The Revenant: Daniel Boone com esteroides, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Hoje fui ver The Revenant (2015). O novo filme de Leonardo Di Caprio não me surpreendeu. No fundo, não passa de um Daniel Boone com esteroides.

A série de televisão, que foi televisionada de 24 de setembro de 1964 a 10 de setembro de 1970, tem uma grande vantagem sobre The Revenant: Fess Elisha Parker Jr. não precisava fingir ser um grande ator. Ele era apenas um canastrão que ficava bem no papel de Daniel Boone. Di Caprio se esforçou tanto para ser Hugh Glass que em diversos momentos passei a prestar mais atenção no ambiente do que no personagem.

A natureza opressiva é um elemento chave na narrativa de The Revenant. O rio tão impetuoso quanto os índios. A neve tão fria quanto os franceses que negociam com os índios que roubam peles dos americanos. Apesar de não ter garras de metal, o personagem de Di Caprio sobrevive ao urso, ao inverno, à queda do precipício e às facadas do adversário. Hugh Glass é quase tão imortal quanto Wolwerine, herói de HQ que sacrificou um urso feroz no filme de 2013. Portanto, um encontro cinematográfico entre ambos me parece indispensável.

A ferocidade dos índios combatidos por Daniel Boone era irracional. Eles eram malvados porque eram malvados, assim como os bons índios como Mingo eram apenas bons. Os ferozes adversários de Hugh Glass agem por motivos absolutamente racionais: os brancos roubaram tudo deles, os animais, as terras e as mulheres.

Ocorreu, portanto, uma curiosa transformação na ideologia dos índios. Os da série estrelada por Fess Parker não tinham uma noção de propriedade tão arraigada e refinada quanto os do filme The Revenant. A ligação dos índios com a terra deixou de sagrada. Um capitalismo primitivo pode ser visto entre os índios que caçam Hugh Glass e seus companheiros. No filme, com exceção do herói interpretado por Di Caprio, todos os personagens – norte-americanos, índios e franceses – são capitalistas selvagens.

De todos os personagens do filme, o mais interessante é John Fitzgerald. Tudo que ele faz só tem uma motivação: obter lucro. O personagem de Tom Hardy é o protótipo do capitalista norte-americano. Ele é capaz de enterrar alguém vivo para receber o dinheiro que lhe foi prometido. Ele mata, rouba e em momento algum demonstra qualquer tipo de remorso. Ele é a versão norte-americana do francês sem escrúpulos que troca cavalos e armas por pelos roubadas dos norte-americanos.

Não é natural o amor exagerado de Hugh Glass por seu filho meio índio. A relação mais provável entre um branco e uma índia é aquela que o francês mantém com sua índia cativa. Ela a estupra e quando tem oportunidade ela corta fora as bolas dele.

A cena do renascimento de Hugh Glass é uma cópia quase perfeita daquela que vemos em O Império Contra-Ataca. Assim como Luke Skywalker, o wolwerínico  Hugh Glass se protege do frio dentro de um animal de grandes proporções. Ambos renascem no ventre de uma fera. Isto explica porque ambos passam a agir com absoluto destemor após o segundo nascimento.

O personagem de Di Caprio passa a maior parte do filme em silêncio ou grunhindo. Ele me fez lembrar do pai de família retirante do livro Vidas Secas.

Fabiano, é sombrio, tem o espírito atribulado, o coração duro, trata os filhos com pancadas mas sente pena deles. É cambaio, tem os calcanhares duros como cascos, a voz rouca e medonha, os dedos rachados e as bochechas cavadas. Era como a bolandeira (roda dentada dos engenhos açucareiros), movimentava-se de maneira regular, previsível. Enfrenta com segurança seu destino. A fome inibe seu raciocínio. Tem esperança, acredita que as coisas podem mudar. Como chefe da família carrega os símbolos de poder do nordestino:- a espingarda e o aió (bornal de caça).  . O personagem de Graciliano Ramos, portanto, é bem mais interessante que o norte-americano.

Resumindo: The Revenant é um filme longo, cansativo e sangrento. Uma orgia de capitalismo primitivo para aqueles que acreditam nas virtudes do capitalismo moderno.

Fábio de Oliveira Ribeiro

17 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. uma orgia do capitalismo

    uma orgia do capitalismo primitivo…eu acho que é  por isso a academia adorou o filme! exaltar os valores USA..  é candidato ao oscar de melhor filme.

  2. a relação com vidas secas é

    a relação com vidas secas é interessante…

    a orgia do capitalismo primitivo exterminou os índios.

      e agora evoluiu para o extermínio da produção, com a absurda

    financeirizaçaão da economia depois da assunção de wall sreet  e

    da manutenção da crise de 2008, causada pela banca, por waal street….

     

  3. Exceto pela espetacular

    Exceto pela espetacular fotografia de Emanuel Lubezki. A longa cena de batalha inicial é fantástica, o filme é um lixo produzido para dar finalmente um Oscar ao Leonardo di Caprio. O ator faz enfim o que a Academia adora, um personagem que alcança a redenção após muito sofrimento.

    O roteiro adaptado de um livro é repleto de furos e inconsistências. As ações e reações de vários personagens não fazem o menor sentido. Puro cinemão hollywoodiano.

    Como disse, vale pela fotografia. E só.

  4. O Retorno.

    Fabio de Oliveira Ribeiro, voce tem absoluta secerteza que assistiu o filme, ou a série de tv? Vai viajar na maionese assim em Hollywood! Procure se dirvertir mais e encucar menos.

    1. Adoro comentários
      Adoro comentários autoritários postados por idiotas que detestam o que eu escrevo. Continuarei me esforçando para incomodar tipos como você, que não podem me impedir de fazer o que gosto.

  5. Muito bom, velhinho !

    Tudo que espero é que você tenha pago o ingresso, assistido numa das redes de exibição americanas em um dos shoppings do país e consumido coca-cola com pop corn importado durante o belo filme. E por último, mas não menos importante, que tenha pago tudo com seu VISA, seu Mastarcard ou seu American Express.

    Mas claro que sua opinião é muito importante para nós. 

     

      1. Falo

        Você tem todo o direito de usufruir em seu país daquilo que oferecemos de melhor.

        E se um dia tentarem lhe usurpar, ou mesmo dificultar, esse seu direito, é só avisar.

        Somos os guardiões das liberdades individuais.

  6. Se tiver mais de 15 não assista

    Fábio, seria um Daniel Boone com esteroides ou, um Rambo da época pre-colonial?

    Um filme chimfrin com cenas irreais como a luta com o urso, a ressurreição do próprio túmulo, a queda nas águas geladas e nas corredeiras do rio, a travesia sem água e comida num território inóspito com temperaturas abaixo de zero (tudo isso com o corpo estraçalhado pelo animal) e a luta final com o vilão numa cena ridiculamente coreografada.

    Se não tivesse alcançada notoriedade por ter sido indicada ao Oscar poderia entrar na galeria dos grandes fracassos hollywoodianos. Vai ver rolou um jabá…

    Enfim, o filme é uma bosta. Se tiver mais de 15 não assista.

    PS: aquela cena final em que usa o cadáver do tenente como “isca” é plágio de algum filme de bangue-bangue.

    1. Curiosamente a realidade é mais cruel com o personagem principal

      Pesquise um pouco a história de Glass, é baseada numa história real, o filme não é tão inverossímil.

  7. É um grande filme, uma

    É um grande filme, uma espetacular realização.

    A cena do ataque do urso é uma das coisas mais impactantes do cinema de ação atual.

    A paisagem é o personagem principal, sem dúvida.

    E como é bem filmado!

    O video do “making of” mostra todo o trabalho extenuante para se chegar nessa maravilha cinematográfica.

    Emanuel Lubezki alcançou o inimaginável!

    É um filme brutal, sem piedade. Muita gente fecha o olho no cinema.

    Este tipo de entretenimento, só os americanos conseguem realizar e ponto.

    Agora, se você for assistir para depois discutir capitalismo, recomendo “A grande aposta”.

    Este sim, ao meu ver, o merecedor do Oscar.

    Roteiro, direção e as atuações de Cristian Bale e Steve Carrel, te deixam indignado com o tal “mercado”

    É revoltante.

    No final você se pergunta: porque ninguém dá um jeito nesta merda de capitalismo yankee?

  8. Coincidência ou não, acabo de

    Coincidência ou não, acabo de chegar do cinema onde fui assistir ao dito filme. Saí sem saber direito o que sentir. Você resumiu tudo:filme longo, cansativo e sangrento. Louve-se as condições da filmagem que parece ser de verdade, com a natureza tão cruel quanto os personangens. Parece que Di Caprio gemia de verdade, haja frio!!!!!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador