A bonita campanha italiana contra a agressão a mulheres

A bonita campanha italiana contra a agressão a mulheres

Há 52 anos, um ano após o julgamento do nazista Adolf Eichmann em Jerusalém, o psicólogo social norte-americano Stanley Milgram realizou em Yale sua famosa experiência sobre a obediência à autoridade. Tratava-se de submeter voluntários ao que lhes era anunciado como um experimento sobre aprendizagem sob pressão. Nele, os voluntários assumiam o papel de “professor”, secundado pelos cientistas que monitoravam o teste, para fazerem perguntas a um suposto “aluno” (na verdade um ator).

Estimulados pelos cientistas, os voluntários deveriam acionar uma máquina que aplicava choques elétricos crescentes, a partir da marca de “choque leve”, aos 15 volts, cada vez que o aluno errava uma resposta a respeito de um tema sobre o qual supostamente fora treinado. 65% dos voluntários alcançou a marca fictícia dos 450 volts, enquanto o aluno-ator há muito já implorava que parassem o teste e enquanto a própria “máquina de choques” indicava para os próprios voluntários que aos 300 volts já se tratava de choque severo, com a indicação de perigo.

Obedecendo cegamente à autoridade dos cientistas de jaleco que monitoravam o pseudo-teste de aprendizagem, nenhum dos voluntários chegou a prestar ajuda ao “aluno”, e todos os participantes alcançaram a marca dos 300 volts. Os resultados se repetiram mais ou menos com as mesmas marcas, tanto nas 18 outras variações para distintos ambientes sociais quanto na sua reprodução em diversas outras sociedades ocidentais industrializadas (com a única exceção da replicação na Jordânia), em alguns casos atingindo marcas ainda mais elevadas que o teste original.

A campanha italiana contra a agressão às mulheres, lançada pelo portal fanpage.it, é uma espécie de subversão deliberada não só da experiência da obediência à autoridade como também da socialização pela adesão obediente aos estereótipos de uma tradição machista.

Nela, um suposto documentarista, armado com a autoridade de uma câmera, entrevista crianças de 7 a 11 anos, envolvendo-as com perguntas sobre, por exemplo, o que querem ser quando crescer. Um que ser bombeiro; outro, jogador de futebol; outro, confeiteiro; outro, policial; outro, pizzaiolo… Apresenta-lhes então uma menina bonita, potencial objeto de admiração deles, perguntando-lhes o que haviam gostado nela. Pede-lhes que lhe façam um carinho, ao que reagem com certa timidez, mas o fazem. Depois uma careta, o que atendem de bom grado, com espírito zombeteiro. Por fim, lhes pede que lhe dêem um tapa. Nenhum deles atende.

Ao perguntar-lhes sobre por que se recusam, alguns chegam a ensaiar um discurso, mas um deles se sai com uma resposta singela: “porque eu sou homem”.

Moral da história: não é preciso reproduzir cegamente o pior dos estereótipos sociais para chegar a ser aceito como (ou dizer-se) “homem”. As crianças talvez já intuam isso melhor até que os adultos e suas racionalizações.

https://www.youtube.com/watch?v=b2OcKQ_mbiQ width:700 height:395

 

Redação

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