Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Estaria Kátia Abreu sendo traída por seus apóstolos?, por Rui Daher

Kátia Abreu

Por Rui Daher

Nesta semana, ficamos sabendo de mais um óbvio dos que apoiam o golpe contra a Constituição democrática brasileira. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) declarou apoio ao impeachment de Dilma Rousseff.

Óbvio sem motivo não deveria ser óbvio, mas este é. Como impeachment não é golpe, mas este é.

Se muito redundo é porque conheço interesses e anseios históricos da CNA. De pífios a inconsistentes, os motivos para o apoio, declarados em nota oficial, se aparentam com um “não vou com a sua cara e meus amigos também”.

No arrazoado, primeiro, se amasiam com “os representantes dos produtores rurais em todo o País e em consonância com a sociedade brasileira”.

Estranha abrangência essa. Marginaliza amplos contingentes da população que assim não pensam. O que é sociedade para a CNA? Seus sócios?

Depois, com a sobriedade analítica que lhe é peculiar, desfila levezas (mais correto leviandades): “reiterados erros de política econômica … mostras de não reconhecer nem compreender a verdadeira natureza dos problemas que afligem o país … sem autoridade política para liderar o processo de reformas”.

Julgamentos de valor lambidos no esterco da manada.

Na esteira, em declarações esparsas, critica a ministra da Agricultura Kátia Abreu, ex-presidente da entidade, velha amiga e companheira, atual desafeta.

Tivéssemos esperança de lá encontrar algum microrganismo benéfico à agropecuária, relevaríamos a posição como simples falta de memória. Afinal, como disse o genial escritor brasileiro Ivan Lessa (1935-2012), “a cada 15 anos, o Brasil se esquece do que aconteceu nos últimos 15 anos”.

Com exceção das décadas de 1960 e 1970, “nunca na história deste País” foi dado tanto apoio à atividade agropecuária e, em consequência, ao agronegócio, como nos governos Lula e Dilma. Aliás, quem vive se lambuzando em transgênicos deveria lembrar quem os autorizou.

“Memoriol”? Como se comportaram em relação ao campo os governos Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique Cardoso? Esses não praticaram “reiterados erros de política econômica” ou mostraram “não reconhecer (…) a verdadeira natureza dos problemas que afligem o país”?

Vamos! Andem, corram às estatísticas. CONAB, IBGE, IPEA, MAPA, está tudo lá. Ver-se-ão no espelho de 10, 15 anos atrás.

Não foram apenas os bons ventos dos preços das commodities e o reconhecido trabalho no campo que construíram a atual riqueza ruralista. Digamos que vocês mereceram, mas não só.

Recursos de financiamento a taxas favorecidas foram fartos, reformulações no seguro rural, incentivos para investimentos (inclusive de caminhões e máquinas agrícolas), ações externas junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), apoio à diversificação comercial para novos mercados, forte limpada de barra no exterior da imagem do Brasil na área ambiental, manchada sabemos muito bem por quem.

Mesmo se sairmos da visão Paulinho da Viola, lá do alto, e passarmos à lupa, embora menores e com fartas deficiências, também algumas franjas foram devolvidas a quem muito devemos, agricultura familiar, assentamentos, aldeias indígenas e quilombolas. Mas estes a soberba Confederação não crê existirem.

Senhora Confederação, ao apoiar o impeachment não considere representar toda a sociedade. Muita força de trabalho, donos de recursos produtivos, inteligência e organizações não corroboram seus desejos. A senhora e seus porta-vozes têm histórico de parcialidade, olhos em interesses individuais e corporativos, extermínio de parte de nossos recursos naturais e biodiversidade.

Lembro de ter sido execrado quando defendi a opção de Dilma Rousseff em dar o ministério da Agricultura para Kátia Abreu. Apesar de várias divergências, sabia ser ela do ramo, competente e lutadora. Escrevi que estando Patrus Ananias no Desenvolvimento Agrário, fariam boa dobradinha.

A Confederação acha que não e segue a manada. Percebo certo masoquismo burro. Pede a volta do projeto neoliberal que durante duas décadas massacrou as atividades agrícola e pecuária.

E, por favor, não me venham com “o bem do Brasil como um todo (sic) ”. Sei muito bem qual o “todo” de vocês. Caso de parodiar Marina (a Lima, não a Silva): “mesmo que estes homens e mulheres sejamos nós”.   

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

19 Comentários

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  1. sou produtor rural

    sou produtor ruarl, pago a contribuição da CNA. SOU CONTRA O GOLPE.

    querem tanta liberalidade, me liberem de pagar essa contribuição. ou imposto bom é só o que pobre paga, ehin CNA, diretoria.?

    Estou com KATIA

     

    1. Marcelo,

      em vários artigos cansei de perguntar por que o agricultor deveria pagar contribuição para a CNA. O que fazem pelo agricultor que tenha impacto na atividade? Como falo no texto. Precisa-se ir muito atrás para encontrar período em que a agropecuária foi tão favorecida.

  2. Não deixe…
    Que sua falta de inteligência promova a cizania na base!

    PSDB não é CNA! Foi ato do PSDB com seguranças armados de determinada empresa.

    Identifique as forças!

    Obviamente que quem não abandonar Dilma será alvo de pesados ataques. As esquerdas tem que estar atenta a atos de sabotagem, como este.

  3. O caso dessa confederação é

    O caso dessa confederação é muito mais que burrice. É o velho caso dos dois neurônios, um está em curto-circuito, o outro queimou a válvula.

    Julgamentos de valor lambidos no esterco da manada. kkkkkkkkkkkkkkkkkk………….(impagável!)

  4. Nestas alturas dos

    Nestas alturas dos acontecimentos, pra quem nunca teve muita simpatia por essa ministra, que sempre foi muito esperta, é bom que se admita ela poder manter-se no governo como uma delatora, 

  5. A impressão que dá é

    A impressão que dá é exatamente o contrario. A delegação politica de Katia Abreu foi construida sendo ela representante do agronegocio no Senado e foi a partir dessa representação que foi eleita presidente da CNA. Depois dessa trajetoria Katia Abreu se tornou amiga da Presidente Dilma e foi na esteira dessa amizade que foi nomeada pela Presidente como Ministra da Agricultura,  indicação pessoal da Presidente, tanto que o PMDB nunca a considerou como “cota” do Partido.

    No momento do redesenho de forças politicas em dois campos, Katia ficou no campo da Presidente, pela qual está no Ministerio e nem poderia ser de outra forma, foi leal à Presidente. Mas pelo mesmo motivo perdeu a delegação representativa da CNA e do PMDB, ambos retiraram sua delegação por não a conisderarem mais sua representante politica.

    É tudo perfeitamente normal e previsivel, em politica não poderia ser de outra forma, não vejo onde está a estranheza.

    1. André,

      não percebeu ser essa uma crítica expressa à CNA, a.K. e d.K? Vou mal, então. O desejo e o destino de Kátia foi selado quando se tornou amiga de Dilma e foi para o PMDB e ministério: governar o estado do Tocantins.

      Até desconfiei, mas ingênuo, acabo de aprender que “em política não poderia ser de outra forma”.

      1. Meu caro Rui, em politica

        Meu caro Rui, em politica alguem sempre representa um conjunto de forças, ninguem é delegado de si mesmo.

        Katia está na politica não por algum merito pessoal especialissimo e sim porque se apresentou como representante de seus colegas do agronegocio. No momento em que abdicou dessa representação para ser amiga da Presidente perdeu as credenciais pelas quais foi apoiada e eleita.

        Não estou sequer entrando no merito de sua mudança de trincheira mas analiso a realidade  e as consequencias de sua ção.

        Não tenho qualquer amor à CNA com quem me confrontei em tribunal por causa da escorchante e absurda “contribuição anual” cobrada de cada agricultor sem qualquer contrapartida e cujo destino desconheço.

        Mas apenas me dbruço sobre a realidade politica, Katia tinha uma procuração do seus colegas e passou para aquilo que eles acham o outro lado, é obvio que não iriam tolerar, sem entrar no merito, aconteceria com qualquer um.

        1. André, caro

          Há vários pontos de concordância no que pensamos e uma divergência: Kátia não passou para o outro lado e nunca passará. Foi oportunista como sempre, o que a fez atingir vários de seus objetivos. O próximo é o Tocantins, de onde voltará para tocar o berrante com o ideário político da CNA. Quando apoiei sua nomeação para ministra, embora fazendo restrições, reconhecia seu conhecimento do setor em vista do analfabetismo de seus antecessores (exceção a Roberto Rodrigues, no Lula 1).

      2. Meu caro Rui, em politica

        Meu caro Rui, em politica alguem sempre representa um conjunto de forças, ninguem é delegado de si mesmo.

        Katia está na politica não por algum merito pessoal especialissimo e sim porque se apresentou como representante de seus colegas do agronegocio. No momento em que abdicou dessa representação para ser amiga da Presidente perdeu as credenciais pelas quais foi apoiada e eleita.

        Não estou sequer entrando no merito de sua mudança de trincheira mas analiso a realidade  e as consequencias de sua ção.

        Não tenho qualquer amor à CNA com quem me confrontei em tribunal por causa da escorchante e absurda “contribuição anual” cobrada de cada agricultor sem qualquer contrapartida e cujo destino desconheço.

        Mas apenas me dbruço sobre a realidade politica, Katia tinha uma procuração do seus colegas e passou para aquilo que eles acham o outro lado, é obvio que não iriam tolerar, sem entrar no merito, aconteceria com qualquer um.

  6. Boa Rui

    Bom, a direita rural não pisa na terra, vc bem sabe. Em Lucas do Rio Verde (MT), cidade de 10 mil habitantes, há lojas do Boticário, inglês do CNA, restaurante exclusivos etc, para quando não houver tempo de viajar a Cuiabá ou Miami.

    Não basta a fartura de crédito e demais benefícios muito bem mencionados por vc. A direita quer sempre mais. Deflorestaram o Código Florestal, mas tiveram que engulir a regulamentção das terras por meio do CRA, para poder continuar mamando nas tetas do Governo na boa. Aí descobriram que suas terras iam além das escrituras e eles dizem que não sabiam. Descobriram tb que detonaram a reserva legal e as matas ciliares e que terão que obrigatoriamente recupera-las, e eles dizem que não sabiam.

    E dá-lhe bronca na Dilma… a Rainha Má. Esta é apenas mais uma vertente da hipocrisia soberba dos tempos atuais…

    Abraço !!

    1. estará Katia Abreu

      Caro Sr. André Araujo, sua posição foi perfeita. Ou existe político ou país sem interesse? Na Terra da Inocência acredita-se que a GM dará seus melhores empregos a nós brasileiros e não aos norte americanos, filhos da sua terra. Ou a VW ou a Volvo? Katia Abreu é séria candidata a futura presidenta do Brasil. Está mostrando muita capacidade para isto. Sr. Sérgio SS: Sabe o que tinha em Lucas do Rio Verde antes do agronegócio. Não tinha nada.  Tinha indio? Em SP também tinha, então vamos abandonar a cidade e devolvê-la.  Alias existiam uns paulistas perdidos criando gado. Pra o povo da cidade, que não vive sem churrasco no final de semana, os famosos “gigôlos de vaca”. Antes do agronegócio, uma criação de gaúchos, paranaenses, catarinenses e pailistas pobres, brasileiros como você, que abandonaram tudo pela própria sorte, antes de se tornaraem os famosos “latifúndiarios” e chegarem a Goias, Tocantins, Piaui, Bahia, Mato Grosso. Mato Grosso do Sul, Rondonia, Roraima, Pará, Acre, Maranhão, sabe o que tinha nestes lugares? Coronel, leschmaniose, chagas,  lepra e pobreza. E Sudam e Sudene parasitando a miséria dos seus habitantes. E o povo da esquerda parasitando igualmente para criarem uma carreira política. Esta que está aí, se esvaindo na sua competência e honestidade. Ainda bem que tem gente que trabalha o dia inteiro,  de segunda a segunda, para produzir alimentos e dinheiro, para gente estúpida ficar criticando e gente esperta inventar impostos para se sustentarem. O que seria do Brasil sem eles?

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