O uso do cachimbo da Lava Jato entortou a boca da imprensa. Para efeito midiático, os policiais-repórteres que cobriram a operação tratavam qualquer decisão da Polícia Federal como “indiciamento”. Sabiam que a PF não tem poder de indiciar. Mas causava bom impacto no gado-leitor. Assim, nas raras ocasiões em que o Ministério Público Federal não indiciava determinado personagem, os policiais-repórteres usavam a PF para sustentar que houve o indiciamento pela PF, que não tinha poderes de indiciar. Simples assim.
Repetem no caso Renan Calheiros: PF indicia Renan, sugerindo represálias contra o relator da CPI.
Posso estar enganado, mas, apesar das interferências de Bolsonaro, a Polícia Federal de hoje não parece a mesma do período da Lava Jato, que incensava policiais irresponsáveis, como as delegadas Erika Marena – responsável pelo suicídio do reitor Candellier, da Universidade Federal de Santa Catarina – e o delegado Moscardo Grillo – que provocou uma crise nas exportacões de carne com sua irresponsável Operação Carne Fraca. Esses delegados eram incensados pelos policiais-repórteres da Lava Jato e processavam os jornalistas que ousavam criticá-los – conseguindo condenações pecuniárias com a justiça de Curitiba. Tiveram para a PF o mesmo papel deletério dos procuradores de Curitiba para o MPF.
Aparentemente, a corporação está conseguindo se defender.
O que ocorreu, de fato:
- Está em curso o IPL (Inquérito Policial) 4.382 sobre atividades da Odebrecht.
- Um dos nomes envolvidos é do senador Renan Calheiros.
- Com seu notável senso de oportunidade, o Ministro Luiz Edson Fachin ordenou seu encerramento, em plena CPI da Covid, obviamente enfraquecendo o relator e as denúncias levantadas.
- O delegado encerrou o IPL, então, informando haver elementos para o indiciamento. Apenas isso.
Fachin teve alguma intenção de torpedear a CPI? Provavelmente, não. Aparentemente, seu notável faccionismo se limitou ao plano político da Lava Jato, de derrubar o governo Dilma. O mais provável é que tenha cometido mais uma trapalhada, como foi no caso da decisão que visava beneficiar Sérgio Moro, e acabou beneficiando Lula.
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