O tempo é uma ilusão?

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Enviado por Gomes Tobias

Autor desconhecido

Também publicado em Epoch Times

Nós tendemos a acreditar que o destino não é fixo e que todo o passado desaparece no esquecimento, mas poderia o movimento ser uma mera ilusão? Um renomado físico britânico explica que em uma dimensão especial, o tempo simplesmente não existe.

“Se você tentar agarrar o tempo com as mãos, ele estará sempre deslizando por entre seus dedos”, disse Julian Barbour, físico britânico e autor de “O fim do tempo: a próxima revolução na física”, em uma entrevista com a Fundação Edge. Embora esta afirmação poética ainda ressoe na sala, Barbour e o jornalista, provavelmente, não tenham qualquer ligação consigo mesmos um segundo atrás.

Barbour acredita que as pessoas não podem capturar o tempo, porque ele não existe. Mesmo isso não sendo uma teoria nova, ela nunca teve a popularidade que a teoria da relatividade de Einstein ou a teoria das cordas teve.

O conceito de um universo sem tempo não é apenas irresistivelmente atraente para um punhado de cientistas, mas tal modelo pode pavimentar o caminho para explicar muitos dos paradoxos que a física moderna enfrenta em explicar o universo.

Nós tendemos a pensar e perceber a hora de forma linear na natureza, curso que, inevitavelmente, flui do passado ao futuro. Esta não é apenas uma percepção pessoal de todos os seres humanos, mas também o contexto em que a mecânica clássica analisa todas as funções matemáticas dentro do universo. Sem esse conceito, ideias como o princípio da causalidade e nossa incapacidade de estarmos presentes simultaneamente em dois eventos começariam a ser abordadas a partir de um nível completamente diferente.

A ideia da descontinuidade do tempo proposta por Barbour tenta explicar em um contexto teórico um universo composto de vários pontos que ele chama de “agora”. Mas tais “agoras” não seriam entendidos como momentos passageiros que vieram do passado e vão morrer no futuro, um “agora” seria apenas um entre os milhões de agora existentes no mosaico universal eterno de uma dimensão especial impossível de se detectar, cada um relacionado de uma maneira sutil com os outros, mas nenhum mais proeminente do que o vizinho. Eles todos existem ao mesmo tempo.

Com esta mistura de simplicidade e complexidade, a ideia de Barbour promete um grande alívio para quem quer que esteja disposto a aceitar a ausência de tempo antes do Big Bang.

Barbour acha que o conceito de tempo pode ser semelhante ao dos integrais (números inteiros). Todos os números existem simultaneamente, e seria insensível se pensar que o número 1 existe antes do número 20.

Neste ponto do argumento, é provavelmente inevitável que o leitor pergunte: “Você está tentando me convencer de que esse movimento que estou fazendo agora com o meu antebraço não existe? Se frações infinitesimais de “agoras” não estão ligadas umas às outras, como eu me lembro das primeiras ideias deste artigo? Como é que eu me lembro do que eu comi no almoço? Por que vou acordar e ir trabalhar se o trabalho pertence ao “eu” que não tem nada a ver comigo? Se o futuro já está lá, enfim, por que lutar?”

Tais dilemas surgem a partir da percepção ilusória de que o tempo flui, como a água em um rio. Podemos considerar um universo atemporal como uma longa torta de baunilha, no centro da qual está preenchida com chocolate por todo o comprimento. Se cortarmos uma fatia, temos o que chamamos de presente, um “agora”.

Supondo que o chocolate no centro nos represente, acreditaríamos que nossa fatia é a única existente no universo, e que as fatias anteriores e posteriores existem apenas como conceitos. Essa ideia soaria ridícula para um observador da torta, que soubesse que todas as fatias coexistem.

Tomando este exemplo, você poderia dizer que “eu” não sou a mesma pessoa que começou a escrever esta sentença. Eu sou único, talvez em aparente conexão com cada um dos sujeitos que escreveu as palavras no início deste parágrafo. Ainda assim, os intermináveis “agoras” independentes uns dos outros não estariam dispersos. Eles ainda comporiam uma estrutura. Eles são um bloco, uma torta inteira, sem migalhas.

Esta é a teoria de Barbour: em um espaço do cosmos, o futuro (nosso futuro) já está lá, disposto, e cada segundo do nosso passado também está presente, não como uma memória, mas como um presente vivo. A coisa mais dolorosa para os seres humanos, conforme as filosofias ocidentais delineiam, seria tentar quebrar o molde fixo.

O sábio, que segue o curso pré-determinado, seria uma face feliz na torta de chocolate cósmica e tentaria viver os nossos únicos e extremamente minúsculos “agoras”.

A maioria de nós está profundamente convencida de que em um nível inconsciente, um grande relógio cósmico marca cada segundo deste enorme espaço chamado universo. No entanto, no início do século passado, Albert Einstein já havia demonstrado que a realidade temporal é relativa a cada objeto no universo, e que o tempo é “algo” inseparável do espaço. Mesmo os especialistas que sincronizam o tempo no mundo estão cientes de que o mundo é controlado por um tique-taque estipulado arbitrariamente, uma vez que os relógios não são capazes de medir o tempo em absoluto.

Aparentemente, a única alternativa é afundar-se em uma “ilusão temporária” deste infinito, sabendo que existe um espaço onde o passado ainda existe e aquilo que fazemos não muda. Ou como o próprio Einstein diria: “Pessoas como nós, que acreditam na física, sabem que a distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente.”

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

15 Comentários

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  1. Aqui e agora

    Quem criou o famoso ‘aqui e agora’, que demonstra de forma singela essa questão de espaço-tempo, mostrou que  tudo é atemporal. O problema é que o ser humano tem a vã ilusão de que controla tudo: passado e futuro. Cem anos da cultura da relatividade de Einstein parecem ter influenciado pouco neste planeta.

  2. As reflexões de Santo Agostinho sobre o tempo

    A reflexão filosófica de Agostinho sobre o tempo é uma de suas mais brilhantes análises filosóficas, a qual o torna, embora sendo um pensador medieval, muito mais contemporâneo do que muitos outros da atualidade. O modo como Agostinho expõe suas interrogações com relação ao tempo marca a reflexão ocidental até os dias de hoje.

    Questiona Agostinho: “Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? E que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei.”

  3. Tempo relativo?

    Me pergunto se, muitos anos atrás, a terra girasse mais divagar, ficaria a impressão aos nossos antigos que, mesmo com a mesma “vida biológica”, em termos de tempo medido em dias ou anos eles viveriam 40 anos – por exemplo – e já estariam velhos.

    Hoje, – quem sabe – a terra girando um pouco mais rápida, nos faz sentir que temos 70 anos, embora tenhamos a mesma vida biológica de 40 anos que os nossos ancestrais.

    Num longo futuro, acharemos bacana viver mais de 100 anos, em circunstancia que os dias e os anos são mais curtos e, a rigor, vivemos biologicamente o mesmo que os nossos ancestrais

    Doideira?

    1. Doideir absoluta A diferenç d veloci// d rotaç da Terra é mínima

      Aliás o próprio texto é provavelmente uma doideira também. A Física anda se assemelhando mais à ficçao científica do que a uma ciência empírica (ênfase no adjetivo, aqui).

  4. Muito interessante

    “Com esta mistura de simplicidade e complexidade, a ideia de Barbour promete um grande alívio para quem quer que esteja disposto a aceitar a ausência de tempo antes do Big Bang.”

     

    E se o Big Bang surgiu do “outro lado” de um buraco nero? Segundo a teoria do Multiverso o Big Bang acontece a todo momento. 

  5. ideias ultrapassadas que parecem novidade

     Não existe passado nem futuro, o tempo é eternidade. Isso é teologia não é fisica. Uma bobagem de fisicos que só são capazes de entender as equações de sua disciplina. É um resultado do esquartejamento do conhecimento, também conhecido como ‘especialização de disciplinas’. É o velho positivismo determinista e fisicalista, as teorias da emergencia e da complexidade já superaram isso. Não é um pensamento novo, é ultrapassado. A fisica micro e a fisica do universo se referem a dimensões do extremamente pequeno e do extremamente grande e os processos ocorrentes nelas só valem para elas. Peguemos processos biológicos por exemplo: o autor dessa maravilhosa tese tem um passado – foi um feto, nasceu, cresceu envelheceu e um dia vai morrer. Esse é um processo contínuo, que ocorre no tempo e irreversível. O mesmo ocorre com a história da sociedade: O Brasil de 2015 não existia sob nenhuma hipótese na Europa medieval e nunca podemos voltar ao tempo pré-colombiano.

  6. não existe livre arbítrio ?

    Pelo que pude apreender da teoria o tempo seria um continuum pré estabelecido , o que eliminaria qualquer possibilidade de livre arbitrio. Há teorias que explicam o tempo como uma evolução constante da entropia e me parecem mais plausiveis.

  7. Post Instigante

    De passagem, por aqui, achei o post instigante e resolvi fazer algumas reflexões sobre esta entidade simultaneamente simples e complexa que conhecemos como tempo.

    Segue, abaixo, o resultado dessa reflexão que, não pode ser muito elaborada e precisa devido à pressa. Agradeceria, portanto, comentários construtivos:

    O tempo é uma abstração concebida pelos seres humanos, embora tanto animais, inclusive humanos, como plantas possuam relógios biológicos naturais.

    Ao contrário dos humanos, cujo conceito de tempo é elaborado pelo seu sistema neuronal, os relógios biológicos de animais e de vegetais dispensam esse processo, normalmente identificado com a atividade cerebral.

    O tempo, como abstração universalmente conhecida, só pode existir em um universo dinâmico. Em um universo estático nem mesmo a existência da vida seria possível.

    Parece razoável supor que o conceito de tempo somente pode existir a partir do momento em que os seres humanos começaram a identificar as ocorrências periódicas de eventos, tomando estas como referência para caracterizar o intervalo entre duas ocorrências sucessivas do mesmo evento.

    Uma métrica pode ter surgido quando a percepção de que o intervalo entre as ocorrências sucessivas dos eventos pode ser maior ou menor em casos específicos.

    Entretanto, pelo o que já conhecemos sobre a origem do Universo, sobre a longa jornada, desde o Big Bang até os dias atuais e sobre uma eventual extinção futura, nada nos permite dizer, até hoje, que a dinâmica de nosso Universo é constituída por eventos absolutamente periódicos.

    Na escala humana, entretanto, tendo em vista a necessidade constante do nosso cérebro em identificar padrões regulares, acabamos por identificar, com menor ou maior grau de precisão, eventos que parecem ocorrer com razoável padrão de periodicidade. 
     
    Assim, em eras bíblicas, a periodicidade do nascer e do por do sol, serviram para estabelecer uma métrica com razoável capacidade de atender às necessidades de medida da época. Igualmente, este parece ser o caso entre os nativos do continente norte-americano, os quais mediam o tempo pelo intervalo entre duas luas cheias consecutivas.

    Sabemos que diversas civilizações antigas foram fascinadas por tais ocorrências já que chegaram até aos nossos dias diversos artefatos, por elas empregados, capazes de identificar ou prever as próximas ocorrências entre eventos cósmicos, mesmo que essas pudessem se repetir apenas muitas gerações após aquelas que os previram. Estruturas como Stonehenge e diversos calendários de civilizações tão distintas quanto a maia e a egípcia, mostram o quanto a questão da regularidade na ocorrência de eventos cósmicos exerceu um fascínio significativo para essas civilizações.

    No decorrer da evolução da espécie humana, entretanto, ficou claro que eventos empregados como referência poderiam ser desprovidos da regularidade necessária para fins mais sofisticados. Assim, o intervalo entre duas rotações completas da Terra em torno do seu eixo, que serviam para identificar a métrica “dia”, não eram submúltiplos exatos entre duas translações da Terra em volta do Sol, que serviam como referência para identificar outra métrica, o “ano”. Muitas pestanas tiveram que ser queimadas para compatibilizar essas duas métricas. Mesmo com o artifício dos anos bissextos, ainda assim, a periodicidade absoluta das referências “dias” e “anos” se mostra insatisfatória em intervalos muito longos. Novas correções no “calendário” se tornam necessárias para compatibilizá-las.

    Medidas mais precisas de “tempo” como aquelas observadas no interior de núcleos atômicos precisaram ser consideradas como referência quando as necessidades humanas se tornaram suficientemente sofisticadas ao ponto da utilização de referências, até então correntes, se tornarem inviáveis.

    Com a constatação de que o tempo é uma abstração humana e dependente da existência de um Universo dinâmico, vem a questão que muita gente se pergunta: Se o tempo apenas passou a existir após a ocorrência do Big Bang, o que existia antes?

    A própria palavra “antes” já é, em si, uma contradição.

    Considerando que o Big Bang foi um evento único, portanto não repetido, muito menos periodicamente, fica mais fácil compreender nossa dificuldade em encontrar uma métrica para o tempo capaz de incluir tanto o pós Big Bang como o pré Big Bang. Há teorias, que dificilmente poderão ser comprovadas um dia, nas quais se especula que o Big Bang que deu origem ao nosso Universo é, na realidade, um entre muitos Big Bangs periódicos. O Universo, após um Big Bang se expandiria, tal como vem ocorrendo com o nosso e depois de um período de inflação este se contrairia progressivamente até ocupar uma dimensão infinitesimal que o levaria a um novo Big Bang e assim sucessivamente. Enquanto essa teoria não for comprovada, resta-nos apenas supor que nosso Universo é único. Em, assim sendo, “antes” do Big Bang, o Universo estava concentrado em um ponto singular de dimensões infinitesimais, onde, por natureza, inexistiam eventos periódicos para serem observados/medidos.

      

     

     

    1. Universo numa casca de Noz

      Se não me engano é no livro “O universo numa casca de Noz” de Stephen Hawking , que se discursa sobre o conceito de tempo imaginário. Assim como os numeros imaginários complexos, no tempo imaginário não faria sentido a ideia de principio ou fim dos tempos . Seria como procurar um ponto final numa esfera circular. A extinção, ou tempo final de um big bang corresponderia apenas à chegada num hemisfério norte ou sul. Recomendo o livro.

  8. o que nunca deu para entender…

    algo acontecer de uma vez e do nada

    aconteceu, criou-se um sistema, teorias, e ainda há os que defendem que o nosso conceito do universo não é pontual e local

    acredito que tempo nada mais é, para nós, senão o que era antes do acontecer

    sombras a renovarem-se, não reformar, não substituir, em sombras numa espiral pressionada

    [[[coloque-se em qualquer ponto e encontre-se em qualquer tempo]]]

    1. até que é uma brincadeira legal……………………….

      tentem, brinquem, coloquem-se, qualquer um pode…………………………………….em pensamento

      pode existir um ponto de onde nunca saímos

  9. Há tempo que o tempo leva o nosso tempo,

    Mas… o quê somos nós, diante do tempo,

    Senão pequeníssimas bolhas em uma densa espuma de mortos?

    Deixemos que flua, nos crie, tome e arraste nessa louca espiral de glória!

    Não seremos mais quem somos quando nos libertemos…

    Tempo, é memória!

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