Memórias da USP nos tempos neoliberais de FHC e o retorno do Estado Mínimo com o Golpe.

Memórias de um estudante Uspiano nos tempos de neoliberalismo de FHC. Voltaremos ao sucateamento das Universidades Públicas com o Golpe de Estado?

Fiz um artigo/ relato relembrando a Universidade de São Paulo nos meus tempos de estudante de letras e de FHC presidente e coloco ponderações sobre a possibilidade, se o Golpe de Estado prosperar, de um “revival” do sucateamento com Temer e as consequências para os estudantes e o Brasil em geral.

1) Memórias de um Uspiano nos tempos do neoliberalismo de FHC.

Fui aluno da Universidade de São Paulo no Curso de Letras no auge do neoliberalismo e a ideia de Estado Mínimo. 1996 – 2001 – Governo FHC. Época das Privatizações das empresas públicas em setores estratégicos, como o das telecomunicações, da energia elétrica e até da Vale do Rio Doce, a maior produtora de Minério de Ferro do Planeta.

Estudei em um curso em que não mais se contratavam professores e que as turmas chegavam a ter 200 alunos numa mesma sala. Um exemplo interessante: um mesmo professor de Literatura Portuguesa, por exemplo, dava aulas para mais de 1000 alunos, porque chegava a ter 5 turmas.

Imaginemos corrigir de uma só vez 1000 provas + 1000 trabalhos de Literatura com, geralmente, uma média de 20 páginas cada um de uma só vez?

Tínhamos chegado ao auge dos tempos neoliberais de FHC e os professores, por causa de uma Lei que mexeria com a aposentadoria dos docentes, foram se aposentando, com medo da perda dos direitos trabalhistas.

Em relato de uma Professora de Literatura Portuguesa em sala de aula descobri que em 1980 havia 21 Professores, somente na área de Literatura Portuguesa, e que em 1999 este número havia caído para 5 professores. Como disse, era o auge do neoliberalismo, do Estado Mínimo e das privatizações.

Era triste constatar que uma aposentadoria não vinha acompanhada de um novo Concurso Público para preencher a vaga em aberto. Tão somente continuavam as aulas, e os organizadores da grade curricular promoviam uma reorganização das turmas com o remanejamento dos alunos formando turmas maiores com agrupamentos de mais de 200 alunos nas salas de aula, o que convenhamos é muito pouco produtivo e nada didático.

Até aulas com mais alunos do que cabiam na sala tive. Estudantes ficavam sentados no corredor, próximo à porta ouvindo a aula e, praticamente, sem ver o (a) Professor (a).

Qual a qualidade de aprendizado podíamos ter? Baixíssima, certo? Era tudo pelo Estado Mínimo!

No 2º semestre do ano de 1999 aconteceu um fato inusitado. O Professor oficial do Curso de Literatura Portuguesa, aquele que é responsável pela turma e vem o nome escrito na grade de horários das aulas do semestre, com tantas turmas para ministrar aulas ficou impossibilitado de dar aula para minha turma e assumiu no seu lugar um jovem estagiário do Mestrado.

No final de junho daquele ano (portanto, final do 1° semestre letivo), este estagiário ficou sabendo da sua missão de dar aula no lugar de um Professor no 2º semestre. Ele era especialista em uma área do conhecimento de Literatura Portuguesa, que não lembro qual agora e foi avisado que daria aula de outro tema: Fernando Pessoa.

Na faculdade de Letras tínhamos um semestre inteiro de Camões e outro de Fernando Pessoa, por motivos óbvios – são os dois maiores Poetas da Língua Portuguesa e, também, dois dos maiores poetas de todas as Literaturas e junto com Camilo, Eça e Machado os grandes nomes da Literatura em Língua Portuguesa.

Chegada a semana de início do 2º semestre o jovem estagiário de Mestrado fica sabendo que não mais dará aula sobre Fernando Pessoa e sim sobre o Simbolismo em Portugal, e seus maiores expoentes: Antonio Nobre, Camilo Pessanha e seu fundador Eugênio de Castro.

Imaginemos um jovem estagiário de Mestrado, alçado a Professor que teve 1 mês para estudar Fernando Pessoa, área diferente da que estudava em seu Mestrado, e chega na 2ª feira do início do segundo semestre e descobre que não vai ministrar aula nem de Fernando Pessoa e nem da área em que faz Mestrado e, sim! De Simbolismo em Portugal.

O jovem estagiário de Mestrado alçado a Professor teve dois dias para preparar a aula e chegou, numa quarta-feira para enfrentar alunos preparados e críticos de um curso de Letras na Universidade de São Paulo.

É inacreditável! O Jovem estagiário de Mestrado alçado Professor nos relatar em sala de aula o acontecido em sua primeira aula. Claro, que o começo do curso não pôde ter o desenvolvimento desejado, após, as primeiras aulas, a coisa foi engrenando um pouco mais. Só me lembro por duas vezes, de o Professor oficial do curso aparecer para dar aula. Um Senhor experiente e com conhecimento aprofundado no tema: Simbolismo em Portugal.

Uma vez aconteceu, em Literatura Italiana, de não termos Professor no início das aulas, porque o Professor designado para dar aula tinha se aposentado. E começamos o semestre sem aula. Passou mais ou menos um mês e uma professora, que já tinha outras turmas, assumiu a sala, porque senão a gente ficaria atrasado um ano, pois, a Faculdade de Letras apesar de ser semestral tinha cada matéria apenas em um semestre do ano.

Em determinado período, no auge do Governo FHC e com Mário Covas Governador havia uma espécie de Bedel, que ia de sala em sala contar o número de alunos presentes em comparação com o número de inscritos na matéria. Imaginemos a logística e o jogo de cintura dos Professores e funcionários para manter um curso da USP em que mais de 800 alunos são aprovados no vestibular por ano e temos 5 professores de Literatura Portuguesa?

Será possível imaginar?

Quando em 2002, LULA foi eleito Presidente e começou a reerguer o ensino universitário Público, contratando novos professores, aumentando as verbas para o ensino superior e criando novas Universidades e Campus pelo Brasil afora, interiorizando o Ensino Superior, o Governo de São Paulo, administrado pelo partido de FHC, o PSDB, se viu obrigado a melhorar as condições de ensino na Universidade de São Paulo.

Houve greves importantes no Período inicial da década passada, unindo professores, funcionários e alunos e sei que a contratação de Professores foi retomada. Não posso relatar sobre este período porque não era mais aluno da USP.

Eu que fiz duas graduações seguidas: Geografia e Letras (Italiano e Português) entre os anos de 1990 e 2001, vivi o auge do Neoliberalismo no Brasil, como estudante de Graduação da Universidade de São Paulo, na gestão do PSDB, tanto no Governo do Estado, como na Presidência da República.

2) E não é que querem reaver todo o caos universitário de FHC com Temer.

Todo este relato foi para falar que estamos caminhando para a mesma realidade dos tempos de neoliberalismo de FHC com o Golpe de Estado. Os mesmos que criticaram o PT e os Governos LULA e o da Presidenta DILMA e deram o Golpe de Estado são os mesmos que no Poder, certamente, retomarão o processo de sucateamento do ensino superior público e gratuito.

A turma deles (dos neoliberais) está espalhada pela Europa e outras partes do mundo, como na Argentina, agora, cortando gastos públicos, cortando direitos trabalhistas, financiando banqueiros e rentistas com o dinheiro arrecadado pelo Estado via impostos e outras receitas e criando uma realidade impensada: uma Europa com desemprego recorde e cortes nos gastos sociais. Países antes desenvolvidos indo à bancarrota e com pobreza crescente. E, jovens, aos montes sem perspectivas de um primeiro emprego e a segurança de seu futuro.

Quem viveu este filme que relatei: o de estudante das universidades públicas nos anos FHC sabe o quanto trágico foi aquele tempo e poderá alertar, também, o que virá se o Golpismo prosperar.

Vão tentar fazer das universidades públicas universidades privadas? Tudo indica que sim!

Porém, com a batalha/greves/manifestações para que não ocorram as privatizações, organizadas pelos estudantes, professores e funcionários das instituições públicas e gratuitas de ensino superior ocorrerá como nos anos FHC no Poder central: não deixam privatizar a gente não contrata Professor e funcionários, a gente congela os salários, a gente não destina verba para pesquisas, a gente não aumenta salários, a gente não faz reformas necessárias nas instalações das universidades, etc.

Sabe o quadro que tracei da minha Graduação em Letras? É fruto dessa concepção de mundo que a Europa importou com 20 anos de atraso da América Latina! E, que agora, o Golpe de Estado em que assumiu Temer quer revigorar 13 anos depois de seu ocaso no Brasil.

Esses Políticos e analistas econômicos e da política, que vivem por aqui, nas grandes redes de rádio e TV criticando os Governos do PT em tudo e nunca elogiando em nada, defendem, na verdade, que seu (sua) filho (a) tenha, novamente, uma realidade próxima da que tracei do meu curso de Letras na Universidade de São Paulo (USP).

Os golpistas farão de tudo para privatizar a USP (aqui uma universidade pública estadual paulista e gratuita) e privatizar várias outras universidades federais e estaduais públicas (muitas delas criadas na Gestão Petista no Governo Federal). Lembrando, na época de FHC Presidente o Estado de São Paulo já era Governado pelos tucanos, como é até hoje.

E farão de tudo para privatizar por quê?

Eles continuam pensando e agindo como FHC em seus dois mandatos de Presidente! O Neoliberalismo deles nunca morreu. O Estado Mínimo continua a ser o sonho maior, a mercantilização da Vida em sociedade e as privatizações das empresas e patrimônio do setor público, também, e, por isto, a Universidade Pública poderá ser novamente o que era nos tempos de FHC.

A pressão contra a privatização é reprimida de forma simples: sucateamento.

Quase todos os brasileiros que apoiaram/comemoraram o Golpe de Estado não podem dizer que foram inteligentes, certamente, foram enganados. A não ser os neoliberais convictos: experts do assunto e uma parcela pequena da sociedade, contaminada pelo extremismo dos analistas pitbulls da Veja & Cia.

Afinal, desemprego e/ou empregos de baixa rentabilidade e qualificação, cortes nos gastos públicos e nos gastos sociais + corte dos direitos trabalhistas, ausência de investimentos em Ciência e Tecnologia, em Cultura são prazeres inconfessáveis dos neoliberais! E, se o Golpe prosperar, voltarão esses tempos de caos no ensino público e gratuito com tudo!

Então, podemos dizer sem medo, estamos diante da mercantilização total do Brasil e a Educação brasileira não escapará desta mercantilização.   

No ensino podemos dizer que se fará de tudo pela retomada das privatizações das universidades públicas, apontaremos, ainda, para o possível fim do FIES, do PROUNI e do Ciência Sem Fronteiras e qualquer outro modelo de crédito educativo. E para quem leu o documento “A Ponte para o Futuro” dos golpistas sabe que lá se prevê até a privatização do ensino de segundo grau público. Sem contar no fim da política de COTAS (raciais ou sociais); lembremos o Ministro da Educação empossado pelo Presidente Ilegítimo do Brasil é do Partido DEM, que sempre foi contrário a esta política de compensação social. 

E, por ser um Golpe de Estado com patrocinadores, para além de nossas fronteiras, pelas análises dos estudiosos no assunto, o ensino superior e de qualidade tenderá a desaparecer. Não interessa a parte dos patrocinadores do Golpe de Estado (patrocinadores estrangeiros) um Brasil desenvolvido, com Justiça Social e soberano.

Por quê?

Porque seríamos potência educacional e tecnológica, teríamos condições de produzir produtos de alta-complexidade industrial com tecnologias locais, os nossos recursos naturais e a nossa biodiversidade em abundância seriam utilizados por nossos próprios estudantes, cientistas, pesquisadores, industriais, etc. para o desenvolvimento interno do Brasil. E não seriam espoliados pelas grandes potências: levam o recurso natural e trazem o produto manufaturado de alta-tecnologia, o remédio para diferentes doenças, quem leva a melhor financeiramente?

Isto gera Educação de qualidade. Gera pesquisa de ponta. Gera empregos de alta-complexidade e salários altos. E riqueza. Que esta riqueza se produza no exterior, eis o que os neoliberais e os imperialistas, que patrocinam o Golpe de Estado, querem!

Uma coisa é certa.

Sem investimento em pesquisa universitária pública, em Ciência e Tecnologia, em qualificação profissional, sem uma Política Nacional de desenvolvimento industrial, sem a valorização da cadeia produtiva do Petróleo, sem a valorização da Indústria Naval e de Defesa, sem a valorização da empresa nacional e valorização da continuidade das obras de infraestrutura, sem um Estado fomentador do desenvolvimento com políticas para organização do setor produtivo, com bancos públicos fortes e capazes de criar linhas de crédito para as áreas industriais, agrícolas, de infraestrutura, etc. não haverá possibilidade de reversão do quadro econômico brasileiro. E, não teremos a chance de produzir empregos de alta-qualificação no País. A Universidade não terá motivos para formar profissionais gabaritados: bem-informados e qualificados para serem grandes cientistas.  

Nem na área de humanidades se deseja formar profissionais de ponta. Até a formação humanística ampla, crítica e com diversidade Ideológica parece que se buscará eliminar no ensino universitário. Vide ideias veiculadas nestes dias de “Escola sem Partido”, em evidência da procura de padronização dos comportamentos e de imposição de um modelo único de pensamento ou de não pensamento, que exclua propostas mais progressistas de ensino, de construção de uma sociedade plural, de valorização temas que apontem para uma sociedade mais igualitária e para uma Educação libertária.

O que tudo indica, se o Golpe de Estado prosperar, é que teremos um Brasil empobrecido com salários baixos e terceirizada a mão-de-obra dentro de uma cadeia produtiva de baixo nível tecnológico. Observem que as medidas econômicas de Meireles e Temer são só de cortes em áreas essenciais ao desenvolvimento de um País: Educação, Saúde, Transporte, Habitação, Infraestrutura e jamais de cortes nos pagamentos de juros aos bancos e rentistas.

Infelizmente, voltaremos aos tempos de FHC e os salários que chegam até a ¼ dos tempos de LULA e do primeiro mandato DILMA, onde, se iniciou a luta fratricida pelo Golpe de Estado e a busca da destruição total do nosso processo gradativo, apesar de lento, de desenvolvimento econômico, social, intelectual e industrial soberanos.

E o Golpe retirará os 8 trilhões de dólares (valor atual) do PRÉ-SAL dos brasileiros, entregando-o à inciativa privada. Pré-Sal que destinaria todos os seus royalties para a Educação e Saúde, o que representa, atualmente, na fase inicial de sua exploração, 26 bilhões de reais/anuais para a Educação (+ de trilhão de reais ao todo) e o pior, os golpistas querem desvincular do orçamento da União a obrigatoriedade constitucional de investir, ao menos, 18% do orçamento em Educação, sempre lembrando, nunca cortar o pagamento de juros à banqueiros e rentistas, nunca taxando as grandes fortunas, nunca fazendo uma auditoria da dívida pública, nunca buscando um imposto com progressividade de tributos, nunca fazendo uma reforma tributária efetiva e justa, que não recaia com toda intensidade nas costas dos trabalhadores e dos pobres.

Sem contar com o fato de se querer “engessar o orçamento do Brasil”, com a ideia de que o Estado só pode gastar a mais no ano seguinte, o que a “inflação comer”.

Não preciso dizer mais muita coisa do que os Golpistas farão do Brasil. Só lembrar que privatizada a Universidade Pública, com a desculpa da grife USP, UNICAMP, UFRJ, UFMG as mensalidades serão altíssimas e poucos brasileiros, nesta “mexicanização” do Brasil, poderão frequentar com seus salários.

Quem tem bala na agulha para pagar 12/15 mil reais em um curso de Medicina para o filho (a)? Em um País que gerará poucos empregos de alta-qualificação e de alto-salário?

É rever o meu relato do passado no futuro próximo o que queremos para nossos filhos e filhas? E, numa versão PLUS 2.0?

Temer, o usurpador, fez-me lembrar da minha graduação em Letras e me fez assustado. Tempos de Neoliberalismo de FHC, não! Por favor, nunca mais! 

Redação

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