Integralismo e Estado Novo

Comentários ao post “O STF e a sociedade-espetáculo”

Por badriano

Caro,

A observação feita por Toffoli a respeito de Getúlio foi a seguinte, segundo o comentário de Nassif: “Ao contrário do que supõem os historiadores, dizia Toffoli, Getúlio de 1937 não era o fascista retratado pela história. Se não fosse o golpe do Estado Novo, os integralistas teriam vencido as eleições de 1938”. 

Seu comentário a respeito da errônea caracterização do Estado Novo como fascista está, evidentemente, correto. Perceba, aliás, que, de acordo com o relato de Nassif, teria sido o próprio Toffoli quem o afirmou. Como está correta a sua breve caracterização do período (ressalto apenas que não foi a Carta Constitucional de 1937, mas o decreto lei n. 37, aprovado posteriormente, que dissolveu os partidos políticos e levou ao putsch integralista, como bem salientou). Só que em nenhum momento os dados históricos que apresentou foram questionados: o que Nassif questionou, e me parece bastante pertinente, é a ideia de que o golpe de 1937 foi um mal menor diante da certeza de vitória eleitoral dos integralistas em 1938. 

O “historiador” Toffoli poderia ser mais preciso e detalhado a respeito de sua interessante “teoria do golpe preventivo contra a AIB” em 1937. Ainda que a AIB fosse, de fato, um movimento de massa, e que seguisse num crescendo ao longo da década de 1930, a afirmação de que “se não fosse o golpe do Estado Novo, os integralistas teriam vencido as eleições de 1938” é altamente imprecisa. Em 1935, a AIB, que mobilizava seus milhares de militantes, elegeu apenas 1 deputado federal. Nas eleições de 1936, foram 4 deputados estaduais e 20 prefeitos. Em 1937, 3 candidatos haviam lançado suas candidaturas: José Américo de Almeida, apoiado por todos os partidos situacionistas, pelo Norte e por forças tenentistas; Armando Sales de Oliveira, governador de SP e apoiado pelo RS de Flores da Cunha, e, por fim, Plínio Salgado. Não há estatísticas de preferência eleitoral, mas é evidente que afirmar categoricamente que Plínio Salgado tinha uma vitória garantida – contra 2 candidatos fortíssimos – é, no mínimo, um exagero. Se a vitória eleitoral estava diante dos olhos, porque apoiar e celebrar o golpe?

Na verdade, como é de conhecimento geral, a justificativa oficial para o golpe sempre foi a ameaça comunista, principalmente após o fracasso da intentona. O próprio preâmbulo da Constituição de 1937 faz menção ao comunismo e à necessidade de remédios “de caráter radical e permanente” (nenhuma menção è feita ao integralismo, evidentemente). Mas não seria exagero dizer que mesmo isso foi, até certo ponto, um pretexto: as causas do golpe são mais profundas, remetendo a uma ideologia autoritária anterior ao período, mas que muito se fortaleceria diante da radicalização política e do medo do comunismo. A autoritária e anti-democrática Lei de Segurança Nacional é de 1934; anterior, portanto, à criação da ANL e ao levante comunista. Desde a sua criação, em 1932, a AIB sempre manteve ótimas relações com Vargas, em cujo governo, antes e depois do golpe, havia muitos simpatizantes e até membros ou ex-membros da AIB. 

O argumento bizarro de Toffoli parece ser o seguinte: o golpe estado-novista em 1937 é ruim, mas foi um mal necessário, diante da certeza da chegada ao poder dos integralistas de Plínio Salgado. Troque 1937 por 1964 e a bizarria fica mais evidente… será que Toffoli também acha que o golpe de 1964 é justificável, diante do que muitos viam como a vitória iminente do comunismo, o outro “gêmeo totalitário”? (considerando, nesse caso, que o integralismo foi fascista, o que não é consensual).

Por Fernando C. Barbosa

Caro Nassif,

a observação a respeito de Getulio feita pelo Toffolli é conhecida de qualquer professor de História. Getúlio, no Estado Novo  (37-45),  era ditador e autoritário, mas Fascista não. Para ser Fascista seria necessário, entre outras características, ter um “partido único”. A AIB apoiou o golpe pensando que seria o partido único de Getúlio. Na constituição outorgada de 37 “a polaca”, Getúlio proibiu a AIB, provocando o “putsh integralista de 38”. Por não se apoiar em instituições e ter uma relação direta com as camadas populares, apesar de ser ditador, Getúlio criou, ainda no Estado Novo, as bases do “Populismo”.

Por FernandoC.Barbosa

Caro Nassif,

segue link abaixo que, acho, poderá esclarecer essa parte de nossa História.

http://www.editoraufjf.com.br/revista/index.php/locus/article/viewFile/9…

Basicamente, Getúlio enganou os Integralistas:

“O ponto máximo desta colaboração foi a marcha Integralista ocorrida em 1º de novembro
de 1937, cuja pretensão era ser, ao mesmo tempo, uma demonstração de força do movimento e de seu

apoio a Vargas.(…) Por sua vez, Hilton avalia que é exatamente o pouco êxito da marcha que estimulou Vargas a
esmagar o Integralismo: Vargas mandou colocar agentes nas ruas para contar os desfilantes e sua conta só chegou a 17.000, incluindo mulheres e crianças. ‘O  presidente assim descobriu que a força deles fora exagerada’, escreveu o embaixador norte-americano. ‘E que se agisse logo, poderia esmagá-lo’.

8 (…) Na preparação do golpe, Salgado teria oferecido sua milícia a Vargas, bem como o apoio dos militares integralistas.

 9 Na realidade,o apoio militar Integralista não era necessário e certamente não interessava a Vargas, uma vez que o tornaria refém do Integralismo. Assim, concretizou-se o golpe de Estado, sem maiores resistências e com o apoio Integralista. (…) O que torna compreensível a indefi nição de Salgado, mesmo após o decreto de 3 de dezembro que proibiu as atividades dos partidos políticos, dentre os quais as da própria AIB. Salgado tentou uma medida de conciliação, criando a Associação Brasileira de Cultura, através da qual pretendia congregar os integralistas sem assumir abertamente uma fi nalidade política, 18 mas esta foi igualmente proibida, assim como toda imprensa Integralista, ainda em dezembro de 1937. O cancelamento do registro da AIB foi complementado por “uma campanha sistemática contra os camisas-verdes. Sedes locais da AIB foram fechadas, reuniões impedidas e, em vários casos, membros do partido encarcerados”.

19 Chasin dimensiona a situação delicada em que Salgado se encontrava, pois Aceitar o ministério, nas circunstâncias, seria confi gurar verdadeiramente uma traição. Não aceitá-lo era confessar um malogro e assumir o papel de vítima de um engodo. A única alternativa quesobrou para Salgado foi continuar insistindo na mútua vantagem de uma articulação.

20 Desta forma, “apesar de ‘alijado’ ou enganado, mas sobretudo usado e neutralizado, Salgado ainda se empenha em manter as portas abertas para eventuais entendimentos com Vargas”.21 De acordo com Carone, “o rompimento de Plínio Salgado, mais tardio, dá-se em fi ns de janeiro de 1938. Antes ele procura desesperadamente se aproximar de Getúlio”.

22″ in: Os integralistas frente ao Estado Novo: euforia, decepção e subordinação.  Gilberto Calil

Locus: revista de história, Juiz de Fora, v. 30, n.1 p. 65-86, 2010.

 

Luis Nassif

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