Baixinho, por Mestre Yoda

“Porque sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo, que faço, não do tamanho que os outros me enxergam” – (atribuído a Carlos Drummond, Alberto Caeiro e outros)

Lembro-me de que, na infância, ser menor e, portanto, mais frágil fisicamente do que a maioria dos meninos foi problemático em certos momentos. Não me recordo de ter sido agredido, a não ser psicologicamente, humilhado algumas vezes, por garotos grandes e truculentos. Com o tempo desenvolvi certa astúcia, que me garantiu, além da proteção de minha integridade física, algum prestígio, tanto entre as crianças do bairro quanto na escola. Imagino que, para as meninas, a baixa estatura traga outras questões (o uso do “salto alto” é um bom indicador).

Para minha mãe, parecia certo que minha pouca estatura física me traria problemas. Minha velha tentou de tudo: alimentação, atividade física, ortopedista, etc. Não se conformava que eu fosse pequeno. Não sei se e em que medida introjetei este descontentamento materno, mas confesso que não me recordo de ter vivenciado algum sentimento de inferioridade por minha estatura abaixo da media. Na cidade onde fui criado, Curitiba, percebia que a estatura física era algo com alguma importância entre meus amigos e colegas da escola, me sentia meio deslocado e estranho, talvez porque a diferença de altura, naquela cidade, fosse maior, quando comparado à minha vivência atual, em Manaus.

Em minha chegada à Barelândia, por outro lado, me senti o filhote de cisne da história do Patinho Feio. Olhei para os lados e pensei: encontrei o meu bando! Mas muitas aves do meu bando, engoliam, como em outras espécies de aves, a crença amplamente disseminada na beleza monotípica dos patos. Bem… abandonando a metáfora avícola, mas reforçando o argumento, lembremos que a expressão “alto, loiro, de olhos azuis” ou o trecho da canção que diz “moreno, alto, bonito e sensual” expressam a importância social da estatura física no imaginário popular. No caso das mulheres, não é diferente, afinal, se diz, com frequência “Uau! Que mulherão!”, mas nunca “Uau! Que mulherzinha!”.

Ainda que isso esteja claro também para mim, um baixinho, nunca concordei com tal julgamento. Tampouco me considerava melhor ou pior do que os outros só por ser baixinho. De todo modo, em minha vida de adulto sexualmente ativo, nunca considerei que a altura significasse qualquer barreira ou indicasse virtude. Amei baixinhas, medias e altas, sem preconceito. A recíproca nem sempre foi verdadeira e, aliás, sinto que grande parte das mulheres altas que conheci não foram capazes de admitir algum sentimento ou a possibilidade de uma relação com um homem mais baixo pelo simples fato de não suportarem o “constrangimento”.

Àquelas que percebiam na diferença de altura uma barreira, usava sempre a fala bem humorada de um amigo que, em situações de recusa como esta, sempre dizia: “Senhor, perdoai, ela não sabe o que faz!” Ao longo da vida, fui comparado a vários baixinhos, como o trapalhão Zacarias e o ator Danny Devito, mas um dos apelidos que tive, em função de comparação desta natureza, me enche de orgulho: o jogador Jacozinho, craque do CSA do Alagoas, na década de 80, consagrado nacionalmente, e que, do alto de sua estatura, chegou a afirmar: “Tenho 1,62m, mas ninguém na seleção está à minha altura”. Convocado para a seleção dos amigos do Zico (outro baixinho ilustre), não fez por menos e emplacou o único gol do seu time que, na ocasião, perdeu por 3 x 1.

Aliás, no mundo do futebol, jogadores que ocupam posições mais ofensivas tendem a ocupar postos de destaque, dada a importância da artilharia. Tais posições (meias avançados, centro-avantes, etc.) são, muitas vezes, ocupadas por “baixinhos”[1] (Romário, Bebeto, Garrincha, Maradona, Messi, Juninho Paulista, etc.). O pequeno porte físico também faz a fama de baixinhos lutadores de artes marciais, que tornam-se celebridades, em grande medida (com o perdão do trocadilho), em função de serem imbatíveis, apesar do tamanho. É o caso dos astros Bruce Lee (1,71m) e Jean Claude Van Damme (1,60m). Por falar em lutas, na arte da guerra, o baixinho Napoleão era o cara (e o Sun Tzu, sendo chinês, também devia ser baixinho)! Ainda no campo da valentia, quando você imagina um poderoso chefão da máfia, é provável que venha à mente a figura de alguém como Al Pacino e seus 1,65m.

No campo da intelectualidade, onde a altura conta pouco, proliferam os baixinhos. Só para citar alguns, ai vão Euclides da Cunha, Getúlio Vargas, Carlos Chagas, Villa-Lobos, Glauber Rocha, Leonel Brizola, Oswald de Andrade, Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, José de Alencar, Oscar Niemeyer, Abdias Nascimento, Luís da Câmara Cascudo, Machado de Assis, Rui Barbosa, Castro Alves, Ataulfo Alves, Raul Pompéia e Grande Otelo.

Então, baixinhos, não deixem que sua autoestima seja abalada quando te chamarem de tampinha, jogador de futebol de botão, pintor de rodapé, toco de amarrar bode, salário mínimo, anão, etc. afinal, ser baixinho não é demérito. É por isso que, dia desses, não consegui compreender a fala do recém eleito Presidente do Diretório Municipal do PSOL de Manaus, o amigo Arinos Marcião, indignado com a “acusação” de certas pessoas de que o partido seria “nanico”.

Companheiro Arinos, o PSOL é sim um partido nanico, mas é o único partido ficha limpa do Congresso Nacional! Partidos grandes, como o PMDB, o PSDB e o PT, por sua vez…

Por isso, parafraseando Marx, conclamo: Baixinhos do mundo, uni-vos!


[1] Baixinho aqui vai entre aspas, dado que, em geral, estes jogadores, em relação a media de altura da população, são medianos, embora, entre os jogadores profissionais, sejam os de menor estatura.

 

Redação

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  1. Faca como eu que sempre me

    Faca como eu que sempre me iludo com um pensamente tecnicamente correto:  o dia que eu quizer ser alto eu mudo pro Mexico!

  2. Yoda – Use a força. agora, a

    Yoda – Use a força. agora, a pedra. (Luke faz uma pedra levitar). Sinta-a.

    R2-D2 agita-se. Ao aterrizar em Dagobah a nave de Luke aterriza em um lodaçal e agora o androide ve a nave submergir. Luke percebe e se desequilibra

    Yoda – Concentre-se!

    E a nave volta a afundar.

    Luke – Agora nunca a tiraremos de lá.

    Yoda -Tão certo está você. . Para voce ser feito nunca pode. Nunca ouve o que eu digo?

    Luke – Mestre, levitar pedras é uma coisa. Mas isso ( a nave) é totalmente diferente.

    Yoda – Não! diferente só em sua cabeça! Desaprender o que aprendeu precisa!

    Luke – Certo. eu tentarei!

    Yoda – Não! Tentar não.. Faça…  ou não faça. Tentativa não há.

    Luke se concentra. Consegue fazer a nave levitar parcialmente. O que anima Yoda. Mas logo a nave volta a afundar. Luke senta-se ao lado de Yoda e comenta:

    Luke – Não consigo. É muito grande.

    Yoda – Tamanho não importa. Olhe para mim. É pelo o meu tamanho que me julgas? Pois não deverás pois meu aliado é a Força. E um poderoso aliado ela é. A vida a criou. E a fez crescer. Sua energia nos cerca e nos une. Seres luminosos somos nós. Não essa rude materia. Precisa a Força sentir ao seu redor. Aqui. Entre nós. Na árvore, na pedra. Em todo o lugar.

    Luke – Voce quer o impossivel!

    Luke levanta e se afasta. Apoiado em um cajado, Yoda ergue os olhos para o céu. E depois concentra-se. Ergue a mão direita em direção a nave e a faz emergir retirando-a do lodaçal.  Luke presencia a cena.

    Luke – Eu não acredito!

    Yoda – É por isso que voce falha!

    .

     

  3. Luke – Há algo errado aqui.

    Luke – Há algo errado aqui. Sinto frio. Morte..

    Yoda – Aquele lugar… forte é , como o lado sombrio da Força. Pelo o mal ele é dominado. Entrar lá voce precisa.

    Luke – E o que há lá dentro?

    Yoda – Só o que levar com voce.

    Luke caminha em direção a entrada da caverna.e Yoda acrescenta:

    Yoda – Sua arma. Precisar não irá.

    Mas Luke desconsidera o conselho de Yoda e leva o sabre de luz consigo. Luke adentra a caverna escura e encontra Vader. Ambos sacam os sabres de luz e lutam.  Até que Luke decepa a cabeça de Vader. A cabeça de Vader, ao chão,explode, revelando a Luke a face do mal. Para a surpresa do jovem aprendiz , é seu proprio rosto que ve sobre a máscara.

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