Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Agricultura dos pobres, por Rui Daher

A primeira ocupação do MST

Agricultura dos pobres

por Rui Daher

em CartaCapital

GGN: em 1985, o MST, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, fez sua primeira ocupação. O local estava marcado por um fusca vermelho. Caminhões chegavam ao local carregados de homens, mulheres, crianças e seus poucos pertences. À frente seus 9 mil hectares de sonhos na improdutiva Fazenda Annoni. Brigadianos estranhavam o fusca vazio. Na mata, o grupo invasor, escondido, temia. Eram mais de 4 mil pioneiros sociais. “Isaías Vedovatto, um guri magro de 19 anos, segurava o alicate nas mãos trêmulas para cortar o arame que separava os 9 mil hectares da Fazenda Annoni do sonho daquela gente. “Não passava nada pela cabeça. Só queria cortar a cerca de uma vez”.

CARTACAPITAL:

Nesta coluna uso tom agressivo, mais comum em outras publicações onde escrevo. Vez ou outra, deixo-o escapar em CartaCapital, em progressão rumo a reportagens factuais e menos a opiniões de analistas que vão à lupa. Explico: para mostrar essa dicotomia pouco adianta usar a lupa à direita ou esquerda. São equívocos iguais a me enfurecer.

Acabo de voltar dos interiores de São Paulo e Minas Gerais. No sagrado domingo, embora sem missa, procurei atualizar-me no que, na semana, se escreveu nas folhas e telas cotidianas sobre agropecuária e agronegócios. Separei-os por ter cansado de escrever que apenas diferem em agregação de valor. Um existe por si próprio e o outro sem o primeiro nem entra em campo. Vale dizer, como extração de minério e fábricas de parafusos.

O que vi? O mesmo Brasil que vocês veem. De pobreza, confuso, sem perspectiva, de “fracasso em fracasso”, como no samba-canção.  Tanto faz quem sabia aonde iríamos chegar e os esperançados no impeachment de Dilma Rousseff. Fomos todos vítimas da mesma engrenagem que nos amputou pernas, direitas ou esquerdas. E os fracassos trouxeram as desilusões e nos fazem conduzidos por indecisões e interrogações.

Quem virá? Só nele acreditamos? Mas um só? Ou ninguém? É quando desilusão vira desespero. Pela frente, política atrelada aos moldes Temer; economia ao frívolo Meirelles, contramão do planeta; a camarilha corrupta que permanecerá em Brasília e em outros rincões da Federação de Corporações, eleita por votos de cabresto, pois quem somos nós para saber o que ocorre neste extenso território?

Do mesmo lado da reação ao desenvolvimento com perfil social, um juiz de piso, camisa preta, lábios finos, que em suas perseguições não respeita nem mesmo tribunais superiores a ele. Folhas e telas cotidianas, decrépitas, grandes e quebradas em ignorâncias negociais, a que restam acordos espúrios para assassinatos de reputação.

Pergunto em vários rincões como viviam quando na época do presidente preso em Curitiba. Poucos reconhecem a vida melhor. Grande parte se esquiva. “sabe, o tríplex, o sítio em Atibaia, os pedalinhos, tudo no nome da falecida ex-primeira-dama, Dona Marisa Letícia; o prédio da ESALQ e do filho, Lulinha. Era melhor a vida, mas não precisavam roubar”.

E assim sigo os caminhos, faço visitas a lavouras e palestro. Diabético, recuso-me melindrar quem à minha frente e aceito o café melado de Minas Gerais. Finjo tomar tudo. Antes de deitar, aumento dois graus no índice de insulina. Se tomei alguma cachaça, aumento quatro.

O tempo todo, conto-lhes como estão sendo explorados pelos fabricantes multinacionais, cada vez mais concentrados, desde o momento do plantio, durante os tratamentos nutricionais e fisiológicos necessários, suas mortes primeiras vêm com os insumos agrícolas. Mais tarde, feita a colheita, com a venda de seus produtos, commodities ou não.    

Ouvem-me. Parece. Percebo que aumentam aqueles que concordam. Mas, infelizmente, a maioria teme a mudança. Nisto, ajudam imposições de cooperativas, agrônomos convencionalistas e técnicos agrícolas que não se atualizam.

Muitos de nós, no lugar deles, talvez, fizéssemos o mesmo. Dependendo se a cultura é temporária ou permanente, o tempo é muito curto para ver sucesso ou fracasso. Não podem errar. Quem os ajudará? Bancos, governo, o inominável pré-candidato armado?

Com razão. Como estará o mercado ao final da colheita? Os preços de vendas? Os fretes (estúpido tabelador Temer)? Se alta a oferta, conquistada à base de produtividade, serão os mocinhos da inflação JN. Se o contrário, seus vilões.

A proteção está durante o ciclo das lavouras através de tecnologias nacionais mais baratas. Não temam usá-las.

Leitores e leitoras, a manutenção da taxa de inflação, divulgada por Temer e Meirelles, afiançada por seus asseclas economistas neoliberais e pela mídia reacionária, é mentira da grossa. O truque da “estabilização” é mantido pela oferta de quem planta para um consumo estagnado ou em queda, pelos desemprego e baixos rendimentos determinados pelo ilegítimo governo atual.

Optem pela mudança. Minha AK-47 está preparada para textos e ações. Não há outra saída. Pensem e ajudem ao Brasil. De quem precisávamos, não teremos a liberdade.    

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

5 Comentários

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  1. Convenhamos  ..os movimentos

    Convenhamos  ..os movimentos SOCIAIS, mesmo passado LULA e DILMA, NÂO, não conseguiram demonstrar pra sociedade projetos factíveis de produção no campo com uso intensivo de M.O.  ..é triste, mas imagine com a robótica o que ainda virá ? ..tudo sem condutor, nem motorista, nem coletor, nem estoquista

    Queiramos ou não, IMPOSSÌVEL negar o aumento da expectativa de vida e da saúde das pessoas, APESAR DOS VENENOS depositados na comida

    ..e como duvidar do modelo americano “exitoso” nos mostrado todo santo dia por tudo quanto é mídia ? ..isso enquanto NADA sabemos do Uruguai, da Argentina, enfim, do LESTE etrupeu, da Asia e dos nosso vizinhos  ..agora, por acaso os ditos “progressistas” conseguiram, em união, nos prover de algo alternativo e mais proficuo? (imagine, a maioria esta se afogando na própria VAIDADE  ..e falta de grana)

    Incompetência de cá, mentiras de lá  ..e o povo desorientado, desacreditando até nas suas próprias conquistas e memórias, COVARDE e cético por natureza (talvez por tanta bola levada nas costas) ..sequer consegue se lembrar dos anos MARAVILHOSOS, de paz e orgulho – de esperança num futuro – vividos com o IMENSO, o grande, LUIZ INACIO LULA da SILVA

    1. Romanelli,

      creio que minha resposta para a Maria Luisa, em parte, serve para você. No mais, além de ter visitado núcleos do MST altamente produtivos, mas de que ninguém nunca saberá, pois não são conhecidos e divulgados, escrevo sobre “pobres” agricultores independentes que vivem em suas próprias ou arrendadas terras há décadas. Hoje em dia, não têm mais como sobreviver. 

      Mas a soja e o dólar são tech, pop, tudo, enfim. Puta burrice geral; desculpe-me, disse estar com o saco cheio. O Nassif escreve hoje sobre o que está acontecendo.

      Abraços 

  2. Trabalhando a terra, entornando o vinho

    Eh, Rui, a saida para os agricultores pobres é à esquerda mesmo, mas a população desorientada propositadamente vai cavando e bem fundo o proprio buraco.

    “Se, de repente

    A gente distraísse

    O ferro do suplício

    Ao som de uma canção

    Então, eu te convidaria

    Pra uma fantasia

    Do meu violão”

    1. Maria Luisa, minha cara

      Vejo isso, praticamente, todos os dias e cada vez pior. Minha próxima coluna, na Carta e depois aqui reproduzida, será sobre a situação de penúria que vivem agricultores, independentes de MST, mas tenho, por democrático, ler e responder opiniões como a que aparece acima do seu comentário.

      Não sou APENAS um ativista político de esquerda, mas também um empresário do setor agrícola que estagnou depois do golpe 2016, perdeu 25% do faturamento nos últimos meses e há três dias não vê entrar um caminhão para carregar na fábrica.

      Sabe o porquê, Maria Luisa? Produzem, mas não têm para quem vender. A inflação que dizem controlada é por que indústria, comércio e serviços estão estrangulados pela política econômica.

      E vem um carinha falar de como o agro está supimpa. Sim, a soja com o dólar nas alturas, e mais coisa nenhuma. A culpa? Do MST.

      Desculpe-me o desabafo. Estou de saco cheio como “esquerdopata” e preocupado como empresário.

      Abraços.

       

  3. ESQUERDO-FASCISMO. 88 ANOS DE SUCESSO

    Depois de já ter recebido 1 Estado do Paraná em terras, e isto não significar aumento nem mesmo mediocre, na produção de Alimentos e produção Agropecuária, Stédile declara: – O Movimento não é para produzir alimentos. É para produzir uma revolução através do campo. Explica em demasia o conluio de Elite Esquerdopata com Golpe Ditatorial Fascista de Quartéis Militares em  1930. E perpetuação e preservação desta estrutura até os dias de hoje. Então Golpismo, Quartelada, Ditadura em muito interessavam. Como interessa a perpetuação fascista do Voto Obrigatório. Ontem neste mesmo veículo, outro Articulista afirma que para alguns Porto Rico e Brasil se equivalem. Para nossas Elites Progressistas, com certeza. O Maranhão tem a àrea de Suiça e Italia juntas. Nem de perto estes dois países tem a água, o sol, as terras, o clima, as condições favoráveis do MA. Mas juntos tem 70 milhões de habitantes. O Maranhão não tem nem 7 milhões de habitantes. 10% daquelas populações. Em 1985, este estado não tinha nem 4,5 milhões de pessoas. Falta gente para trabalhar em tamanho território. E não o contrário. Nunca tivemos falta de terras ou falta de acesso à ela. Tivemos sim, um sucesso estrondoso de quase 1 século, de uma estrutura política que dominou este país, dividindo o poder entre forças de esquerda, coronelismo e quartéis militares. Não à toa esta Elite de Coronéis que ascende com o Fascismo é representada por décadas por figura como José Sarney. Um dos mais combativos defensores de Lula. Outro produto fascista de Sindicatos Pelegos de Contribuições ditatorialmente obrigatórias. Mas vamos fingindo que são diferentes.    

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