A discussão sobre a simplificação das obras de Machado e Alencar

Sugerido por Carioca

Surfando na alienação geral … Em vez de propor melhoras na maneira de se ensinar, de se incentivar, de raciocinar, em como aprenderem a ter um senso crítico em relação ao que se lê, seja lá, e principalmente, em que lugar for, uma autora (raspando no isperta) tenta convencer que ela vai facilitar o meu entendimento do que um autor quis dizer ou tentou dizer, ou por que usou um determinado termo. Se isso não é uma forma de subjugar grupo de menos dotados ao seu pensamento, e por conseguinte alienar a esse grupo não sei mais de nada. Ora, Machado de Assis, e outros viveram e escreveram de acordo com modismos de suas épocas. E naquelas épocas falava-se “Alvíssaras” em vez de “PQP”, se falava “Que massada” em vez “Que papo chato, meu”, se falava “Concluímos uma conjunção carnal” em vez de “demos uma trepada”. Se já sou menos dotado neuronicamente não tem mais jeito. Não adianta. Mas se tenho cinco neuronios ativos deve despertar em mim a curiosidade em procurar saber e não alguem determinar que era assim e pronto. Dizer que vai me dar um pouco mastigadinho é, além de enfatizar que sou menos dotado, é me alienar de que devo ficar esperando sentadinho o que titia vai escrever, no caso, re-escrever, para o débil aqui.A se dar como certo o pretendido não vai despertar em ninguem, muito menos nos que já tem o pouco hábito da leitura e nem foi ensinado a gostar, em entender, procurar saber, como a linguagem evoluiu, como palavras sumiram do dia-a-dia. Falar que Latim foi o usual em certa época nem pensar, né:! Sei não, mas em país com eternas falhas na educação acho um tiro no pé da literatura e ganhos para poucos novamente com esse novo ramo literário. No caso um incentivozinho fiscal facilita. 

Do O Globo

Machado e Alencar em versões ‘facilitadas’

Com mais de 200 livros infantojuvenis já publicados, a escritora Patrícia Engel Secco tornou-se o pivô de uma polêmica que envolve justamente a qualidade da leitura no Brasil. Ao anunciar que publicará, em junho, uma versão mais acessível de “O alienista”, de Machado de Assis, substituindo palavras aparentemente incompreensíveis para os leitores de hoje por outras mais contemporâneas, a escritora está sendo acusada de mutilar o texto do mais importante autor brasileiro e de, com isso, empobrecer o nível da leitura num país que ainda lê muito menos do que deveria.

Patrícia, que captou recursos para o projeto usando a lei de incentivo do Ministério da Cultura — além de “O alienista” será publicada também uma versão de “A pata da gazela”, de José de Alencar —, afirma que seu objetivo é exatamente o de levar boa leitura a quem não lê, sendo que o foco não é o público infantojuvenil, mas sim jovens e adultos já alfabetizados que não têm acesso ao livro. Garante, também, que toda a carpintaria literária de Machado, assim como a de Alencar, foi preservada.

— Houve um trabalho bastante elaborado para que Machado continuasse a ser Machado — afirma Patrícia, que não trabalhou diretamente na versão do texto, embora tenha participado das revisões e aprovado o resultado. — Estamos falando em chegar a leitores de uma camada mais simples da população, que não tem acesso ao livro. Falei em facilitar a leitura, não simplificar o texto. A complexidade de Machado está lá, ele é um gênio inigualável, um autor que admiro.

O projeto capitaneado pela escritora — os 300 mil exemplares de cada obra serão distribuídos para diversas instituições pelo Instituto Brasil Leitor, que trabalha na promoção da leitura no país — gerou um intenso debate nas redes sociais. Há quem apoie a iniciativa, entre eles o escritor Ronaldo Bressane. “É preferível que o sujeito comece a ler através de uma adaptação bem-feita de um clássico do que seja obrigado a ler um texto ilegível e incompreensível segundo a linguagem e os parâmetros culturais atuais. Depois que leu a adaptação, ele pode pegar o gosto, entrar no processo de leitura e eventualmente se interessar por ler o Machadão no original”, escreveu ele em sua página no Facebook.

Adaptações de clássicos não são novidade em parte alguma do mundo. Grandes obras da literatura universal recebem traduções em versões menores e mais atraentes, geralmente feitas para o público jovem. Diversas obras de Machado, inclusive, já foram adaptadas para os quadrinhos. A diferença, observam alguns escritores, é que nesses casos há de fato uma mudança de linguagem para se adequar a um outro formato, mas sem prejuízo do texto original. A nova edição, aliás, não seria uma adaptação no sentido clássico. 

— Em lugar de substituir as palavras de Machado seria mais adequado situar em nota explicativa a significação e a sinonímia dos termos usados por ele — observa o acadêmico e escritor Domício Proença Filho. — Com as notas o leitor não só entenderia a obra, como é o objetivo da autora, como se familiarizaria com o texto machadiano. Enriqueceria o seu vocabulário e teria a ideia precisa da proposta e do estilo do escritor.

Uma obra popular

O escritor Luiz Antonio Aguiar, ele mesmo autor de uma adaptação em quadrinhos para “O alienista”, lembra que essa obra especificamente — publicada em 1882, com aproximadamente 90 páginas — é uma das mais populares do Bruxo do Cosme Velho.

— Talvez por ser uma novela, uma obra pequena, não apresenta grande complexidade — diz Aguiar. — O curioso é que Machado, aliás, era criticado em seu tempo justamente por escrever de forma banal, dentro de um português mais acessível. É uma linguagem elegante, traz sutilezas que enriquecem. Para introduzir um leitor no universo de Machado você poderia usar as crônicas, por exemplo, um texto mais curto. 

A premiada Ana Maria Machado, autora de centenas de livros entre títulos para crianças, romances e ensaios, lembra que adaptações são boas — ela já adaptou para crianças, por exemplo, “Sonhos de uma noite de verão”, de Shakespeare —, mas faz ressalvas.

— Sou a favor da adaptação de clássicos universais, como “A Ilha do Tesouro” ou “Os miseráveis”, para um primeiro contato da garotada, para que saibam da existência da obra e conheçam seu enredo em linhas gerais. Mas acho inconcebível passar a limpo um mestre da língua — afirma. — Que se espere um pouco até que o próprio aluno passe a limpo a si próprio, e possa adquirir robustez linguística para chegar perto.

Apesar de as novas edições não serem voltadas para escolas, talvez as versões de Machado e Alencar cheguem a elas, já que o Instituto Brasil Leitor também distribui livros para bibliotecas.

Redação

8 Comentários

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  1. Machado e Alencar

    Ai, ai, ai, ai …….. essa autora facilitadora devia fazer uma simplificação no texto de D Quixote de Cervantes, pois não ?

     

    1. Ja foi

      Não precisa fazer, Sônia. pois elas já foram feitas:

      Dom Quixote das Crianças é um livro infantil escrito por Monteiro Lobato e publicado em 1936.

      Emília um dia resolve mexer na estante de livros da Dona Benta e se depara com um que ela nunca tinha visto antes, Don Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes. Dona Benta começa a ler o livro para as crianças, mas elas têm dificuldade para entender a história porque acham muito difícil o estilo do autor. A paciente senhora, então, decide interromper a literatura e começa a contar a história do seu jeito.

      http://pt.wikipedia.org/wiki/Dom_Quixote_das_crianças

      Ferreira Gullar também fez uma simplificação de  “D.Quixote”, em 2002.

      A triste figura do cavaleiro solitário que luta contra os moinhos de vento ganha uma versão infanto-juvenil pelas mãos do poeta Ferreira Gullar. Dom Quixote de La Mancha (Revan, 224 págs., R$ 29) chega em linguagem moderna, compacta e acessível ao jovem leitor. Coube a Gullar adaptar e traduzir os cinco volumes da coleção original em um único exemplar.

      http://www.estadao.com.br/arquivo/arteelazer/2002/not20020920p2581.htm

      Alguém reclamou? Houve polêmica? Acusaram Lobato e Gullar de estarem rebaixando o nível dos jovens leitores brasileiros ao fazer uma versão simplificada da obra clássica de Cervantes. Não me consta.

  2. Opa, boa ideia! Vou propor o

    Opa, boa ideia! Vou propor o mesmo na pintura: sempre achei a Mona Lisa meio ‘desbotada’ para o gosto contemporâneo. Vamos fazer uma colorização digital, colocar uma roupa mais alegre na moça, tingir os cabelos…

  3. Informação

    Venho por meio desta simples mensagem informar que, para decifrar o significado de palavras “incompreensíveis”, existe faz tempo uma coisa chamada “dicionário”.

    pouparia muito tempo da referida escritora.

  4. Opiniões preconceituosas.

    Opiniões preconceituosas. Perguntaria se vocês quando crianças liam os clássicos no original. Certamente leram adaptações, que sempre existiram, e servem até hoje para fomar novos leitores. Lembro por exemplo as versões infantis de Monteiro Lobato para diversas obras importantes. Crianças e adolescentes não têm maturidade intelectual e mesmo existencial para compreenderem muitos textos literários mais complexos. Claro que se quiserem encará-las ninguém vai impedir! Se tomarem gosto pela leitura, inclusive graças a versões adaptadas, poderão ler obras “difíceis” depois. 

    1. Sei lá. Acho que não é

      Sei lá. Acho que não é pré-conceito. Sob meus cinco neurônios, já velhos, diga-se, não concordo com a tentativa de falar para meu neto que titia acha melhor que ele leia um texto clássico como titia acha que ele deva ler. Aí, sim, é pré-conceito. Titia já acha que meu neto é limitado em vez instruí-lo, ensiná-lo, para “(Claro) que se quiserem encará-las ninguém vai impedir!”.

  5. Leitor iniciante

    “Casa Grande & Senzala” já saiu em quadrinhos com a aprovação do próprio Gilberto Freyre, ele dizia que gostava de ilustrações e que o gibi poderia despertar a curiosidade para o livro. E esse mesmo conto do Machado, “O alienista”, já foi novela de televisão, engraçadíssima, eu me bolava de rir quando assistia. Porque o conto é engraçado mesmo.

    Tenho a edição exatamente de “O alienista” e outros contos publicada pela Editora Moderna, que faz parte de uma coleção chamada “Travessias”: o critério dessa coleção é precisamente facilitar o acesso ao texto para o leitor iniciante, oferecendo uma edição diferenciada. É o que eles chamam de “leitura sinalizada”: a edição esclarece nos rodapés as peculiaridades da linguagem da época, como também aspectos históricos e referências culturais do texto. Por exemplo, onde Machado escreve:

    “Ela era a esposa do novo Hipócrates”

    uma notinha no rodapé explica que “Hipócrates foi um famoso médico grego, considerado o pai da medicina”.

    Pronto, facilitar é isso. São poucas notas de rodapé, nada que atrapalhe o fluxo da leitura. Essa edição da Moderna é um trabalho primoroso feito com critério pedagógico, que não altera uma única palavra do texto. O texto original é perfeitamente legível em relação ao português escrito de hoje, não é verdade que Machado seja um autor hermético para o leitor contemporâneo.

    Portanto não tem problema em se fazer adaptações, o problema é a premissa que está sendo adotada. A questão aí é que eles estão propondo uma adaptação literária voltada para um público que tem problema de letramento, gente que simplesmente não lê. Sem meias palavras é isso. Ora, para esse público seria o caso de apresentar primeiro obras mais simples e curtas, que é o caminho natural que todo mundo percorre para desenvolver o gosto pela leitura! Ao manterem a mesma estrutura do original como ela está dizendo, ainda que simplificando a linguagem, sai um texto longo para quem não está acostumado a ler. Melhor seria se ela apenas se baseasse na obra do Machado e contasse a história de seu jeito, escrevendo algo totalmente original.

    Pergunta: esse projeto passou por alguma avaliação de caráter pedagógico antes que fossem liberados recursos públicos para ele? Porque a eficácia disso aí é no mínimo questionável.

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