TV GGN 20h: A análise sobre Mandetta na CPI, com Alexandre Padilha e Eliara Santana

Lourdes Nassif e Marcelo Auler discutem a sessão da CPI da Covid. Participação da jornalista Eliara Santana e do ex-ministro Alexandre Padilha

Jornal GGN – A TV GGN 20h desta terça-feira (04/05) foi excepcionalmente conduzido pelos jornalistas Lourdes Nassif e Marcelo Auler. Luis Nassif volta ao comando do programa nesta quarta-feira.

O foco do programa foi o depoimento do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta à CPI da Covid-19 no Senado Federal.  O programa começa com Eliara Santana, jornalista especialista em análise do discurso, para comentar o primeiro dia da CPI da Covid e o discurso do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta

“Ele (Mandetta) se coloca em um lugar interessantíssimo: ele é ex-ministro, poderia ser muito cobrado, mas ele se colocou desde o começo como o homem da ciência”, diz Eliara. “Ele (Mandetta) se colocou ao lado da ciência, ele faz duras críticas ao governo, ele faz duras críticas ao presidente – apesar de que ele fala que o presidente estava lá assessorado, que ele tentava alertar, mas havia assessores, o presidente ouvia outras pessoas”.

“Ele (Mandetta) entrou com um golpe de mestre que foi a divulgação daquela carta. Ele divulgou a carta que ele tinha enviado para o Bolsonaro antes, acho que três dias antes dele sair”, explica Eliara. “Nessa carta, ele vai elencando desde o começo da pandemia, desde janeiro, ele vai fazendo recortes históricos do avanço da pandemia para demonstrar que ele alertou, e para demonstrar que o presidente não ouviu”, ressalta Eliara.

“Eu achei o Mandetta muito tranquilo, e se colocando afastado mesmo do governo – afastado não só de Bolsonaro, mas afastado do governo”, pontua a jornalista. “Aí tem uma parte interessante: ele faz uma crítica ao (Paulo) Guedes, ele faz uma crítica bem interessante – ele fala que Guedes é um desonesto, que é desonesto intelectualmente (…)”

“A fala dele (Mandetta) é muito clara. Ele elencou pontos, inclusive, colocando primeiro um distanciamento em relação ao presidente, depois em relação ao governo nessa crítica ao Guedes, e ele fala que um dos filhos do presidente estava sempre nas reuniões”, ressalta a jornalista. “Então, eu acho que ele deixa um caminho, uma brecha, para um entendimento de que não houve só omissão da parte do governo. Houve uma ação ligada às fake news, e ele menciona isso (…) e ele se coloca muito claramente afastado disso tudo”.

“A carta foi uma bela jogada”, diz Eliara. “Ele elencou os pontos, elencou a progressão da pandemia, mostrando data por data, mostrando as reuniões, ressaltando que a equipe fez muitas coletivas com a imprensa (…) Então ele se coloca muito distante do modus operandi do governo Bolsonaro”

Para Marcelo Auler, “Mandetta conseguiu dominar a CPI, conseguiu dominar o depoimento dele. Mostrou-se bastante calmo, tranquilo, bem embasado mesmo diante das provocações feitas pela bancada governista”.

“Ele defendeu a tese de que o Bolsonaro assumiu – ele não afirma isso, não afirmou em momento algum textualmente – que o Bolsonaro assumiu o discurso do contágio de rebanho, mas defendeu a tese de que era isso que o Bolsonaro tentava defender sem falar”.

“E disse que o Guedes, com seu discurso de ‘vamos tocar a economia’, talvez seja a frase que influenciou mais o presidente a defender a contaminação de rebanho”, diz Auler.

“Eu não sei se essa participação do Mandetta (…) fará dele um forte candidato à terceira via, acho que é muito cedo para falar isso, e diante de duas candidaturas fortes, queiramos ou não: você tem o Bolsonaro com 25%, 30% de um eleitorado louco, porém cativo, e o Lula que está começando a dar braçada”

“A mesa da CPI conseguiu conduzir essa primeira grande audiência de uma forma tranquila, apesar das provocações”, ressalta Auler. “Uma outra coisa muito interessante que o Mandetta foi esperto em revelar foi a influência do Planalto na tropa de choque”

Segundo Auler, a influência do Planalto ficou clara no questionamento do senador Ciro Nogueira – “O Mandetta foi muito esperto e disse ‘olha, senador, que bom que o senhor fez essa pergunta, porque coincidentemente ontem recebi no whatsapp essa pergunta do Fábio Faria (ministro das Comunicações), mas ele apagou logo”.

“Isso foi uma maneira delicada do Mandetta dizer assim ‘o Planalto continua mandando as perguntas para a tropa de choque dele’, o que mostra a preocupação do Planalto”, ressalta Auler. “Eu acho que o mais forte hoje, de todo o episódio, foi o que não aconteceu – ou seja, a ausência do Pazuello no depoimento de amanhã”, diz Auler.

“A notícia de que o Pazuello não iria porque está com medo de contaminar os senadores por ter se encontrado com 2 pessoas do Executivo que testaram positivo para a covid”

“Seja isso verdade ou não, isso mostra o medo do Pazuello, e isso cria uma grande dificuldade para o Exército”, diz Auler. “Já criou: foi preciso o presidente da CPI dizer ‘eu não vou pedir teste de covid ao Pazuello, eu acredito no comandante do Exército (…) O senador jogou no colo do Exército a verdade sobre esse caso”

Para Eliara, a questão do Pazuello é o fato mais interessante. “O Pazuello não teve coragem de depor. Foi adiado para daqui 15 dias (…) Como é que isso vai ser trabalhado? Não sei. Como é que o Pazuello vai se colocar? Não sei. Que ele amarelou? Sim, amarelou”

“Eu não consigo vê-lo naquele lugar do Mandetta respondendo as perguntas, porque ele (Pazuello) realmente não vai conseguir se safar”, pontua Eliara.

“Vamos ver os outros depoimentos, mas principalmente depois de hoje eu acho que o Mandetta desenha muito bem o que ocorreu (…)”, diz Eliara. “Ele foi muito de acordo tanto com o discurso de Renan Calheiros na abertura dos trabalhos quanto no desenrolar da CPI”

“Ele (Mandetta) desenhou a questão das omissões, ele pontua isso, e das ações do governo. Eu acho que ele colocou de uma forma muito clara, muito clara, em apontar todos esses problemas, todas essas omissões do governo, toda a falta de entendimento de vários ministros (…)”

“Eu acho que outro candidato a ser chamado à CPI será o Jorge Oliveira, que hoje é ministro do Tribunal de Contas da União – ele era o ministro-chefe da Secretaria Geral do Planalto e foi quem, segundo Mandetta, disse ‘não, não leve em consideração esse decreto'”

“O Mandetta disse que foi levado a uma reunião no terceiro andar (…) Ali ele viu um papel timbrado, nada oficial, mas com um decreto que tentava incluir na bula da cloroquina o tratamento para a covid”, diz Auler.

“E ele disse ‘mas como isso?’ Disse que estava lá o presidente da Anvisa, que vai depor na CPI, e que esse presidente disse que isso não pode (…)”, explicou Auler. “Como ele deixou claro, em uma mesa em um gabinete no Palácio do Planalto havia um esboço de um decreto que era para incluir na bula da cloroquina o tratamento para covid”.

Alexandre Padilha e a CPI

O ex-ministro Alexandre Padilha (PT-SP), atualmente deputado federal, comenta que o principal fato da CPI foi o pedido de Pazuello para não comparecer ao depoimento, e pedir para comparecer dentro de 15 dias.

“Acompanhei o depoimento e as perguntas ao ex-ministro Mandetta (…) De fato, a impressão que eu tive foi que o depoimento do Mandetta não trouxe nada de novo. Eu tinha uma expectativa de que ele fosse mais a fundo em direcionar – por exemplo, essa coisa da cloroquina. Quem mandou? Ele sabe quem mandou. Foi um ministro quem mandou? Foi o presidente Bolsonaro que mandou?”

“Na minha avaliação, essa CPI tem duas frentes fundamentais: de um lado, dar mais evidência para as decisões de Bolsonaro que criaram obstáculos no controle da pandemia, e reforça a postura genocida de Bolsonaro de colocar o povo brasileiro no corredor da morte”, diz Padilha

“Uma outra coisa que precisa se investigar é quem ganhou dinheiro com isso, e se quem ganhou dinheiro com isso tem relações de financiamento com o bolsonarismo”, ressalta Padilha.

“Eu não acho que a propaganda da cloroquina, da ivermectina, é apenas uma crença negacionista de Bolsonaro. Eu acho que tem interesse financeiro por trás, tem mamata aí que a gente precisa descobrir, e essas pessoas que ganharam dinheiro, qual a relação delas com o bolsonarismo (…)”.

Sobre a influência da família Bolsonaro, Padilha diz que isso precisa ser puxado pela CPI. “Acho que é importante, eu tinha expectativa de que pudesse nominar as pessoas”.

“A partir dessa fala, a CPI tem como pedir, exigir que se diga quais as reuniões do Palácio do Planalto ou dos ministérios que o vereador Carlos Bolsonaro participou. O Planalto é obrigado a dar essa informação”, lembra o deputado. “A CPI vai poder questionar, por exemplo, quais agendas o Eduardo Bolsonaro participou no Ministério da Saúde e a relação disso com agendas com período de negociação com a China sobre acesso à vacina”.

“A CPI tem que ir atrás da relação do senador Flávio Bolsonaro com os hospitais federais do Rio de Janeiro”, afirma o ex-ministro da Saúde. “O Rio de Janeiro é o único lugar onde temos hospitais gerenciados diretamente pelo Ministério da Saúde, temos seis hospitais”

“Todo mundo diz que foi o Flávio Bolsonaro quem indicou os diretores dos hospitais, o Mandetta insinua isso”, diz Padilha. “Um dos motivos, inclusive da saída, foi que Flávio Bolsonaro passou a indicar (…)”.

“Inclusive, dizem que um dos motivos pelos quais saiu o Pazuello e entrou esse novo ministro (Marcelo Queiroga) é por conta das relações que esse novo ministro teria com o sogro do Flávio Bolsonaro”, ressalta Alexandre Padilha.  “Então, essa é uma questão fundamental – o que esses hospitais federais fizeram diante dessa pandemia?”, pontua o deputado federal. “Por que tem leito não ocupado até agora? Quais os contratos desses hospitais? Quem decide quem interna e quem não interna nesses hospitais?”

Redação

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