Renan engaveta pautas conservadoras apoiadas por Eduardo Cunha

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Ivan Velloso

Do Fato Online

As diferenças entre os presidentes das duas casas do Legislativo vão muito além do sotaque. Embora pertençam ao mesmo partido, o PMDB, a guerra, às vezes nem tão silenciosa, entre os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), tem ultrapassado os limites da disputa política e legislativa. Com estilos e temperamentos diferentes, os dois já trocaram farpas pela imprensa. Mas a maior briga entre os dois parecer ser no campo legislativo.

Essa diferença é tanta, que, pela primeira vez na história do parlamento brasileiro, muitos analistas políticos afirmam que a atuação do Senado neste ano foi mais progressista que a da Câmara. Enquanto Cunha defendeu e conseguiu aprovar projetos considerados conservadores, como a terceirização, a redução da maioridade penal e a revogação do Estatuto do Desarmamento, Renan tem mantido todas essas propostas engavetadas a sete chaves no Senado.

Um dos principais defensores do Estatuto do Desarmamento, resultado do referendo de 2005, que restringiu a comercialização das armas de fogo no país, o presidente do Senado já avisou que não pretende sequer discutir a proposta que poderá vir da Câmara. “Se for para reabrir a discussão sobre armas no Brasil, vamos reabrir pelo lado bom: proibindo a venda de armas e munição para civis”, afirmou. “Nós perdemos o referendo e respeitamos o resultado”, completou.

Para Renan, é inaceitável a revogação do Estatuto, que, entre outras coisas, reduz de 25 para apenas 21 anos a autorização para compra de armas. O projeto é defendido por Cunha e só não foi aprovado ainda pela Câmara por causa do processo a que responde no Conselho de Ética, por quebra de decoro parlamentar, e pela abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Terceirização

O primeiro projeto da chamada “pauta conservadora” defendida por Eduardo Cunha a chegar ao Senado foi a terceirização dos contratos de trabalho. A proposta permite as empresas terceirizar a atividade-fim. Na época, Renan disse que o projeto era uma “pedalada nos direitos trabalhistas” e anunciou que a proposta seria modificada pelos senadores.

Para dificultar a aprovação da proposta, além de distribuir o projeto a pelo menos cinco comissões permanentes – Constituição e Justiça, Assuntos Econômicos, Assuntos Sociais, Legislação Participativa e Direitos Humanos –  Renan entregou a relatoria ao senador Paulo Paim (PT/RS), um dos maiores críticos a terceirização no Senado.

Em resposta à atitude de Renan, o presidente da Câmara ameaçou paralisar todos os projetos provenientes do Senado, entre os quais o da convalidação dos benefícios fiscais concedidos aos estados e municípios para atrair empresas. Esse projeto é um dos mais importantes pontos do chamado pacto federativo, que pretende pôr fim à guerra fiscal entre os estados e garantir a reforma do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços) e até agora não foi votado.
Maioridade penal

Outro projeto considerado conservador e “engavetado” por Renan no Senado foi a proposta de emenda à Constituição que reduz de 18 para 16 anos a maioridade penal para crimes considerados hediondos, como homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte. A PEC foi enviada à CCJ, mas não tem previsão de votação.

Renan não pretende colocar a proposta em votação por enquanto. Ele defende a aprovação do substitutivo do senador José Pimentel (PT/CE) ao projeto do senador José Serra (PSDB/SP), que altera o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), aumentando o período de internação de 3 para 10 anos. Apesar do apoio ao projeto, nenhumas das duas alterações está em pauta no Senado. Pelo menos por enquanto.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

14 Comentários

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  1. O “senador bonzinho”

    Concorrendo ao prêmio “bonzinho do ano”, temos um japones e um Senador (entre os que, ainda, estão soltos).

    O que faz a disputa ser mais forte é que ambos estão enrrolados com acusações graves.

     

    Mas, são do meu agrado as medidas adotadas pelo “senador bonzinho”.

    Precisa ver quanto vai custar, naquela “moeda” tão usada em Brasília: cargos públicos.

    1. ————–
      Conservador é

      ————–

      Conservador é quem quer mudar algo para voltar tudo a como era antes e progressista é aquele que quer manter tudo como esta.

      Faz sentido.

      ————-

          Pronto. Consertei pra você.

    2. Reacionário e fã do Cunha

      Quando você fica parado ainda está mais adiante do que quem anda para trás.

      As “mudanças” de Cunha são para retornar a um tempo anterior à CLT, anterior aos direitos humanos e se ele pudesse até iria propos revogar a Lei Áurea.

      Então, nem como todas as falácias do mundo dá para esconder que as “mudanças” do Cunha é para as coisas ficarem como eram no passado.

      Bem ao gosto do reacionário aí.

      Reacionário e fã do Cunha, como ficou óbvio.

  2. LAVA JATO

    Isso se deve mais ao fato que Renan ainda não foi para o centro do furação Lava Jato como Eduardo Cunha! Lembrem-se da postura dele quando seu nome apareceu pela primeira vez nas investigações, ele se tornou de imadiato aliado do Cunha e sinalizou que iria tornar a vida do governo no Senado um inferno. então não dá pra contar com essa postura respoonsavel por muito tempo. 

  3. Tempos realmente inusitados,

    Tempos realmente inusitados, estes por qual passamos. Quando Renam Calheiros consegue ser alçado à condição de “progressista”, é o caso de se pensar em que realmente erramos.

    Menos mau. Para arrostar o Eduardo Cunha é válido até se unir com o diabo, a exemplo de Churchill no tocante a Hitler. 

    1. Não acho se trata disso

       Não acho se trata disso, “Para arrostar o Eduardo Cunha é válido até se unir com o diabo, a exemplo de Churchill no tocante a Hitler.”

       O Senado desde Lula tem sido o lugar de maior e mais “estavel” apoio ao governo, diria que o Renan foi eleito pelo “governo”, o Cunha foi eleito pela “oposição”, então os compromissos/promessas são diferentes.

        Qto ao desarmamento, Renam sempre foi responsável pela defesa da Lei de Desarmamento.

        Então fora a questão da Lava-Jato, eles são complemetamente diferentes por suas praticas.

      Um outro ponto é lembrar que Renam elegeu seu filho Governador de Alagoas, depende da estabilidade do país para que ele tenha futuro tanto em Alagoas como outros voos.  

  4. Renan é muito mais perspicaz e sensato do que o Michel Temer…

    Renan é muito mais perspicaz e sensato do que o Michel Temer. Uma aventura golpista tornariam um eventual governo do PMDB insustentável. É loucura continuar insistindo nessa manobra política golpista. Além de quebrarem o país economicamente estarão criando um clima de guerra civil.

    Os ânimos na sociedade já estão exaltados e o clima de intolerância política insustentável. E nesse contexto o PMDB de Michel Temer e Eduardo Cunha não tem o mínimo de legitimidade para pacificar o país. Muito pelo contrário, a aliança espúria entre Temer e Cunha agravaria ainda mais o ódio da população contra a classe política.

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