própria casa?

  11. Além de toda a falha na obra
    Além de toda a falha na obra e toda esse terrorismo na improbidade das contrataçãoes feitas pelo governo do walkmin, esta tambem essa completa maldade que fazem com toda a cidade que aos poucos vai perdendo toda a sua beleza natural, porque tem que se passar metro abaixo do nivel do rio??? que idiotice essa ideia.se o governo procura aumentar as linhas do metro para melhorar a vida da população porque não se constrioem vias do centro para as periferias tipo de santana até perus, ou sé até barueri ou paraiso ao pico do jaraguá que se contabilizar o que tem de gente precisando de melhores transportes, ja que estes sempre vivem dependurados nos onibus e lotações de ma quality e sem o minimo de conforto?? duvido que se houvesse um consulta popular sobre o que fazer com o dinheiro publico o povo iria escolher fazer essas obras de forma de contratação e estratégia totalmente elitistas e lucreiras……………….

  12. Prezado Luis:
    Sou engenheiro
    Prezado Luis:
    Sou engenheiro civil ,vou desconsiderar isso e vou analisar como se fosse um leigo o que os jornais tem publicado.
    Para a elaboração do projeto da Linha4 que subsidiaria a licitação o METRO utilizou para a região do Rio Pinheiros estudo de geologia elaborado pelo IPT,tanto é que falaram que seu parecer das causas do acidente seria facilitado , graças ao seu estudo. O METRO efetuou a licitação que definia a utilização do “shield” para todo o trecho.
    Iniciada a obra “ensaios e estudos” detetaram que na região do Rio Pinheiros havia rocha fragmentada ao que o Consórcio sugeriu o rebaixamento dos túneis em 15 metros e alteração do cronograma das obras alongando-o para 64 messes. O Metro não aceitou porque implicaria em aumento de custos e do prazo do cronograma.Então o Consórcio propôs ao METRO utilizar o método NATM que utiliza escavadeiras convencionais e concreto projetado para consolidar a abóboda eas paredes laterais do túnel na região do Rio Pinheiros.
    Ué, como consequência do estudo geológico do IPT a licitação não previa a utilização do “shield” ?Ou pelo fato das empreiteiras iniciais do Consórcio ( Odebrecht, OAS e Queiroz Galvão) não terem experiência em “shield” e não possuírem o equipamento o METRO resolveu aceitar o processo alternativo?Mas espere aí, se elas não tinham nem experiência nem o equipamento como puderam concorrer e ganhar a licitação?Foi para corrigir isto que se fez o inexplicável aditivo que agregou ao Consórcio as empresas vencedoras do outro lote da concorrência ( Pátio de Manobras ) ou seja a Camargo Correa e a Andrade Gutierrez.
    Agora como é que justifica o Estado de São Paulo agora contratar o IPT para descobrir as causas
    do acidente se este mesmo Instituto falhou em seu estudo geológico da região do Rio Pinheiros ocasião em que não detetou a existência de rochas fragmentadas que impediria a utilização do “shield” como foi previsto na Licitação do Metro???
    Eu só queria entender!!!!!!!

  13. Alguns aqui têm alegado que o
    Alguns aqui têm alegado que o formato de contratação turn key não é adequado para nosso modelo de administração pública, por esta ser historicamente frágil na fiscalização. A questão não é essa. No caso, a fragilidade sequer conta, porque o turn key sempre prevê a fiscalização dos serviços pelos próprios vencedores da licitação. É a idéia de Estado Nenhum. Eles se autorregulam, entende? E se a gente não abrir o olho, é capaz de quase tudo estar funcionando a este modo, ainda que sem contratos formais em sistema de turn key. A Dilma Roussef já disse que o problema das estradas reside no fato das empreiteiras terem tomado conta da ANTT – ou seja – elas estão regulando a si mesmas; querem tão só poder administrar as coisas públicas, mas sem que o público se intrometa, captou?

    Pelo que estou vendo, essa cratera de São Paulo vai explodir muito mais coisas do que a Rua Capri.

  14. Caro Nassif, desculpe-me, mas
    Caro Nassif, desculpe-me, mas uma conversa com um amigo engenheiro com grande experiência em obras públicas deixou-me estarrecido. Segundo ele, o projeto e a concorrência originais previa a utilização de quatro tatuzões e impedia a formação de consórcios. Com a concordância do Metrô, as ganhadoras formaram um consórcio, prejudicando as empresas que obedeceram ao edital da concorrência e mudaram o projeto, mujdando a técnica de constryução para a mais inadequada para o tipo de terreno, para a tal de NATM, o que economizava o uso de três tatuzões. Se isso for verdade e não tenho razões para suspeitar que não o seja, a única coisa decente a ser feita é colocar os gestores do Metrô e do Consórcio no banco dos réus. Abraços, Paulo de Tarso.

  15. Tomado por um sentimento
    Tomado por um sentimento humanitário grandioso, o Governador Serra, de infinita bondade cristã, compreendendo a enorme tarefa que o povo de São Paulo lhe confiou, resolveu no dia de hoje, oferecer gratuitamente aos parentes das vítimas da tragédia do metrô e a todos que, de uma forma ou de outra, necessitem da ajuda do Estado paulista, a banca de advogados da defensoria pública de São Paulo. Oh! Pai eterno e grandioso Deus, abençoe para todo o sempre esta alma piedosa e de honrosa conduta. Ilumine-o dia a dia para que continue agindo com tamanha benevolência, sabedoria e desprendimento. Que sua grandiosa ação sirva de exemplo a todos os administradores públicos, agora e para todo o sempre.

  16. Para ajudar a clarear (ou
    Para ajudar a clarear (ou então complicar mais):

    A questão não é ser contra ou a favor de um tipo de contrato (turn-key /portera fechada versus contrato tradicional). Deve-se usar um tipo de contrato ou outro dependendo de varias condições, especialmente o “nivel de conhecimento” que se tenha da “contrução”. QUanto melhor o detalhe de engenharia, mais facil será quantificar o preço e comparar as propostas. Em casos como este, é mais adequado utilizar o turn-key. Quanto menos detalhado o projeto ou quanto maiores as incertezas de projeto/conhecimento, mais complicado fica o turn-key, uma vez que a tendencia das construtoras é aumentar o seu coeficiente de segurança no preço.

    A proposito, contratos turn-key e tradicional são usados por todos sejam governos, empresas privadas etc. Como bem colocou Nassif, a questão é a fiscalização ou capacidade de fiscalização. Empresas privadas contratam empresas de engenharia para construção e contratam outras empresas para ajudar na fiscalização (para alguns pode ser surpreendente tal fato). Para quem conheceu o serviço de engenharia da Petrobras sabe o que é qualidade, fiscalização (a proposito Nassif, o Segen da Petrobras já trabalhava com o conceito de qualidade desde o inicio dos anos 70), o que permitiu a Petrobras ser o que é hoje, especialmente no dominio da exploração/produção de petroleo em aguas profundas).

    Ou seja, SEMPRE tem que fiscalizar,independente do tipo do contrato, independente de ser um obra publica, privada ou particular (alguem já construiu ou reformou a propria casa? 🙂 ). E isso independente de país, empresa contratada ou contratante, seja ela uma Becthel ou Andrade Gutierrez.

  17. Não faltava mais nada na
    Não faltava mais nada na “Belíndia” (ou o Brasil não é uma mistura da Bélgica com a Índia?). Agora temos um descalabro como esse do metrô e ninguém aparece para se responsabilizar. O Estado diz que a culpa é do consórcio de empreiteiras que toca a obra que ruiu e matou pessoas. O consórcio diz que a culpa é de haver chuvas e um rio no local do desastre. A imprensa diz que a culpa é do senhor ninguém. No fim, acabaremos concluíndo que a culpa é das pessoas que foram morar ou caminhar perto de um lugar em que governantes um dia construiriam uma calamidade como aquela.

  18. Tem gente que já quer
    Tem gente que já quer discutir punições políticas e técnicas, ainda difíceis nesse momento.

    E já vão culpando a imprensa por não malhar o Serra, como “malharia” o Lula (?).

    Nesse 1o momento, pode-se é entender melhor o modelo de contrado e questionar aspectos de segurança e custos óbvios:

    1.Por que transeuntes e um micro-ônibus estavam sobre um local inseguro no momento do acidente? A região não deveria estar totalmente interditada?

    2. A cidade de SP tem um sistema para atendimento de grandes desastres compatível com os recursos disponíveis? A lentidão no resgate é, de fato, condição do ambiente ou falta de equipamentos? ou mesmo falta de previsão da obra?

    3.Por que optou-se por um túnel e não pelo metrô de superfície, como nas estações Armênia, Carandiru, Santana etc?

    4.De quem é a responsabilidade do PROJETO? Não da construção. Quem projetou o metrô é quem determinou todas as características da linha e daí fez-se o contrato de “turn key”. Esse é o pecado original.

  19. Ou seja, na verdade era um
    Ou seja, na verdade era um péssimo contrato que por acaso era Turn Key.

    Então, senhores, não culpemos o tipo de contrato, mas a forma como foi feito. Ou melhor, quem o fez em prejuízo de vidas humanas.

  20. Mesmo adiantando-me aos fatos
    Mesmo adiantando-me aos fatos é necessário destacar a cooperativa da minivan. Enquanto autoridades ainda retocavam a maquiagem, o responsável da cooperativa já informava que havia uma minivam há 29 metros de profundidade.
    Hoje, já pipocam informações sobre a indenização que esta cooperativa dará às vítimas. Além disso pela tevê é fácil de perceber que os familiares das vítimas estão reunidas sob o toldo da cooperativa instalado horas depois do acidente para ampará-los.
    Mas e as grandes empreiteiras brasileiras? Autoridades? Imprensa?
    Mesmo com a morte de um operário, vários acidentes e casas rachadas optaram por uma ignorância lamentável.

  21. Nassif, os aditamentos são
    Nassif, os aditamentos são limitados pela lei das licitações. Quanto às fraudes em medições, só são viáveis nos serviços de movimentação de terras (aterros, cortes, transporte etc). Outras podem ser facilmente descobertas. Portanto, um sistema que mescle as duas modalidades contratuais deve ser analisado.

  22. Márcia, o sistema não prevê a
    Márcia, o sistema não prevê a auto-fiscalização. Qualquer contrato, por qualquer sistema, tem que ter a fiscalização do contratante.

  23. Olá,
    Já deixei minha opinião
    Olá,
    Já deixei minha opinião sobre o caso num comentário anterior.
    Para aqueles que gostam de politizar tudo, mesmo onde é desnecessário: acho que o que o Nassif disse pode ser estendido para os repasses de verbas governamentais (municipais, estaduais e federais) para as ONG´s (algumas, verdadeiras arapucas). Nestes casos pergunto: onde está a lógica para a falta de controle destas instituições ? Ou será que o fato de ser “de utilidade pública” as exime de fiscalização ?
    Pessoal, pensem mais amplamente.
    [ ]´s

  24. Em termos, Nassif…

    A
    Em termos, Nassif…

    A contratação turn-key é a melhor somente se os estudos e projetos forem bem feitos e completos, evitando surpresas ao ser executada a obra. A execução de qualquer projeto tem um risco que pode e deve ser minimizada por estudos, planejamento e detalhamento dos projetos executivos.
    Se não forem feitos os estudos preliminares (de prospecção geológica, por exemplo), ninguém pode fazer um Projeto Executivo detalhado. Se o subsolo da cidade for um emaranhado de tubulações não identificadas em um bom Sistema GIS ou mesmo em papel, ninguém sabe o que vai encontrar quando cavar.
    O comum é que as licitações apresentam Projetos Executivos de péssima qualidade, meros Projetos Básicos com algumas indicações de decida o que fazer na hora que tiver que fazer (não estou falando pela área de engenharia civil, mas pela área de sistemas de informação e automação que eu conheço).
    Além da péssima tradição brasileira de dar-se um “jeitinho” na hora da execução, existe a pressão política por prazos que atendam o calendário eleitoral. Assim passam-se 3 anos com o governo fingindo contenção de gastos públicos ou pensando que é desnecessário gastar verbas com projetos (o eleitor não vê o projeto, vê a obra…). Então chega o momento das eleições e acontece uma febre de obras com a intenção de mostrar serviço e, é claro, encher o caixa 2 com as contribuições escondidas das empreiteiras “vencedoras”.
    Neste momento é que se percebe o que os projetos estão mal-feitos ou incompletos, e se faz a engenharia durante a obra.
    Assumir um contrato turn-key com um projeto mal-feito só é possível com uma margem de lucro bem grande que compense o risco dos imprevistos. Daí porque se mantém a cultura de aditivos de contratos no Brasil (além de servir para alimentar o caixa 2, é claro).
    Acho que isto só muda quando tivermos uma cultura de engenharia que valorize o planejamento e o projeto, feita por engenheiros com a coragem de dizer não a certas exigências descabidas. Mas enquanto houver desemprego alto entre os engenheiros, será valorizado o engenheiro de obras que supera as dificuldades da execução, que assume o risco de causar mortes para manter o lucro da empresa e as suas bonificações.

  25. Existe um princípio de
    Existe um princípio de segurança que se chama “Segregação de Atividades”. Quem faz, não fiscaliza. Pelo que foi informado até agora, nem o Metrô, nem qualquer órgão do Estado, fiscalizava aspectos fundamentais de segurança e qualidade. Ese negócio de transferir responsabilidades é próprio de quem não quer ser responsabilizado por suas decisões. Se o governador trasfere toda a responsabilidade para a iniciativa privada, pra que serve o Estado ? Onde está a defesa do interesse público ?

  26. Desconfio que um plano de
    Desconfio que um plano de medidas administrativas e execução de obras (com projetos técnicos), incluindo as de reparação, possa servir de base para o cálculo do valor do custo do trecho do metrô depois do evento do buraco.
    De qualquer forma, desculpe o mau jeito…

  27. O sistema “turn key” exige a
    O sistema “turn key” exige a fiscalização normal sobre a qualidade do produto a ser entregue. Não vejo porque nesse método deva haver menor fiscalização. O fato de haver preço fechado dispensa a fiscalização das medições mas não da obra.
    Quando a Petrobras compra uma plataforma, que custa um bilhão e meio de dólares, o preço é fechado mas o cliente acompanha a construção para saber se o que está sendo entregue é aquilo que está sendo pago.
    Se o Metrô (e esse parece ser o caso) relaxou a fiscalização por ser “turn key” foi um grave erro. Como vai saber se o preço fechado está pagando o produto especificado no contrato?

  28. Nassif, então essa questão
    Nassif, então essa questão sobre o turn key tem que ser esclarecido. Porque não é isso que tem sido dito sobre o contrato de porteira fechada.

  29. TÚNEL X PONTE

    A definição do
    TÚNEL X PONTE

    A definição do traçado não deve ser feita apenas do ponto de vista da engenharia civil ou de custos da obra, mas também do ponto de vista urbanístico e do custo para a cidade.

    O impacto urbanístico do metrô elevado naquele trecho seria bastante negativo, constituiria uma barreira física e visual bastante agressiva, causaria a deterioração do entorno, além de implicar em altos custos de desapropriações ao longo das rampas para aflorar e afundar novamente.

    Gasta-se menos na obra, para gastar mais nas desapropriações e também depois, pois áreas urbanas degradadas têm um custo social, onde mais pessoas poderiam morar e trabalhar, passa-se a ter áreas inóspitas, as pessoas vão morar mais longe, isso tem um custo, inclusive o de segurança.

    Fazer o metrô elevado vai contra o que o urbanismo moderno recomenda: intervir nas cidades agregando qualidade, favorecendo a habitação próxima de locais de concentração de ofertas de empregos e de transporte público.

    Desculpem-me pela sinceridade, mas essas soluções “mágicas” da tecnocracia ancorada na década de 70, dos tempos em que se decidia sem considerar os critérios urbanísticos, são desastrosas, danosas e perversas. Temos um Minhocão aqui na cidade, que já serve de exemplo do que não deve ser feito nunca mais.

    O túnel, do ponto de vista urbanístico, é, de longe, a melhor opção. Do ponto de vista econômico, se for analisado a médio ou longo prazo, também. Do ponto de vista da tecnologia, não é nada inovador, já se fez isso há muito tempo, a poucos quilômetros dalí.

    Discutir se tinha que ser ponte e não túnel é fazer o jogo de quem quer mudar o foco da discussão, diluindo a importância da questão das responsabilidades.

    O QUE FALTOU?

    A questão não é de know-how para fazer túneis sob o rio.

    Faltou algo… e não foi know-how:

    – vivemos num país tropical, numa cidade em que as chuvas de verão são torrenciais e isso é de conhecimento de qualquer habitante da cidade;

    – sabemos que, periodicamente, temos a visita do fenômeno El Nino, que provoca chuvas mais intensas;

    – existem estatísticas que devem ser consultadas na elaboração de projetos e existem coeficientes de segurança a serem adotados;

    – qualquer estudante de engenharia ou arquitetura sabe que, na presença de solos frágeis, os pontos de sondagem são mais próximos e a monitoração deve ser constante;

    – sabe também que rachaduras ou recalques são avisos que devem ser considerados;

    – em SP, a poucos quilômetros (talvez 3) do local da tragédia, existe outro túnel sob o mesmo rio Pinheiros; ainda perto de lá, existe um túnel sob o lago do Ibirapuera;

    – a engenharia brasileira é de grande qualidade;

    – a Companhia do Metropolitano de SP, o Metrô, prima pela qualidade e rigor de seus técnicos, é reconhecida internacionalmente e presta consultoria em outros países; não tivemos notícias de tragédias na construção das linhas Azul, Vermelha ou Verde;

    Então, se:

    – é possível estimar ocorrência de chuvas e a quantidade de água que São Pedro nos mandará;

    – é perfeitamente possível saber como é o solo do local e elaborar projetos seguros;

    – existe know-how no Brasil para elaboração de projetos e construção de túneis, inclusive em solos difíceis;

    – o solo mandou recados de que não estava estável;

    Como é que se pode falar em “reação anômala e inesperada do maciço de terra”?

    O que foi que deu errado?

    E, também: sabedores de que a obra é de risco 4, o maior, por que não havia um Plano de Escape da obra, da vizinhança e dos transeuntes?

    (é bom lembrar que a R. Capri é o caminho natural de quem vai do Largo de Pinheiros para a Estação Pinheiros da CPTM e que o fluxo de pedestres é alto no local, nos horários de pico)

    🙁

  30. Nassif,
    Sou engenheiro da
    Nassif,
    Sou engenheiro da área industrial, portanto não tenho a menor qualificação para discutir soluções técnicas; também não vou defender a pobrezinha esquerda popular contra os tubarões da mídia – choramingando – se fosse o PT estaria levando chineladas da malvada; a propósito, votei no Lula.
    O turn-key – Chave na Mão – não é “porteira fechada” mas sim Pronto para Usar. Alguém acima perguntou “você compraria sua casa Turn Key” ?.O Mundo compra a casa Turn Key, eu e ele também, claro – O apartamento da Gafisa, da Lindenberg ou Cingapura é Turn-key – ou você participa do estaqueamento, concretagem, acabamento?
    Todas as obras públicas ou privadas são com valor fechado – e não é pós FHC mas muuuuuito antes. Os contratos “por administração” que faziam a alegria das empresas de projeto e construção com milhões de Homens-hora não existem mais.
    Os tais 900 funcionários do Metrô que passaram a 300 não eram 300 fiscais mas uma engenharia própria que não existe em lugar algum. A Embraer, por exemplo, tinha no passado um engenharia civil que projetava os galpões e hangares de sua fábrica totalmente. Hoje é impensável. Os parâmetros mudam – O papel vegetal e tinta nanquim cederam lugar ao Autocad, à Maquete Eletrônica, etc.
    Se nos fixarmos nos conceitos antigos ficarem antes do Fusca do Itamar.
    Isto não significa, entretanto, que vamos nos entregar de mãos atadas a qualquer Fornecedor. A Fiscalização é o bê – a – bá do negócio: Normas técnicas ABNT e Internacionais, Normas Internas do cliente (Metrô, Petrobras, Infraero, Ford, Fiat, Embraer, etc.)
    Se você não tem um corpo fiscalizador próprio existem as Sociedades Classificadoras (mais de 200 anos de existência vindo da área naval); Pergunte à Petrobras, Nuclebras, etc.
    Os contratos tem de “cercar” todas as possibilidades e realmente cercam – é assim no Mundo todo.
    Agora – se somos tão corruptos que nada, nada funciona então vamos fechar as portas. Se alguém precisar fazer uma cirurgia vá para o Sudão que aqui no HC não sabemos.
    Como disse o Nassif, são os mecanismos operacionais que importam – não podemos retroceder 50 anos.

    Abraços

  31. Já que no governo do estado
    Já que no governo do estado de são paulo é tudo feito pela iniciativa privada, eu me pergunto: Os custos dos bombeiros, da PM, da CET, etc, com o buraco do Alckim vai ser pago por quem?

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