As jogadas da empresa de processadores AMD

Por Marcel AG

Comentário do post “Principal concorrente da Intel a AMD busca compradores

Vou falar de cabeça o que eu sei da AMD, vou escrever rapidinho, deve ter muita inconsistencia.

A AMD foi vítima de várias estratégias equivocadas, sempre querendo competir de igual para igual com a Intel, uma empresa que tem muito mais capacidade de investimento e pesquisa.

Durante um tempo, a AMD atacava a Intel em processadores value, baratos. Processadores top, onde reside o lucro maior, nem pensar (época dos clones de 386/486… do K5/K6).

Depois passou a sonhar mais alto. A AMD investiu no mercado de servidores. E tentou dominar, uma vez mais, o mercado desktop. Quando a AMD lançou o Athlon original, a Intel foi desafiada pela primeira vez. Os processadores da arquitetura Netburst da Intel precisavam de clocks altíssimos e muito consumo para serem competitivos. (época do K7, Athlon).

Quando a AMD lançou o Athlon 64 e depois o Athlon X2, pela primeira vez a Intel deixou de ter um processador top em performance. (época do K8, Athlon 64).

Depois que a Intel mudou de estratégia e se concentrou em processadores com maior IPC – mais rápidos por clock – a AMD simplesmente descambou. Perdeu completamente a competitividade no mercado desktop top e mesmo no mercado ‘básico’ tem dificuldades de competir. (arquitetura Phenom não foi ruim, mas a Intel se superou…e a execução da AMD foi precária).

A AMD tem atirado para todo lado. O maior investimento da AMD foi a compra da ATI – fabricante de GPUs(dispositivos gráficos) e chipsets. A idéia era unir os dispositivos de CPU e GPU. A aposta da AMD mostrou-se corretíssima – pena que sua execução falhou. Hoje a AMD vale menos do que pagaram pela ATi. E o Fusion – a união CPU + GPU – deu poucos frutos.

O que a AMD conseguiu com a compra da ATi foi ser obrigada a matar dois leões por dia. Já era difícil competir com a Intel – em um mercado de duopólio. Com a compra da ATi tiveram que competir com a nVidia – outra empresa agressiva e com mais recursos.

Além de ter comprado a ATi, a AMD foi cindida em mais uma tentativa de sobrevivência. Assim foi criada a GlobalFoundries, que é propriamente a ‘fábrica’ de chips. A AMD – empresa legitimamente americana-texana – hoje ‘desenha’ suas CPUs e estas são fabricadas na GlobalFoundries, uma empresa independente. Sei que tem dinheiro árabe na GlobalFoundries. A fábrica dos chips (silicon) fica na Alemanha e alguns deles são posteriormente montados (pinagem/substrato?) na Malásia (diffused in Germany, made in Malaysia).

Há um tempo atrás, a ATi tinha um portfolio de processadores para dispositivos mobile chamado Imageon. A AMD vendeu esse portfolio para a Qualcomm por um valor bem baixo e ‘saiu’ desse mercado para se focar em outros. Resultado: esse mercado explodiu e a AMD ficou chupando o dedo. Hoje a Qualcomm tem um valor de mercado superior ao da Intel – claro que por outros motivos – mas a GPU de seus chipsets mobile partiram da ATi.

A integração CPU+GPU atrasou tanto que até mesmo a Intel integrou a GPU na CPU antes da AMD. A AMD viu surgir o mercado de HPC (High Performance Computing) com processamento baseado no poder de cálculo das GPUs e não conseguiu concorrer com a nVidia…

As CPUs da AMD também mal conseguem concorrer com as CPUs da Intel em termos de performance. A AMD focou a performance de suas CPUs em servidores – o resultado foi um IPC baixo, alto consumo – que prejudicou a sua performance em computadores domésticos. Em servidores, a arquitetura é boa, mas a Intel tem um processo de fabricação mais avançado e assim o resultado da AMD foi de derrota x derrota.

Agora a arquitetura ARM vai vir em pouco tempo dominar todo o mercado mobile. Muitas pessoas vão substituir notebooks por tablets. Sem contar que em breve os próprios notebook terão processadores ARM – como já ocorre com os tais ‘netbooks’.

A diferença de performance entre um processador top Intel e um ARM é ainda monumental, mas no futuro deverá diminuir. A nVidia já anunciou a integração ARM + GPU. Ou seja, a segunda maior concorrente da AMD também está se voltando para esse nicho mobile. A própria AMD também anunciou essa integração, com vistas ao mercado de servidores. E é óbvio, a Intel também está de olho.

Resumindo, eu sei que é difícil entender sem conhecer o assuinto:

A AMD é uma empresa peculiar em termos de tecnologia.

É a única empresa que tem um portfolio de CPUs X86 aliada a GPUs de alta performance. A GPU hoje em dia não apenas processam gráficos e sim fazem simulações que requerem processamento paralelo – e nestes casos possuem uma performance muito superior às CPUs para determinadas tarefas.

Seu valor de mercado é baixo, mas o seu know-how em chips de alta performance é distante de qualquer outra empresa – se você considerar sua expertise em CPUs e GPUs – a Intel não tem expertise em HPC e gráficos como a AMD, a nVidia não tem expertise em servidores/CPUs como a AMD.

Ela rivaliza com a Intel e a nVidia, duas empresas monstruosas. Sobreviveu até agora sabe-se lá como. Pode ser um devaneio da minha parte, mas a tecnologia que a AMD domina pode muito bem ser estratégica a qualquer país. É sério.

E repito: a AMD não fabrica mais chips – ela os projeta e leva ao mercado. Tanto é que determinados chips da AMD não são feitos na GlobalFoundries, que era sua parte ‘física’ e sim na TSMC, em Taiwan, a empresa nº1 em termos de tecnologia de fabricação de chips para ‘terceiros’. Ainda assim, a TSMC, assim como a GlobalFoundries, estão atrás da Intel em termos de tecnologia de fabricação.

Todas as estratégias que a AMD tentou fracassaram. Uma pena.

Luis Nassif

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