Privilegiados e perseguidos, por Paulo Moreira Leite

Da Istoé

Privilegiados e perseguidos
 
No país da novilíngua, direito assegurado em lei é tratado como privilégio
 
Há muito tempo nós sabemos que o uso de palavras inadequadas é uma das formas menos inocentes e mais eficazes de manipulação política.
 
Permite esconder a realidade, confundir o cidadão comum e estimular reações que não têm apoio nos fatos.  
 
Estudioso aplicado dos regimes stalinistas, a quem acusava de manipular uma ideologia igualitária criada pelo pensamento comunista para construir uma  ditadura opressiva, George Orwell criou o termo novilíngua para explicar o fenômeno.
 
Com isso, explicava, era possível fazer uma coisa – e fingir que se praticava seu oposto.  
 
Cinco décadas depois da morte de Josef Stalin, velhas técnicas stalinistas de propaganda foram despidas de sua origem primeira e servem a qualquer causa, a qualquer ideologia, mesmo a mais conservadora: esconder  fatos desagradáveis, falhas humanas, gestos incoerentes, contradições e mesmo mentiras.
 
É tudo retórica. Seu método, no entanto, é o mesmo. Consiste em usar uma questão real para deformá-la ao sabor de propósitos  e conveniências de momento.  

 
No Brasil de 2013 a novilíngua está na primeira página dos jornais.
 
Empregar o termo “privilegiados” para se referir aos condenados na ação penal 470 e usar a expressão “privilégios” para se referir às condições no presídio da Papuda é prestar um favor desnecessário às autoridades comandadas por Joaquim Barbosa.
 
Um exame criterioso dos fatos mostra que, pelo contrário, desde o início o STF tomou  um conjunto de medidas jurídicas que é adequado classificar como perseguição em vez de prestação de favor ou benefício indevido.
 
Já era absurdo falar em privilégio para cidadãos condenados num julgamento “exemplar” onde foram aceitas várias medidas excepcionais e nada exemplares. Para quem ainda fica surpreso quando lê isso, vamos recordar rapidamente. Quem já está cansado de ouvir os argumentos, pode pular para o final do ítem “F”.  
 
 A) Negou-se o direito a um duplo grau de jurisdição, garantia constitucional reservada a todo brasileiro que não tem foro privilegiado e assegurado aos mensaleiros PSDB-MG  e também no DEM do Distrito Federal.
 
 B) Na falta de provas capazes de demonstrar a culpa dos réus além de qualquer dúvida razoável, aceitou-se uma teoria exótica, do domínio do fato, que não tem a mais remota ligação com o caso em questão.
 
 C) As penas foram agravadas artificialmente, em debates onde se disse, explicitamente, que a prioridade era garantir que os réus fossem encarcerados – e não que a justiça deveria ser feita.
 
 D) Os réus foram acusados de desviar R$ 73,8 milhões do Banco do Brasil mas a própria instituição nega, oito anos depois da denúncia, que qualquer centavo tenha sido extraído indevidamente de seus cofres.
 
 E) Os petistas foram acusados de encobrir o esquema através de contratos fictícios com o Banco Rural mas a Polícia Federal garante que foram verdadeiros e envolviam empréstimos reais.  
 
 F) investigações que poderiam ajudar na inocência de determinados réus até hoje se encontram sob segredo de justiça. O julgamento já acabou e o segredo continua.
 
 Também é errado falar em privilégio na fase de execução das penas. Presos num feriado de 15 de novembro, até hoje réus com direito a cumprir pena em regime semiaberto são mantidos em regime fechado – a última novidade é avisar que mesmo quem tiver conseguido trabalho fora da prisão deverá, em nome da” igualdade,” aguardar no fim da fila pelo exame de seus pedidos. Sabemos o que isso significa, certo? Também sabemos que o fatiamento dos mandatos de prisão foi anunciado como uma medida que iria beneficiar os réus. Na prática, o que se vê é uma forma de garantir que fiquem em regime fechado – de qualquer maneira.
 
Os presos foram deslocados para a Papuda em dia de feriado nacional, num esforço obvio para usar seu infortúnio – a perda de liberdade é sempre um infortúnio para cidadãos convencidos de seu valor,  certo? — como ilustração para um evento de propaganda.
 
Um preso como José Genoíno está proibido de dar entrevistas, o  que   atenta contra a liberdade de expressão.
 
Que privilégios são estes?  
 
Na realidade, o que se quer é negar o direito de uma pessoa pelo fato de que nem sempre ele se encontra ao alcance de todos.
 
Equivale a obrigar um cidadão a pagar,  como indivíduo, pelas irresponsabilidades e omissões acumuladas por gerações e gerações que estiveram a frente do Estado.
 
Qualquer calouro de ciência política sabe que, num país onde a distribuição de renda e a desigualdade seguem uma tragédia, a luta pela igualdade é necessária e positiva.
 
Mas, na situação atual, basta que os meios de comunicação, que definem o que é a opinião publicada, que muitos confundem com a opinião pública, tenham disposição de dar crédito a novilíngua quando ela convém. Pela falta de um componente indispensável a seu trabalho, o espírito críticos, eles  referendam a manipulação do “privilégio” e do “privilegiado.”
 
Na ficção de Orwell, a função do ministério da Verdade era divulgar mentiras, não é mesmo?
 
Só quem nunca abriu um gibi de sociologia acredita que a vida real é um simples decalque das planilhas de renda do IBGE.
 
A experiência demonstra que uma pessoa pode ser privilegiada, do ponto de vista econômico e social, mas perseguida – até com violência — do ponto de vista político.  
 
Milionário, o empresário Rubens Paiva foi preso, torturado e massacrado num ritual animalesco sob o regime militar.
 
Mortos com um tiro na nunca, na guerrilha do Araguaia, quando estavam desarmados e dominados, dezenas de militantes do PC do B haviam saído de famílias de classe média, tinham diplomas universitários e seriam, em comparação aos demais brasileiros, cidadãos privilegiados.
 
E até hoje o Estado brasileiro não foi capaz de dar qualquer notícia sobre o paradeiro de Rubens Paiva nem desses estudantes do Araguaia,  situação que transforma a dor de seus familiares num sofrimento idêntico ao dos parentes de Amarildo, o humilde pedreiro torturado e morto pela PM numa favela do Rio de Janeiro em 2013.
 
Nenhum torturador de Rubens Paiva foi preso, nem julgado nem condenado. Idem para os estudantes do PC do B. Idem, possivelmente, para os carrascos de Amarildo.
 
Centenas de milhares de brasileiros são vítimas, todos os dias, da incompetência da policia para prender e controlar a violência de criminosos comuns. Milhões de mandados de prisão destinados a prender ladrões de automóvel, assaltantes de resistência, quadrilhas de sequestradores, não são cumpridos.
 
Vítimas de assalto e de roubo muitas vezes sequer se animam a fazer qualquer denúncia porque tem certeza de que será inútil – ou mesmo arriscado, caso tenham de identificar suspeitos.
 
Estrutura de classe? Privilégio?
 
Do playboy Doca Street ao doutor Osmany Ramos, sem falar em vários casos de médicos-monstro de nossos consultórios, e até banqueiros especialmente inescrupulosos, o inferno de nosso sistema prisional possui exemplos de habitantes dos degraus superiores que foram colocados atrás das grades.  Embora a impunidade seja grande, vez por outra até figurões do judiciário são apanhados e denunciados.
 
O discurso contra o privilégio dos prisioneiros da ação penal 470 também alimenta  uma operação de marketing político. É uma arma eleitoral, na realidade.
 
Procura associar a condição de riqueza e privilégio econômico a lideranças de um governo que tem um histórico reconhecido de combate a desigualdade na renda e na ampliação das oportunidades para os mais pobres. A tentativa é mostrar que todos os governos são iguais e que nenhum político tem valor.
 
É aquilo que os estudiosos chamam de desconstrução.
 
E assim voltamos ao período em que nasceu a novilíngua. Foi o tempo dos Grandes Expurgos, quando, através da violência e da ditadura, Josef Stalin eliminou uma geração inteira de combatentes e lideranças  da vida política da antiga União Soviética e consolidou um poder absoluto que manteve até a morte, quase vinte anos depois. 
 
“Morte aos cães!” gritava o procurador geral, Andrey Vichinsky. Aos condenados, punidos com a pena de morte, exigia-se que aceitassem suas penas, admitissem suas falhas, confessassem erros e, em especial, traições. Sim, esta palavra, traição, era essencial. O importante, de qualquer modo, era que morressem depois de confessar.  Não podia haver ilusão quanto a seu destino na história. Estavam condenados e precisavam admitir sua culpa, sua falha, sua fraqueza.
 
É assim que, 80 anos depois, em outro país, em outro contexto, sob outro regime, se fala em privilégios e privilegiados. É uma parte importante dos combatentes da ditadura, onde se encontram, e eu duvido que seja pura coincidência, os mais decididos, mais resolutos, mais corajosos, aqueles que mais estiveram comprometidos com mudanças reais e com a construção de uma democracia de conteúdo social, aliada dos mais pobres, dos excluídos, dos negros, que devem ser silenciados.
 
Um quarto de século depois da democratização do país, os brasileiros convivem, pela primeira vez, com um sistema plítico onde a polarização política reflete, menos remotamente do que gostariam nossos sociólogos da aristocracia, uma certa divisão de interesses de classe na sociedade. Não vamos criar fantasias nem caricaturas. Todos sabemos dos limites e falhas inesquecíveis do governo Lula-Dilma desde 2003.
 
Mas eu acho difícil negar que, apesar disso, os brasileiros  vivem uma situação nova na sociedade, onde as camadas inferiores obtiveram  direitos e conquistas.
 
Deixo para os historiadores e os eruditos verdadeiros e independentes, que não estão na folha de pagamentos da novilingua industrial, nem usam uma bola de cristal de uma cigana sobrancelhuda que só faz profecias para anunciar desastres, a tarefa de encontrar um outro governo, em nossa história, que tenha demonstrado um empenho tão profundo com a preservação do emprego, a melhoria do consumo e a distribuição de renda. Num período de capitalismo de abismo, este é o grande diferencial, a primeira fronteira, o ponto de partida, a luta inicial. É a resistência, num universo onde economistas do Estado mínimo dizem que comer bife todo dia é extravagância.  
 
É por causa disso que palavras fora do lugar, como “privilégio” e “privilegiados” têm tanta importância. É ali que está o alvo a ser atingido pela novilíngua.
 
Não são os prisioneiros, alguns competentes, outros trapalhões, outros as duas coisas. Talvez até haja corruptos entre eles, vamos admitir, até porque sabemos que podemos encontrar essas pessoas em todos os cantos de nosso universo político, em casos até mais cínicos e escancarados. Mas nós sabemos que, sem provas, isso é igual a nada.
 
O que se quer, muito simplesmente, é impedir o debate sereno de fatos e provas que podem mostrar o que houve – e não aquilo que se quer fazer acreditar que aconteceu no julgamento da AP 470. 
 
Redação

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  1. Cinco décadas depois da morte de Josef Stalin

    A morte de Stalin

     

    Enquanto o ditador soviético agonizava em seu leito de morte, em 1953, seus asseclas travaram uma disputa feroz pelo poder. Conheça os bastidores da sucessão do czar vermelho.

     

    Alain Frerejean

     

    O caixão do ditador é carregado por seus principais colaboradores no dia 09 de março de 1953 Nos últimos anos de vida, Stalin só ia ao Kremlin à tarde e à noite. Depois de assinar a correspondência e receber visitantes, recolhia-se em sua datcha de Kuntsevo, em plena floresta, a 15 minutos de carro do Kremlin. Ao redor da vila, protegido por cercas entre as quais circulavam guardas com cães, ele gostava de caminhar e respirar o cheiro dos pinheiros. Incapaz de suportar a solidão depois do suicídio de sua segunda esposa, costumava convidar três ou quatro colaboradores para um jantar interminável e copiosamente regado.

     

    O cardiologista Vinogradov, que tratava dele havia 15 anos, recomendou-lhe cuidar da saúde e parar de fumar. Stalin não gostava de receber ordens; tinha medo da morte e, para evitar que o envenenassem, recusava-se a tomar remédio. Eternamente paranoico, encarregou Ryumin, um dos agentes do serviço secreto, de averiguar se os médicos que tratavam dos principais dignitários do partido não haviam fomentado um complô. 

     

    No dia 13 de janeiro de 1953, o jornal Pravda denunciou os “assassinos de jaleco branco”, professores de medicina, na maioria judeus, suspeitos de atuar sob as ordens do serviço secreto inglês ou americano e de uma organização sionista, a Junta, que, segundo os boatos, se infiltrara nos mais altos escalões do partido. 

     

    Não passava um dia sem que os jornais denunciassem novos escândalos, novas prisões. Cochichava-se que jovens oficiais não saíam vivos de certos hospitais. Aparentemente, as enfermeiras sabiam que ocorriam coisas estranhas, mas não se atreviam a dizer nada por medo dos médicos judeus. O processo dos “assassinos de jaleco branco” estava previsto para 5 a 7 de março. Quanto à sentença, não havia a menor dúvida, já se haviam tomado providências para que as execuções ocorressem em 11 e 12 de março.

     

    Por um motivo ou outro, todos se sentiam ameaçados. Viatcheslav Molotov, por ser casado com uma judia. Nikita Kruschev, por causa do partido na Ucrânia. Anastas Mikoyan, por conta da corrupção. Stalin não poupava os colaboradores mais próximos. Demitiu seu fiel secretário Proskrebychev depois de mandar fuzilar sua esposa judia. Mandou prender o chefe de sua guarda pessoal, o general Nikolai Vlassik, suspeito de ter “favorecido os médicos envenenadores”. Prometeu poupar a vida de seu médico Vinogradov, “desde que ele reconhecesse francamente seus crimes e delatasse todos os cúmplices”, mas só conseguiu arrancar-lhe uma confissão depois de vários dias seguidos de espancamento.

     

    O líder soviético com a filha Svetlana, em 1935. Ela registrou em suas memórias que presenciou “coisas estranhas” nos dias que se seguiram à morte do pai Às 11 horas da noite de 28 de fevereiro de 1953, quatro habitués chegaram à datcha: Gueorgui Malenkov, Nikolai Bulganin, Kruschev e Beria. Eles conversaram e brindaram com o chefe, mas não se sentiram à vontade. Principalmente Beria, que tinha ligação com muitos envolvidos em uma pretensa conspiração mingreliana (grupo étnico da Geórgia). 

     

    Às 4 horas da madrugada, Stalin foi se deitar. Os quatro convidados se despediram. Dias antes, Beria tinha conseguido afastar o guarda-costas mais chegado a Stalin, Alexei Rybin, nomeando-o chefe da guarda do Teatro Bolshoi, e substituí-lo por um homem de sua confiança, Krustalev.

     

    Em 1º de março, Stalin, que costumava acordar às 11 horas, não deu sinal de vida. Mas ninguém estava autorizado a entrar em seus aposentos sem ordem expressa dele. O tempo passou. Meio-dia. Duas horas. Seis horas da tarde. Dez horas da noite. Os empregados e os guarda-costas já estavam preocupados. No entanto, havia telefones instalados em todos os quartos, em todos os salões, em todos os banheiros, para que Stalin pudesse pedir o chá, a correspondência, os jornais. Mas não havia utilizado nenhum. Essa rede telefônica era complementada por um sistema de alarme. Os cômodos eram equipados de sensores escondidos nas cortinas e nas portas para que os guardas monitorassem todas as idas e vindas. Ora, nenhum deles havia detectado o menor movimento.

     

    Às 11 horas da noite, depois de muita hesitação, Starostin, o chefe da guarda pessoal dadatcha, tomou coragem. Usando como pretexto a chegada da correspondência do Comitê Central, ousou bater na porta do chefe. Nenhuma resposta. Ele entrou e deu com Stalin caído no chão, de pijama, os olhos arregalados, incapaz de articular uma palavra. Starostin pediu socorro.

     

    Na datcha, não havia médico nem enfermeira. Em vez de chamar um médico, como queriam os empregados, ele achou mais sensato avisar Ignatiev, seu superior hierárquico. Este, por sua vez – e em defesa da própria pele – tomou uma sábia precaução. Em vez de alertar Beria, avisou Kruschev e Bulganin e os levou à casa da guarda da datcha, onde Starostin expôs a situação. Ignatiev os fez jurar guardar segredo absoluto.

     

    Durante o XX Congresso do Partido Comunista, Kruschev anuncia os crimes de seu antecessor À meia-noite, eles se foram discretamente, sem ter entrado nos aposentos de Stalin. Graças a essa antecipação com relação a Beria, Bulganin, ministro da Defesa, tomou algumas providências: reservadamente, mandou deslocar para as proximidades do Kremlin alguns batalhões em que tinha plena confiança, e Kruschev deu ordem de suspender imediatamente a campanha antissemita na imprensa, o que lhe valeria favores de Molotov.

     

    Só então Ignatiev pôde prevenir Malenkov. Este saiu à procura de Beria, seu mentor, e acabou tirando-o da cama às 3 horas da madrugada. Beria e Malenkov foram levados ao quarto de Stalin. Receando acordar o chefe, Malenkov tirou as botas novas, que rangiam no assoalho. Diante do corpo inerte de Stalin, Beria se voltou para os guarda-costas: “Lozgachev, por que esse pânico? Não vê que o camarada Stalin está dormindo profundamente? Não o perturbe e pare de nos alarmar”.

     

    Então Beria se apressou a ir ao Kremlin, ao gabinete de Stalin, decerto para dar sumiço em alguns papéis comprometedores. Somente às 7 horas da manhã telefonou para o ministro da Saúde, pedindo-lhe médicos. Duas horas depois, portanto, às 9 da manhã de 2 de março, Beria e Malenkov retornaram à datcha, seguidos por Bulganin e Kruschev, depois por Tretyakov, acompanhado de quatro médicos. Para evitar inconvenientes quando se divulgasse o boletim médico, Beria lhes contou que Stalin estava em seu escritório, na véspera, e acabava de sofrer um ataque. Na verdade, ele ficara 14 horas sem socorro.

     

    Uma nação de órfãos: multidão se reúne na Praça Vermelha de Moscou para se despedir do “Pai dos Povos”. Os médicos diagnosticaram hemorragia cerebral. Se tivessem sido chamados na véspera, certamente poderiam prolongar a agonia em alguns dias, mas, sem dúvida, não tinham condições de salvar o doente. Pediram para ver o prontuário médico. Nada encontraram nem na datcha nem no Kremlin. Aplicaram-lhe ventosas, injeções, tiraram eletrocardiogramas, radiografam-lhe os pulmões e mandaram buscar um marca-passo.

     

    Depois de muito injuriar os médicos, Beria, no auge da excitação, pôs-se a insultar Stalin, mas este abriu o olho e deu a impressão de apontar o dedo para ele. Aterrorizado, Beria caiu de joelhos, pegou a mão do chefe e a beijou. Pouco depois, o moribundo vomitou sangue, como nos casos de envenenamento. Krustalev, o único que ficou com Stalin na manhã do dia 1º de março, o teria intoxicado durante o sono com um veneno cuja receita seu chefe, Beria, conhecia?

     

    Os quatro dignitários deixaram o enfermo com os médicos e voltaram para o Kremlin. Tinham muito que fazer: discutir a melhor maneira de dividir o poder entre si. O clã Bulganin-Kruschev acabou se entendendo com o clã Beria-Malenkov. Malenkov, que Beria imaginava poder manobrar a seu bel-prazer, seria presidente do Conselho dos Ministros, secundado por quatro vice-presidentes: Molotov, Bulganin, Kaganovich e Beria, que aumentaria ainda mais sua autoridade sobre a polícia. Kruschev seria o secretário do partido.

     

    Só restava fazer com que o Comitê Central, o Conselho de Ministros e o presidium do Soviete Supremo avalizassem a nova organização. Eles tardaram dois dias a convocar e reunir todos: nada menos que 300 pessoas. Tudo se resolveu no dia 5 de março. A sucessão de Stalin foi aprovada unanimemente, sem debate.

     

    O petit comité do czar vermelho (em sentido horário): Lavrenti Beria, Nikolai Bulganin, Gueorgui Malenkov e Nikita Kruschev Malenkov, Beria Bulganin, Kruschev, dessa vez acompanhados de Molotov e Vorochilov, puderam voltar à cabeceira do agonizante. Na datcha, encontraram, além dos médicos, Svetlana e Vassili, os filhos de Stalin, assim como Istomina, sua camareira, que parecia ser a mais abalada. O grande homem acabava de expirar. Beria conseguiu dissimular a alegria durante alguns minutos.

     

    No dia 6 de março, um boletim oficial anunciou o falecimento de Stalin, atribuído a uma hemorragia cerebral causada pela hipertensão, que provocou paralisia, a perda da fala e da consciência. Um segundo ataque teria afetado o coração e os pulmões. Curiosamente, o boletim omitiu o vômito de sangue. 

     

    Entre o povo, alguns reagiram com alívio, outros, com tristeza. Eles se sentiram órfãos. Stalin, seu ídolo, os havia abandonado, fracos e sem defesa, à mercê do mundo capitalista e hostil que os cercava. Sua morte arriscava levar a Rússia para o abismo da anarquia e do caos.

     

    Em 9 de março, na praça Vermelha, uma multidão imensa desfilou para saudar o caixão aberto em que repousava o senhor. Na multidão, várias centenas de homens e, sobretudo, de mulheres morreram sufocados ou pisoteados, como no dia da coroação do czar Nicolau II. Nesse mesmo dia, Polina Molotov foi posta em liberdade e, logo depois, todos os médicos envolvidos no chamado complô “do jaleco branco”, os quais seriam milagrosamente reabilitados.

     

    http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/a_morte_de_stalin.html

     

     

     

  2. PRESOS POLÍTICOS OU POLÍTICOS PRESOS?

    Logo que foram presos em 15 de novembro, os blogs progressistas começaram a denunciar que tínhamos PRESOS POLÍTICOS. Houve uma campanha através da mídia bandida desdizendo essa expressão, martelaram dia e noite que o que tínhamos eram POLÍTICOS PRESOS. Parece que conseguiram sufocar a expressão, pois ninguém mais fala no fato que temos, sim, PRESOS POLÍTICOS.

  3. Novilíngua. Bingo!

    Até que enfim um artigo que vai ao cerne da questão: O uso de palavras “mágicas” pela máfia midiática, na verdade spin verbalizadoras que se imaginam como babás eletrônicas colocando palavras nas nossas bocas, só que alguns já não aceitam isso passivamente.

    NOVILINGUA – Artigo imperdível este do jornalista Paulo Moreira Leite, onde ele diz que há por ai uma ‘nova língua” que de nova tem nada, é sim um velho truque para espezinhar, torturar matar: Ele se refere à palavras “privilégio’ e “privilegiado’. PML tem razão. Se na ditadura militar o status quo usava a “terrorista’ para massacrar que se opunha à ditadura, hoje faz o mesmo com a palavra “mensaleiro”, enfim, são palavras que soam como doce das bocas sujas que de éticas não tem nada, pelo contrário, tem vários esqueletos em seus armários, que o diga Bilhante Ustra e cia. Foi guardado na memória do spin

    http://www.josecarloslima.blogspot.com.br/2013/12/pelo-abolicionismo-penal.html

  4. Cegueira

    Tenho tentado falar sobre isso com alguns amigos e familiares, mas não ha jeito. Esses que caem na propaganda da imprensa, nessa mania que têm de suberverter os fatos, a novilingua que usam, estão certos de que se esta fazendo justiça “pela primeira vez neste pais” e de que eu, oh pobre coitada, alienada pelo petismo, estou cega. 

  5. Cinco décadas ?

    Se Stalin morreu em 1953, são seis décadas.

    Mas não importa. Eu acho é que o Aliança tem uma queda pelo Stalin – é um admirador enrustido. Se não, como explicar esse texto totalmente fora do contexto ?

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