Poupança e concentração de renda no mundo e no Brasil

O tema é um tanto técnico, mas vale a pena tentar compreender.

Trata-se da questão da desigualdade de renda no mundo, objeto de estudos de dois grandes pensadores: Thomas Piketty, o economista francês que se tornou best-seller, e o norte-americano Joseph Stiglitz, ambos críticos da concentração de renda.

Stiglitz – em artigo publicado ontem – questiona algumas interpretações dos estudos de Piketty. “Creio que a maioria dos leitores do livro de Thomas Piketty ficam com a impressão de que a acumulação de riqueza — poupança — é a responsável pelo aumento da desigualdade e que há, portanto, de certa forma, uma ligação entre crescimento da economia — a acumulação de capital — de um lado, e desigualdade e riqueza”, diz Stiglitz. “Meu ensaio começa com a observação de que, na verdade, não se pode explicar o que tem acontecido na relação entre riqueza e renda por esta análise. Um olhar mais cuidadoso sobre o que tem acontecido sugere que uma boa fração do aumento da riqueza corresponde a um aumento do valor da propriedade imobiliária e não do volume de bens de capital.”

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Quando a acumulação de poupança reverte em novos investimentos, aumentando a capacidade produtiva do país, todos ganham. Quando significa apenas aumento da riqueza, sem aumento da capacidade produtiva, amplia-se a desigualdade e mata-se o crescimento.

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Nas últimas décadas, a liquidez internacional avançou não apenas pelas políticas monetárias expansivas dos Bancos Centrais, mas pelo desenvolvimento de um sem-número de ferramentas financeiras.

Parte dessa riqueza tem que guardar correspondência com os ativos existentes. O que aconteceu no mercado imobiliário brasileiro é um pequeno exemplo do poder multiplicador da liquidez. Bastou abrir as torneiras do crédito para ocorrer uma extraordinária valorização dos imóveis. Essa valorização aumentou a riqueza dos antigos proprietários, mesmo eles permanecendo com seus imóveis. Por outro lado, o aumento da riqueza imobiliária amplia a capacidade de tomar novos empréstimos, porque as garantias aumentam. Cria-se então o círculo do enriquecimento.

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Transporte esse exemplo para a economia global.

Nas últimas décadas, em praticamente todos os países avançados, BRICs, ou emergentes, na economia tradicional houve uma furiosa compra de ativos, de imóveis a empresas já instaladas, um processo acelerado de fusões. No mercado brasileiro, o que mais cresceu nos últimos anos foi a quantidade de gestores de fortunas familiares.

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É uma longa travessia, que vêm dos anos 80, com a valorização dos ativos imobiliários de Nova York, passa pelas bolhas cambiais, pelos ataques às economias nacionais, pela bolha da Nasdaq, pela bolha das commodities, pela grande crise de 2008. E parece não ter terminado.

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No caso brasileiro, esse jogo foi imensamente pior, porque montado em cima do orçamento público.

De fato, houve uma enorme valorização dos ativos, mas com um quadro de taxas internas de juros pornograficamente elevadas.

Esses ganhos foram obtidos com operações de tomadas de empréstimos a taxas ínfimas, em países centrais, a conversão em reais, apreciando o câmbio, e a aplicação em títulos públicos.

O Brasil foi o peru preferencial nesse grande banquete financeiro das últimas décadas.

Luis Nassif

18 Comentários

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  1. A prova da distorção

    Por todo o país, há inúmeros casos de famílias que hoje vivem em casas ou apartamentos muito mais caros do que suas condições financeiras permitiriam, graças à valorização ocorrida nos últimos anos. Felizmente esse processo foi estancado e até retrocedeu, trazendo um pouquinho (ainda muito pouco, na verdade) de racionalidade ao mercado imobiliário.

    O curioso é que essa situação gera uma “sensação de riqueza” que não é corroborada pelos fatos: normalmente trata-se do único imóvel da família que, se vendê-lo, talvez não tenha condições de pagar o aluguel de uma unidade equivalente (a não se que aplique os recursos da venda e use os juros para pagar o aluguel). Por outro lado, os proprietários de terrenos (e os especuladores que acertaram o timing de sair do esquema) foram os grandes ganhadores da bolha imobiliária – bolha essa que indiscutivelmente foi inflada pela criação do Minha Casa, Minha Vida.

    Como em quase todos os casos históricos de bolhas, o governo de plantão fez de conta que não é com ele, e não tomou nenhuma medida que acabasse com a insanidade – pelo contrário, os sucessivos aumentos no limite de aplicação dos recursos do FGTS foram um estímulo para a alta continuada de preços.

  2. Simples e consiso

    Parabéns Nassif. Aqueles que tem alguma familiaridade com o tema o texto é bastante sintético e esclarecedor. Para aqueles que não possuem muita familiaridade, torna-se um ótimo chamariz para criar o interesse de pesquisar um pouquinho e aprender sobre esse importante tema de consequências economicas, políticas e sociais.

  3. Vale observar…

    … que o Brasil se colocou sozinho nessa posição de peru, ao optar pelo nafatlínico modelo de crescimento a partir do tal Estado Empresário, Estado Mecenas. Esse modelo baseado no endividamento do Estado (deixando a conta para o próximo governante, como bem gostam os keynesianos do calote) leva fatalmente a um aumento do aparelho burocrático e da burocracia, que asfixiam aquele que deveria ser o verdadeiro motor da economia: a iniciativa privada.

    O peru ficou ainda mais apetitoso quando o governo, a partir de 2005, numa atitude tipicamente luis-inaciana, incentivou o trabalhador a gastar e se endividar ao sabor dos maiores juros do mundo. O trabalhador foi convencido pelo Presidente Garganta a comprar tênis, ao invés de fazer um curso de inglês ou um curso técnico, a fim de melhorar sua produtividade / empregabilidade. O excedente de riqueza que o Plano Real trouxe foi dirigido para empréstimos bancários ao invés de poupança.

    Mais uma oportunidade de crescimento que virou vôo de galinha, com uma imensa conta a pagar. A história, no Brasil, se repete sempre – e a culpa, claro, será jogada no imperialismo, nos neoliberais, enfim, naqueles que nunca chegaram nem perto da chave do cofre…

     

     

     

     

     

  4. Sobe e desce…

    Pois é… O oba-oba criado pelo Lula acabou antes mesmo de começar, qdo o Eike deu sinal de balançar, a fraude lulista veio a tona.

    É a velha irresponsabilidade, ignorancia e desfaçatez do gestor de plantão. O unico que ultimamente fez algo de util foi a implatação da URV que acabou com a espiral catastrofica inflacionaria. Mesmo assim a coisa durou somente sua implatação, porque depois entrou os interesses politicos e o que poderia vir a ser finalmente um projeto de longo prazo de prosperidade, acabou morrendo na praia.

    Os capatazes dos interesses do poder e da riqueza que periodicamente estão no poder, agem com uma impulsividade, ingenuidade e irresponsabilidade assustadoras.

    A euforia que os dominam invariavelmente os incitam em tentar construir a casa, começando pelo telhado. Todas as bolhas que mais cedo ou mais tarde estouram, seguem o mesmo padrão. Levados pela euforia, turbinam artificialmente com o cenario economico sem levar em conta os fundamentos as estruturas economicas.

    Sem fortalecimento e crescimento sustentavel de longo prazo da base das estruturas financeiras, viveremos de crise apos crise. A instabilidade é o cenario consequencia da visão miope e de interresse ganancioso da riqueza vigente.

  5. Poupança e Concentração de Renda.

    Da obra “Acumulação Monopolista E Crises no Brasil”, Editora Paz e Terra, RJ/1980, sendo autores GUIDO MANTEGA e MARIA MORAES e com Prefácio de FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, às fls. 53, extrai-se o seguinte: Durante os anos de recessão (de 1962 a 1967, ao que se lhe seguiu o denominado “Milagre Brasileiro” – de 1968/1973), havia sido posta em prática uma ampla reorganização do sistema financeiro nacional, objetivando a melhor captação de canalização da poupança para as mãos dos grandes grupos econômicos. À medida em que a escala de acumulação vai se ampliando, fez-se necessária a concentração dos recursos financeiros de modo a permitir investimentos de maior vulto, assim como de incrementar a capacidade de consumo de certas camadas da população. Dessa forma, incentivou-se o crédito ao consumidor com o fito de antecipar o poder de compra, e, portanto, alargar a demanda do setor privilegiado na estrutura produtiva brasileira: a produção de bens duráveis de consumo. Deve-se salientar que o Estado não se restringiu a orientar essa reestruturação do sistema financeiro, pois passou a gerir diretamente um volume cada vez maior dos ativos financeiros do país. Assim, à sombra do grande conglomerado financeiro formado pelas instituições estatais, consolidaram-se grandes grupos financeiros, incentivados pela orientação oficial de diminuir o número de instituições financeiras, para “alcançar ganhos de escala e reduzir os custos gerais”

    Terá sido mera coincidência a ocorrência dessa conjuntura nos dias atuais?

    Que cada um conceba as suas conclusões.

  6. E a vida continua…

    Olá senhores

    selecionei algumas passagens do texto do Nassif para o debate. Lá vai:

    1 Quando a acumulação de poupança reverte em novos investimentos, aumentando a capacidade produtiva do país, todos ganham. ( grifei)

    Pergunta-se: Todos ganham o que ? Quanto? Como?

    Continuo: como se acumula se uma  renda no Brasil?

    E a renda que já está acumulada? 

    Vamos partir de qual princípio para todos ganharem? Uns com o trabalho e outros com a renda acumulada?

    E os tributos? Serão diretos ou ficarão na de sempre, isto é, no consumo?

    E as terras? Todos ganham com as terras? Ganham o que e como?

    E do minério? Todos ganham o que e como? A tributação compensa o ganho de todos?

    Enfim, todos ganham como, quando, onde, quanto , pra que, porque etc?

    2 (…)um processo acelerado de fusões. No mercado brasileiro, o que mais cresceu nos últimos anos foi a quantidade de gestores de fortunas familiares.

    Fusões na economia não me parece se relacionar com “todos ganham”. Aliás, acredito que é o contrário disso. Fusão não gosta de Concorrência Perfeita. Está mais para monopólio ou , no mínimo, monopsônio ( que alguns mentecaptos defendem a “naturalidade”).

    Já sei. Vão se referir daqui a pouco aos tais “ganhos de escala”, com produtividade,  eficiência ,isto é, fazer mais com menos. 

    No Brasil é BALELA! O pig spiritual animals  não quer saber de todos ganham. E mais. Quer saber é de ausência de tributação. Óbvio, o discurso será o de todos ganham.

    Ou não? Provem o contrário.

    3 No caso brasileiro, esse jogo foi imensamente pior, porque montado em cima do orçamento público.

    Aqui o r. jornalista brilhou mais uma vez. Este é o nosso  todos ganham, isto é, todos que ganham  adoram a viúva! E longe de mim concorrência pois você não me permite “ganhos de escala”!

    Nassif toca no ponto central do controle de nossas capitanias hereditárias que manda fazer o BOLO na senzala para servir na casa grande!

    Nesse sentido, ai sim, todos ganham.  O mouro da senzala ao fazer o bolo ganha trabalho a preço de banana com super oferta de mão de obra. O senhor , na rede, transando com a cunhatã para lhe passar sífilis, ganha prazer e renda, SEM TRABALHO. O aristocrata ganha com suas teses iluministas de meia tigela, copiadas do estrangeiro. 

    E a vida continua…

     

     

    1. “1 Quando a acumulação de

      “1 Quando a acumulação de poupança reverte em novos investimentos, aumentando a capacidade produtiva do país, todos ganham. ( grifei)”

      Os bancos ganham a multiplicação da poupança pelas reservas fracionárias (aumenta a capacidade produtiva), e o país, que paga os títulos públicos para a moeda girar e receber impostos, vai ganhar num segundo momento se os bancos transformarem as reservas fracionárias em crédito ao invés de ficarem só comprando títulos públicos).

      O imposto e a renda se tornam algo posto de fora do valor do trabalho. 

      Todo valor na riqueza fora do trabalho é especulação.

  7. No mercado brasileiro, o que

    No mercado brasileiro, o que mais cresceu nos últimos anos foi a quantidade de gestores de fortunas familiares.

    ***

    É uma longa travessia, que vêm dos anos 80, com a valorização dos ativos imobiliários de Nova York, passa pelas bolhas cambiais, pelos ataques às economias nacionais, pela bolha da Nasdaq, pela bolha das commodities, pela grande crise de 2008. E parece não ter terminado.

    Infelizmente, sem querer menosprezar as três estrelinhas que estão no meio, mas com direito de protestar, esse Piketty, em termos de crescimento e configuração, sabe muito menos soluções de governo do que muitos economistas brasileiros que não têm interesse de expor a economia até o ponto de vista que compremeta seus emprego$$$.

    Ontem mesmo o Nassif entrevistou um deles. 

    Geralmente, todos sabem que o câmbio depreciado não deixaria a industria quebrar. Por quê não disse isso antes a Dilma?

    Por que sabe-se que os juros impactam a inflação e os títulos públicos e só agora pede ajuste fiscal?

    Nenhum economista, nem mesmo esse Piketty, quer que o governo seja o gato que pega os ratos. 

  8. Desigualdade e crescimento nos países da OCDE

    Aproveito para traduzir aqui um artigo que saiu ontem no Washington Post (http://www.washingtonpost.com/blogs/worldviews/wp/2015/01/05/how-inequality-made-these-western-countries-poorer/?Post+generic=%3Ftid%3Dsm_twitter_washingtonpost) e que faz remissão a um estudo recentemente publicado como “texto de trabalho” da OCDE, que pode ser acessado pelo endereço http://www.oecd-ilibrary.org/social-issues-migration-health/trends-in-income-inequality-and-its-impact-on-economic-growth_5jxrjncwxv6j-en. O estudo se chama “Trends in Income Inequality and its Impact on Economic Growth” (Tendências da Desigualdade de Renda e do seu impacto no crescimento econômico).

    O estudo não abarca o Brasil, pois apesar de participar das reuniões do Conselho Ministerial da OCDE desde 2001, o país não faz parte da organização, e sua possível adesão (que só se faz por convite desse órgão) só começou a ser considerada a partir de 2007. Só a partir de então a OCDE, passou a produzir relatórios também sobre o Brasil, para os quais os órgãos de levantamento de dados sociais brasileiros enviam informações regulares. Teoricamente, seria possível utilizar a metodologia apresentada no trabalho para tabular os dados brasileiros.

     

    Como a desigualdade tornou esses países ocidentais mais pobres

    por Rick Noack, em 5 de janeiro, no Washington Post

    (Crédito das fotos. Mexico: Alexandre Meneghini/ Reuters; New Zealand: AP Photo/ Tourism New Zealand; UK: Simon Dawson/ Bloomberg; Finland: Lucian Perkins/ The Washington Post)

    O aumento da desigualdade atrasa o crescimento econômico ― de acordo com um relatório recente da Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE).

    A organização, que é composta principalmente por países de alta renda, analisou o crescimento econômico entre 1990 e 2010, e descobriu que quase todos os 21 países analisados registraram perdas de crescimento econômico por conta do aumento das desigualdades. (Observaremos mais de perto os países que foram mais atingidos, na segunda metade desta matéria)

    “Quando a desigualdade de renda aumenta, o crescimento econômico cai”, concluíram os autores do relatório. [Na verdade, o “working paper” original foi redigido por um único autor: Federico Cingano, economista do Departamento de Pesquisa do Banco da Itália].

    Eles explicaram suas descobertas pelo reconhecimento de que as brechas na distribuição da riqueza são responsáveis por reter o desenvolvimento infantil ― especialmente daquelas crianças cujos pais já possuem carências educacionais. Em outras palavras: a falta de acesso a uma educação de melhor qualidade a longo prazo entre os cidadãos mais pobres de muitos países da OCDE prejudica a economia.

    Os autores não examinaram os impactos em um país que buscasse zerar a desigualdade (algo que se aproximaria de um comunismo idealizado), mas tomaram níveis de desigualdade e crescimento econômico em 1990 como referência, para que fossem comparados com dados de 2010.

    A disparidade de riqueza nos países da OCDE está agora em seu nível mais alto em 30 anos, como este gráfico abaixo mostra.

    (A desigualdade é medida pelo índice Gini, que varia de zero a um. Zero seria igual à máxima igualdade, enquanto 1 equivaleria ao máximo de desigualdade)

    Em termos econômicos, os autores se preocuparam particularmente com o fosso entre as famílias de baixa renda e o resto da população. “De outra parte, nenhuma evidência foi encontrada de que aqueles com rendimentos elevados, ao se afastarem do resto da população, prejudicariam o crescimento”, registram os autores.

    “Desde 2008, o argumento de que a desigualdade está causando perdas econômicas ganhou força. Mas o fato de que este estudo foi divulgado pela OCDE me surpreendeu”, comentou Dean Baker, co-diretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, ao Washington Post. Sobretudo antes da crise financeira, muitos economistas consideravam a desigualdade como um corolário útil para o crescimento económico ― uma suposição que o estudo recente da OCDE acaba por censurar.

    Aqui estão os países que mais reduziram o crescimento, segundo a OCDE:

    1. Nova Zelândia. A economia da Nova Zelândia poderia ter aumentado 44% entre 1990 e 2010, mas o país só atingiu 28% de crescimento devido à desigualdade. Teria perdido, portanto, 15,5 pontos percentuais ― mais do que qualquer outro país. Isto é particularmente surpreendente, considerando que a Nova Zelândia já foi tida como um paraíso da igualdade, como notou Max Rashbrooke (autor do livro Desigualdade: uma crise neozelandesa) para o jornal The Guardian.

    “A Nova Zelândia reduziu pela metade sua aliquota máxima de imposto, cortou os benefícios sociais em até um quarto do seu valor, e reduziu drasticamente o poder de negociação ― e, portanto, a parcela da renda nacional ― dos trabalhadores comuns. Milhares de pessoas perderam seus empregos, assim como o trabalho industrial, que mudou-se para o exterior, e não houve resposta significativa com os programas de implementação de comércio ou de melhoria do preparo de mão-de-obra, uma falha política ainda em curso”, escreveu Rashbrooke na coluna de opinião. Ele também culpa a Nova Zelândia por uma carência de habitação a preço acessível, o que produziu aluguéis mais altos e hipotecas insaldáveis.

    2. México. Entre todos os 21 países da OCDE analisados, o México tem o maior nível de desigualdade (de acordo com o índice Gini) e teria perdido 11% do potencial de crescimento econômico.

    Em maio, o fotógrafo Oscar Ruiz retratou a desigualdade social no México por meio de imagens aéreas. Na legenda que acompanha as fotos se lê: “Esta imagem não foi modificada. É hora de mudar isso”.

    Imagem aérea do México (Oscar Ruíz/ Publicis. Fonte: http://www.adeevee.com/2014/05/banamex-cdc-houses-gardens-buildings-development-print/ )

     

    3. Grã-Bretanha, Finlândia e Noruega. Esses países teriam perdido quase 9 pontos percentuais de crescimento econômico. Enquanto a Grã-Bretanha é um dos países mais desiguais da OCDE, Finlândia e Noruega tinham níveis baixos de desigualdade em 1990 e ainda os têm em 2010. No entanto, a desigualdade aumentou nesses dois últimos países escandinavos (particularmente na Finlândia).

    4. Estados Unidos, Itália e Suécia. Entre seis e sete pontos percentuais do crescimento potencial teriam sido perdidos por conta da desigualdade social entre 1990 e 2010. O relatório não chega a oferecer explicações individuais de por que esses países estão entre as nações mais atingidas.

    Espanha, França e Irlanda, por outro lado, são os únicos países que nesse período não perderam crescimento econômico. De acordo com os autores do estudo, todos os três países, diminuíram ou mantiveram o grau de desigualdade e teriam auferido ganhos econômicos como conseqüência.

    Assim, o que os outros países teriam a aprender com a França, Irlanda e Espanha? O estudo oferece algumas propostas:

    Além de melhorias no acesso e na qualidade da educação, os governos devem trabalhar em políticas mais justas de mão-de-obra, equipamentos de acolhimento de crianças e na promoção de dividendos por produtividade, de acordo com os especialistas da OCDE.

    Os impostos, transferências e outras políticas de redistribuição poderiam, ainda, garantir que o crescimento econômico beneficie aqueles que mais precisam.

    1. Comentários adicionais

      O período abrangido pelo artigo de Federico Cingano é de 20 anos, e abarca tanto o auge da aplicação das políticas neoliberais nos países centrais da União Europeia quanto a vantagem relativa do ingresso no bloco de dois dos países que ainda hoje mantêm uma condição periférica (Espanha e Irlanda), assim como a “resistência” das políticas sociais da “ovelha negra” francesa, resistência que só começou a se dissipar com os governos mais recentes e mais francamente neoliberais da UMP (Sarkozy, a partir de 2007) e do PS (Hollande, a partir de 2012).

    1. A concentração de renda só

      A concentração de renda só pode ser explicada a partir da miséria, tragédias, sofrimento e dramas históricos.

      Fica a realização dos EUA e das elites para afirmar a quantidade de politicos no Brasil e e no mundo; sobre os quais o egoísmo e a ignorância não deixam nenhuma possibilidade de que eles se desenvolvam mentalmente para uma reparação da concentração de renda.

      Espero que vc saiba que concentração de renda, teoricamente, é apenas o objetivo do próprio sistema econômico através dos bancos.

  9. peru preferencial no  grande

    peru preferencial no  grande banquete financeiro.

    claro artigo, brilhante final.

    talvez porque não tivesse mais o que  acrescentar,

    de repente lembrei o banquete dos mendigos, aquele disco do mautner, lembram? 

  10. É claro que eu não gosto de

    É claro que eu não gosto de concentração de renda do jeito que vemos. Mas acho que a discusão chegando lá no atlantico norte – e no “mundo” – pode contribuir para deixar de virar tabú por aqui.

    O fato é que “liberais” e conservadores sempre acharam que a concentração é uma coisa boa. A crendice é que a desigualdade leva á competição ou é simplesmente “natural”.

    O fato é que quando a desigualdade se torna cada vez mais estúpida, como no caso brasileiro, nem os “inferiores” se lançam à competição, porque os meios e os objetivos  se tornam inalcançáveis, nem os “superiores” também o fazem, dado que suas posições tornam-se “garantidas”.

    Numa palavra, a desigualdade torna o sistema i-ne-fi-ci-en-te, por mais que a crendice generalizada propague o contrário.

    O Brasil é exemplo disso. Tem muito a ensinar, mas, como eu disse, é tabú falar disso por aqui, sobretudo entre economistas adestrados em escolas de lá do atlântico norte. Mesmo que o grande Celso Furado tenha ensinado isso há décadas.

    O trabalho do Piketty é exemplar porque demonstra – na verdade comprova – empiricamente o que tantos e tantos teóricos não tiveram disposição ou meios de fazê-lo.

    O Stiglitiz  quis foi fazer média de “sério” só porque o Piketty é europeu e foi taxado de marxista – o que está muito longe de ser. Se ele diz que concorda corre o risco de perder auditório por lá. Achou, portanto, conveniente improvisar uma crítica qualquer; na linha de “as estatísticas não são precisas”. Ora, o trabalho do Piketty tem a perspectiva de longo prazo!

    As críticas dos marxistas, por mais que não ofereçam soluções, são muito mais consistentes. Até num jornalzinho que vi vendendo aqui na rua, o “intervenção comunista” – é esse o nome – vi leitura mais acurada.

  11. Peru dos especuladors

    Eu gostaria que o Banco Central tivesse vergonha de tornar o Brasil a refeição preferida dos especuladores internacionais. Acho que está na hora de uma reação, principalmente, obrigando os bancos instalados aqui (nacionais e estrangeiros) a colaborarem.

  12. Não entendo nada.

    Nada entendo desses detalhes todos ao longo do artigo. Porém, no que diz respeito à maioria dos leitores de Piketty, acho que ninguém deveria ficar com aquela impressão (aumento da poupança=aumento da desigualdade). Isso porque logo na introdução Piketty, falando dos fatores que reduzem a desigualdade aponta como principal fator a difusão de conhecimentos e competências, ou seja, educação de qualidade. (Cf. O capital no século XXI, p. 27 e seguintes). Portanto, atenção, pessoal, vamos valorizar mais a educação!

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    Primeiro: distribuição de renda é diferente de distribuição de riqueza (bem, isso eu entendo). Espero que esteja certo acreditar nisso.

    Outra coisa que entendo (e já faz tempo): é que a pobreza do nosso país aumenta quando os gringos lucram aqui e remetem seus lucros para as matrizes lá (no Japáo, nos EUA, na Alemanha etc.), deixando de aumentar a capacidade produtiva aqui e aumentando a de lá (o que foi falado logo no início do texto), ou pagando melhores salários lá.

    Mas não fez muito sentido dizer que a produção capitalista não resulta em concentração de renda e em desigualdade. O velho Marx tremeu na tumba, creio. E a mais-valia? Não foram criados numerosos empregos de baixa remuneração enquanto os donos apropriam-se da maior parte das riquezas produzidas? Ainda que os lucros sejam reaplicados a remuneração do trabalho vai se elevar apenas lentamente, quando for necessário mais mão-de-obra especializada. Isso, porém, é um processo demorado.

    Olhemos para uma economia indígena. Lá todos são iguais e ricos. Aí chegam Patinhas e seus sobrinhos e instalam uma fábrica. Não houve aumento da desigualdade? Não mudou o perfil da distribuição de rendas?

    Creio que fiquei confuso mesmo foi com o parágrafo que fala de olharmos para a economia global. O texto diz que houve aumento nos gestores de economias familiares. Isto quer dizer que houve melhora ou piora na renda dos brasileiros? E na distribuição dessa renda? Não, realmente não entendi. Como não entendi também que fazendo um imenso programa para financiar imóveis para os pobres o que fizemos foi de fato aumentar a concentração de riqueza, apesar da intenção evidente de distribuição da renda. É isso mesmo? E os indicadores que demonstraram que a distribuição de renda melhorou (quer dizer, passou a estar menos concentrada nas mãos de poucos, passou a haver menos miseráveis)? Estão errados porque não levaram em conta a valorização da riqueza? Mas aí deu nó. se houve valorização nos imóveis, então, pode ser que tenha de fato diminuído a remuneração desse capital imobiliário e assim, tenha de fato diminuído a remuneração do capital e, portanto, melhorado a distribuição da renda.

    Também não entendi a tal da travessia que não terminou. Travessia de quem e para onde?

    Confesso: creio que não entendi nada (na verdade, quase nada). E penso que quem achou tudo isso fácil deveria explicar melhor.

  13. Não concordo

    O exemplo dado do mercado imobiliário não é uma gereção de riquesa, pois os imóveis só aumenta se houver procura, combinado isso com emprestimo a longo prazo a pessoa que pretende comprar um novo imóvel essa vai ficar mais pobre, por que os valores que ela estaria ajuntando para dar entrada em uma casa diminuiu.

     

    att,

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