Sensatez e diálogo, por Chico Alencar

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Por Chico Alencar*


 

O PL 4330 não regulamenta a real terceirização do trabalho que há no Brasil, mas, sim, precariza relações e abre portas para se ampliar de 25% para 75% as estatísticas do trabalho terceirizado no país. Por isso, o adiamento e a discussão do projeto de lei revela sabedoria legislativa.

Não é aceitável que o presidente Eduardo Cunha afirme – pressionando o próprio Plenário – que, no caso da vitória da proposta de adiamento, ele recolocaria o projeto em pauta imediatamente. O que viria depois? Um novo pedido de adiamento seria feito, numa espécie de guerra insana que violaria a soberania do Plenário. Há que se ter sensatez e capacidade de diálogo!

É preciso lembrar sempre: o Parlamento é o espaço do conflito civilizado; da divergência, sim; do dissenso — isto é absolutamente fundamental —, mas no patamar racional.

O que estava se propondo com o adiamento da votação dos destaques do texto-base do projeto? Discutir, debater e aprofundar a compreensão de como esta proposição vai afetar a vida de todos os trabalhadores brasileiros.

O texto-base do PL da Terceirização foi aprovado contra o nosso voto. Que cada um assuma o seu voto, que cada um aceite a crítica em algum jornal sindical – ou o elogio, tal como ocorre na fantástica pesquisa distribuída pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em todos os gabinetes, tentando convencer os parlamentares e servidores de que quase 90% dos trabalhadores ouvidos por ela, a Fiesp, terceirizados ou não, defendem o projeto.

A realização da pesquisa pela Federação, com todo o aparato para sua publicação e divulgação, configura a imagem do patrão falando pelo operário – faz parte do jogo, não estou nem questionando a veracidade da pesquisa.

Transferir essa votação para 22 de abril, quando acontecerá novo round, não deve ser tachado como nenhuma manobra de protelação. Trata-se de uma posição política de conversa e de disputa de ideias para melhorar esse projeto que, como já sublinhamos, mexe com a vida do Brasil.

O PL da Terceirização trata das relações entre capital e trabalho, da garantia de direitos ou da precarização deles. Não pode ser apreciado com uma rapidíssima votação, como a que aprovou para o Conselho Nacional do Ministério Público o nome de um cidadão, que por acaso é advogado do PMDB, cujo currículo sequer foi distribuído, para nossa aferição. A gente não pode ter, no caso específico deste polêmico projeto, com mais razão ainda, essa celeridade inconsequente.

Que bom que a população se interessou, que a Fiesp e outras federações de empresários e as organizações sindicais, através de diversas centrais, estão se manifestando, estão olhando para o Parlamento.

A gente se ilude. Acha que a multidão – que o povo – está assistindo à Câmara. Não costuma estar. Mas há momentos em que o olhar da sociedade se volta para nós, pela importância da matéria.

O que se pedia – e que, felizmente, foi decidido positivamente – foram mais seis dias úteis de trabalho legislativo para o debate. Não aceitar isso caracterizaria intransigência e autoritarismo, além de irresponsabilidade com a própria produção legislativa, com os trabalhadores e até com os empresários que não desejam explorá-los. Suponho que existam alguns.

* CHICO ALENCAR É DEPUTADO FEDERAL (PSOL/RJ), LÍDER DO PARTIDO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

14 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O tempo do diálogo acabou. A
    O tempo do diálogo acabou. A hora de morrer para as bestas feras, nazistas, racistas, ladrões e canalhas da oposição está chegando!

  2. Não sei o que discutir sobre

    Não sei o que discutir sobre terceirização. Os exemplos já estão aí. O empregado ganha menos, trabalha mais, fica menos tempo no mesmo emprego, a qualidade do serviço é inferior. É o inferno. Muito me admira esse deputado do PSOL ainda querendo dialogar. Ou caga ou sai da moita.

    1. Já saiu da moita há muito

      Já saiu da moita há muito tempo. O Psol é contra o projeto. Ele está falando de diálogo no Legislativo, e não imposições de prazo por passageiros presidentes da câmara. Não parece tão difícil de entender.

      1. “Transferir essa votação para

        “Transferir essa votação para 22 de abril, quando acontecerá novo round, não deve ser tachado como nenhuma manobra de protelação. Trata-se de uma posição política de conversa e de disputa de ideias para melhorar esse projeto que, como já sublinhamos, mexe com a vida do
        Brasil.”

        Se ele quer melhorar esse projeto, entâo ele não é contra,  aceita, desde que haja mudanças. Pra mim continua na moita.

        1. De acordo com esse

          De acordo com esse raciocínio, quando o ministro da fazenda vai negociar que o projeto preveja o recolhimento de encargos pela empresa contratante significa que o governo aceita o projeto . O governo está na moita também ? Isso nem é mais moita, é um matagal.

          1. Governo e partido de oposição.

            Como igualar dessa forma a situação de um e de outro, governo e oposição, se o governo estiver sem margem de negociação, sangrando e imprensado contras as cordas?

            Não sei, desculpe-me, mas tenho tenho a impressão de que seu argumento pode caracterizar um sofisma.

  3. Bla,bla, bla. Bem típico

    Bla,bla, bla. Bem típico desses psolistas oportunistas e traidores da esquerda nos momentos mais importantes e decisivos. Outro cínico cpieiro contra a esquerda..

  4. A natureza da ambição empresária

    Infelizmente, a terceirização está sendo levada à legislação em vários países do mundo. a natureza da ambição empresária pode ser comparada à um virus. Não sei se alguém já reparou, mas não existe vacina efetiva contra os virus, pois mesmo que ela seja criada, após pouco tempo, o virus muda de forma, pois ele é mutante, e assume outra forma com o mesmo nucleo.

    Este projeto de tercerização é uma forma modificada para a escravidão legalizada. Mesmo que pudessem barrar o projeto lei, logo na frente eles modificam e tentam passar com outra roupagem, outro nome o mesmo projeto. Um pequeno vacilo na vigilância e eles passam, aprovam. assim fizeram com o novo código florestal (?).

    A natureza da ambição do empresário, também pode ser comparada aos rio caudalosos. Se alguém tentar barrar um rio destes, ele sobe, arrebenta a barragem e acaba por achar uma brecha, mais cedo mais tarde. É preciso isto sim, direcionar esta ambição por caminhos produtivos.

    Por exemplo, poderia-se criar uma legislação barateando bens de produção, através de isenção de impostos. Mas isto já deveria ter sido feito na época do Pibão. Agora fica complexo, fazer isto com o Governo que está com  as contas no vermelho.

    Através do barateamento de bens de produção, permite-se aumentar a produtividade por funcionário, automatizando cada vez mais linhas de produção. Isto não só aumentaria os lucros do empresário ( e o manteria entretido por algum tempo sem pensar em tirar direitos do trabalhador), mas também iria alavancar a nossa produção industrial que está em queda, e baratear preços, abaixando a inflação. Poderia ser até a nossa tábua de salvação numa crise economica.

    Tudo isto sem gerar necessariamente um único posto de trabalho tercerizado.

  5. Termômetro para medir a

    Termômetro para medir a ignorância política e a estupidez ideológica.
    Suponha que você acabou de inventar um aparelho capaz, não de matar, mas apenas de paralisar um país, pergunta-se:
    A qual país usted entregaría este aparelho?

    1) EE.UU.
    2) China
    3) Russia
    4) India
    5) Mexico
    7) Cuba
    8) Venezuela
    9) Brasil

    10) Não entregaria a nenhum país. Você o destruiria.

    1. Ou… escrito de forma mais bem elaborada:

      Teste para medir seu conhecimento político, sua honestidade intelectual, sua capacidade de inferência e prevenção quanto ao futuro e/ou seu posicionamento ideológico.
      Suponha que você acabou de inventar um aparelho capaz de, sem causar a morte de ninguém, paralisar um país inteiro. Pergunta-se:
      Dos países listados abaixo, a qual deles você entregaria gratuitamente seu invento?

      1) EE.UU.
      2) China
      3) Rússia
      4) Suiça
      5) Cuba
      6) Venezuela
      7) México
      8) Brasil
      9) Não entregaria a nenhum país do mundo. Você o destruíria.
      10) Agora, por favor, justifique sua resposta.

       

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador