Guilherme Arantes: “Brasil vai aprender a conviver com a liberalidade da Democracia”

Sugerido por Marco St.

Do Facebook de Guilherme Arantes

Me solicitaram sugestões a partir do texto que postei, sobre direitos em excesso, e deveres zero. A primeira sugestão é não desanimar e parar imediatamente com o discurso monótono do desalento, ceticismo, de ficar xingando o Brasil. O mundo é inteiro igual, o ser humano não é nada mais especial nos EUA, por exemplo, onde a sociedade é truculenta e onde O.J. Simpson não foi condenado pelo evidente assassinato da mulher, um escandalo na época.

Itália? porca miséria… uma politica de piadas. França ? berço da Democracia, está sempre guinando para a extrema direita, xenofobia, exclusões raciais e étnicas, oligaquia perversa. Japão? truculência total, escravidão e desumanidade no dia a dia. China e India, os novos milagres do mundo, sem comentários… É bom lembrar que se você olhar uma foto de 1940 do Largo do Café (como as que tem no Bar Brahma) voce pode pensar que era uma beleza, tudo limpo, as pessoas “decentes” , tinham “compostura” …Voce não vai ver um preto, um mulato, um japonês sequer. Só um povo branco, burguês, de terno de casimira inglesa, de chapéu (muitos panamás) fumando charuto, algumas poucas mulheres de tailleur, uma sociedade “visível” completamente apartada da realidade. Onde estão os negros, ali ? Onde estão as massas do proletariado , invisível ? Olhe hoje. A inclusão não é uma conquista partidária, de uma corrente. Foi sangrenta, teve luta no dia a dia. Mas andou.

As pessoas até 30 anos atrás faziam piada de preto, de árabe, de judeu, de japonês – (é bem diferente que piada de português , porque esta não é piada étnica).

Hoje não tem mais graça , aliás, pra mim e pra os meus filhos, nenhuma graça.

Mudou.

No tempo da Ditadura (pouco tempo atrás) o samba que se ouvia nas paradas de sucesso era : “Do Lado Direito da Rua Direita….” (Originais do Samba, com Mussum e tudo…) Pode ? Para pra pensar…

A questão é que o Brasil agora vai aprender a conviver e lidar com a liberalidade da Democracia.

É ruim? Incomoda ver o povão ter sua expressão, as periferias, o gosto da maioria?

A mim, não incomoda.

É fácil ficar chamando as décadas de 60, de 70, de privilegiadas, porque havia “cultura popular de qualidade” – fácil porque era uma sociedade de exclusão!!!

A coisa complica quando voce precisa conviver com as diferenças.

Não troco o meu tempo PRESENTE por nada! Não me engano, o passado hoje parece doce porque está lá distante, já passou e está dominado na nossa cabeça, porque o passado é mais confortável, porque não implica em desafio, Parece doce, mas era escroto ! muito mais escroto.

Quem não estiver preparado pra conviver com a inclusão social, e quer a volta da aristocracia, está ferrado porque o mundo não quer mais o que já foi.

E eu quero o futuro.

No futuro, cada desalento, cada roubalheira que estourou na mídia, cada perversidade que é divulgada,cada êrro, cada acerto, cada confusão, cada discussão, cada controvérsia, tudo, mas tudo mesmo, terá sido um tijolinho na construção da democracia. Na História, nada se perde, e essa construção é lenta.

Temos que cuidar é pra não haver em hipotese alguma retrocesso de ARBÍTRIO. Essa a cagada histórica, porque o Brasil tutelado ficou infantilizado e parou no tempo da construção de sua democracia.

A violencia nas ruas é um sinal de tudo o que não queremos ver, uma anarquia que apetece tanto aos deslumbrados “revolucionários” moldados em outro tempo, década de 60 em que o quebra-quebra tinha o charme gauche da Contracultura.

Grande bosta de tempo ! Guerra Fria, exclusão, racismo, linha dura, roubalheira total, e ninguém podia abrir o bico.

Então, a melhor opção é lutar. Seguir adiante.

Mas se não é pra acreditar nas mentiras, se é pra se indignar, eu gosto ainda mais porque o caminho é esse.

Se é pra contestar, brigar todo dia, toda hora, melhor ainda.

Essa pedra só ficará redonda se rolar, bater, lixar, rolar, bater, lixar.
No fim, fica redondinha.

Luis Nassif

17 Comentários

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  1. Nassif, excelente o texto do

    Nassif, excelente o texto do Guilherme Arantes. Nestes dias sombrios é animador poder  ler um post desta qualidade.

    Nada está perdido. Quem nos dera que metade da elite brasileira tivesse essa cabeça!

    Abraços!

     

  2. Excelente o Guilherme

    Excelente o Guilherme Arantes, o músico de letras lindíssimas e a pessoa que entende a época em que vivemos e nos trás esperança.

  3. Guilherme Arantes sempre foi

    Guilherme Arantes sempre foi um sujeito de grande categoria, um músico de extrema sensibilidade. E com esse texto, mostrou ser uma pessoa arguta, de grande inteligência, fino senso crítico.

    É exatamente como eu penso em relação ao passado, presente e ao futuro. Sinto-me contemplado pelo texto do grande músico brasileiro Guilherme Arantes.

    Concordo integralmente.

  4. Proporção

    Pena que na nossa mídia, para cada um Guilherme Arantes (que por sinal não faz parte dela), existam 10 lobões vomitando insanidades para garantir o leite das crianças no fim do mês..

  5. Ufa, que susto! Por um

    Ufa, que susto! Por um momento pensei que Guilherme Arantes também estavisse sofrendo processo de lobãotomia (v. lobotomia) reaça. Mas não. Se o texto não deixa claro se Arantes tem alguma posição política, ao menos deixa claríssimo que ele não gosta da direita. Que bom! Guilherme Arantes é um dos maiores compositores que surgiram nos anos 70.   

  6. “Hoje nasceu novo…”

    Bela surpresa este que entendo como um desabafo do Guilherme. Bom músico, excelente compositor, ele foge do “estilo” ABL e faz o que sabe: comunica-se e bem. Ótimo texto, nada de firulas e muito de conteúdo. Bom que a garotada de hoje leia. Abração ao Guilherme e parabéns ao Nassif por publicá-lo.

  7. nao tem fã maior que eu do

    nao tem fã maior que eu do guilherme ,conheço a discografia toda e ouço todos os dias,mas com esse post me parece na opinião dele que está tudo uma maravilha e que o mundo caminha oara que no final tudo de certo,como a tal pedra “redondinha” só que não.o mundo ta caminhando pro abismo,e antes de inclusão tem que haver educação,o povão gosta de bagunça,um exemplo eh o q o metro trouxe de inclusao para a praia de ipanema aqui no rio,um bando de bandalheiro,e eu nao sou burgues,nasci em nova iguaçu,b

    aixada fluminense!

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