Dilma tem defeitos, mas não padece de falta de coerência no quesito indústria

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Gentilhomme

Ref. ao post: Como Dilma conseguiu perder o apoio da indústria

Esse tema já foi analisado pela Sônia Draibe, se não me engano, ou seja, porque os empresários industriais rejeitam quem os acolhe. O Adriano Codato também o tangencia tratando do período … Geisel!

De qualquer forma, Nassif, tá muito certa tua observação segundo a qual o modelo não intervencionista, ou ao menos não discricionário, liberal, é muito mais simples de operar e de legitimar.

É que a vida é dura nos países atrasados, e a democracia – ainda mais se dominada por um oligopólio anti-nacional – dificulta muito mais: ocorre que nesses países, os setores que são realmente capazes de acelerar o desenvolvimento e potencializar o aumento de produtividade SÃO MINORITÁRIOS OU INEXISTENTES.

É aí que fica o furo pricipal dessa suposta vantagem de “democratizar” os benefícios fiscais e creditícios. se “democratizar”, vão levar setores tradicionais e vão levar para fazer a única coisa que sabem: gerir custos, de forma tacanha. Passam longe de inovação: se a concorrência começa a castigar, vão sempre achar – eles acham isso mesmo, não é malandragem (ou não apenas malandragem) – que é porque o cãmbio tá ruim, sindicato é duro, tem imposto demais etc. Não me entenda mal: tudo isso é bem verdade, mas o fato é que se sentares e ouvir o que os empresários acham que deve ser a política industrial, podes ter de tudo, mas inovação, sobretudo baseada em aplicação de C&T, podes tirar o cavalo da chuva, só vai acontecer em estatais e nas poucas que são mais interternacionalizadas (e olha lá…).

À parte disso, fazes duas injustiças, uma grande, outra menorzinha.

A grande é sobre a automobilística: em pleno ano eleitoral, e com ameaça de recessão, a Dilma retirou estímulos. Isso mesmo! Mais uma vez, ela mostra que ela pode ter muitos defeitos, mas nao o de falta de honradez e coerência. Mas o tamanho da injustiça fica por conta de não perceberes o quanto é arrojado, ao menos em sua concepção, o InovarAuto. Até o pessoal do UOL sabe disso:http://carros.uol.com.br/noticias/redacao/2014/09/18/novas-regras-provoc….

A segunda injustiça é por uma aparente incompreensão de como se dá hoje o jogo em torno das tais cadeias globais de valor. O tema é como extrair “quasi-rendas” ao longo das cadeias de valor internacionalizadas. Não há como entrar no jogo sem grandes empresas nacionais, de preferência (1) posicionadas com base em capacitações tecnológicas bem guardadas e (2) em setores com elevada elasticidade-renda. É um jogo pesado e não é exatamente belo segundo o ideal grego. Mas não jogá-lo é meio caminho para o Brasil manter-se na periferia da divisão internacional do trabalho. Tio Luciano viu oportunidades nesse sentido e fez uma omelete dos ovos que tinha. Ninguém mais que ele gostaria de estar financiando EBTs que desenham sistemas de estabilizaçaõ em satélites de grande porte ou compósitos de alta densidade para próteses biodegradáveis. Mas está completamente acima dos poderes do BNDES fazer isso sozinho – e, sempre lembrando, ele não está em Taiwan – com alguma probabilidade de sucesso.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

12 Comentários

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  1. Um oportuno esclarecimento.

    DILMA LEMBRA QUE COSTA FOI DA GASPETRO NA GESTÃO FHC

    :

     

    Presidente Dilma Rousseff vinculou o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso pela PF na Operação Lava Jato, ao governo Fernando Henrique (PSDB): “Você está dizendo que ele trabalhou dez anos lá. Ele trabalhou 30. Antes (de ser diretor de Abastecimento), ele foi diretor da Gaspetro no governo FHC, foi diretor da região sul de Exploração e Prospecção”, afirmou Dilma em entrevista ao Jornal da Record

     

    19 DE SETEMBRO DE 2014 ÀS 08:24

     

     

    247 – Diante do escândalo envolvendo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso pela PF na Operação Lava Jato, a presidente Dilma Rousseff rebateu os ataques da oposição lembrando que ele também foi diretor da Gaspetro, subsidiária da Petrobras, no governo Fernando Henrique (PSDB).

    “Você está dizendo que ele trabalhou dez anos lá. Ele trabalhou 30. Antes (de ser diretor de Abastecimento), ele foi diretor da Gaspetro no governo FHC, foi diretor da região sul de Exploração e Prospecção”, afirmou Dilma em entrevista ao Jornal da Record.

    Dilma ressaltou que o esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef só foi descoberto por causa de investigação feita pela Polícia Federal, em seu governo. “Achar casos de corrupção não é algo simples, tanto que não houve indícios antes. A Polícia Federal chegou a ele através da investigação dos doleiros”.

     

    1. Professora de C. Política da Unicamp

      Lattes:

      lattes.cnpq.br/4395821925289195

      Resenha sobre o livro dela sobre a industrialização contra os interesses manifestos da burguesia industrial nacional:

      revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/download/1063/1386

      1. Obrigado pelo PDF

        Interessante a ênfase das politicas estatais que ela dá, com a composição de um lógica apoiada nas diversas classes que compõe a sociedade, sem se confundir com nenhuma delas.

        Infelizmente no mundo atual, com uma classe mercantilista poderosíssima, não dá para olvidá-los.

        Melhor estratégia, dentro de uma política unitária é lógica também, é compor e negociar, na minha humilde opinião.

  2. interessante este post

    interessante este post porque,

    além de mostrar a

    coerencia da  presidente dilma,

    revela alguns vícios digamos dos empresários que preferem o neonliberalismo embobra, nsa minha opinião,  isto possa prejudicá-los economicamente.

    e mostra claramente que a opção do

    bndes é dar um salto maior do que

    a maioria pensa,

    isto é, jogar com a força e o potencial que realmente

    tem com outros ditos players importantes do mundo.

  3. Sobre o nosso empresariado:

    O nosso problema basilar é que sempre tivemos agiotas e sinecuras demais, e empreendedores de menos. Quer um exemplo? A pouca tecnologia existente na produçãod e café, quem a inventou (salvo depois da Embrapa)? A farinha de mandioca foi até meados do século XX a base alimentar essencial do brasileiro. Se observarmos sua produção e industrialização, está quase igual ao pintado por Frans Post em meados do século XVII.

    Sempre fomos o país dos cartéis. O cara que ganha nichos de mercado cativo e o explora muitíssimo mal. Seque bem aproveita a chance, como ocorreu a Bill Gates, nos Estados Unidos. A indústria nacional, para o tamanho que este país tem é uma vergonha. Tudo aqui foi feito sob tutela do Estado, mediante copiosos recursos públicos carreados para a indústria e a agricultura, mesmo num tempo em que a agricultura não necessitava de apoio financeiro.

    Um país de agiotas e sinecuras. O resto são detalhes por parte dos Policarpos Quaresmas.

    Embaixo, no meu entender, o maior símbolo da tragédia que é o empreendedorismo nacional: 350 anos depois, o que mudou na fabricação de um produto que até bem pouco tempo atrás era a base da alimentação nacional?

    AH, PERDÃO. O EDITOR NÃO PERMITE IMAGENS DO MEU COMPUTADOR.

     

  4. A Fiesp não é o carona, é motorista da crise

    Sérgio Nobre: A Fiesp não é o carona, é motorista da crise

    publicado em 18 de setembro de 2014 às 19:08

    SESI CAT ITAPETININGA

    Reclamações? Aí em cima!

    A Fiesp não é o carona da crise e, sim, o motorista

    por Sérgio Nobre, secretário Geral da CUT

    A CUT reconhece as dificuldades que a economia brasileira e a indústria, em particular, enfrentam. Ao contrário das avaliações sindicais patronais, no entanto, é importante que as análises destaquem o forte impacto da crise econômica mundial, aliado ao aumento da taxa de juros a partir de meados de 2013 – que sempre criticamos.

    Nesse sentido, é necessário pontuar as questões levantadas pela Fiesp, que divulgou essa semana prognósticos de desemprego até o final de 2014, fazendo uma relação com um carro: a Fiesp parece se comportar como “carona”, quando na verdade é “motorista”.

    Segundo a Fiesp, a indústria paulista deve fechar mais de 100 mil postos de trabalho até dezembro. A entidade avalia que houve uma conjugação de fatores responsáveis por este resultado, como a queda dos investimentos, uma contração do setor automotivo (tanto interna quanto externa), a desvalorização do dólar e a instabilidade que seria proporcionada pelo calendário eleitoral. Nada de falar sobre a crise financeira internacional nem sobre a alta dos juros.

    Em primeiro lugar, é importante avaliar o tamanho das demissões: é verdade que alguns setores e estados têm sentido mais essa conjuntura; é verdade também que este ano a trajetória do emprego na indústria tem sido pior do que nos últimos anos, no entanto, olhando os números oficiais do mercado de trabalho formal disponível no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o saldo negativo é menor do que o divulgado pela Fiesp. Vamos aos números:

    Na indústria de transformação o saldo de empregos de janeiro a agosto de 2014 é de 8.593 contratações – abaixo do resultado de 2013, mas ainda assim, positivo;

    No estado de SP o saldo do ano é negativo em 12.862 postos de trabalho – bem menor do que os 31,5 mil divulgados pela Fiesp, no mesmo período, de janeiro a agosto;

    Chama atenção no estado de SP que, apesar das 686 mil demissões ao longo de 2014, foram contratados 673 mil trabalhadores, resultando no saldo acima mencionado. Essa prática nociva da rotatividade impõe para o trabalhador um ajuste salarial, que anula os ganhos obtidos durante as campanhas salariais e não combina com o país em todos desejamos, nem tampouco com a modernidade alardeada pelos empresários.

    Além disso, é sabido que os piores meses do ano ficaram para trás – historicamente, a partir de setembro, a tendência é que os números do emprego na indústria apresentem uma recuperação – fator que certamente contribuirá para que o saldo final do ano seja diferente dos 100 mil negativos previstos pela Federação.

    Por outro lado, é preciso lembrar que, apesar dos investimentos terem saído de um patamar de 16,1% do PIB na primeira metade da década passada para 18% nos últimos anos, o patamar ainda é inferior ao necessário no Brasil. Para que seja inaugurado um novo ciclo de desenvolvimento econômico no país, é necessário um incremento nos investimentos na chamada “formação bruta de capital fixo” – basicamente a aquisição de máquinas e equipamentos, que indica se a capacidade de produção do país está crescendo.

    A maior parte desse investimento é essencialmente fruto de decisões das empresas e são influenciados pela conjuntura e também pelas expectativas futuras de retorno, onde os custos do capital para sua viabilização e o nível de demanda desempenham papel central.

    A decisão de muitas indústrias de não investir parece muito mais carregada de um pessimismo exacerbado do que simplesmente da existência de um cenário inviável. Isso, mesmo considerando que os investimentos demandam tempo; que, ao contrário do cidadão comum, as indústrias emprestam recursos a taxas de juros muitas vezes negativas em termos reais; e que, apesar dos indicadores de atividade fracos, o consumo ainda permanece em crescimento – demonstrando a falta de visão de oportunidades e dando espaço para ampliação de bens importados.

    A recente contração do setor automobilístico, apesar de se tratar de um segmento com peso considerável, não pode ser extensível como um “retrato” do desempenho da indústria como um todo. Além disso, esta desaceleração do setor tem de ser vista como pontual, já que decorreu tanto de problemas com a Argentina quanto da falta de crédito para aquisição de veículos por parte do sistema financeiro nacional privado, que se deu ao luxo de “desprezar” 70 bilhões disponibilizados pelo Banco Central para aumento de crédito. Isso é sabotar o crescimento do país.

    Também devemos nos atentar aos gargalos do setor, que são mais relacionados à disponibilidade de crédito do que necessariamente a falta de demanda. As próprias montadoras, mesmo com este cenário pontual, irão manter todos seus investimentos previstos para os próximos anos, justamente por acreditar na transitoriedade desta conjuntura.

    Em relação à desvalorização cambial, é verdade que se trata de um efeito dual: por um lado, pode haver encarecimento no curto prazo de alguns insumos importados, por outro lado a desvalorização cambial e a própria existência de um câmbio competitivo são um dos principais pilares do desenvolvimento industrial. Além de confuso, o argumento dos empresários despreza um efeito básico: que a desvalorização cambial encarece os produtos importados e barateia as exportações e, assim, promove a substituição pela produção nacional de forma imediata no mercado interno e favorece as vendas ao exterior, promovendo estímulo à produção interna. E a desvalorização cambial e a adoção de um câmbio competitivo sempre foi uma das principais bandeiras das entidades industriais, em especial a própria Fiesp.

    Sobre a possível instabilidade proporcionada pelo cenário eleitoral, é outra alegação no mínimo questionável. De fato, as eleições proporcionam um compasso de espera para decisões, sobretudo de investimentos. No entanto, agravar esse momento com informações superestimadas de crise serve para algum propósito. Qual é o que queremos saber. Muitos setores tem ampliado a crise como forma de impor sua agenda junto aos candidatos. Definitivamente, essa não é a forma mais construtiva para o país.

    A Fiesp é uma entidade paulista e, ao contrário do que tem sido feito pelo governo federal, o governo do estado de São Paulo pouco ou mesmo nada de relevante tem feito para fortalecer a indústria no estado, devendo por isso ser cobrado. A Fiesp tem sido passiva diante dessas dificuldades.

    Os trabalhadores organizados no Macrossetor Indústria da CUT têm abraçado esse tema como prioritário, preparando uma agenda consistente não apenas para a indústria de São Paulo, mas também para a o Brasil, de forma responsável e sem manipulação de dados.

  5. Ótimo!

    Entender como se chefou ao protótipo do empresariado brasileiro atual é um exercício muito próximo da antropologia. São perfis que se desenvolvem a partir da colonização, dos ciclos monocultores feudais agrícolas, da industrialização a partir de ex-colonos de pouca instrução e cultura, das aquisições, primeiro, das modas sociais europeias e do financismo inglês; ainda, no pós-Guerra, a industrialização tardia, comandada por forte influência norte-americana e, em seguida, amoldada pelo nacional-desenvolvimentismo dos governos militares.

    Daí em diante, foram quase 30 anos de proteção, quando se consolidaram os principais grupos empresariais de hoje. Como unidades de produção, comércio ou serviços, porém, e aí é que vem a bronca, com a mesma cabeça deformada por esse percurso.

    Quando chega Collor, em destrambelhada abertura, e logo depois a ela se junta o projeto neoliberal, com privatizações feitas a preços de banana, garantia de devolução de ações ao BNDES caso nada desse certo, interioriza-se naquelas cabeças exatamente o que o Nassif aponta, causa da brutal rejeição hoje em dia a Dilma: o querer ser ajudado sem explicitar-se como conduzido.  

    Nos círculos empresariais por onde passo não consigo ouvir uma só ponderação concreta aos malfeitos do governo Dilma. Argumentos e números são tirados, quase literalmente, do que leem na mídia tradicional. Nenhuma menção a situações similares do passado. Tudo foi apagado da memória, para se caracterizar em fatos inverossímeis para serem citados por gente de grana, educação formal e, talvez, cultura. “A Petrobras quebrou, a inflação saiu do controle, virão os tarifaços, os quilombolas são as antigas saúvas do Brasil”. Vale qualquer coisa, ponha você o número que você quiser diante deles. Repetirão o que foi dito em Veja, Folha, Jornal Nacional, o que mais vier.  

    Como faziam nos regabofes dos campeões nacionais de Valor, Exame, ao se declararem 95% eleitores de Aécio, hoje, repetiriam a mesma intenção com Marina, de quem ouvi de um empresário rural, numa cidade do interior do Paraná, que não votaria nela para prefeita de sua cidade, mas votará para Presidente da República.

    Também, nunca repercutirão fatos escabrosos denunciados neste e em outros blogs, ou em CartaCapital, de malfeitos ligados à oposição em conluio com o Judiciário e as folhas e telas de suas preferências. Na Folha, consideram desprezível considerar o que escreve Jânio de Freitas. Preferem a página A2. 

    Para eles, Demóstenes Torres e Gilmar Mendes nunca existiram. As folias nos trilhos e trilhas do governo do estado de São Paulo nunca precisarão ser investigadas.    

  6. Defeitos?

    Claro que todos tem defeitos. Mas agora que estamos sabendo das virtudes da MP 579 de set de 2012 que reduziu a tarifa de energia em 30% teve como resultado hoje, agora, uma energia 80% mais barata e uma economia para a sociedade de 200 bi conforme informação do Eng Zimermann e que está no site do MME vamos falar em defeitos da Dilma.

    E olha que todo mundo atacou, o pig claro, os “especialistas” do setor de energia e até o nassif com argumentos fracos e grosseiramente errados (basta ver posts à respeito aqui  mesmo). Estou até cobrando do Nassif uma retratação que parece não vai haver.

    Então quando escondemos uma notícia tão sensacional ainda vamos falar dos defeitos da Dilma?

  7. Se o governo

    der um terreno para uma fábrica, zerar todos os tributos, prover garantia de compra do produto e ainda comprar adiantado 10 anos de toda a produção, mesmo assim vai ter empresário reclamando. No estilo “não mandou junto a mulher amada” …

    É da natureza de todo e qualquer empresário reclamar. Ponto. 

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