A carreira de Inezita Barroso

Por jns

Inezita: raíz, cultura e resistência

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Ignez Magdalena Aranha de Lima nasceu numa família paulistana riquíssima, cheia de salões e fazendas.

Encantou-se mais pelas segundas do que pelos primeiros, e mais pelas modas de viola dos peões do que pelos saraus da casa-grande.

Assim, tornou-se Inezita Barroso, uma das cantoras e pesquisadoras mais importantes da chamada música caipira, provocando diferentes reações nos parentes e colegas de classe social.

– Nos clubes de grã-finos diziam: “Ela é caipira, toca viola” (faz voz de enjoo).

– Ah, vão para o meio do inferno! Depois que comecei a fazer sucesso, mudaram: “Eu é que a ensinei a tocar”, “Eu é que a ensinei a cantar”.

Deixa falar – recorda ela, com humor e vivacidade preservados aos 86 anos.

O sucesso começou em 1953, na RCA, quando gravou com sua potente voz de contralto um compacto em que tinha de um lado “Marvada pinga” (Laureano) – peça de resistência de seu repertório – e do outro o primeiro registro de “Ronda” (Paulo Vanzolini).

Mas a consolidação veio na gravadora Copacabana, onde ficou quatro décadas.

– Ela foi uma mulher ousada, à frente do tempo, que teve coragem de dar valor a músicas de nossa cultura consideradas de segunda categoria, ressalta o pesquisador Rodrigo Faour.

– Aprendeu violão e viola, instrumentos que não eram de bom alvitre para moças de família, ajudou a divulgar as danças gaúchas nas escolas numa época em que só se valorizavam tarantelas e dancinhas estrangeiras, além de ter sido uma pioneira da TV brasileira, no ar desde 1954.

Só na TV Cultura ela está há 31 anos com “Viola, minha viola”, exibido às 9h de domingo e uma das melhores audiências da emissora.

Recebe no palco cantores e duplas sertanejas tradicionais, não os nomes mais em voga no momento.

Inezita se tornou a Primeria Dama da Música de Raiz à revelia das vontades familiares, que a aceitavam, no máximo, tocando piano – que ela também estudou.

Vendo os peões, aprendeu muito de viola e de temas populares, grande parte passada oralmente, sem autor conhecido.

Passou a fazer viagens apenas para recolher esses temas, como a de 1949 a Pernambuco em que conheceu o compositor Capiba, percorreu o interior e, com o apoio do marido, optou de vez pela carreira artística.

– Ganhei independência quando me casei. Pude dizer: “Agora quem manda no meu nariz sou eu” – conta.

Logo estava na Rádio e na TV Record trabalhando com grandes orquestras e maestros, especialmente Hervê Cordovil.

Também atuou em sete filmes, sendo premiada por “A mulher de verdade” (1954).

Em disco, apesar dos apelos para cantar sambas como “Ronda”, firmou-se no ramo sertanejo.

–  Eu sempre fui de caminhar um pouco à margem. Nunca deixei que a gravadora me influenciasse. Se quisessem, era daquele jeito. Se não, eu não gravava — diz, demonstrando como trilhou um caminho único, distante do grande público, mas muito respeitado entre seus pares.

 

Inezita com a filha Marta, o sobrinho Marcelo, as netas Paula e Cristina, além dos bisnetos Fernando, Felipe, Luana e Manoela.

Inezita Barroso e família

Luis Nassif

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