Crise de representatividade política no Congresso? Conta outra, por Francy Lisboa

Por Francy Lisboa

A caracterização de ecossistemas por meio dos seus sons produzidos vem sendo debate no meio científico. De acordo com a teoria, basicamente, é possível detectar níveis de instabilidade ao calcular desvios entre o som produzido pelo ambiente A e aqueles de uma situação considerada padrão.

Os céticos apontam que isso está mais para astrologia do que para ciência de fato. Com razão, afirmam que os milhares de ruídos, perceptíveis aos nossos ouvidos ou não, representam complexidade ímpar que torna incapaz fazer juízo de valor, traçar padrões, em meio de tamanha “bagunça”.

Considerando os diferentes ruídos que formam a complexa teia política no ecossistema Brasil, é inegável que a Casa Baixa presidida pelo representante da corrupção aceitável pela parcela poderosa dos ruídos de opinião publicada, é representativa do chamado povo brasileiro.

Caso mensurássemos os ruídos do Congresso e tentássemos detectar um padrão, uma similaridade com os ruídos oriundos da população, não se pode afirmar categoricamente que não haveria compatibilidade.

Microfones a postos e comecemos a experimentação. Pegue os ruídos das manifestações anti-governo e veremos que os sons “batem” com alegações da opinião publicada por portais, rádios, jornais televisivos. Todos esses ruídos são reproduzidos por  inúmeros congressistas que, por sua vez, são transferidos para o eleitorado. O eleitorado  que comunga do mesmo credo começa então a fazer sua parte por meio da rainha absoluta do Brasil, a hipocrisia,  na forma de relativização dos erros dos inimigos do meu inimigo.

Os famosos três bês que dominam a Casa Baixa geram ruídos que são facilmente comparáveis aos que vem do lado de fora, da população. Afinal, bandido bom é bandido morto faz parte do imaginário de muitos brasileiros que abraçam e tiram fotos com exterminadores de gente de aparência inadequada.

Dizer que não existe representatividade no Congresso é no mínimo ser simplista demais. Quem disse que o Congresso não atende aos anseios da população brasileira? Só ser for por não conseguir criminalizar a homossexualidade, não conseguir implantar a moral cristã, não restringir ainda mais os direitos de vagabundos de arco-e-flechas e não-civilizados; não conseguir acabar com a ameaça vermelha constante.

Não sejamos ingênuos. A sensualidade que veste o calor tropical brasileiro é apenas a casca da  Rainha Hipocrisia, somos conservadores em termos proporcionais e devemos parar de dizer que há falta de representatividade. Essa concordância entre os ruídos do Congresso e os ruídos do conservadorismo brasileiro vem sendo reforçada desde o dia que o operário subiu ao Palácio do Planalto.

Os sons finalmente tornaram-se altamente correlacionados e enfim há ambiente para que atos outrora abomináveis por qualquer coloração ideológica sejam, hoje, relativizados, como o caso dos animais que jogam seus carros contra ciclistas de agentes vermelhos de São Paulo; ou vizinhos enlouquecidos de ódio que jogam seus carros contra filhos de agentes vermelhos.

Apesar de muitos não admitirem, o ponto de convergência chegou ao patamar de ideal em Junho de 2013, nas sempre eufemizadas Jornadas de Junho 2013. Graças a elas aventuras golpistas atualmente soam como naturais, tanto fora quanto dentro do Congresso. Que maior sinal de representatividade do que isso? 

Redação

2 Comentários

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  1. Boa leitura, premissa final questionável

    Gostei do texto. Não compartilho da visão sobre as jornadas de 2013 como criadores da condição golpista. Afinal, ninguém sabe bem o que foi aquilo. Muitos explicam, mas permanece nebuloso. Acompanhei de perto entre meus alunos a mudança diária do tom do discurso.

    1. Manifestações “espontâneas”,

      Manifestações “espontâneas”, inicialmente homogêneas mas logo em seguida descambando para massas gigantestas, com reclamação única, irrelevante o bastante para que justifique o tamanho do protesto ou genérica demais, ou com múltiplas reclamações desconexas, tendo como “imprevisível” resultado a demanda pela queda do governo ou do sistema político, pululam há algum tempo em todos os continentes. Hong Kong, Ucrânia, Armênia, Venezuela, Equador, Líbano, Moldávia; somente para ficarmos em alguns exemplos mais recentes.
      O mais interessante é que as manifestações invariavelmente ocorrem em países adversários ou não alinhados à política norte-americana e muitas vezes são marcadas por algum simbolismo – camisas coloridas, guarda-chuva e quetais.

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