Não sejamos inocentes: houve uma ameaça de golpe militar, por Tereza Cruvinel

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Tereza Cruvinel

No Brasil 247

O “esquecimento seletivo” caracteriza estes tempos estranhos que vivemos no Brasil.  A semana começa sem comentários sobre a ameaça de intervenção militar feita na sexta-feira por um general da ativa, Antonio Hamilton Mourão, que não foi preso nem advertido por esta ofensa à Constituição.  Seu superior hierárquico, o comandante do Exército, general Eduardo Vilas-Bôas, apenas negou categoricamente esta possibilidade. O ministro da Defesa ficou mudo. Só no início da noite informou ter chamado o comandante do Exército a dar explicações sobre o caso.  Já o comandante-em-chefe das Forças Armadas, que teoricamente é Michel Temer, não deu um pio. Afinal, ele também está no cargo por conta de um golpe, não militar, mas parlamentar.  Quê moral tem para repreender pregações golpistas? Ao invés de esquecer as declarações do general Mourão, devemos nos lembrar de 1964, quando ninguém acreditava num golpe militar. Afinal, a porteira já foi aberta com a derrubada da presidente eleita Dilma Rousseff e a tomada do poder civil por uma organização criminosa. O golpe militar é o degrau que falta para o Brasil completar sua volta ao passado.

A posse da nova procuradora-geral da República, Raquel Dodge, na manhã desta segunda-feira, guarda uma relação com as ameaças do general Mourão. Disse ele, de farda, em sua palestra de sexta-feira numa loja maçônica de Brasília:  “Ou as instituições solucionam o problema político, pela ação do Judiciário,  retirando da vida pública o elementos envolvidos em todos os ilícitos ou então nós teremos que impor uma solução.  Os Poderes terão que buscar uma solução. Se não conseguirem, temos que impor uma solução. E essa imposição não será fácil. Ela trará problemas. Pode ter certeza”. Ah, sim, não temos dúvidas de que os problemas seriam terríveis. Não nos esquecemos dos 21 anos da ditadura militar.

O discurso de posse de Raquel Dodge, em que pregou a “harmonia entre os poderes”,  não pode ser tomado como roteiro de sua atuação mas, nas entrelinhas, pode-se ler que o MPF, sob seu comando, será mais contido no combate à corrupção. Ela pregou mais ênfase em outras tarefas do Ministério Público, como a defesa dos direitos humanos, do meio ambiente, dos índios, enfim, dos direitos difusos dos cidadãos.  Se esta pregação, que relativiza a prioridade à Lava Jato,  significar essencialmente o fim dos abusos, das delações forçadas, dos vazamentos seletivos, das punições politicamente orientadas e do populismo de alguns procuradores, tanto melhor.

Mas, caso venha a representar uma freada nas investigações que envolvem Temer e seu grupo no poder,  será a rendição da PGR. E para o general Mourão, a indulgência significará que o problema politico não foi solucionado, “retirando da vida pública os elementos envolvidos em todos os ilícitos”?  E neste caso, teremos o golpe militar?  Ou não se referia ao general aos que estão no governo, acusados de comporem uma quadrilha chefiada por Temer, mas a outras forças políticas? A Lula, por exemplo, com o impedimento de sua candidatura?

Em sua palestra, o general admitiu a existência de “planejamento” sobre a hipótese de intervenção e acrescentou:  “O que interessa é termos a consciência tranquila de que fizemos o melhor e que buscamos, de qualquer maneira, atingir este objetivo. Então, se tiver que haver, haverá”.  No final de semana, em declaração ao Estado de S.Paulo, minimizou o que disse, dizendo não estar “insuflando nada” e ter falado em nome pessoal.

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

26 Comentários

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  1. Com um stf que rasgou a constituição,

    tudo é permitido agora.

    Concordo com os que colocam com condição do retorno da democracia a expulsão dos 11 membros, sem direitos á (gorda) aposentadoria. 

  2. Sou fã desse mourão.

    Gostaria de saber como ele faz para parecer tão jovem (Nascido em 15 de agosto de 1953).

    Com essa idade e NENHUM fio de cabelo branco na vasta cabeleira! 

     

      1.  
        Mas, Maria Luiza! O Mourão

         

        Mas, Maria Luiza! O Mourão golpista do 1º de abril, se dizia uma “vaca fardada.” Sei que não é do seu tempo, porém, bem informada como vosmecê provavelmente me dirá: em quais batalhas, esse general Mourão 2, se envolveu em atos de bravura para merecer as medalhas que decoram seu estrelado jaquetão?

        Vou emitir minha opinião, sobre o discurso golpista do notável militar. Creio, emitido desde lá do fundo da caverna de seu fardado coração. Como a sede do patriotismo dos nossos estrelados, em sua maioria, é nos USA. Assim sendo, é em benefício dos altos interesses democráticos do Tio Sam, para tornar essa birosca bananosa, reposicionando-a no devido lugar almeijado pela nossa elite de merda.

        Vá em frente general! Aplique uma nova redentora. Quem sabe, a CIA lhe recompense com mais uma estrela.

        A nós outros, que pagamos vossos salários, restará o retorno à resistência…

        Orlando

  3. Tempestade em copo d’água

    Levar a sério a pirotecnia verbal do general é meio que procurar milicos debaixo da cama.

    Há uma forte probabilidade de que esse general esteja usando a farda como palanque.

    Ele sabe que está chacoalhando velhos fantasmas. Quem gosta de fantasmas é que cai nessa conversa.

    1. Villas-Boas faz bem em “cozinhar” general provocador

      Por Fernando Brito, no Tijolaço

      Ontem escrevi aqui, ao comentar o ato de provocação do General  Antonio Hamilton Mourão que, àquele momento, o Comando do Exército julgava se “ele deve ser ignorado ou receber nova punição, necessária do ponto-de-vista disciplinar, mas que tem o inconveniente de  torná-lo líder do “movimento dos sem juízo”.

      O general Mourão vai ser punido, mas sem espalhafato, porque é  exatamente isso que ele pretendia ao fazer a gravação que gerou toda esta polêmica.

      Mourão falou na sexta-feira,  15, dia seguinte ao da 314ª reunião do Alto Comando do Exército, onde o ponto mais polêmico foram os cortes orçamentários impostos aos militares.

      Recordem-se que foi o dia em que se tornou pública a suspensão das atividades das tropas enviadas ao Rio para colaborar na segurança pública, por falta de recursos financeiros.

      No mesmo dia, o comandante da Arma, General Eduardo Villas-Boas divulgou mensagem afirmando que um dos temas da reunião foi “a questão das restrições orçamentárias que já chegaram ao limite do razoável”.

      Há um clima evidente de descontentamento e até inconformismo com a situação de penúria em que Arma está lançada.

      Mourão, secretário de Economia e Finanças do Alto Comando, percebe isso perfeitamente e “se candidata” a mártir.

      Já não é de hoje.

      Mourão sabe que não chega “por antiguidade” a comandante do Exército (é aspirante de 75, a mais antiga turma de oficiais ainda na ativa, à beira da reforma), Nem pela política (onde Sérgio Etchegoyen nada de braçada), muito menos  por indicação pessoal de Villas-Bôas.

      Mourão não é candidato a Castelo Branco, é candidato a Costa e Silva.

      Vai amar quanto mais o fizerem de “monstro”, é tudo o que deseja.

      O ministro Jungmann, como é natural dado o seu nível de inteligência, parece que não entendeu isso.

    2. Será tão simples

      Será tão simples assim? 

      Aceito que super dimensionar a fala do general é fazer o jogo dele e dos seus áulicos;  mas o contrário, minimizá-la como simples espasmos verbais de um milico à beira da reforma, também é contraproduzente. O pano de fundo conspiratório é evidente – o que já por si é execrável, dado seu caráter ofensivo à Constituição – e o desrespeito à hierarquia, princípio basilar do estamento militar, preocupante. Quando um alto oficial se expõe dessa maneira, inclusive afirmando contar com o apoio(ou conivência) de seus pares do alto comando, se deve ir além das aparências.  

  4. A História

    O exercito teve ao longo do século XX o protaganismo e foi o fiel da balança política no Brasil. Sem ele não existiria a república, Vargas, JK  ou a Ditadura civil-militar. Por um vieis ainda a ser estudo, o judiciário tomou essa posição. Sem armas, ou ideologia, ou corpo de apoio. Sua pseudo-arma é a Constituição, que por algum motivo, acredita que todos têm que cumprir. O próprio Gilmar Mendes, como Advogado da União, ensinou que não é preciso cumprir as determinações da Justiça. 

     

     


      1. Também poderia ser do podre ao apodrecido, a solução mais fácil na maioria dasvezesé a mais equivocada, quando a mente não funciona o resto padece.

    1. Eu preferiria também, mas não

      Eu preferiria também, mas não vejo um governo militar Nacionalista no horizonte…

      Esses aí são tão lambe-botas quanto o Temer e o PSDB. 

      Se derem um golpe, vai ser algo estilo Pinochet.

  5. Não estamos entendendo: o que

    Não estamos entendendo: o que o gentil general quis dizer à sua seleta plateia maçônica (creio que mais da metade saiu em desabalada carreira, pois, podia o militar estar falando com e deles) é que se o desMoronado não mandar prender o Lula os miliquentos prenderão o Lula e o desMoronado (e lhe confiscarão a medalha-de-coisa-alguma com que foi condecorado com abraços e cumprimentos pessoais do temerista-GOLPISTA-ladrão. Ou seja, o discurso dele só faz coro com as dodge dart da vida que deu partida como todos esperavam: o primo do agripino dum lado e o associado do gilmar do outro. Não nos preocupemos, pois, o destemperado de curitiba cumprirá a sua parte no negócio (e manterá a medalhinha-de-coisa-alguma) e condenará o Lula direto, pois, seus acumpliciados desembargas-de-gravatinha-com-lencinho ratificarão e aumentarão a pena. Pobre país de merrecas, afinal, se está tudo dominado, está tudo dominado: ou querem que eu acredito que esse general não bate continência pro jugmann? Ora, ora e ora.

      1. Tudo bem, Amoraiza, mas esse Cachorro é desdentado

        Amoraiza, você tá com medo de fumaça?

        Isso aqui é um pouquinho de Brasil, ai, ai

        Qual´é, Mana?

        Tô com medo de chamar as pessoas sem tratamento protocolar. Mas mesmo assim chamei você de Mana. Se não gostar, diga como quer que eu a trate, tá, Querida?

  6. Qual é a pauta dos intervencionistas?

    O mais fantástico de tudo é que os intervencionistas com a queda do governo Dilma perderam mais ou menos 90% de sua pauta e ao contrário do que anteriormente acontecia uma pauta de intervenção militar choca-se com os amigos dos próprios intervencionistas.

    Uma vez por acaso me deparei com as medidas propostas por determinado grupo de intervencionistas, era uma pauta centrada na perseguição ao PT e as supostas intenções de um fantástico “Fórum de São Paulo” que só faria algum sentido em termos de elucobrações fantásticas se o PT ainda estivesse no poder e as Farc ainda existissem.

    Com a perda do timing os intervencionistas perderam para os golpistas parlamentares que derrubaram o governo eleito, deixando para os intervencionistas para os mesmo criarem uma nova pauta de perseguições políticas, ou seja, qualquer golpe de extrema direita teria que se concentrar nos poderes reais atualmente existentes, Temer, seus ministros, ministros do supremo, e o que sobrou de algum poder político do PT em locais periféricos, em resumo, teriam que prender e julgar os seus próprios amigos.

    Dissolução do congresso e destituição de Temer só causaria impactos negativos na base dos próprios intervencionistas e se colocarem no menu a prisão de Lula os impactos contra a população fecharia o cerco.

    Não esqueçam que para os delirantes intervencionistas, FHC, Aécio e o resto do PSDB são socialistas fabianos (mesmo que ninguém saiba direito o que quer dizer o termo).

    Outro problema é que alguma coisa de nacionalismo teria que entrar no rolo, fazendo com que o grande irmão do norte não goste muito disto.

    Seguindo no assunto, parei porque tinha saído de casa, o principal problema que claramente os intervencionistas não tem solução além da falsa solução preconizada pelo atual (des)governo é o problema econômico! Diferentemente do discurso dos militares (não da realização) era de um discurso de industrialização do país via abertura econômica nos primeiros governos e posterior geração autóclone da indústria nacional. Atualmente os intervencionistas aparecem com um discurso neo-liberal de abertura a competição a mercados muito mais desenvolvidos que por motivos de vantagens comparativas qure desde Adam Smith e David Ricardo se admite que um país agrícola se manterá desta forma prerante um país industrializado. Como o valor agregado de produtos agrícolas é menor adotar-se uma política de abertura é simplesmente decretar a falência da indústria nacional. Em resumo, os intervencionistas propõe uma política de dependência tecnológica e anti industrial.

    A única coisa que resta aos intervencionistas é o conservadorismo moral, que simplesmente levará o país junto ao liberalismo as portas da idade média.

  7. “Cura gay” (?!) e o Golpe: por que NÃO mudarei o meu avatar

    “Cura gay” (?!) e o Golpe: por que NÃO mudarei o meu avatar no Facebook! – um alerta para a esquerda

    Por Romulus

    SÚPLICA (!) CÍVICO-PATRIÓTICA DE… CASSANDRA!

    – Ei, você de esquerda!

    – Ei, você com esse coraçãozinho… ENORME!

    (um oximoro?)

    – Ei, você “prafrentex”!

    – Ei, você com as melhores intenções do mundo!

    – Ei, você…

    – Ei…

    Faz um favorzinho pra mim??

    (e pro Brasil??)

    – LÊ O ARTIGO ABAIXO??

    E, depois, responde se, como eu, você tampouco vai morder a…

    – … isca DA VEZ?

    E tampouco vai mudar o seu avatar no Facebook??

    *

    – “Obrigado!”

    – “De nada!”

    *

    Mas…

    Antes…

    Um pequeno pedido:

    (adicional)

    – Não (me) odeie!

    (ainda…)

    – PENSE!

    😉

  8. Muito barulho por nada.A

    Muito barulho por nada.A Maçonaria, hoje em dia e pelo que anda ocorrendo no Brasil, não vale mais nada. Se valesse, um cara como Marcelo Odebrecht não estaria preso. Depois, os militares, por muito tontos que fossem, não iriam embarcar numa aventura suicida, como um golpe militar. Creio até que pudessem ser apoiados internamente, porque aqui a alienação política é muito grande. Mas externamente não teriam apoio nem do Trump, o que lhes custaria um vexame internacional sem par em nossa história. Além do mais, a crise, seja política ou econômica, não atinge em nada as Forças Armadas, uma vez que o Temer não seria louco de comprometer o pagamento de seu soldo. Resumindo, o conferencista é um zero à esquerda e a Maçonaria  já teve seus dias de poder.

    1. Sim… e não!
      Não é a Ordem

      Sim… e não!

      Não é a Ordem quem tem o poder; são próceres seus e sua rede de mobilização. O poder não é constituído de cargos; estes são apenas formalidades. Já quanto às Forças Armadas, procede integralmente. Porém, o temor maior é que se repita o que ocorreu na República Velha, com levantes e rebeliões o tempo inteiro, além de outras instabilidades E o conferencista… está no nível do outro Mourão que foi o estopim de não somente um, mas dois golpes de Estado..

  9. O clima, doravante, se não
    O clima, doravante, se não houver o golpe militar será o da República Velha e suas quarteladas e outras rebeliões localizadas; porque os poderes que deram o primeiro golpe, Ministério Público, Judiciário e irmãos Marinho com suas Organizações Globo só têm compromissos com seus umbigos: salários, remunerações em geral e pavonices Só! Por natureza são poderes sem coesão. Desde o início quando vi como se formatava o golpe que entrei em desespero… não há como juntar os cacos por vias mais normais. Nem toda a genialidade política de Lula, mesmo com apoio das bancas de Londres e Wall Street e cobertura positiva das sobreditas Organizações Globo  teria condições de estabilizar a porcaria que criaram facilmente. Já há passivos demais para isso. E, quanto mais tempo isso demorar, mais ladeira abaixo o país irá. Chegaremos aos níveis relativos de 1929. Se dermos sorte de parar por aí.

     

    1. As Forças Armadas são tão velhas quanto a Velha República

      Quer dizer que estamos entre a cruz e a espada: ou a Velha República ou os Torturadores Golpistas?

      Isso é um falso dilema.

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