Deem-me um estado de apoio que vos darei um golpe!, por Rogério Maestri

Segundo Pappus de Alexandria, o último matemático grego importante da antiguidade, o grande Arquimedes de Siracusa matemático, físico, engenheiro, inventor, e astrônomo grego logo após a conclusão de seu trabalho teórico sobre alavancas Arquimedes pronunciou a famosa frase “Deem-me um ponto de apoio e moverei a Terra.”.

Sem o mínimo brilhantismo e inteligência do grande Arquimedes, faço uma adaptação da célebre frase para a realidade atual brasileira, ou seja, para que se dê um golpe se precisa ao mínimo de um ponto de apoio, explico melhor.

Dentro do manual da seção de golpes no exterior da CIA (se eles não têm este manual, deveriam ter!), há determinados pressupostos básicos para dar um golpe num pais que está dentro da sua normalidade democrática, e um desses pressupostos é a existência de um ponto de apoio logístico civil local para dar a partida de um golpe.

Mesmo se o apoio das forças armadas do país a ser golpeado for de 100% de seus membros a existência de uma liderança política executiva e não legislativa é necessária para começar um golpe.

Isto é fácil compreender, todo o golpe político para a derrubada de um governo é extremamente frágil no seu início. Estes golpes são sujeitos a reveses causados por mobilizações populares que num momento de crise podem apoiar o governo a ser derrubado. Um golpe sem este apoio pode no início contar com indecisão ou mesmo a sublevação de umas poucas unidades militares com forças auxiliares e, com a ressonância junto à população contra o golpe, adquirir forças para vencer rapidamente as forças golpistas e tornar a situação dos elementos civis que apoiaram o golpe algo extremamente desagradável levando os mesmos geralmente ao exílio voluntário e desarrumando por completo a oposição por alguns anos.

No manual que a CIA deveria ter, esta(ria) escrito o seguinte: Nos primeiros dias de qualquer golpe deve-se ter uma região relativamente poderosa economicamente e com tropas de qualquer espécie suficientes para mostrar força e convencer a convergência de outros indefinidos para o lado dos revoltosos.

Poderíamos descrever tanto golpes de direita como golpes de esquerda em diversos países que sempre tiveram esta base, ou até poderia descrever golpes de países em que não tendo este apoio as forças armadas liderando este golpe ficaram dias na insegurança até costurarem alianças que garantiram o êxito do golpe.

Em 1964, no Brasil, Minas Gerais serviu como esta base civil, tanto que o primeiro deslocamento de tropas partiu exatamente deste estado. O governador da época Magalhães Pinto, não foi só um conspirador, mas foi alguém que fazendo contatos exteriores com o Governo Kennedy-Johnson armou todo um esquema civil para montar um governo paralelo que serviria para receber apoio de países estrangeiros que estariam prontos para reconhecer a sucessão.

Agora transferindo para os dias atuais, vejo que a situação nacional para se criar um golpe não apresenta nenhum ponto de apoio do tipo Minas Gerais 64 para satisfazer esta base logística de um golpe.

São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e por último o Bahia, seriam basicamente os pontos de apoio de uma sublevação.

Pode-se descartar de logo os estados de Minas Gerais e Bahia por serem governados pelo PT, partido da Presidenta da República, também é fácil descartar o Rio de Janeiro, pois quem atualmente governa é de um partido da composição do governo e foi eleito com o apoio do Planalto, restaria São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná. Porém cada um desses estados tem fragilidades que variam de grandes para imensas que não permitiriam seus governos a entrarem nesta aventura.

São Paulo passa por uma crise hídrica que seu governador pede para que não se sacudam muito para não causar ondinhas, pois seu governo se encontra numa situação que qualquer instabilidade pode causar uma revolta popular que ameaçaria a governabilidade do estado, com tendência de derrubar o próprio governador.

Rio Grande do Sul enfrenta em nível muito menor em termos de instabilidade, mas até bem maior em termos de credibilidade, o governador Sartori, numa sucessão interminável de pequenas e grandes gafes vem perdendo a confiança não só do seu eleitor como dos partidos que o apoiam.

Paraná, que antes das eleições aparentava ser um núcleo de contestação ao governo federal, com a declaração de falência dita pelo governador (falência causada pelo ex-governador, que surpreendentemente é o atual) e com a revolta dos funcionários públicos e descontentamento na sua própria polícia militar, o governador do Paraná é mais alvo do que bala.

Assim, não se tem o ponto de apoio para um golpe, e se as manifestações contra os governos locais que começam a aparecer, se magnificarem, as esperanças de um golpe ficam adiadas sine die.

Vejam os que temem o golpe, não é por nada que políticos como Aécio Neves e outros têm medo de se aproximar das manifestações pró-golpe, eles têm medo de serem envolvidos em conspirações perdedoras e terem que se mudar para a Europa ou Miami pelos próximos cinco anos. Talvez tenham até recebido mensagens do setor de golpes que deveria existir na CIA que não é bem a hora, e que aguardem novas instruções.

Redação

11 Comentários

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  1. É verdade!

    E, vejam bem: nos dois momentos de confronto, na República, Minas Gerais estava à frente (1930 e 64). Não é pouca coisa.

  2. golpes
    A décadas se diz que o único país onde é impossível ocorrer um golpe de estado sao os EUA.
    Porque em Washington não existem embaixadas dos EUA.
    Isso explica a longevidade do regime cubano: Havana não tem embaixada dos EUA.

    1. Edson, desta vez estamos concordando.

      O Estados Unidos tem uma situação sui generis, a base popular que defende qualquer um dos governos parece-me inexistente, na primeira eleição de Obama, houve o impacto de um presidente negro, que mobilizou um pouco os mais “liberais” (no sentido que nós falamos como os mais adeptos de mudança, não no sentido norte-americano, que são os menos Estado), porém este mesmo impacto já não ocorreu na reeleição. Na próxima eleição, provavelmente eles vão tentar uma primeira mulher (a Clinton), porém não acredito na capacidade de mobilização das feministas ao lado dela.

      Devido esta ausência de representatividade do governo federal norte-americano eu não consideraria os USA como um país estável, as frequentes criações de inimigos externos cada vez mais caricatos, é uma forma de induzir ao endurecimento das leis e a mobilização popular. Eu não estranharia nada se um evento ainda mais mortal que o 11 de setembro ocorresse em território nacional (deles, não o nosso), pois a consigna “Luta contra o terror” está se esvaziando.

      Tentaram reativar a guerra fria contra a Rússia, porém esta é um inimigo forte demais para seguir em frente em ofensivas como a da Ucrânia e com a dependência desta do gás russo as coisas ficaram em banho maria.

      A grande nação do norte mostra claros sinais de enfraquecimento do seu tecido social, provocada pelo esvaziamento de políticas sociais que tem na despesa de guerra o seu principal concorrente pelas verbas governamentais. O sonho norte-americano de enriquecer pelo trabalho já não convence a maior parte da população, e o endividamento externo é talvez a campainha que se tocada pode causar grandes problemas ao “statos quo” reinante.

      Porém no caso dos USA, a instabilidade que se enxerga pode levar a dois caminhos, uma explícita quebra das normas constitucionais do país, aprofundando decretos de restrição da liberdade como o ato Patriótico, ou algo que ninguém consegue prever.

      De qualquer forma, se eu fosse das elites dirigentes norte-americanas eu começaria a me preocupar mais com a política interna do que externa, pois se esta nação se começar a mover, ninguém saberá para onde ela vai.

  3. Falando dos dois pulhas da foto:

    Um levou um golpe de um guarda de transito por dirigir bêbado o outro levou um golpe vaginal que até hoje cria um filho que não é dele.

    1. Sartori é um político tradicional.

      Concordo, a imagem que tenho de Sartori é de um político tradicional que não se envolve em grandes movimentos e ações ousadas.

      Para ser um golpista tem que ter outro perfil, o problema não está aí está em outros!

  4. E os nomes da lista lavajato?

    E os nomes da lista lavajato? Muito convenientes, aposto… E coxinha tonto vai pra avenida levando faixa pedindo golpe militar. Num sabem de nada, inocentes!

  5. Prezado Rogério
    Golpe é só

    Prezado Rogério

    Golpe é só para os míopes.

    Mas que o governo esta colaborando com este ajuste fiscal, não resta duvida heim?

    Mexer logo com sua base de sustentação trabalhista.

    Abração

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