A relação entre o nível de desemprego e as manifestações

Sugestão de Paulo Gustavo

Nassif, no dia 1 de julho o portal Passapalavra (clique aqui) publicou um texto que fiz que buscava compreender, sob um ponto de vista específico, a onda de protestos que ocorreu no Brasil. Num dos momentos, afirmo que além das políticas sociais do governo, “foi preciso que houvessem “ganhos reais” no salário mínimo para manter a roda da economia girando, pois fazer com que o salário mínimo fosse superior ao índice da inflação permitiu ao trabalhador continuar experimentando um “ascenso” econômico. Irrisório se comparado com o ascenso econômico dos bancos e do capital investido no Brasil; no entanto, se visto a partir das condições de extrema pobreza na qual os trabalhadores do país viviam no período “Collor-FHC”, este ascenso passa a ser “satisfatório”. Ao que parece, está aqui a chave para compreender o processo de convulsão social que o Brasil tem vivido.

Enquanto houve estabilidade econômica, também houve estabilidade política. Na medida em que a classe trabalhadora passou a sentir os “efeitos” da diminuição do poder aquisitivo “conquistado” sob a “era Lula”, é natural que haja uma reação (…).

Portanto, pode notar-se que qualquer saída já implica em romper com o pacto de conciliação de classes (tanto por cima, como por baixo). Não é à toa que a presidenta Dilma está convocando a oposição para um novo pacto . Se esta análise se limita à esfera econômica, ainda assim podemos conceber um mesmo panorama no plano político. Os extratos da classe trabalhadora não aceitarão de bom grado “voltar” ao estágio anterior de pobreza extrema. Deste modo, o consenso também parece estar em xeque no terreno político.”

Desemprego e manifestações

André Singer – Folha de S. Paulo

O relatório de junho, divulgado pelo IBGE na quarta-feira, revela que, embora pequeno, o crescimento da taxa de desemprego aponta para uma inversão de tendência. Enquanto antes as oscilações eram sazonais, com a curva de longo prazo inclinada para o aumento da demanda por mão de obra, agora se percebe um avanço paulatino da desocupação.

Se o dado for lido em conjunto com os resultados das pesquisas de opinião do mês passado, veremos que a população intuiu a reversão de sinal, o que ajuda a entender as jornadas de protestos. A situação do mercado de trabalho está longe de ser a explicação única ou definitiva, mas pode ter sido o pano de fundo para o mal-estar que explodiu de repente.

Convém olhar em conjunto os números que expressam a dificuldade de encontrar postos com carteira assinada e os que dão conta da percepção a respeito por parte dos eleitores.

Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress

De um lado, temos a suave curva ascendente dos que não conseguem achar lugar no mercado (gráfico ao lado).

De outro, vê-se a queda abrupta dos que opinam no sentido de que tal situação vai melhorar (gráfico ao lado).

Deduz-se de ambas as informações que a retração, mesmo que moderada, das oportunidades de trabalho, provavelmente somada aos sintomas de que há um baixo ritmo de atividade econômica, levou os entrevistados a concluírem que o horizonte turvou.

Observando uma série histórica apresentada pelo Datafolha desde 2007, o único ponto abaixo do atual no que diz respeito à expectativa de queda do desemprego se encontra em março de 2009. Naquele momento, quando se vivia o pior da crise financeira internacional no Brasil, apenas 17% do eleitorado acreditava que a desocupação iria diminuir. Agora são 19%.

Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress

Para que não reste dúvida sobre causa e consequência, note-se que o grosso da mudança na expectativa de melhora do emprego já havia ocorrido quando do início das demonstrações de massa. Foi capturada pelo “survey” fechado em 7 de junho, como se comprova no segundo gráfico. A voz das ruas só potencializou o pessimismo.

André Singer é cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.

 


Luis Nassif

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