Viva a Grécia!, por Mário Soares

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Sugestão de Paulo F.

do Diário de Notícias de Lisboa

Viva a Grécia!, por Mário Soares

A Grécia é sem dúvida o Estado ao qual os europeus mais devem antes de Roma. Mas foi muito maltratada pela Alemanha da senhora Merkel, quando se atreveu a mandar na União Europeia e em primeiro lugar na Irlanda, por pouco tempo, diga-se, e finalmente na Grécia, em Portugal, em Espanha e noutros Estados do Sul. Impôs a todos a chamada austeridade, que os foi destruindo pouco a pouco. Austeridade que mata, como disse o Papa Francisco com a sua sagacidade.

No domingo passado tive a grande alegria de assistir à vitória de Alexis Tsipras, de quem sou amigo e que tanto admiro. Realmente, tratou-se de uma vitória impressionante, que não só muda a Grécia como vai ter um grande impacto em toda a União Europeia.

É óbvio que a vitória de Tsipras provocou reações em toda a União Europeia, por um lado de entusiasmo e para a direita uma obrigação de refletir de modo a mudar as políticas que tem vindo a seguir e, obviamente, a austeridade, que tantos malefícios tem provocado.

A União Europeia está a mudar, como se tem visto, por exemplo, com a posição de Mario Draghi, ilustre economista e presidente do Banco Central Europeu. E o êxito extraordinário que Alexis Tsipras conseguiu no domingo passado vai ajudar imenso. Tenhamos, pois, como sempre disse, esperança, porque melhores dias virão. Inevitavelmente.

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

Foi em outubro de 2013 que li o livro de Stephen Emmott, professor ilustre da Universidade de Cambridge, Dez Mil Milhões – Enfrentando o Nosso Futuro.

Apercebi-me então do que seria a dramática situação do planeta se a ganância da globalização dos mercados continuasse, sem regras, em busca do petróleo, furando a terra e provocando trágicas consequências nos oceanos, a que infelizmente temos vindo a assistir nos últimos anos.

Daí, seguramente, a razão por que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, um político de uma inteligência e visão extraordinárias, fez baixar o preço do petróleo por toda a parte, tentando ao mesmo tempo limitar a fúria dos oceanos e a consequente formação de gelo que este ano, excecional, atingiu as duas costas dos Estados Unidos e outros continentes.

No ano passado, o mar, em Portugal, destruiu grande parte das nossas praias. Mas se este ano isso se repetisse – e não gostaria que isso acontecesse – ficaríamos sem praias e sem turismo.

Daí que seja necessário que os cientistas que ainda nos restam e que se interessam por esta área se imponham e responsabilizem o governo pela prevenção dos impactos negativos das alterações climáticas, que tendem a agravar-se.

OUTRA VEZ SÓCRATES

Completaram-se dois meses de prisão no dia em que o fui visitar de novo ao Estabelecimento Prisional de Évora. Consegui entrar quando só lá estavam, à minha chegada, dois jornalistas de serviço. Mas à saída encontrei bastantes mais. Com certeza pagam-lhes para isso…

Sócrates está na mesma, com a energia e dignidade de sempre, e o juiz que o tem maltratado, Carlos Alexandre, não tem conseguido encontrar nada que o possa comprometer. Nada é mesmo nada! Pelo menos nunca o disse. Contudo, o ex-primeiro-ministro José Sócrates continua preso. Porquê? E até quando?…

Dizem os advogados que o conhecem que o juiz citado é muito vaidoso. Mas sairá muito mal no conceito de todos os cidadãos que conhecem e admiram José Sócrates e que cada vez são mais neste pobre Portugal.

Sócrates está mais firme. E eu, que sou seu amigo e na ditadura fui várias vezes preso, cada dia o admiro mais, tal como ao seu ilustre advogado, João Araújo, que com tanta inteligência, coragem e lucidez o tem defendido.

O QUE RESTA A PORTUGAL

O governo de coligação que nos rege e que tem gozado sempre da proteção do Presidente da República, Cavaco Silva, tem estado completamente paralisado e sem norte nos últimos meses.

Compreende-se que assim seja porque Portugal está completamente arruinado. Muitos dos nossos melhores cérebros emigraram e os que restam e têm a coragem de dizer a verdade não são ouvidos e têm os seus telefones controlados.

Há hoje em Portugal determinadas polícias que fazem lembrar a antiga PIDE…

Entre os jornalistas que são ou foram independentes há vários que perderam os seus lugares e outros infelizmente – a vida é dura – adaptaram-se…

A coligação, tenho-o dito várias vezes, não se entende. Mas quando o presidente do governo fala duro, obedece. O ministro da Economia tem sido uma boa prova disso, mudando de opinião quando lhe abrem os olhos…

Os ministros obedecem mas estão mais ou menos paralisados. Alguns têm sido verdadeiras catástrofes, como a ministra da Justiça e os ministros da Educação, da Defesa, da Economia, dos Negócios Estrangeiros e, neste último ano, o da Saúde. De resto, nunca houve tantas mortes e tão poucos médicos e enfermeiros para as evitar. Quanto aos outros, estão calados e certamente fazem pouco. Mas ninguém se demite. Certamente por medo.

Há uma ministra que tem obviamente categoria, Maria Luís Albuquerque. Mas obedece sempre ao primeiro-ministro.

O mais importante é que em três anos o atual governo destruiu Portugal sem mostrar ter a mínima visão que seja de patriotismo. Vendeu Portugal aos chineses e agora, no caso da PT, nada fez para evitar que fosse comprada por uma empresa francesa, quando Isabel dos Santos, filha do presidente de Angola, portanto uma lusófona, foi impedida, sabe-se lá porquê, de comprar a PT.

Falta, por último, vender a TAP, tão importante para Portugal e para todos os países lusófonos. É um governo que não tem sentido de patriotismo nem da importância da lusofonia. Pior, é, como se tem visto, antipatriótico. E por isso tem vindo a destruir, sem hesitação, este pobre Portugal. Nunca houve um governo no passado, mesmo na ditadura, que tivesse procedido assim.

Veremos como, depois de lhe ter pago tantos juros, vai ter dinheiro para pagar o que ainda deve à troika… Vai ser dramático…

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Austeridade é ruim. Gastar é

    Austeridade é ruim. Gastar é bom. Ótimo, siga-se por este caminho. É bem lógico que qualquer um, podendo gastar sem limites, não será austero. Quem impõe a austeridade, no mais das vezes, é a própria realidade. Se não for assim, para que se gaste, é preciso que haja o que possa ser gasto. A questão que se coloca então é: de onde virão os recursos para serem gastos? Se o caminho do aumento da dívida parece esgotado e há um limite para o aumento de impostos antes de provocar um êxodo da parcela mais produtiva da sociedade, o que resta? Inflacionar o euro? Se for esta a solução heterodoxa brilhante para a crise da UE, sugiro que a Alemanha é que volte a adotar marcos…

  2. A esquerda mundial deve

    A esquerda mundial deve acompanhar atentamente o recém-eleito governo grego. E que ele seja bem sucedido, mostrando que há saídas para  a crise, sem aplicar politicas recessivas e que prejudiquem os trabalhadores.

  3.  
    Acho engraçado o papo que

     

    Acho engraçado o papo que acusa os gregos de terem se endividado na farra do dinheiro barato. Portanto, justificado se torna, o pápel dos economistas-empresários e suas balelas de austeridade a ser aplicada no dos outros. As vítimas, devem se submeter ao regime de “pão e água” até  a carcaça ficar no couro e no osso.

    Ora! Muito bem.

    Acontece, que todos os gregos, independente da faixa de renda, se locupletaram na gastança, pois não?  No entanto, na hora de arrochar os cintos, o encargo se concentra no lombo, injustamente, dos que menos mamaram nas vacas gordas.

    Se já não bastava sustentar todo o aparato do sistema capitalista com o suor do trabalhador, quando a esperteza dos detentores da bufunfa começa a fazer água, mais uma vez, se busca arrancar do lombo do trabalhador a salvação da lavoura. Ora! Me desculpem, mas o melhor é mandar esse bando de fdp à merda.

    O pior de tudo, é ter que ouvir oprimido defendendo interesses de opressores.

     

    Orlando

  4. Por favor um destaque

    Nassif,

    Desculpe tomar seu tempo, mas você tem que dar um destaque para essa frase do artigo de Mário Soares. Eu tenho certeza que você conhece tanta gente que se enquadra (eu não conheço mas os li por muitos anos).

    “Entre os jornalistas que são ou foram independentes há vários que perderam seus lugares e outros infelizmente – a vida é dura – adaptaram-se …”

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