Pauta do retrocesso econômico não desiste, por Marcio Pochmann

Da Rede Brasil Atual

Derrotada seguidamente há 15 anos, pauta do retrocesso econômico não desiste
 
Ao longo do ano que passou os trabalhadores foram sendo cada vez mais sufocados pelas teses liberais-conservadoras que fazem a leitura da crise que convém a seus interesses
 
por Marcio Pochmann

Nas eleições presidenciais de 2014, a defesa do retorno das políticas neoliberais da era dos Fernandos (Collor e Cardoso) não esteve centrada apenas na campanha de Aécio, uma vez que se fez presente em outras candidaturas. Alguns partidos e personalidades políticas de expressão que haviam estado no lado oposto da privatização, da desregulamentação do trabalho, da abertura comercial, entre outras medidas adotadas nos anos 1990, passaram a convergir com o receituário neoliberal no ano passado.

Mais uma vez, a quarta seguida desde 2002, a pauta do retrocesso econômico e social foi recusada pela maioria dos brasileiros. Apesar disso, a mobilização em torno da retomada neoliberal prosseguiu ativa, com a formação de uma maioria liberal na economia e conservadora na política e nos valores no Congresso Nacional. Exemplo disso tem sido o diagnóstico imposto a respeito da razão da crise que abala o atual crescimento econômico no Brasil. Ao longo de 2015, os trabalhadores foram sendo cada vez mais sufocados pelas teses liberais-conservadoras de defesa do programa neoliberal.

Simplificadamente, no entendimento de que o capitalismo brasileiro refluiu do ciclo de expansão dos anos 2000 devido ao aperto nos lucros dos empresários (profit squeeze) provocado pelo aumento do custo do trabalho acima da produtividade. Na tentativa de compensar a queda na rentabilidade dos negócios produtivos, as empresas buscaram elevar, sempre que possível, a margem de lucro sobre os custos de produção, o que implicou inflação maior.

Diante disso, o Banco Central elevou a taxa básica de juros para diminuir ainda mais o nível da atividade econômica, o emprego e consumo dos trabalhadores. Em consequência, a arrecadação tributária caiu mais rapidamente do que a capacidade do governo cortar o conjunto dos gastos públicos.

Ao mesmo tempo, o déficit público também aumentou, aprofundando o endividamento público e as despesas com pagamento dos juros em mais de 3% percentuais do Produto Interno Bruto (PIB), o que acelerou ainda mais o ciclo recessivo da economia. Em síntese, os trabalhadores precisam reduzir os seus ganhos salariais abaixo da produtividade para fortalecer a hipótese de que somente assim os lucros dos capitais aplicados no Brasil possam crescer mais.

Assim, o salário direto recebido pelo trabalhador cai por força da maior concorrência no interior do mercado de trabalho possibilitado pelo aumento do desemprego e menor barganha dos sindicatos na negociação coletiva de trabalho. Mas isso não atinge o salário indireto (ganhos devidos aos mínimos sociais indexados ao salário mínimo nacional) e, por isso, o discurso político liberal-conservador favorável à redução do Estado e, sobretudo, dos direitos dos trabalhadores.

Abertamente: a defesa do rebaixamento dos direitos trabalhistas inscritos na Constituição de 1988 enquanto forma do Brasil sair da crise por meio da contenção dos gastos com saúde, educação, assistência e previdência social.

A possibilidade da queda na rentabilidade das empresas produtivas estar vinculada justamente ao tripé macroeconômico não parece fazer o menor sentido frente à posição dos partidos de ceder cada vez mais ao programa neoliberal. Se a altíssima taxa de juros torna imbatível o ganho financeiro ao lucro da produção, o ajuste fiscal desestimula o consumo e o investimento pelo mercado interno. Seria a desvalorização cambial, ainda que necessária, suficiente para reativar a economia apenas pelo comércio externo?

Redação

6 Comentários

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  1. Ganhar o governo não

    Ganhar o governo não significa ganhar o poder. O povo votou por quatro vezes em um projeto desenvolvimentista, mas apenas o voto é insuficiente para garantir uma agenda econômica alternativa. 

  2. Texto de militante petista, e

    Texto de militante petista, e não de um economista.

    Se você vê o termo “neoliberal” pode saber que é uma “cilada bino”.

    Acontece que a arrecadação de 2015 bateu o recorde de todos os tempos,nunca se arrecadou tanto como em 2015,  que neoliberalismo é este que o estado NUNCA reduz seu intervencionismo.

    O que acontece é que se produziu o que não era necessário, ou seja erraram o cálculo econômico. o que consumiu os recursos para onde realmente eram necessários.

    Este erro deve se ao intervencionismo estatal que induziu a sociedade ao erro, agora é necessário se desfazer dos erros e realocar recursos onde são necessários. 

  3. Se o salário cresce acima da

    Se o salário cresce acima da produtividade do trabalhador, alguém tem que pagar a conta. E ninguém quer pagá-la, principalmente o funcionalismo público, do qual Pochmann faz parte.

  4. Desemprego não abaixa a inflação

    Esta tese de que o desemprego abaixa a inflação e os preços da mão de obra, é uma furada imensa. Pelo simples motivo, de que um desempregado desqualificado, não substitui a mão de obra qualificada que está em falta. em outras palavras, par formar profissionalmente um mecânico, um funileiro, um pedreiro, um azulejista, um marceneiro de qualidade leva de três a sete anos de treinamento e experiência, não é qualquer desempregado que vai ocupar estas vagas do dia para a noite.

    E além disto, é preciso um dom, uma habilidade e cordenação motora, que não é qualquer um mesmo com a melhor das boas vontades e treinamentos que consegue. E é bom lembrar que neste país faltam profissionais qualificados, justamente porque nem o governo nem o mercado investem em formação, ou seja, mesmo que os desempregados se tornassem ótimos profissionais nestas áreas, ainda assim continuaria faltando  mão de obra.

    Em resumo, os bons e ótimos profissionais, continuarão intocados pela crise, pois há setores que não toleram amadorismo. e o preço da mão de obra deles, continuará em alta, faça crise ou não.

  5. acho que ele só está

    acho que ele só está esclarecendo o sofisma do  modelo

    regressivo que pretende retornar ao poder com as falácias de sempre….

    e esse discurso falacioso é hegemonico e pega alguns desprevenidos…

    um ótimo alerta do pochmann

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