Chamar a escola pública paulista de medíocre seria um elogio, por Sérgio Íscaro

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Chamar a escola pública paulista de medíocre seria um elogio

por Sérgio Íscaro

Há necessidade de muito desenvolvimento para a escola pública paulista chegar à condição de escola medíocre…

25 anos lecionando e uma conclusão óbvia vem à mente: a escola é essencialmente reles.

Nós, professores, pelos baixos salários, exorbitante e fatigante quantidade de aulas semanais, duplas, triplas jornadas de trabalho, a cada dia que passa lemos menos.

E mesmo que as palavras batam no ouvido moco dos governantes, não cansamos em dizer: professor excelente é o professor que dá poucas aulas por semana e dispõe de ócio, tempo livre disponível para muitas leituras, para enriquecimento de seu capital cultural, a fim de que seu discurso tenha perícia, argúcia e perspicácia para encantar os estudantes

Estamos cada vez mais desinteressantes aos seus filhos.

Marchamos para a idiotia e a estultícia. O governo estadual paulista zela por elas, cultiva-as com esmero, com suas políticas salariais e seus arrochos corriqueiros.

A esses “representantes”, para frequentar escola boa tem que ter dinheiro, tem que pagar, tem que ser da patota chamada elite econômica.

À maioria da população, frequentemente tratada enquanto resto, também fica o resultado de uma conta onde, quase sempre, o multiplicador é o zero.

E o pensamento de que o maior número de mentes inventivas é bem mais propício a qualquer nação?

“Ah, pervertido pensamento…deixemo-lo às moscas…Mas, se não houver outro caminho, então podem pensá-lo, mas jamais executá-lo”- asseveram esses fantasmas do conhecimento.

E sobre a democracia e suas polêmicas na escola pública?

Não há conveniente relacionamento entre direção, professores, pais e alunos porque os governos não desejam isto. E este desejo, cultivado por práticas perenes, já está fazendo parte das ideias e atitudes de milhares de educadores, inconscientemente.

A democracia está anos-luz distante da escola do seu filho. E, depois, ele pensará e agirá anos-luz afastado dela…Quem se atreve a dizer que não somos capazes de construir nossa própria tumba?

Para terem uma ideia, faz parte da pauta de reivindicações da APEOESP (sindicato estadual de professores, de SP) a eleição democrática dos diretores de escola, pela comunidade (pais, estudantes, professores, funcionários dela).

O governo federal, visando a diminuição da jornada semanal de aulas, dos professores, em um terço (para que ele ficasse na escola e tivesse mais tempo para preparar aulas, atender alunos e pais, lesse mais, debatesse melhor com seus pares os projetos convenientes, a serem implantados etc), enviou projeto ao Congresso Nacional, que foi aprovado em 2008 (lei nacional do piso 11.738).

O governo Alckmin-PSDB, bem como o governo da maioria dos estados e municípios brasileiros, faz desdém ao cumprimento dessa lei.

Os mais altos juízes (estaduais e federais) nem tomam conhecimento de que ela não é cumprida – ou fazem de conta que ela não é desrespeitada. Estão, em harmonia com os executivos estaduais e municipais, preocupados com assuntos mais relevantes – a eles -, que a educação brasileira.

No nosso estado de SP, juízes estaduais, em consonância com o executivo estadual, conseguiram criar artifícios mirabolantes e ilógicos para baterem o martelo e dizerem, afinados, que essa lei federal é cumprida à risca, mesmo sem nunca ter sido implantada pela secretaria estadual de educação.

Perdemos na luta política quotidiana. Perdemos nos embates jurídicos dos tribunais. Perdemos quotidianamente nas problematizações ínfimas, tacanhas e desprezíveis dos barões da mídia, que jamais quiseram um povo inteligente e protagonista.

Todavia, incessante, a luta política continua, pois o balido mortificante dos esquecidos pela omissão não nos apetece…

Esse é o poder judiciário brasileiro, quando um assunto sem muita importância – a educação – é colocado em pauta. A premência é para auxílio-moradia de R$ 5 mil mensais, aos próprios, a urgência é para um sentar, quase que perene, em decisões cuja premência grita e urge por providências para ontem.

Quem sabe disto? Quase ninguém, pois os barões da comunicação no rádio e na TV, aliados ao governo estadual, jamais deram valor à democratização efetiva da escola pública. Nunca quiseram que o professor diminuísse essa jornada estafante, em que um em cada três professores tem dupla jornada de trabalho, devido aos baixos salários. A esses “nobres” convém o canudo de técnico e analfabeto político, bem mais propício à dominação eterna e à abismal desigualdade, tão espargidas em nossa pobre história.

Infelizmente, seu filho e toda a possível criatividade do povo brasileiro pagam por essa perfídia…

Cidadãos de todos os cantos: necessitamos de apoio à greve dos professores paulistas.

Problematizem a educação!

Compartilhem temas educacionais!

Compartilhem nossas reivindicações!

Venham para a rua, conosco!

Nossos filhos serão os maiores beneficiados!

Por uma escola pública, gratuita, democrática e de qualidade!

A greve continua! Não tem arrego!

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

13 Comentários

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  1. Medíocre é elogio…

    Sérgio,

    Seu artigo é contundente. O âmago da questão do elogio à mediocridade passa por ele.  Não existe luz no fim do túnel pela simples razão de que não existe mais túnel. Rindo, construímos nossa tumba. Acabaram com tudo. TUDO!

    Escola, hoje, é um prédio

    Cimento e ferro.

    Alguém, um dia, ainda fará um estudo profissional, sério e libertário da política americana do PONTO IV em nossa terra! É ali que se encontra o início de tudo isso que você tão claramente expõe e elucida. Alguém fará! 

    Mas, aguardemos os comentários sobre seu artigo. Alguém dirá que você é um PT enrustido, “medíocre”, safado e pilantra. Bom é o Aécio e a filha do Serra. 

    Aguarde só!     

  2. Greve e defesa da escola pública

    Sou professor de história da rede publica estadual desde 5 de outubro de 1988. Após quase três décadas vislumbro pouquissimas perspectivas para a escola pública e concordo integralmente com o texto do nobre colega.

    Vivemos tempos de ausência total de política de Estado para a educação, o que inevitavelmente atinge o conjunto de professores, hoje vitimas das condições precárias de trabalho mantidas pelo governo Alckmin, fortemente protegido pela mídia familiar de nosso país.

    Como imaginar ter que trabalhar com turmas de até 60 alunos, cartilhas reeditadas pelo quinto ano e sem atualizações, escolas sem pontos de internet livre para seus estudantes, falta de mobiliário, quadras de educação física esburacadas e desprotegidas, ausência de material pedagógico de inclusão, desrespeito à convenções internacionais etc e tal.

    Não bastasse isso o professor paulista que trabalha com alunos dos anos finais do ensino fundamental e médio recebem apenas 12,08 reais por aula. Não dá para pagar a entrada em uma sala de cinema.

    Nossa greve, costumamos dizer, é também um pedido de socorro, de profissionais que não suportam mais a impossibilidade de desenvolverem seu trabalho diário. É um pedido de socorro em nome do futuro, de jovens que ingressaram na carreira, de estudantes que frequentam a escola, de velhos mestres que buscam o sagrado e merecido descanso despreocupado da aposentadoria.

    Por fim aproveito para fazer uma grave denúncia. Na última quinta feira dia 16 de abril, professores que colavam cartazes na diretoria de ensino leste 3 em Itaquera, bairro da periferia de São Paulo, foram vitimas de um disparo quase fatal, por parte de seguranças armados.

    Diante do fato, tentativa de homicídio, estamos encaminhado as denúncias e exigência de apuração do ocorrido à todas autoridades da sociedade paulista.

  3. Educação

    Uma tática eficaz da elite, para se criarem legiões de analfabetos políticos, que serão facilmente manipulados e levados a apoiarem os interesses das classes dominantes.  

  4. Força e coragem

    Camaradas professores do estado de SP e de todo país.

    Aqui em SC também estamos em greve. As perseguições e pratulhamento do governo já causaram danos a carreira de alguns colegas que denunciaram o governo no descaso com obras em escolas e o autoritarismo da gestão. Um perdeu o emprego, outros sofrem processos administrativos e correm o risco do mesmo caminho do outro. Fora o assédio moral cotidiano, fora o descaso da mídia (oficial). Eu estou sofrendo um processo administrativo por denunciar um funcionário fantasma (cabo eleitoral) e denunciar uma gestão incompetente.

    Brasil a fora é esse o quadro. Viramos a vala comum. A mídia nos usa para seus ataques de interesse (mais verba publicitária), a justiça nos ignora e é complacente com a má gestão e a falta de caráter dos gestores, a sociedade não sabe para que servimos.

    Em um país que o lema é pátria educadora a greve deve ser para sempre!!

    Força e coragem!

  5. O pior é que a mesma

    O pior é que a mesma estultice é vendida a peso de ouro nas escolas privadas.

    São Paulo é um estado de ignorantes que ignoram a própria ignorância.

    I ao quadrado, como dizia Carlos Matos: “não sabem que não sabem”. E gostam de pagar pela ignorância, pois os ignorantes medem tudo pelo preço!

  6. PSDB sucateia a educação

    O maior problema disso tudo é a mídia, que esconde isso do povo brasileiro. Assim, aparece zumbis berrando fora Dilma, e cobra a educação da presidenta e ficam quietinhos com o sucateamento das escolas que os tucanos vem promovendo. Pura hipocrisia. A mídia gerou esses analfabetos políticos com tanta desinformação, distorção, mentiras, manobras em conluio com a justiça. Por isso é urgente a Regulação dos meios de comunicação, o mundo precisa saber a verdade que a mídia esconde.

  7. Pela logica do mercado, o

    Pela logica do mercado, o interessante eh acabar com a concorrencia, ou seja, sucatear o que for publico. 

    Eh interessante tambem poder cobrar o maximo dos alunos e pagar o minimo aos professores (diminuicao dos custos). 

    No ambito politico, eh interessante que se consiga isencao de impostos e outros beneficios.

    Sucatear a educacao publica eh acabar com a concorrencia.

    Criacao de bolsas tambem ajudam muito. 

    Investir em deputados e vereadores para ajudar a sua causa eh imprescindivel.

    Criar conglomerados educacionais para monopolizar a mao de obra e comprar escolas menores.

    Mas isso, eh soh um surto psicologico que eu tenho de um pais que abandonou a educacao. Nada disso acontece por aqui.

  8.  
    O techo mais sofrível

     

    O techo mais sofrível é:

    ”professor excelente é o professor que dá poucas aulas por semana e dispõe de ócio”.

    Pois é professor, esta mentalidade dândi de educadores e que nunca será atingida, pois não estamos na belle France ou em outro país que europeu que tivesse sido erguido sobre a égide do imperialismo, é que mata a pouca boa imagem que a socieade tem do professor.A

    Aposto que você, neste discurso de náugrago exasperado, mantém filhos na escola privada, ouseja, quer apenas que o proletariado sofra as agruras de um ensino ruim.

    Eu acho tão piegas este discurso educacional da esquerda. Trabalhei em uma escola que sob a administração municipal do PT, era tão ou pior do que as estaduais. Em regime de dedicação semi-integral, era impossível a autonomia, a tal perspecácia a qual você se refere.

    Em certas ocasições ficávamos retidos nas escolas por cerca de dez horas, para  cumprirmos horários burocráticos e ineficientes.

    Seu discurso é livresco e desconectado da realidade, pois fetichiza a educação como a panaceia de todos os males da sociedade brasileira. Ou seja, faz o contrário do que Freire apregoava – primeiro o indivíduo construído e autonomo para depois a transformação. 

  9. São Paulo tem a melhor

    São Paulo tem a melhor qualidade de ensino do Brasil, então o que sobra para o resto do país.

    Um país onde o governop federal fica com 70% da arrecadação de impostos e não tem obrigação de investir na educação este é o resultado que temos, estados sem dinheiro para cumprir suas obrigações constitucionais.

     

  10. Parabéns ao autor.

    Para governos elitistas e corruptos  como o Alkimin e os governos do PDSB, nada pior do que ter um povo educado.  Povo bom é aquele que não lê, não pensa e só assiste  programas estúpidos da televisão, de preferência os jornais desinformativos da Globo.  

    Quer ver eles ficarem furiosos?  Propõe um plebiscito para que o povo paulista decida se quer ou não que o sistema de cotas seja aplicado às universidades estaduais paulistas.  A primeira coisa que vão dizer é que isto é chavismo. 

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