O Brasil & os Brasis: descobrimento, por Arkx

por Arkx

eram muitas as análises acerca de quando aquilo tinha acontecido. alguns até defendiam que sempre fora assim, desde o primeiro desembarque dos conquistadores. ou talvez fossem ruínas acumuladas ao longo de séculos.

seja como for, ninguém mais podia negar, pois estava escancaradamente à descoberto: já não existia apenas um único Brasil.

aquele Brasil de palmeiras e sabiás, da miscigenação inzoneira, da abençoada cordialidade tropical, aquele Brasil já não há – e para ele jamais iremos voltar. o Brasil tal qual o imaginávamos conhecer, está morto!

agora múltiplos Brasis ocupam um mesmo espaço geográfico, mas isto é tudo que compartilham: apenas o território. no mais só existem diferenças irreconciliáveis. são tão incompatíveis que agora se enfrentam num estado de guerra civil de baixa intensidade.

o Brasis da Lava Jato & Associados e o Brasis de São Paulo Ltda. se tornaram a principal coalizão supra-regional do BrasilPar.

BrasilPar vem a ser uma gestora de participações acionárias em diversas empresas e empreendimentos, uma holding estrategicamente associada a USA Incorporation.

São Paulo Ltda. abriga a sucursal brasileira da Tirania Financeira Global, e tem principal commodity de exportação a taxa SELIC.

a Lava Jato & Associados fornece a blindagem jurídica da Democracia sem voto. na qual todo poder emana do Judiciário e de sua interpretação arbitrária das leis, para garantir a conformidade com uma constituição cujo fundamento são os juros pagos aos especuladores.

ainda alguns outros Brasis compõe o conglomerado gerido por BrasilPar, como a Vale do Rio Lama Tóxica. cartel exportador agropecuário, especializado na pilhagem do subsolo, extinção de biomas, desertificação de florestas tropicais, genocídio indígena e reabilitação de doenças infecto-contagiosas consideradas erradicadas.

BrasilPar possui também uma sofisticada agência de operações psicológicas, responsável por sucessivas campanhas de choque e pavor midiático, com objetivo de manter a população nativa sob permanente controle mental.

como um dos mais mórbidos fenômenos decorrente da morte do Brasil, ocorre a saída da semi-clandestinidade do BrasiNazi. o Brasis do povo superior da “raça Planaltina”, herdeiro do empreendedorismo colonial dos Bandeirantes, em busca do Eldorado da matança dos miseráveis e do holocausto do contraditório.

com a morte do Brasil, restaram apenas negócios, negócios e negócios. nenhum projeto de país. sem qualquer esperança de Nação. a cidadania se convertera em empreendedorismo de si mesmo. o Direito Público em Direito Privado Corporativo. o trabalho em desemprego estrutural. a verdade em fake news. o passado em pós-futuro.

então, sob a luz asfixiante de um sol negro imóvel no meio de seu curso, um outro insuportável descobrimento aconteceu.

mas por acaso ainda existiriam os brasileiros? todos nós que um dia fomos brasileiros? morto o Brasil, como ainda podiam estar vivos os brasileiros? existem os indivíduos isolados da sociedade da qual fazem parte?

uma extinção em massa povoara aquele vale dos mortos com criaturas bizarras e monstruosas. corpos sem almas vagando por uma escuridão sem forma. os anteriormente chamados de brasileiros padeciam de vários os tipos de patologias. diversas enfermidades físicas e múltipos transtornos mentais.

com o fim do Brasil, era inevitável para os ex-brasileiros a dissolução de seu ego denominado de “normal”. mas sem a loucura que é o homem mais que a besta sadia, cadáver adiado que procria?

num mundo surreal e numa sociedade hiper-normalizada, pode aquilo que é denominado de “loucura” ser um processo em direção a cura natural?

enquanto os necrófilos saboreiam seu banquete, somente os antropofágicos atravessarão o despenhadeiro das sombras. neste tempo de aniquilamento, a questão de todas as questões: tupi or not tupi?

ou fazemos nossa própria cremação com muita dança, música e alegria, ou continuaremos padecendo neste inferno que se tornaram os Brasis e nossas próprias vidas.

“há apenas uma história: a história dos abutres contra nós. eles têm casas maiores que a Disneylândia, nós temos aviso de execução hipotecária. eles têm jatinhos particulares para irem a ilhas particulares, nós pagamos suas dívidas de apostas financeiras com nossas pensões. eles têm redução de impostos, nós temos créditos de risco. eles financiam os candidatos que nas eleições nós devemos escolher. eles têm as minas de ouro, nós ficamos com os buracos.”

vídeo: “Capitão Fantástico” – cremação

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Redação

13 Comentários

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  1. Nos ultimos 6 anos vimos

    Nos ultimos 6 anos vimos desaparecer o Brasil.

    Uma mídia cretina,  povo globotomizado,  judiciário parcial,  parlamento venal, um governo federal medíocre, estaduais e municipais na quase totalidade piores ainda. Tudo junto , misturado, ao mesmo tempo, e aquele país que tentava reeguer-se, acabou.

  2. Algumas considerações.

    Caro Arkx, eu creio que esse parágrafo é uma ironia, mas se não for, cuidado com as idealizações:

    “(…)aquele Brasil de palmeiras e sabiás, da miscigenação inzoneira, da abençoada cordialidade tropical, aquele Brasil já não há – e para ele jamais iremos voltar. o Brasil tal qual o imaginávamos conhecer, está morto!(…)”

    A miscigenação nunca existiu, não da forma como é publicada…Foi estupro coletivo, onde uma das partes (o branco e senhor) detinha nas mãos e no chicote o destino da “parceira”…Miscigenação requer consenso entre as partes…nunca houve, pelo menos não a ponto de influenciar nossa herança étnica…

    Até ontem (antes de Lula e Dilma) e pelo jeito voltará a ser assim, a “miscigenação” era o abuso no quartinho de empregada (versão moderna e nem sempre melhor das senzalas ancestrais), onde o jovem playbosta inicia sua carreira de crimes contra mulheres que tratará como lixo…

    Cordialidade?

    Idem, nunca a tivemos, não do jeito como adoramos nos proclamar…sempre fomos e seremos de extrema violência, porém, não é uma violência de conflito, de campo aberto, secessão entre iguais, mas covardia, extermínio, grito sufocado nos porões do autoritarismo que gosta de se enxergar como generoso…

    O temo cordial (“que passa passa pelo coração”) foi cunhado por Hollanda, não para determinar um estado de humor ou ânimo, mas para descrever nossa atávica inclinação a desprezar a formalização dos procedimentos e tratar os assuntos de Estado e os direitos e deveres como privilégios de uns poucos…aqueles que são “cordiais”…

    Um abraço…

    1. o Brasil & os Brasis: descobrimento

      ->Caro Arkx, eu creio que esse parágrafo é uma ironia, mas se não for, cuidado com as idealizações:

      é uma ironia, também.

      sem dúvida, cfe. vc muito bem expõe, nem a miscigenação nem o caráter “cordial” e “emotivo” do brasileiro existem como foram publicados e consagrados. assim como toda a mitologia criada sobre o Brasil e os brasileiros, desde “um viciado estado patrimonial versus o mercado virtuoso” até uma “maldita herança ibérica”. ou nosso “povo pacífico com sua história sem sangue”.

      ou seja, concretamente não existe nada disto. muito pelo contrário, até.

      porém (e aqui é o X da questão), todos este mitos existem como construção ideológica. existem no imaginário, como narrativa até hoje dominante!

      este é o Brasil que agora morre. porque não dá mais para sustentar este tipo de versão depois do golpe!

      é insustentável que a narrativa da Lava Jato ser cruzada contra a corrupção, após conduzir, e manter no poder um governo no qual toda sua cúpula esta citada nas delações.

      do mesmo modo que o afastamento de Dilma é indispensável para a recuperação econômica.

      mais e mais vai se disseminar a percepção de que temos uma elite selvagem dedicada unicamente a pilhagem do pais e de seu povo. uma plutocracia colonial e escravocrata que sempre teve em guerra contra todos nós.

      estamos num processo de construção de novas narrativas, agora fundadas na experiência concreta e não em idealizações. e isto é também uma forma muito importante de luta!

      abração

      .

  3. Arkx, mais um artigo

    Arkx, mais um artigo incisivo, uma tomografia social.

    Fiquei tentando imaginar como seria a sociedade brasileira, se a Direita representada por figuras como Bolsonaro, Malafaia, Sérigo Moro, Gilmar “Dantas”, Meirelles, Cunhas, os pensadores de Veja, Banqueiros, Skaf, Yves Gandra Filho e outros da mesma cepa  adquirissem o poder de impor seu projeto de nação para o Brasil.  Entendo que é um exercício válido para se demonstrar no que pode resultar as atitudes, as idéias e os conceitos dessas figuras que traduzem o lado mais sombrio desses brasis.  Desculpem a dose de humor, mas é inevitável diante do cinismo e da hipocrisia das figuras citadas.

    1 – A república federativa  do Brasil é extinta.

    2 – No lugar da República, é fundada a Federação das Capitanias Hereditárias do Brasil (FCH do Brasil ( Não confundir com FHC)

    3 – A FCH do Brasil torna-se um Estado associado aos EUA.

    4 – O poder em FCH do Brasil é exercido por uma elite de juristas, que passa a denominar-se simplesmente Elite.  A Elite indica um dos seus  integrantes para presidi-la.

    5 – Sérgio Moro é indicado como primeiro presidente da Elite, em reconhecimento pelos serviços prestados à antiga República.  Como vice-presidente, pelos mesmos motivos, é indicado Gilmar Dantas.

    6 – A Elite é composta exclusivamente por juristas com MBA  em universidades americanas.

    7 – A elite é eleita pelos dez homens mais ricos da FCH do Brasil.

    8 – A Elite tem autonomia para elaborar a constituição, que deve ser aprovada, compulsoriamente,  pelos 10 homens mais ricos da FHC do Brasil.

    9 – A escravidão é restabelecida para negros e mulatos.

    10 – É instituído o Ministério da Escravidão, cujo ministro é indicado pelo Presidente da Elite. Em reconhecimento pelos serviços prestados à antiga República, Joaquim Barbosa é o primeiro homem  a ocupar o cargo.

    11 – É instituído o Departamento de Controle de Drogas.  É indicado para o cargo de chefe e único integrante do Departamento,  o Sr. Aécio Neves, por sua  extensa experiência na área. O único equipamento disponível para as operações é um helicóptero, também conhecido como helipóptero.

    12 – Os homens brancos, com curso no exterior, que não optem por morar em Miami. ficam à disposição da  elite,  para  a administração das Capitanias Hereditárias.

    13 –  Os trabalhados brancos, sem curso no exterior, integram o exército, cuja missão primordial é disciplinar os novos escravos . É indicado para  comandante máximo do exército, o Sr. Bolsonaro,  tendo em vista suas idéias e seu empenho tão adequados à função.  

    14 – O inglês é  o idioma oficial, exceto para soldados e escravos, que continuam a falar o português.

    15 – A economia brasileira  é exclusivamente agrícola e pastoril.

    16 – As mulheres  são submissas, recatadas e do lar.

    17 – A religião oficial é a evangélica e somente a religião católica é tolerada, com proibição de todas as demais.

    18 – Todas as minorias são exterminadas, LGBT, índios, deficientes físicos, exceto negros e mulatos que  tem  garantido o direito ao  regime de escravidão.

    19 – A pena de morte é implantada, somente para escravos e membros do exército.

    20 – Ergue-se um muro , cercando aquele território  que, na antiga República , era conhecido como Estados do Nordeste. Esse território passa a denominar-se SERTÃOALTO. Em conformidade com as diretrizes da Elite, somente 3% dos habitantes de SERTÃOALTO poderão emigrar para as demais regiões de FCH do Brasil, afim de se integrarem ao contingente de negros e mulatos.  Os habitantes que permanecerem em SERTÃOALTO  terão o privilégio de serem objetos de estudos biológicos, sociológicos e filosóficos, por parte dos profissionais que contribuíram decisivamente para o fim do HUMANISMO POLITICAMENTE CORRETO.

    21 – A Globo tem o monopólio  de TV, Rádio, Jornal,  Internet, sinal de fumaça, mímica, linguagem de sinais  ou qualquer outro  meio de comunicação existente ou que vier a existir.

    22 – A Globo tem o monopólio da verdade.

     

    1. o Brasil & os Brasis: descobrimento

      muito legal!

      é como a plutocracia brasileira nos vê e nos quer: a FCH – uma Federação de Capitanias Hereditárias.

      e agora tudo isto ficou declarado e descarado. e desta realidade advém conseqüência incontornáveis.

      veja bem. não é que sejamos contra os acordos e alguma conciliação. é esta plutocracia colonial e escravagista que não quer o mínimo acordo e não admite a menor conciliação.

      não haverá nenhuma pax brasileira se que esta plutocracia seja derrotada numa guerra.

      estamos numa daquelas encruzilhadas mortais de nossa história. talvez a mais mortal que até hoje passamos.

      grande abraço

      .

  4. A brasa do mocó tá esquentando!

    Arkx,

    Fim do Brasil ou volta ao ponto de partida?

    Porque acho que voltamos a não ter nem querer um Estado Nacional, vivemos em tribos isoladas e inimigas entre sí, os pajés é que mandam, o estado de guerra é permanente e, se ainda não retornamos à antropofagia, já estamos estocando carne humana para assar no “mocó” em grandes quantidades e exibindo os crânios arrancados nas paliças da porta da taba!

    Parabéns novamente e um grande abraço!
     

    “o aparelhamento colonial político-religioso repressivo sob que se formou a civilização brasileira, a sociedade patriarcal com seus padrões morais de conduta, as suas esperanças messiânicas, a retórica de sua intelectualidade, que imitou a metrópole e se curvou ao estrangeiro, o indianismo como sublimação das frustrações do colonizado, que imitou atitudes do colonizador”. x

    Bom alimento! (Theotônio de Paiva, editor da seção especial “Oswald 60″)

    Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

    http://outraspalavras.net/posts/no-centro-do-modernismo-brasileiro-o-manifesto-antropofago/#sdendnote10sym

     

    1. o Brasil & os Brasis: descobrimento

      -> que imitou atitudes do colonizador

      “O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior.”

      abração

      .

  5. Que bacana. Vou guardar.

    Que bacana. Vou guardar. Acabei de fazer uma viagem pelo PIBA (De MATOPIBA- Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia), onde o agronegócio está destruindo o cerrado com velocidade incrível e com isso, acho, trazendo o polígono das secas até Brasília. A Soja adentra o asfalto nas estradas, não há acostamento. Não há benefícios para a população nativa. Onde há terra plana está sendo tudo dizimado. É o horror. 

    1. o Brasil & os Brasis: descobrimento

      -> É o horror. 

      na região das águas minerais, nas terras altas da Mantiqueira no sul de Minas, as secas constantes e cada vez mais fortes estão matando as nascentes. numa região muito fria, os dias são de calor intenso.

      pior ainda é o impacto disto no corpo das pessoas. a “doença da mudança climática” se torna epidêmica.

      abraços

      .

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