Mulheres preparam protestos em todo o mundo no dia 8 de março

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Jornal GGN – Mulheres de diversos países, como Argentina, Brasil, Alemanha e Estados Unidos, preparam uma grande mobilização no próximo dia 8 de março, com o objetivo de protestar contra o feminicídio e a exploração no trabalho.
 
“A ideia é se apropriar da greve como ferramenta política para expressar as nossas demandas e intervir concretamente na ordem da produção”, diz Cecilia Palmeiro, do grupo “Ni Una Menos”, da Argentina. 
 
Em janeiro deste ano, ativistas norte-americanas realizaram a Marcha das Mulheres, que contou com cerca de 500.000 pessoas somente em Washington. “Está claro que a resistência à agenda radical de Trump será liderada por mulheres corajosas lutando pelo nosso futuro”, afirmou a senadora Kamala Harris.

 
Leia mais abaixo:
 
Do El País
 
‘Dia sem mulher’: o mundo se prepara para uma greve internacional feminina
 
‘Ni una menos’ na América Latina ou o Marcha das Mulheres dos EUA lideram uma nova era no protesto feminista
 
“Se nosso trabalho não vale, produzam sem nós”. Cecilia Palmeiro, uma das porta-vozes de “Ni Una Menos”, resume assim por que o grupo de mulheres convoca no próximo 8 de março uma greve nacional feminina na Argentina. Eles não serão as únicas a se levantar e deixar seus postos de trabalho voluntariamente para “protestar contra o feminicídio, a exploração no trabalho/econômica e a desumanização e desierarquização das mulheres”. Mulheres de outros 30 países também planejam fazer a greve, prevendo um histórico Dia da Mulher. Grupos feministas da Austrália, Bolívia, Brasil, Chile, Costa Rica, República Checa, Equador, Inglaterra, França, Alemanha, Guatemala, Honduras, Islândia, Irlanda do Norte, Irlanda, Israel, Itália, México, Nicarágua, Peru, Polônia, Rússia, El Salvador, Escócia, Coreia do Sul, Suécia, Togo, Turquia, Uruguai e EUA confirmaram a convocatória que tem o objetivo de deixar escritórios, lojas, fábricas ou qualquer trabalho sem a presença do sexo feminino para protestar contra as desigualdades de gênero e a violência machista.
 
“A ideia é se apropriar da greve como ferramenta política para expressar as nossas demandas e intervir concretamente na ordem da produção”, conta por e-mail esta acadêmica, doutora em Literatura Latino-americana. Ela explica que a greve de 8 de março começou a ser planejada depois do forte movimento argentino de mulheres de 19 outubro – a chamada quarta-feira negra contra os 200 assassinatos anuais por violência machista no país – e da segunda-feira negra de 3 de outubro na Polônia, quando milhares de mulheres pararam e protestaram contra a restritiva lei de aborto impulsionada pelo Executivo polaco, que depois foi rechaçada pelo Parlamento pela pressão das marchas. “Entramos em contato com as companheiras polonesas e coreanas, que também tinham parado, para construir uma articulação internacional”, conta.
 
O protesto internacional é inspirado no Dia Livre das Mulheres islandesas de 1975, quando 90% das cidadãs deixaram seus postos de trabalho em 24 de outubro desse ano para protagonizar uma grande manifestação nas ruas do país e marcar um ponto de inflexão na luta pela igualdade de direitos. “Com esta greve demos visibilidade para o trabalho doméstico não remunerado e para o fato de que as mulheres ganham, em média, quase 30% menos que os homens pelas mesmas tarefas. Com nosso trabalho invisibilizado em casa e desvalorizado no mercado, as mulheres sustentam a economia capitalista mundial”, explica. A greve, como explica, “permite uma reapropriação do nosso tempo. Uma oportunidade para ensaiar uma divisão mais equitativa do trabalho”.
 
As anglo-saxãs se inspiraram nelas e entenderam bem. Angela Davis e outras ativistas do mundo acadêmico assinaram no The Guardian desta semana a carta Mulheres dos Estados Unidos, vamos fazer greve. Vamos nos unir e assim Trump verá nosso poder, uma carta na qual chamavam à ação para “construir uma greve geral contra a violência masculina e em defesa dos direitos reprodutivos”. Sua ideia é “mobilizar as mulheres, incluindo as transgênero” para construir “um novo movimento feminista internacional com uma agenda expandida: antirracista, anti-imperialista, anti-neoliberal e anti-heteronormativo”.
 
As ativistas querem se distanciar dos últimos anos marcados pelo marketing do falso empoderamento e da dominação do corporativismo feminista. Uma vertente que dominou a conversa cultural, inclusive nos meios de comunicação, e que esteve empenhada em fabricar líderes com slogans publicitários através de “ideólogas” como Sheryl Sandberg e outras CEO do mercado ou políticas conservadoras que enfiavam suas camisetas “Isso aqui é uma feminista”, enquanto aplicavam as regras do livre mercado às políticas da mulher. Como bem resume em tom cômico a comediante britânica Bridget Christie em A Book for Her (Um Livro para Ela) “o feminismo conservador poderia ser resumido da seguinte forma: Para mim, funcionou, então por que não funcionaria para todo mundo?, ah sim, e quando eu chegar no alto a primeira coisa que vou fazer é colocar obstáculos a todas que tentem seguir meus passos”.
 
As ativistas norte-americanas também estão profundamente decepcionadas com essa tendência e, após o sucesso esmagador da Marcha das Mulheres de 21 de janeiro – apenas em Washington marcharam cerca de 500.000 pessoas –, se sentiram encorajadas para definir o início de uma nova era na luta pela igualdade. “O feminismo do Lean in (lema de Sheryl Sandberg) e suas variantes não funciona para a maioria de nós, para aquelas que não têm acesso à autopromoção individual e cujas condições de vida só podem ser melhoradas com políticas que defendem e assegurem os direitos reprodutivos e garanta os direitos trabalhistas. Tal como vemos, essas novas ondas de mobilização feminina devem ser direcionadas para todas essas preocupações de maneira frontal”, conta Davis em sua carta.
 
As norte-americanas, especialistas em batizar tudo, se permitiram rotular essa nova onda global como a do Feminismo do 99%. Um termo que se distancia das raízes capitalistas dos últimos anos e enfatiza os direitos sociais, com a simbologia herdada dos protestos de Occupy Wall Street contra o 1% que sustenta a riqueza global.
 
“Está claro que a resistência à agenda radical de Trump será liderada por mulheres corajosas lutando pelo nosso futuro”, tuitava recentemente a senadora californiana Kamala Harris. No próximo 8 de março mulheres de todo o mundo vão deixar seus trabalhos para provar isso.
 
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Redação

6 Comentários

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  1. O Grande Putin que vcs gostam

    O Grande Putin que vcs gostam tanto, e como gostam, acaba de aprovar uma lei que homem pode bater em mulher numa boa.–inclusive na Maria da Penha.

    Coisa do século 19.

    E Maduro ainda chama os E U A de imperialista.–embora prenda todos adversários.

    Coisa do século 20.

    E  o KIM Jong-un acaba de mandar matar seu irmão.

    Coisa do século 21.

    Cuba continua a todo vapor pra ser o país mais atrasado do planeta.

    Coisa de 1959.

    China executa em praça pública crimes banais.

    Curiosiosamente, só um não é  esquerdista,

     

     

  2. Por uma greve internacional militante no 8 de março

    Repetindo o post da convocação original que coloquei no meu blog aqui dia 07/02: 

    https://jornalggn.com.br/blog/vania/por-uma-greve-internacional-militante-no-8-de-marco

    ***

    A ideia é mobilizar mulheres, incluindo mulheres trans, e todos os que as apoiam num dia internacional de luta – um dia de greves, marchas e bloqueios de estradas, pontes e praças; abstenção do trabalho doméstico, de cuidados e sexual; boicote e denuncia de políticos e empresas misóginas, greves em instituições educacionais.

     

     

    angela-davis-manifesto

    Angela Davis, uma das autoras do texto que convoca uma greve geral internacional das mulheres para o próximo 8 de março.

    Um conjunto de intelectuais e ativistas feministas sediadas nos EUA acaba de publicar um chamado para uma greve geral internacional das mulheres neste próximo 8 de março. O texto, assinado por Angela Davis e Nancy Fraser, entre outras, defende que as marchas das mulheres contra Trump, realizadas no último 21 de janeiro em diversas cidades, podem marcar o início de uma nova onda de luta feminista militante, mas propõe um urgente acerto de contas com o “feminismo empresarial” hegemônico e seus limites para construir em seu lugar “um feminismo para os 99%, um feminismo de base, anticapitalista; um feminismo solidário com as trabalhadoras, suas famílias e aliados em todo o mundo.” O primeiro passo neste processo seria a greve internacional convocada para este 8 de março.

    O Blog da Boitempo publica, abaixo, o texto integral do manifesto, precedido por um breve comentário introdutório de Flávia Biroli que aproxima a discussão ao contexto brasileiro. Publicado originalmente na Viewpoint Magazine, em 3/02/2017, com o título “Beyond Lean-In: For a Feminism of the 99% and a Militant International Strike on March 8“, a tradução é de Daniela Mussi, originalmente para o Blog Junho. 

    * * *

    As reações aos direitos das mulheres se ampliaram ao mesmo tempo em que outros direitos são colocados em xeque de maneira brutal. No Brasil e em outras partes do mundo, direitos trabalhistas, à saúde e à segurança na velhice são desmantelados, evidenciando a face atual do neoliberalismo. Sexismo, xenofobia, racismo e transfobia estão articulados à redução das garantias de trabalhadoras e trabalhadores e ao aumento das desigualdades e da violência.

    Por isso intelectuais feministas chamam a todas nós para uma greve internacional no 8 de março, em que mulheres de diferentes partes do mundo estejam nas ruas contra todas essas violências. É uma chamada pelo que temos buscado por aqui também, uma reconstrução das esquerdas na qual feminismos capazes de conectar direitos reprodutivos e trabalho, sexualidade e xenofobia em uma agenda ampla, marcada pelo diálogo com diferentes grupos de mulheres, têm um papel central a cumprir. – Flávia Biroli, colunista do Blog da Boitempo, e co-autora do livro Feminismo e política: uma introdução

    * * *

    Para além do “faça acontecer”: por um feminismo dos 99% e uma greve internacional militante em 8 de março

    greve-mulheres

    Por Angela Davis, Cinzia Arruzza, Keeanga-Yamahtta Taylor, Linda Martín Alcoff, Nancy Fraser, Tithi Bhattacharya e Rasmea Yousef Odeh.

    As grandes marchas de mulheres de 21 de janeiro [nos Estados Unidos] podem marcar o início de uma nova onda de luta feminista militante. Mas qual será exatamente seu foco? Em nossa opinião, não basta se opor a Trump e suas políticas agressivamente misóginas, homofóbicas, transfóbicas e racistas. Também precisamos alvejar o ataque neoliberal em curso sobre os direitos sociais e trabalhistas. Enquanto a misoginia flagrante de Trump foi o gatilho imediato para a resposta maciça em 21 de janeiro, o ataque às mulheres (e todos os trabalhadores) há muito antecede a sua administração. As condições de vida das mulheres, especialmente as das mulheres de cor e as trabalhadoras, desempregadas e migrantes, têm-se deteriorado de forma constante nos últimos 30 anos, graças à financeirização e à globalização empresarial. O feminismo do “faça acontecer”* e outras variantes do feminismo empresarial falharam para a esmagadora maioria de nós, que não têm acesso à autopromoção e ao avanço individual e cujas condições de vida só podem ser melhoradas através de políticas que defendam a reprodução social, a justiça reprodutiva segura e garanta direitos trabalhistas. Como vemos, a nova onda de mobilização das mulheres deve abordar todas essas preocupações de forma frontal. Deve ser um feminismo para 99% das pessoas.

    O tipo de feminismo que buscamos já está emergindo internacionalmente, em lutas em todo o mundo: desde a greve das mulheres na Polônia contra a proibição do aborto até as greves e marchas de mulheres na América Latina contra a violência masculina; da grande manifestação das mulheres de novembro passado na Itália aos protestos e greve das mulheres em defesa dos direitos reprodutivos na Coréia do Sul e na Irlanda. O que é impressionante nessas mobilizações é que várias delas combinaram lutas contra a violência masculina com oposição à informalização do trabalho e à desigualdade salarial, ao mesmo tempo em que se opõem as políticas de homofobia, transfobia e xenofobia. Juntas, eles anunciam um novo movimento feminista internacional com uma agenda expandida – ao mesmo tempo anti-racista, anti-imperialista, anti-heterossexista e anti-neoliberal.

    Queremos contribuir para o desenvolvimento deste novo movimento feminista mais expansivo.

    Como primeiro passo, propomos ajudar a construir uma greve internacional contra a violência masculina e na defesa dos direitos reprodutivos no dia 8 de março. Nisto, nós nos juntamos com grupos feministas de cerca de trinta países que têm convocado tal greve. A ideia é mobilizar mulheres, incluindo mulheres trans, e todos os que as apoiam num dia internacional de luta – um dia de greves, marchas e bloqueios de estradas, pontes e praças; abstenção do trabalho doméstico, de cuidados e sexual; boicote e denuncia de políticos e empresas misóginas, greves em instituições educacionais. Essas ações visam visibilizar as necessidades e aspirações que o feminismo do “faça acontecer” ignorou: as mulheres no mercado de trabalho formal, as que trabalham na esfera da reprodução social e dos cuidados e as desempregadas e precárias.

    Ao abraçar um feminismo para os 99%, inspiramo-nos na coalizão argentina Ni Una Menos. A violência contra as mulheres, como elas a definem, tem muitas facetas: é a violência doméstica, mas também a violência do mercado, da dívida, das relações de propriedade capitalistas e do Estado; a violência das políticas discriminatórias contra as mulheres lésbicas, trans e queer, a violência da criminalização estatal dos movimentos migratórios, a violência do encarceramento em massa e a violência institucional contra os corpos das mulheres através da proibição do aborto e da falta de acesso a cuidados de saúde e aborto gratuitos. Sua perspectiva informa a nossa determinação de opormo-nos aos ataques institucionais, políticos, culturais e econômicos contra mulheres muçulmanas e migrantes, contra as mulheres de cor e as mulheres trabalhadoras e desempregadas, contra mulheres lésbicas, gênero não-binário e trans-mulheres.

    As marchas de mulheres de 21 de janeiro mostraram que nos Estados Unidos também um novo movimento feminista pode estar em construção. É importante não perder impulso. Juntemo-nos em 8 de março para fazer greves, atos, marchas e protestos. Usemos a ocasião deste dia internacional de ação para acertar as contas com o feminismo do “faça acontecer” e construir em seu lugar um feminismo para os 99%, um feminismo de base, anticapitalista; um feminismo solidário com as trabalhadoras, suas famílias e aliados em todo o mundo.

    Nota:

    * “Faça acontecer” [Lean-in] é uma referência ao movimento inspirado no livro de Sheryl Sandberg, Lean in: Women, work, and the will to lead (New York: Random House, 2013. Versão em português Faça acontecer: mulheres, trabalho e a vontade de liderar. São Paulo: Companhia das Letras, 2013). A principal característica do movimento é a ênfase no empreendedorismo feminino (N. Da T.).

    **

    https://blogdaboitempo.com.br/2017/02/07/por-uma-greve-internacional-militante-no-8-de-marco/

    1. “Deve ser um feminismo para 99% das pessoas”.

      A frase consta no fim do 1° parágrafo, que também diz: “O feminismo do “faça acontecer”* e outras variantes do feminismo empresarial falharam para a esmagadora maioria de nós, que não têm acesso à autopromoção e ao avanço individual e cujas condições de vida só podem ser melhoradas através de políticas que defendam a reprodução social, a justiça reprodutiva segura e garanta direitos trabalhistas”. Ótimo, uma beleza, concordo mil por cento! Mulher tem classe é o que diz esse manifesto ao chamar as mulheres para a luta de classes.

      Postei no mês passado, um texto de uma das subscritoras desse manifesto, Nancy Fraser, A eleição de Donald Trump e o fim do neoliberalismo progressista, lembra? Sobrou o epiteto “esquerda trumpista” até para autora da crítica ao “sacrossanto” feminismo. Nancy Fraser – ela aparece após Angela Davis ao alto – não mudou nem um pouquinho desde o artigo até este manifesto, nem foi a primeira vez que ela se atreveu a criticar, vem de anos a crítica, os limites das políticas identitárias, principalmente no que diz respeito ao abandono da questão da economia política e do pertencimento de classe.

      André Gorz uma vez defendeu que existe a nossa ecologia e a deles, o mesmo vale para o feminismo. Madeleina Albhight defendeu, para alijar Bernie Sanders da convenção democrata, que há um lugar especial no inferno para mulheres que não ajudam uma outra, Susan Sarandon respondeu que não vota com a vagina; são feminismos distintos, Killary e Albright estão a ano-luz de distância de Angela Davis, Nancy Fraser e das outras autoras do manifesto.

      Um beijo ♥♥♥

  3. Coisas assim…

    No meu trabalho todo ano tem “comemoração” pelo dia internacional da mulher. Todo ano a mesma coisa, dão flores às mulheres, tem sessão de maquiagem, sorteio de kit de beleza, essas coisas.

    Esse ano eu sugeri algo diferente: me dispus a dar uma aula de defesa pessoal para as colegas. De graça, baseada na mais simples de todas as artes marciais, o boxe.

    Ensinar a mulher a se maquiar é o que o mundo já faz e espera delas até hoje, assim como sorrir emocionada ao receber flores. Gosto de ver é quando uma mulher manda um cruzado de direita nos queixos de um assediador. Por isso que a minha esposa e as minhas duas filhas lutam muay-thai.

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