Gilson Peranzzetta e Mauro Senise: 25 anos de música e companheirismo

Por Aquiles Rique Reis

Antes de começar a teclar meu comentário sobre o CD Gilson Peranzzetta e Mauro Senise – Dois na rede (Fina Flor), peço a sua atenção, leitor, para uma coincidência. Se você leu a resenha da semana passada, não terá problema para entendê-la. Só que, em respeito aos que não leram, repito agora o que escrevi quando da resenha do CD Velha amizade, de Nailor Proveta e Alessandro Pennezzi.

“Quando meus ouvidos souberam que o clarinetista e saxofonista Nailor Proveta e o violonista Alessandro Penezzi estavam para gravar um disco, confesso que passaram a demonstrar grande inquietação, angústia até. Mesmo antes de ter o CD nas mãos, eles passaram a manifestar uma alegria quase acriançada. Sem atentar exatamente para o motivo de tanta ansiedade, ainda assim vivi solidariamente com ela.” Assim teve início a contenda: meus ouvidos versus eu.

A coincidência à qual eu me referi deu-se quando percebi que os meus ouvidos, diferentemente da vez anterior, já estavam eufóricos, antevendo o momento em que eu enfim ouviria Dois na rede. Pois eles já haviam se deliciado e intuído que Peranzzetta e Senise, juntos, só podiam fazer coisa boa.

Tentando me esculachar, eles, os meus ouvidos, cresceram para cima de mim. E a arrogância vinha, claro, do orgulho de terem sacado bem antes de mim que o álbum Dois na rede era coisa pra colecionador.

Apesar de sentir que eles já estavam tripudiando demais, fui forçado a dar o braço a torcer e curvei-me diante da verdade – mais do que isso, dei a mão à palmatória: o álbum do Perranzzeta e do Senise é mesmo arrebatador.

Gravado ao vivo no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro, o CD tem arranjos de Peranzzetta, ele que compôs cinco temas das 12 faixas. De quebra, ainda conta com alguns sucessos, como “Deixa” (Baden e Vinícius), “Só Louco” (Dorival Caymmi), “Zanzibar” (Edu Lobo) e “Jura Secreta” (Sueli Costa e Abel Silva).

Para começar, “Paisagem Brasileira” (GP), que tem uma levada contagiante. Alternando mudança de andamentos com momentos arritmos, os improvisos são ricos e permitem ao ouvinte sentir-se em Pernambuco. Uníssonos e duos chamam a atenção para a sonoridade que os instrumentistas imprimem, desde o piano de Peranzzetta à flauta de Senise. Meu Deus!

O CD expõe o virtuosismo tanto de um quanto do outro. E as dinâmicas patenteiam o quanto de ensaio foi necessário para obterem tamanha precisão. Assim o chavão nunca foi tão apropriado: eles “criam por música”.

E é pela música que os dois velhos amigos reencontraram-se para louvar 25 anos de parceria. Desabusados, fizeram ao vivo – tudo “de prima”: era tocar e gravar, sem efeitos, sem máquinas para corrigir defeitos.

Tudo acaba com “Dois na Rede” (GP), um frevo que reconduz o foco para o Nordeste. Então fica mais claro como o piano de Peranzzeta e a flauta e o flautim de Senise, impregnados de brasilidade e excelência, contribuem para a música instrumental consolidar o seu mais que merecido lugar ao sol na MPB.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do mpb4

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador