Bolsonaro dobra a aposta. Pode dar certo?, por Ricardo Cappelli

Mandetta já adotou um tom completamente diferente na coletiva deste domingo. Relativizou perigos, mostrou preocupação com a questão econômica e até atacou a China.

Bolsonaro dobra a aposta. Pode dar certo?

por Ricardo Cappelli

Com o país paralisado pelo coronavírus, o presidente foi para o “tudo ou nada”. Partiu para o ataque e acusou os governadores e a mídia de estarem quebrando o país e gerando milhares de desempregados com um pânico desnecessário e premeditado. Vai dar certo?
Depois de ser atropelado pelos fatos nos lances iniciais, o Capitão parece estar reagrupando seu exército e redefinindo sua estratégia. Dobrou sua aposta e resolveu colocar todas as suas fichas duas casas adiante.
O que será pior, as mortes causadas pelo vírus ou o drama social causado pela paralisia econômica?
Se vidas forem ceifadas na mesma proporção do quem vem ocorrendo no norte da Itália, o presidente e boa parte do sistema político serão tragados pela tragédia. Cadáveres costumam enterrar carreiras política de sucesso.
Junho de 2013 engoliu quem estava no poder e quase todo o establishment político do país, abrindo caminho para a ascensão da extrema-direita.  Abril de 2020 pode engolir a extrema-direita e novamente enterrar o sistema político, abrindo um novo e imprevisível buraco.
Um estudo de Oxford indica o Brasil e a Nigéria como as maiores catástrofes causadas pelo coronavìrus. Prevê a morte de 478 mil pessoas em nosso país. Não precisará tanto. A imagem de caminhões do exército retirando centenas de corpos já será suficiente para um terremoto político.
Mas, e se isto não acontecer?
Guilherme Benchimol, da XP, afirmou que a epidemia pode causar o desemprego de 40 milhões de pessoas.  Uma verdadeira hecatombe. De quem será a responsabilidade por esta tragédia igualmente dramática? Do vírus? Dos governadores? Da mídia? O Capitão já começou esta disputa.
Mandetta já adotou um tom completamente diferente na coletiva deste domingo. Relativizou perigos, mostrou preocupação com a questão econômica e até atacou a China. Dizem que Osmar Terra estaria pronto para assumir o seu lugar.
A Globo também enquadrou seu exército para a briga. O “autodesmentido” de Drauzio Varella foi constrangedor. Se em janeiro o vírus não era tão letal, todo mundo podia circular normalmente, o que mudou agora?  Uma mutação ampliou a letalidade? O médico deveria ter dito que errou. A opção pelo meio do caminho contaminou sua reputação.
Globo e Bolsonaro travam uma luta de vida ou morte. Mandetta e Drauzio são as primeiras vítimas da guerra pelo poder. Os fuzileiros saem na frente e normalmente levam os primeiros tiros.
Se as mortes não vierem na quantidade esperada, a mídia e os governadores dirão que foi em função das medidas tomadas à revelia do governo federal.
Bolsonaro vai chamar todos de irresponsáveis por propagarem o pânico. Dirá que o resultado comprova sua tese de que era uma “gripezinha” e chamará todos de sabotadores do país.
A percepção da crise e as formas de enfrentá-la são diferentes. A classe média consegue ficar em casa no seu confinamento sem muitas dificuldades. E o povo? Como é ficar confinado num cômodo onde moram oito pessoas? Como fica o sustento sem o dinheiro circulando?
Vida ou morte para a maioria da população sempre foi um detalhe, infelizmente. Tragédias pessoais e perdas por doenças, assassinatos e outros motivos evitáveis fazem parte da rotina desde cedo. O que vai falar mais forte, o medo da morte ou a fome?
Acuado pela perda de popularidade na classe média e ridicularizado no planeta por assumir o papel de menino de recados tresloucado de Trump, Bolsonaro decidiu fazer sua aposta mais irresponsável e arriscada.
Pode funcionar?
Redação

6 Comentários

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  1. Mandetta deixa de lado o pouco de racionalidade em torno do problema pra se alinhar ao discurso suicida do governo.
    Contrariando o que eu escrevi ontem, estamos num Capitalismo de Desastre.
    É bom prestarem atenção. O governo vai promover mortes e… lavará as mãos.

  2. Covardia. Não há como definir de forma diferente as ações do ocupante da cadeira da presidência da república.
    Tudo que esse sujeito faz é covarde. Desde as eleições,quando se escondia dos debates ou atrás de seu posto ipiranga. No governo não tem sido diferente,sempre apostando no ódio e na virulência para esconder sua incapacidade administrativa e falta de plano de governo.
    Ao dobrar a aposta dará certo?Precisamos ver o que é certo. Evidente que um caos econômico PODERÁ trazer consequências seríssimas. Já o caos sanitário TRARÁ consequências seríssimas.
    O governo,mais uma vez,se esconde de suas responsabilidades. Caberia a ele,neste momento,coordenar as ações para que a pandemia não se espalhasse e,ao mesmo tempo discutir formas de trabalho que possibilitassem minimamente o sustento das famílias,com trabalhos como o home office ou,quando necessário o presencial,e será (não podemos esquecer que quase todos os produtos consumidos por nós passam por algum processo de industrialização e logística) que se tomem todas as medidas possíveis e imagináveis para a contenção do vírus.
    Não é hora de pensar em lucro dos empresários e nem na situação fiscal do país. O maior prejuízo que pode existir é o desemprego que inequivocamente paralisará a economia,sobrecarregará o Estado e implantará o caos como nunca visto. Não é uma questão financeira.É uma questão de sobrevivência da própria sociedade.
    Não podemos pagar para ver.O governo não está aí para isso.
    O sujeito disse que pode estar errado. A pergunta que ele deveria fazer é:E se estiver errado? As medidas que estão tomando os governadores podem estar erradas. E se estiverem erradas?
    Parece claro que se a medida tomada pelo governadores estiver errada a reversão pode ser rápida . E se as medidas que estão sendo tomadas (ou não tomadas) pelo sujeito estiverem erradas? Há alguma possibilidade de reversão da morte?
    São questões que a sociedade precisa colocar em discussão.
    Também,não há a menor possibilidade de qualquer discussão econômica sem colocar os trabalhadores na mesma mesa em que se encontram os patrões e o governo.
    É uma situação complexa porque, desde a sua existência,o sujeito parece que não tem aptidão para buscar o consenso. Se prelo menos fosse alguma sumidade que dispensasse esta discussão,vá lá mas,segundo as palavras do próprio,ele é uma nulidade. Não sabe nada,não conhece nada. Se escora no pior das pessoas que,de forma hábil,nossa mídia golpista,soube como poucos extrair de cada um.

  3. Orientação x Distorção. Há uma guerra silenciosa de informação nas bases. No chão da periferia. Principalmente entre as pessoas mais pobres. Pastores neopentecostais e lideranças ultra reacionárias obscurantistas estão dizendo que há exagero, que é histeria, que estão querendo derrubar o presidente, que é coisa da globolixo, que não precisa parar de ir à igreja, nem de levar a vida. O embate é de saúde pública, de políticas sanitárias, mas também é uma luta de projetos políticos e eleitorais. Os que investem no negacionismo resistem em aderir ao enfrentamento firme da doença, achando que isso pode parecer se juntar ao pensamento de esquerda, ao petismo, ao ateísmo e aos inimigos do Exército, dos militares e do chamado povo de Deus. Isso está levando grande parte dos pobres a perceber a doença como uma ameaça menor e com isso construir pra sua rápida disseminação.

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