Secretária de Cultura classifica píer em Y como ‘um absurdo’

RIO — O projeto do píer em Y que a Companhia Docas pretende construir na Zona Portuária foi classificado na quinta-feira como “um absurdo” pela secretária estadual de Cultura, Adriana Rattes. Ela demonstrou preocupação quanto à distância do futuro píer para o antigo atracadouro onde está sendo erguido o Museu do Amanhã. Adriana também ressaltou o impacto negativo que o píer poderá ter sobre o projeto Porto Maravilha, de revitalização da região:

— É um absurdo. Uma falta de visão da importância do projeto do Porto para a cidade. O Porto Maravilha talvez seja a experiência de intervenção urbana mais ambiciosa em curso no país, demorou décadas para sair do papel, gerando expectativa de atração de novos moradores, negócios e riqueza para a área. Um projeto que exigiu mobilização de recursos e energia dos três níveis de governo. Nada disso parece ter sido pensado ao se propor um píer desses.

Para a secretária, o píer em Y não apenas deverá “empobrecer a visão do museu”, como alimentar uma preocupação quanto à segurança do equipamento cultural.

— Os navios mais modernos são cidades flutuantes. A possibilidade de eles manobrarem a uma distância tão curta faz com que o leigo fique intrigado. Não sei se fizeram análise de risco, mas o senso comum diz que é preocupante — complementou.

Em seu ponto de menor distância, o novo atracadouro ficaria a 288 metros do antigo Píer Mauá, onde está sendo construído o Museu do Amanhã. A planta do projeto, incluída no edital de licitação da obra, mostra que, embora a base do Y fique a 500 metros do antigo atracadouro, o prologamento à direita do novo cais é bem mais próximo. O espaço marítimo para manobras é considerado arriscado pelo diretor do Clube de Engenharia, Luiz Carneiro de Oliveira, especialista em obras públicas. A prefeitura e o Sindicato dos Práticos do Rio de Janeiro também já haviam considerado a distância apertada.

— Esse Y comportando seis navios imporá dificuldades extremas para a manobra das embarcações. O projeto original previa apenas um píer perpendicular — afirmou Oliveira, que trabalhou na construção da Linha 1 do metrô e no emissário submarino de Icaraí.

Engenheiro aponta contradição

O presidente da seção Rio do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, comparou o projeto a uma “penca de bananas”, dizendo que o píer contraria toda a revitalização do entorno.

— A Praça Mauá está sendo projetada para ser cercada de museus. Em todo o mundo, o mar é para ser contemplado. Aqui teremos um impacto tremendo. Uma penca de navios, como uma penca de bananas. Urbanismo ao contrário — diz o presidente do Crea.

Guerreiro lembra ainda que a Avenida Rodrigues Alves está sendo remodelada para virar uma via expressa com túnel e um boulevard sobre essa pista subterrânea. O píer, onde está proposto, seria um contrassenso dentro da revitalização da região:

— É uma contradição do uso do espaço. Docas não pode trabalhar olhando para um lado e a revitalização para outro. Um projeto não enxerga o outro.

Na quinta-feira, O GLOBO procurou mais uma vez a Companhia Docas. Foram enviadas 11 perguntas à empresa, que se limitou a informar que se manifestará após o parecer do Iphan sobre o impacto do projeto na visão do Mosteiro de São Bento (um bem tombado), o que deverá acontecer em dezembro.

Redação

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