Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Pesquisadores da NASA e Oxford acreditam que Universo é um game de computador

Do Cinegnose

Pesquisadores da Nasa e Oxford acreditam que Universo é um game de computador

Por Wilson Ferreira

Sempre ouvimos dizer que “a vida é um jogo”. Mas e se essa frase for mais do que uma metáfora e nesse exato momento estivermos todos nós vivendo em um jogo desenhado por alguém que está em algum ponto num futuro distante? Tão velha quanto a história humana, a ideia gnóstica de que a realidade é uma ilusão retorna através das leis da Inteligência Artificial e a evolução dos games de computador: Nick Bostrom, da Universidade de Oxford, e Richard Terrile, da NASA, apontam para evidências de que o Universo seria uma gigantesca simulação de um game de computador cósmico e que o salto qualitativo na capacidade dos nossos computadores nos permitiria repetir a experiência da simulação de mundos, assim como o nosso. Tal hipótese explicaria inconsistências e mistérios que cercam o nosso cosmos, como, por exemplo, a natureza da “matéria escura”. Ciência e gnosticismo mais uma vez se encontram, dessa vez no fascínio atual pelos games de computador.

De acordo com as teorias de dois pesquisadores também distantes no tempo e espaço, um acadêmico de Oxford (Inglaterra) e um cientista da NASA (EUA), haveria uma certeza matemática que estamos imersos em uma simulação intrincada criada por seres (aliens ou mesmo seres humanos) que existem em algum lugar distante no futuro a partir de 30 anos até cinco milhões de anos. Seríamos como um passa-tempo desses futuros seres, a sua versão de um roler-playing como um World of Warcraft.

Uma ideia alucinante com o velho toque da cosmologia gnóstica da antiguidade (o homem como prisioneiro em um cosmos criado por um demiurgo enlouquecido que se diz Deus), mas em suas defesas esses pesquisadores argumentam que a hipótese não é mais rebuscada do que acreditarmos na religião que nos diz que Deus criou as terras e os céu. Ou de que tudo surgiu de uma enorme explosão que começou a esticar o tecido do espaço como um balão, formando trilhões de galáxias e, por pura sorte, surgiu o ser humano, como nos informa a teoria do Big Bang.

Nick Bostrom

Estamos falando do “argumento da simulação”, hipótese proposta em 2003 por Nick Bostrom, filósofo da Universidade de Oxford e diretor do Future of Humanity Institute. E de Richard Terrile, diretor do Centro de Computação e Design de Automação do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, que em 2012 propôs, baseado na chamada “Lei de Moore”, a teoria de que o Universo poderia ser uma avançada e metafísica versão de um game de computador como o The Sims.

As ideias do filósofo Bostrom já são conhecidas por esse blog (clique aqui para maiores detalhes): basicamente, sua hipótese baseia-se no conceito da consciência como “substrato independente” – os estados mentais não se restringem apenas a animais ou humanos. A consciência (inteligente e senciente) poderia residir tanto num cérebro orgânico, de silício ou magnético. Poderíamos afirmar que a essência continua a mesma, o que modificaria seria o veículo de manifestação. Se ele estiver certo, um poderoso computador extraordinariamente complexo poderia alcançar esse estado de consciência. 

Um estado de consciência que permitiria chegar ao ponto onde entidades digitais viveriam em um mundo simulado, num game, como se estivessem em seu próprio mundo real, sencientes e autônomos.

Richard Terrile da NASA e a “Lei de Moore”

Lei de Moore e o Universo simulado

Nesse ponto a hipótese de Bostrom se completa com a do pesquisador da NASA Rich Terrile: “Se fizermos um simples cálculo usando a Lei de Moore [que sustenta que os computadores duplicam sua capacidade a cada dois anos] você encontrará esses supercomputadores, dentro de uma década, com a habilidade de computar completamente 80 anos da vida de alguém, incluindo cada pensamento, num espaço de um mês”, afirmou Terrile em entrevista para a Vice Magazine.

E Terrile continua: 

“Nesse momento, os computadores da NASA conseguem alcançar o dobro da velocidade de um cérebro humano. (…) Se a cada seis a oito anos temos um novo PlayStation, teríamos em 30 anos um PlayStation 7 capaz de calcular 10.000 vidas humanas simultaneamente em tempo real. Há quantos PlayStations em todo o mundo? Mais de 100 milhões certamente. Então pense em 100 milhões de consoles, cada um contendo 10 mil seres humanos. Conceitualmente, isso significa que poderíamos ter mais seres humanos vivendo em PlayStations do que humanos vivendo sobre a Terra hoje”. 

Para Terrile o mundo natural se comporta de forma análoga aos games de computadores. Assim como na mecânica quântica onde as partículas só possuem um estado definido somente quando são observadas, da mesma forma no game Grand Theft Auto 4 nos vemos em Liberty City apenas o que precisamos vê-lo, abreviando todo o jogo para o universo do console. Mas Terrile fez o cálculo de quão grande é a cidade, verificando que é um milhão de vezes maior do que o PlayStation 3.

Tempo e espaço pixelados

Para o pesquisador da NASA, isso explicaria o porquê de relatos de cientistas observando pixels nas mais ínfimas imagens microscópicas: “O Universo também tem o tempo, espaço, volume e energia pixelado. Existe uma unidade final que não pode ser quebrada em outra unidade ainda menor, o que significa que o Universo é feito de um número finito dessas unidades. Se o Universo é finito, então pode ser computável. E se ele se comporta de forma finita somente quando é observado? Então a questão é: ele está sendo calculado?”.

A ideia de que o nosso próprio Universo seja um game de computador alienígena ou de alguém no futuro resolveria alguns mistérios ou inconsistências que cercam o cosmos.

A primeira seria o chamado “Paradoxo de Fermi”, proposto pelo físico Enrico Fermi (o primeiro a controlar a reação nuclear) na década de 1960, que expõe uma contradição entre a aparentemente grande possibilidade de existir civilizações extraterrestres com o nosso crescente conhecimento sobre o Universo e a ausência de contatos ou evidências de vida alienígena.

“Onde está todo mundo?”, perguntou certa vez Fermi. A hipótese de Terrile demonstraria que na verdade a Terra e a espécie humana seriam os verdadeiros centros do Universo, os protagonistas solitários de um game cósmico.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

14 Comentários

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  1. Título inadequado

    Trata-se de um pesquisador da NASA e um pesquisador de Oxford, em meio a centenas ou milhares de pesquisadores da NASA e de Oxford.

    Certamente há entre os funcionários e professores da NASA e de Oxford alguns proponentes do design inteligente e outras pseudociências.

    Para efeito de análise do comportamento humano, essas crenças são um prato cheio. Mas as ideias como a dessa dupla não se tornam ciência meramente por se travestirem de roupagem científica. Sâo especulações, que devem ser tomadas com cautela e não como substitutos automáticos e de igual status do arcabouço de conhecimento já adquirido e continuamente testado.

  2. “Jornalismo científico” é

    “Jornalismo científico” é quase uma contradição em termos.

    Tão fácil que é para nós perceber quando o juiz ou o jogador de futebol estão querendo apenas holofotes, e tão difícil quando o holofotomaníaco veste um jaleco branco…

  3. Interessante, um tipo de

    Interessante, um tipo de engenharia reversa na megalomania ocidental, prima-irmã da mania de pequenez, nos delírios de Frankenstein, no antropomorfismo dos deuses, criados pelo homem à nossa imagem e semelhança. E isso passados 500 anos de Copérnico, 400 de Galileu! Tal reforço ao individualismo liberal só podia vir da NASA ou Oxford, mesmo, legados do imperialismo romano. Desculpe, talvez não sejamos de fato tão poderosos assim. Mas armados, sempre dá para mandar nos outros. Já é algum alento, não?

     

    Em tempo: Gozado gostarmos de imaginar alienígenas como tecnologicamente superiores a nós. Mas já pensou se alienígenas, em lugar de evoluírem tecnologicamente, tiverem evoluido socialmente? Bem, isso não ajudaria a Bill Gates ficar bilionário nem a Rothchild mandar nos outros… Nossos deuses são tecnológicos, Neo em sua matrix.

  4. Sou mais

    Na Mitologia Grega é muito comum escutar falar sobre Hércules, ele é um herói, fruto do relacionamento entre um deus e uma humana. Seu pai é Zeus e sua mãe Alcmena e é considerado o mais importante entre os seus. Na história tem registro de que nasceram pessoas fruto do relacionamento entre deuses e humanos, esses são chamados de heróis e se diferem por não serem imortais.

     

    O mito grego explica as origens do mundo, do surgimento do homem, dos fenómenos naturais e os pormenores da vida de uma ampla variedade de deuses, heróis e outras criaturas mitológicas. É o deus principal, governante do Monte Olimpo, rei dos deuses e dos homens. Era o senhor do céu e o deus da chuva, aquele que tinha o terrível poder do relâmpago. A tempestade representava a sua fúria. Sua arma era o raio e sua ave a águia, animal em que costumava se transformar. Zeus era um tanto mulherengo e teve diversas esposas e casos com deusas, ninfas e humanas, tendo vários filhos semi-deuses, entre eles, Hércules e Perseu.   

  5. Um Eduardo Cunha, por

    Um Eduardo Cunha, por exemplo, seria obra de uma entidade – computador ou não – que se poderia chamar de inteligente?

  6. Inacreditável

    que o blog publique picaretagens como essa. Fições como Matrix podem ser interessantes, mas reviver o tema como farsa é de doer. 

  7. Então, é um vídeo-game mesmo,

    Então, é um vídeo-game mesmo, tendo até o recurso do jogador ganhar  “vidas”.  A consciência seria única, a mesma que habitaria Stalin ou Gandi  independente de quando viveram. Quando um cidadão morre, a consciência única que nele estava conectada transfere-se para o  bebe que nascer na  sequência. Tem uns caras na Austrália que fazem analogia disso com a transmissão do sinal de televisão  :  Existem vários modelos de receptores, de marcas, formatos e tecnologias diferentes mas se se ligar no programa do RR Soares, vai-se assistir o mesmo pastor em qualquer um deles.  Se de raiva, dermos um tiro nos televisores  de casa,  matando  todos e formos  á loja e trouxermos  outros modelos, o pastor continuará  lá. Quando alguém morre, o corpo explode em luizinhas, desaparece, arrebenta como no vídeo-game  mas o cara se sentirá vivo de novo, num bebê, pela consciência  transferida ou nova vida. O duro é ser avatar de alguém que escolhe que sua nova vida será de uma criança pobre de algum lugar miserável, mutilada pela bomba de um drone teleguiado por  um mouse.    

  8. hipótese não refutada

    Por incrível que pareça , a teoria do universo como simulação computacional vem ganhando credibilidade no meio cientifico.Há fenômenos físicos como o entrelaçamento quantico, que Albert Einstein chamava de “fantasmagórico” , que se encaixam muito bem numa descrição holografica e computacional do universo. Até que seja refutada ,cientificamente, a hipótese do universo como simulação segue como possibilidade plausível.  

    1. Not even wrong

      Marcelo, não há como se refutar “teorias” que não fazem qualquer predição que possa ser falseada. O universo é um passatempo de uma divindade que se entediou depois de uma eternidade de ócio, o universo é um jogo  computacional, etc. Podem falar o que quiserem, ninguém poderá falseá-los.

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