Etanol, produção Brasil-EUA: visões estratégicas e incompetências tupiniquim

Do blog engenho network

Etanol, produção Brasil-EUA: visões estratégicas e incompetências tupiniquim

Bush defende ampliação do consumo de álcool para reduzir dependência da gasolina; confira o memorando

Da crise de energia do início do século a crise de energia do etanol.

Em fins de 2006, lendo um artigo no NYT, que abordava a futura visita do Presidente Bush Jr. para o Brasil (março de 2007), o texto entre outras abordagens apresentava dados sobre a produção de etanol dos EUA comparando com a produção do etanol no Brasil, e os números diziam que os gringos produziam 50% a mais etanol que o Brasil.

Como orgulhoso brasileiro, ri, ri e sorri sarcasticamente dos dados do NYT, usando a percepção imediata do nível “intuitivo 1″, como diz o Nobel Laureado em economia comportamental, Daniel Kahneman, pois sabia que o etanol da cana é entre 6 a 8 vezes mais eficiente que o etanol do milho.

Porém o incômodo do subconsciente continuou, fui pesquisar para escrever artigo-comentário, rebatendo o NYT, mas descobri que os dados estavam certo. Questionei-me: Mas como pode isso? É uma absurdo!

Em minha percepção orgulhosa, não foi levado em conta as outras questões fundamentais, de “Nível 2″, que os americanos tem expertise de sobra, visão política e estratégica de nação, capacidade de planejamento de longo prazo, infraestrutura adequada para a produção escalável atingir os objetivos definidos na política e na estratégia definidos pela sociedade americana.   

Era absurdo em 2006 comparando-se somente pelo potencial entre cana e milho, mas o “absurdo” piorou, aumentou drasticamente hoje, o gráfico mostra que a produção do etanol americano está quase três vezes maior que a produção da cana do Brasil (ver gráfico abaixo, do artigo do Blog Infopetro: O carro do futuro I: alternativas e desafios). 

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Em debate nos últimos anos, já ouvi por diversas vezes, que o motivo é o subsidio do governo americano ao etanol do milho, as vezes que me foi dado oportunidade, rebate veementemente, e disse que precisamos assumir as nossas incompetências tupiniquim, seja governo, instituições de classes do setor sucroalcooleiro e sociedade. O número do subsidio é apenas um numero para fechar uma conta dos objetivos definidos por eles, apenas uma cereja no bolo definidos na política estratégica do país.

As nossas incompetências, não tem nada a ver com relação ao subsidio americano (não na relação direta), e sim com relação as nossas mazelas, incompetências e incapacidades de ter uma visão política e estratégica da nação, seja governo, setor sucroalcooleiro e sociedade. Incapacidade de planejamento e incapacidade de prover infraestrutura escalável adequada, seja para o setor sucroalcooleiro e os outros setores.

Quando em 2011 se anunciou que o Brasil iria importar maios de 1 bilhão de etanol dos EUA, foi surpresa geral, mas não foi novidade para mim, assim como não foi novidade ver as autoridades (pseuso?), do governo, do setor sucroalcooleiro e das instituições ligadas as universidades colocar o rabo entre as pernas, ou se fingirem de mortos. Faz parte do jogo de cena patrimonialista tupuniquim.

E la nave va.

Redação

11 Comentários

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  1. Existem muitas outras

    Existem muitas outras questões envolvendo a produção de etanol no Brasil além do que foi abordado no post. Em especial, gostaria de ver uma análise mais aprofundada do que ocorreu no país quando usineiros deixaram de honrar suas dívidas junto a instituições oficiais que alavancaram nossa produção e provocaram uma saída do governo do financiamento do setor. A questao do subs’idio ‘e apenas um ponto no emaranhado de situacoes que levaram nossa proucao de etanol a estagnar. H’a questoes de precos de produtos complementares  e falta de confiabilidade dos agentes para termos uma armazenagem capaz de aguentar a entresafra. Enfim, o caso n~ao ‘e t~ao simples como parece.

  2. Não é bem assim

    Primeiro, é claro que os eua fazem etanol do milho porque é estratégico para eles e eles subsidiam tudo para este etanol vir a tona; segundo, lá no final do governo Lula a industria alcool-açucareira do nosso país deu um tombo no consumidor, e porque o preço do açucar estava vantajoso transferiu toda a produção, ou quase toda, para o açucar. O alcool sumiu, os compradores de carro a alcool se estreparam e o carro a alcool perdeu todo o prestígio. O único “economista’ que se dipoz a falar foi um tal de LULA, ele mesmo, Lula, esclarecendo aos produtores que aquilo era um tiro no pé e não garantindo o fornecimento a consumidores, inclusive internacionais, não conseguiriam mercados firmes, e foi o que aconteceu e o alcool entrou em crise; terceiro, a industria do alcool já deu vários tombos no governo que até gastou em infrestrutura para produtores que depois deixaram o governo segurando a brocha porque inexplicavelmente, baseados no fato de que eles querem lucro imediato, e por alguma razão isto não acontecia, interromperam todo os investimentos no setor. Até hoje.

    Então tira o governo desta crítica. Especialista adora falar de qualquer setor puxando o saco dos produtores e pondo a culpa no governo. Favorece a futura pressão sobre o governo e fica de bem com os produtores. No setor elétrico os “tecnicos” fazem o mesmo, atacando o governo É fácil, dá ibope no pig.. São irresponsáveis.

    1. Nada a ver. A esataegia

      Nada a ver. A esataegia politica do alcool combustivel nasceu no GOVERNO MILIAR com o Programa Pro-Alccol e foi sempre uma POLITICA GOVERNAMENTAL, assim como é politica governamental o ETANOL DE MILHO nos EUA, todo subsidiado e com preços garantidos. O Governo brasileiro se OMITIU completamente, POLITICA DE ENERGIA É DE GOVERNO, não é particular, de empresas. O programa de gás de xisto nos EUA é uma politica de governo, desenhada no Departamento de Energia.

      O Governo Lula foi omisso, deveria intervir pesadamente, POLITICA DE ENERGIA NO MUNDO INTEIRO É DE GOVERNO, não é de empresas. Para isso precisa ter cerebros, moral, visão do problema. O Governo Geisel INVENTOU o Pro-Alccol, do nada, a partir de cerebros do novel do Ministro João Camilo Penna e do Secretario  Bautista Vidal, gente de altissimo nivel.

      O Governo Bush fez amplas propostas ao Brasil para INTEGRAR UM VASTO PROGRAMA DE ETANOL, com exportação pelo Brasil, beneficamento no Caribe (algumas plantas foram montadas na Jamaica nessa época) e exportação para a Florida, Estado mais adiantado na legislação de aditivação de etanol na gasolina, a base de 13%, o que abriria um enorme mercado para o Brasil. O Governador da Florida, Jeb Bush, irmão do Presidente, implantou a Junta Interamericana de Etanol

      , o Ministro da Agricultura foi convidado e aceitou fazer parte da Junta, que era presidida por Brian Dean e integrada entre outros por Wiliam Perry, ambos meus particulares amigos.

       O programa não foi para a frente por absoluta falta de interesse do Brasil.

      Hoje perdemos o controle do PROJETO ETANOL nos EUA, chegamos ao cumulo de importar etanol de milho dos EUA.

      Jogasmos fora um projeto pioneiro mundialmente por inercia, falta de estrategia, demagogia do preço baixo da gasolina.

    2. Não é bem assim?

      Os produtores não agem livremente como pode se supor pela sua consideração. O governo tem sim a potência de interferêrencia, regulação e relativo controle sobre o setor produtivo vinculado ao etanol. Cabe questionar o abandono desse projeto por parte do governo que, aliás, foi fundamental no incentivo ao início da produção do etanol no Brasil. Além disso, na minha leitura do texto, a falta de visão de futuro e de um projeto de Nação, pode ser entendida tanto por parte do governo como por parte da iniciativa privada e, sobretudo, pela falta de coordenação entre os dois setores num projeto econômico que demandaria esforço (não realizado) para continuidade, sustentação e consolidação no longo prazo. Em nosso país nunca houve o desenvolvimento de uma mentalidade para investimentos de longo prazo. Nos EUA, ao contrário, isso se encontra nas entranhas da cultura econômica e, contrariando as tendências atuais do mercado mundial, ainda resiste nos setores estratégicos, em particular, o energético. Assim, o etanol do milho é um sucesso por causa da capacidade de coordenação entre produtores e governo em pôr em prática o investimento e perseguição de metas de longo prazo.

  3. É a ignorância que atravanca o progresso

     

    Oswaldo Conti-Bosso,

    Tenho acompanhado o blog de Paul Krugman ultimamente com certa frequência. No mês passado o New York Times disse que eu já havia esgotado o direito de visitação no mês. Paul Krugman quando quer rebater uma opinião pede que simplesmente se apresente o modelo que suporta aquela opinião.

    Não sou Paul Krugman, aliás, não sou nem mesmo economista, mas é mais ou menos assim que eu há muito tempo venho tentando negar validade há muitas críticas que são feitas mais em decorrência da capacidade de elocução de quem critica. E nesse sentido defendo pessoas que admiro e também pessoas que eu não admiro. é preciso que se faça uma crítica concreta amparada em dados objetivos e é preciso mostrar relação entre os dados e a crítica.

    Seja por, exemplo, o parágrafo que transcrevo do texto fazendo apenas modificações de natureza generalística, no caso, substituindo “ao subsídio americano” por “AO SUBSÍDIO DE OUTROS PAÍSES” e “setor sucroalcooleiro” por “SETOR PRODUTIVO” ou por “[um] SETOR QUALQUER”. Substituindo as expressões no parágrafo, ele fica assim:

    “As nossas incompetências não tem nada a ver com relação AO SUBSÍDIO DE OUTROS PAÍSES (não na relação direta), e sim com relação as nossas mazelas, incompetências e incapacidades de ter uma visão política e estratégica da nação, seja governo, SETOR PRODUTIVO e sociedade. Incapacidade de planejamento e incapacidade de prover infraestrutura em escala adequada, seja para [um] SETOR QUALQUER e [para] os outros setores”.

    A questão que eu proponha é a seguinte: “Em que lugar do mundo, dita na língua do lugar, alguém que subisse em um banquinho e dissesse a frase acima não receberia a anuência dos ouvintes cidadãos?”

    Então, para mim esta frase não tem nenhum valor. Na verdade tem, pois ela serve para eu avaliar quem a disse. É bem verdade que quem a disse pode ser um gênio brasileiro que ainda não foi dimensionado em toda a sua capacidade.

    Bem, em relação a esta possibilidade eu lembro aqui uma historia que eu gostava de contar quando tinha que criticar alguém que eu conhecia e sabia se tratar pessoa de grande inteligência. Depois do elogio eu passava para a crítica e contava a minha história utilizando uma idealização do gênio. O que é o gênio era a pergunta que eu fazia para justificar a minha história. Um gênio é um Prêmio Nobel que no dia em que foi premiado e que não sabia disso foi do serviço para a casa esquecendo no serviço a chave de casa. Enquanto isso, o filho assistia em casa o programa favorito que passava na televisão quando foi interrompido pela informação de que o pai ganhara o Prêmio Nobel em uma dessas Ciências quaisquer. A interrupção causou-lhe imenso contragosto. E mais desgostoso ainda ele foi abrir a porta após o alarme da campainha ter sido insistentemente tocado. Ao abrir a porta e vendo ser o seu pai a razão da interrupção, o filho pensa consigo mesmo: “o que a humanidade vê neste idiota”?

    Enfim o autor da frase pode até ser um gênio, mas efetivamente ele não é um gênio no conteúdo deste parágrafo que ele redigiu. Aliás, não dá para avaliar bem a capacidade de quem redigiu este parágrafo pelo conteúdo, pois o parágrafo não tem conteúdo.

    Agora em relação a todo o texto o que fica evidente é que o autor dele desconhece que o déficit público americano é quase do tamanho do PIB brasileiro. Enfim, não dá para comparar.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 11/11/2013

  4. Alcool, preço baixo?

    É a ladainha de sempre, os empresários do setor sucroalcooleiro quando tem lucro compram terra, não investem na tecnologia. Também entraram numa disputa fratricida para ganhar o arrendamento da terra, deixando os proprietários de terra exageradamente abastados em termos monetários. Agora reclamam da política do governo de segurar o preço da gasolina. Querem aumento do preço do álcool, e isso acontece desde a década de 70 do século passado. Como em todo ramo produtivo existem os bons, médios e maus empresários. Aqueles que estão estabilizados e os que começaram agora seu negocio, estes últimos precisam de ajuda financeira.

    “O diretor comercial de açúcar e etanol do Itaú BBA, Alexandre Figliolino, divide o setor sucroalcooleiro em quatro grupos bem definidos. No total, aproximadamente um terço do setor passa por dificuldades expressivas. Grandes grupos (majoritariamente internacionais) com pleno acesso ao capital representam 36% do setor; grupos nacionais com excelente performance e endividamento adequado (tendo em vista o retorno esperado) representam 29%; grupos em recuperação com elevada alavancagem (relação entre rentabilidade e endividamento) somam 16%, enquanto 18% dos grupos não têm mais condições de recuperação, tendo necessidade de passar por processo de fusão ou aquisição. “É um grupo muito heterogêneo”, diz Figliolino.”

    “De acordo com o diretor do Itaú BBA, o terceiro grupo, com elevada alavancagem, é que merece mais atenção, estando numa espécie de “limbo”. Os próximos dois anos serão cruciais para determinar se conseguirão diminuir a alavancagem ou se sucumbirão, passando a também necessitar de processo de fusão.” Veja aqui

  5. Este é só um exemplo da falta

    Este é só um exemplo da falta de planejamento que sempre caracterizou os brasileiros.

    O governo PSDB entrará para a história como arrumador da casa após o porre de desperdício pós-ditadura militar; o PT, que pegou a casa em ordem, como construidor de grandes políticas sociais, principalmente as eleitoreiras.

    Mas em matéria de planejamento de longo prazo, de políticas de estado, ambos deixarão um borrão na história.  A ppolítica agrícola então é vergonhosa pela falta de planejamento. O governo tem a usado como fomento da indústria do setor, hoje arrebentando de recordes, às custas de endividamento dos agricultores. A laranja e , mais recentemente o café, vivem hoje os graves sintomas deste abuso de ignorância de gestão de política agrícola.

  6. Reativação da Indústria do Etanol / Alcool

    Só se fala em etanol hoje, graças ao governo Lula, pois no governo FHC ( até 2002 ) a produção de carro a álcoll era prtaicamente ZERO. Este governo ( Lula / Dilma ) pode ter os seus erros, mas é o único nos últimos 20 anos que colocou uma política de reativação e expansão/continuidade desta indústria! Não fosse o Lula, a prodçaõ de etanol no Brasil seria irrelevante! Ou este blog é Tucano ou tem memória curtíssima e sendo assim, em qualquer dos caso, não merece crédito!! E os erros da própria indústria do álcool e dos usineiros, não se comenta? E os boicotes dos usineiros pra aumentar o preço do álcool, nada se fala? E o desvio de produção dos usineiros do álcool para o açúcar ( com preço melhor ), se esquece? A política do álcool sempre deve ter respaldo do governo ( no governo Lula teve – Lula reativou o próalcool ) mas também tem que ter racionalidade e bom senso dos diregentes/associações desta indústria ( neste particular deixa a desejar e, a meu ver, cai no descrédito )    – Viva o Brasil, o Lula e a Dilma!

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