A classe dominante alimentando a luta de classes, por J. Carlos de Assis

Movimento Brasil Agora

A classe dominante brasileira alimentando a luta de classes

por J. Carlos de Assis

Marcelo Freixo, o candidato do PSOL à Prefeitura do Rio, não soube levar até as últimas consequências a provocação de uma entrevistadora da Globo que o confrontou com uma declaração sua segundo a qual ele condenava a conciliação, em favor da radicalização da luta de classes. No meu entender, a observação original de Freixo, citada pela repórter, teria sido a única preliminar interessante  de seu programa. O resto são convencionalismos. Se ele alegasse que não restou espaço para a conciliação de classes no Brasil seria a pura verdade.

Entretanto, não é Freixo, que teve que afinar o discurso devido a conveniências de campanha, mas o empresariado do país, especialmente de São Paulo, que está decidido a radicalizar a luta de classes no Brasil. O episódio do impeachment, seguido da organização de uma governo fantoche, serviu à classe dominante como oportunidade de tirar do armário um pacote de propostas legais regressivas, com o objetivo de nos fazer retornar a um período histórico no qual os trabalhadores eram totalmente desprovidos de força e de direitos.

Planeja-se um recuo em larga escala nas proteções sociais efetivadas desde o governo Vargas mediante as legislações trabalhista e previdenciária. O rolo compressor do Executivo empurrando as chamadas “reformas” goela abaixo do Congresso tornou-se objetivo prioritário das classes dominantes empresariais com a cumplicidade das elites dirigentes que lhes prestam serviços. É uma situação patética. Jamais se poderia supor que a regressão social viesse por meio de um governo sem voto. Entretanto, só governo sem voto poderia fazê-lo.

 O economista Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia, escreveu no Globo (!) um artigo demolidor a respeito do comportamento regressivo de nossas classes dominantes. Em outros países, e mesmo no nosso, o avanço da civilização podia ser medido pela incorporação de direitos sociais para as classes dominadas. Era uma forma de superação provisória da luta de classes muito bem mascarada pelas próprias elites de forma a elidir o confronto inevitável que, de outra forma, explode como conflito social radical.

As classes dominantes brasileiras, tradicionalmente imbecis, sempre resistiram a quaisquer avanços sociais mas em geral acabavam se acomodando a eles por força de iniciativas hábeis no nível das classes dirigentes. Entre estas, houve dois gigantes que manobraram magistralmente a conciliação de classes em nome da paz social. Um foi Getúlio Vargas, com sua Consolidação das Leis do Trabalho. Outro é um sujeito chamado Luís Inácio Lula da Silva, que conseguiu fazer um governo aparentemente bom para todo mundo.

É inescrutável o que gente como Paulo Skaf, da Fiesp, pretende com sua formidável pressão, manobrando dinheiro público (Sesi e Senai) no sentido de destruir direitos sociais dos trabalhadores. Não sendo, ele próprio, um verdadeiro industrial – não produz nada -, não passa de um ideólogo idiota, cuja tese de acabar com impostos esconde o propósito coerente de acabar com direitos, muito cara a seus parceiros. À sombra disso vem o objetivo do Estado mínimo, que é a forma suprema da máxima concentração de renda no país e no mundo.

É claro que só um governo ilegítimo que não depende de povo, como disse, pode ousar colocar como sua principal agenda (a pauta-bomba) acabar com direitos trabalhistas, previdenciários e sociais. Naturalmente, para isso é necessário, antes de tudo, demonstrar à sociedade que o Estado está quebrado. Isso, conforme mostram muitos especialistas, e eu próprio, não passa de uma farsa. O Brasil só está quebrado porque seus dirigentes atuais o enquadraram numa situação em que ficou bloqueado em política fiscal, monetária e cambial.

O Movimento Brasil Agora, que estou coordenando, pretende desmascarar essa farsa mediante uma série de seminários vinculados à pauta-bomba do Congresso. O primeiro seminário será no Rio (IFICS), amanhã, dia 26, com o tema da privatização fatiada da Petrobrás. O segundo será na Universidade de Brasília, dia 3, sobre a infame PEC-241. Nos dois casos, levaremos as conclusões dos seminários – a que se seguirão outros – à consideração de senadores, instância de recurso e reflexão para extravagâncias aprovadas pela Câmara.

J. Carlos de Assis – Economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ.   

Redação

12 Comentários

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  1. a classe….
    Classe dominante? A esquerda tupiniquim continuar com este papo furado dá até pra entender. Limitada e incapacitada. A realidade ficou escrachada. Mas a imprensa?! O crime que é cometido no Brasil, diferentemente que querem mostrar, não foi inventado pelo PT. Mas precisa ser resolvido, combatido e encarado de frente. Nos municípios, estados e na União. E a democracia plena e livre, que não comporta OBRIGATÓRIO, muito menos no voto, deve ser instalada imediatamente e urgentemente. Até porque esta ditadura de grupelhos dos representantes do povo para a manutenção da única elite brasileira, a elite do Poder Público, desmoronou. É a evolução ou o caos.

    1. Poder público como A elite do
      Poder público como A elite do país? Explica melhor isso. A que vc. se refere qdo fiz PODER PÚBLICO? Ao funcionalismo, tanto quantitavamente quanto em custo muito menor que o de qualquer outro país do Ocidente? Ou seriam as autoridades? Só se for nesta ditadurazinha “infinita enquanto dure” do Temer.

    2. Poder público como A elite do
      Poder público como A elite do país? Explica melhor isso. A que vc. se refere qdo fiz PODER PÚBLICO? Ao funcionalismo, tanto quantitavamente quanto em custo muito menor que o de qualquer outro país do Ocidente? Ou seriam as autoridades? Só se for nesta ditadurazinha “infinita enquanto dure” do Temer.

  2. unir a esquerda é que são aquelas
    A ideia de uma Frente Ampla, como no Uruguai é o melhor que precisamos agora no Brasil. Unir as esquerdas e seus nomes em um projeto único. O grande problema é como unir tanta gente que está mais interessada em sua escalada pessoal ao poder, do que no ideal esquerdista e no bem do país.

  3. Movimento Brasil Agora enfraquece a esquerda?
    Segundo post que J. Carlos de Assis ataca o Marcelo Freixo/PSOL.
    A esquerda tendo a chance de se renovar, com chances reais de derrotar o PMDB e o peemedebismo no Rio, e acusa-se de Freixo não desnudar que a elite acirra a luta de classes?
    O PT ganha a eleição com discurso de esquerda e depois tenta se reconciliar com a direita. O resultado todos nós sabemos. A direita não quis se conciliar com o PT e armou o golpe, com coordenação da Globo, em parceria com o MP e Judiciário.
    O PSOL conseguiu fazer oposição programática à esquerda aos governos do PT – propondo inclusive medidas alternativas ao ajuste fiscal de Joaquim Levy – e foram defensores aguerridos da democracia, na luta contra o golpe.
    Daí vem essa crítica que pressupõe qie pudéssemos isolar esse episódio específico numa entrevista, em relação ao processo histórico que está em curso.
    Tipo de atitude ressentida que apenas enfraquece a esquerda.
    Se a “esquerda” tem gente que age assim, fica fácil pra direita passar PEC 241 e todas as atrocidades que vêm por aí!

  4. revolucionárias
    “Se ele[Marcelo Freixo] alegasse que não restou espaço para a conciliação de classes no Brasil seria a pura verdade.”
    “O Movimento Brasil Agora, que estou coordenando, pretende desmascarar essa farsa mediante uma série de seminários vinculados à pauta-bomba do Congresso.”
    Assim falou José Carlos de Assis, obreiro licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus.

    É bom o Rui Costa Pimenta tomar cuidado porque surgiu-lhe um rival político. Chama-se José Carlos de Assis. O cara chutou o balde e mergulhou fundo na luta de classes.
    Perto dele, o bravo Rui não passa de pequeno burguês conciliador, sempre atento a uma sinecura na burocracia do Estado.
    Essa série de seminários eclipsará o significado histórico da fundação do Partido Comunista do Brasil, naquele distante 25 de março de 1922.
    JCA radicalizou. Agora a porrada é pra valer.
    Burgueses do Oiapoque ao Chuí, tremei!
    Desta vez até Deus vai dar uma mãozinha.
    Agora a coisa vai.

    É bom o JCA explicar ao Bispo Macedo que as passagem da INTERNACIONAL abaixo não tem nada a ver com a IURD.
    “Edificaram a riqueza
    Sobre o suor de quem trabalha!
    Todo o produto de quem sua
    A corja rica o recolheu.”
    “Pertence a Terra aos produtivos;
    Ó parasitas deixai o mundo
    Ó parasitas que te nutres
    Do nosso sangue a gotejar”

  5. Não existe conciliação de classes, é correlação de forças.
    Não existe conciliação de classes porque a luta de classes é uma decorrência do caráter estrutural da economia, onde uns tem a propriedade dos meios de produção e outros só a do próprio corpo. O que existe são mudanças na correlação de forças entre as classes. Em alguns momentos e lugares a correlação se torna mais favorável aos trabalhadores – por vários motivos, desde o econômico até o geopolítico. Ai os trabalhadores conseguem arrancar reformas da classe dominante. A classe dominante nunca cede reformas de boa vontade ou por espírito de conciliação, é que para ela em determinadas conjunturas é melhor ceder reformas que encarar uma revolução.

    Não estou dizendo com isso que reformas são negativas ou devem ser rejeitadas.Afirmar a luta de classes não é rejeitar reformas, porque elas são parte da luta de classes. Reformismo é achar que as reformas são resultado da conciliação de classes e não resultado e parte da luta de classes.

    Quando a correlação de forças muda, como acontece hoje no mundo todo, a classe dominante retira as reformas, os direitos sociais desaparecem. Eles não são garantidos para sempre – achar isso é parte da ilusão da conciliação de classes, do reformismo – mas são objeto e resultado de luta. E vão continuar sendo, pelo menos enquanto existir a condição econômica estrutural que leva a luta de classes.

    1. Parabéns, André, pelo seu iluminado comentário
      “O Estado é o produto e a manifestação do antagonismo inconciliável das classes. O Estado aparece onde e na medida em que os antagonismos de classes não podem objetivamente ser conciliados. E, reciprocamente, a existência do Estado prova que as contradições de classes são inconciliáveis.” – Lenin , Estado e Revolução

  6. Governo e “Movimento” (ha-ha-ha) ilegítimo
    É esse “governo ilegítimo” que senhor apoia via Marcelo Crivella. Esse artigo é de um cabotinismo aviltante. É repugnante, de uma abjeção sem igual. É lamentável que um golpista embuçado desse calão continue a pontificar nessas páginas. A farsa que esse movimento decrépito deve pretender desmascarar é tão somente a própria. Toda essa lenga-lenga pseudo-nacionalista, essa mentira repetida há décadas, encastelada em associações, clubes, falanges, alianças etc. não passa de um jogo de lentes aberrantes, que pretende deformar a realidade a seu favor. É uma prestidigitação acadêmica calhorda, oca, que só se sustenta achincalhando outras formas de luta, verdadeiras, populares, participativas, que se expõem inclusive às agressões das ruas. Pensamento embolorado, de pedestal, que só se sustenta no compadrio dos de então ou nas benesses dos que lhe têm pena. Mais uma vez, repito, é la-men-tá-vel!

  7. revolucionárias
    “Se ele[Marcelo Freixo] alegasse que não restou espaço para a conciliação de classes no Brasil seria a pura verdade.”
    “O Movimento Brasil Agora, que estou coordenando, pretende desmascarar essa farsa mediante uma série de seminários vinculados à pauta-bomba do Congresso.”
    Assim falou José Carlos de Assis, obreiro licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus.

    É bom o Rui Costa Pimenta tomar cuidado porque surgiu-lhe um rival político. Chama-se José Carlos de Assis. O cara chutou o balde e mergulhou fundo na luta de classes.
    Perto dele, o bravo Rui não passa de pequeno burguês conciliador, sempre atento a uma sinecura na burocracia do Estado.
    Essa série de seminários eclipsará o significado histórico da fundação do Partido Comunista do Brasil, naquele distante 25 de março de 1922.
    JCA radicalizou. Agora a porrada é pra valer.
    Burgueses do Oiapoque ao Chuí, tremei!
    Desta vez até Deus vai dar uma mãozinha.
    Agora a coisa vai.

    É bom o JCA explicar ao Bispo Macedo que as passagem da INTERNACIONAL abaixo não tem nada a ver com a IURD.
    “Edificaram a riqueza
    Sobre o suor de quem trabalha!
    Todo o produto de quem sua
    A corja rica o recolheu.”
    “Pertence a Terra aos produtivos;
    Ó parasitas deixai o mundo
    Ó parasitas que te nutres
    Do nosso sangue a gotejar”

    1. Não ao IURDistão

      Meu rotundo NÃO ao IURdistão que esse senhor e outros acadêmicos frustados / deconectados / sem-noção e esquerdistas desiludidos apoiam.

      NÃO ÀS TREVAS!

      NÃO AO OBSCURANTISMO!

      NÃO AO IURDISTÃO!

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