Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
[email protected]

Eleitores da Frente Ampla podem decidir eleição chilena, por Maíra Vasconcelos

Eleitores da Frente Ampla podem decidir eleição chilena

por Maíra Vasconcelos

Especial para Jornal GGN

A decisão de apoio mais esperada das eleições chilenas para o segundo turno, no dia 17 de dezembro, ficou nas mãos da coalizão de esquerda, Frente Ampla (FA). Destaque inesperado do primeiro turno, com 20,27% dos votos para a candidata Beatriz Sánchez, a coalizão, tida como vencedora do primeiro turno, saiu de uma base de três deputados para 20 parlamentares na Câmara, e somam agora uma bancada maior que a da tradicional Democracia Cristã (DC). Em março de 2018 assume o presidente e o novo parlamento chileno.

Ainda que oficialmente não se tenha a decisão da Frente, esperada para amanhã, nas ruas de Santiago já é possível ver a campanha daqueles que compõem a fórmula de esquerda e pedem apoio ao atual governo. Em cartazes, pedem que seus eleitores votem a Alejandro Guillier, Nova Maioria, candidato de Michelle Bachelet, que enfrenta o direitista Sebastián Piñera, de Chile Vamos. “Para vencer amanhã será com Bea (apelido de Beatriz)… mas hoje é Guillier”.

A discussão política hoje no Chile gira em torno do que fará o eleitorado de esquerda, da Frente Ampla, se votará a Guillier ou não. Aqueles que costumam ser caracterizados como mais ideologizados, resistiriam a votar a Guillier para que não ganhe Piñera. Em algumas conversas informais em Santiago, com eleitores de Sánchez, me deparei com ambas declarações, tanto daqueles que votarão para que não ganhe Piñera, o chamado voto útil, como também aqueles que dizem de forma alguma servir a nenhum dos dois candidatos.

A centro-esquerda passa por um momento de descrédito no Chile. A votação de Guillier no primeiro turno, com 22%, foi a pior da história da Concertación, antiga coalizão dos partidos de centro-esquerda e esquerda, formada pós-ditadura do general Pinochet e que governou o país por 20 anos, até o primeiro governo de direita, de Piñera, em 2010. Em 2013, a Concertación já estava dividida, não integraria a Democracia Cristã (DC), um partido de centro, e somaria também o Partido Comunista do Chile (PC). A Concertación assim passou a ser Nova Maioria, quando elegeu Bachelet para este segundo mandato, em 2013.

A DC ficou em quinto lugar no primeiro turno das eleições. A candidata Carolina Goic somou 5,88% dos votos, atrás de José Antonio Kast, de extrema direita e pinochetista, que fez excelente marca, com 7,9%. Os resultados podem deixar os democratas-cristãos muito enfraquecidos na política nacional, avalia-se, devido à perda de cadeiras na Câmara. Elegeram 14 deputados para o próximo mandato e contam com 22 deputados, neste período.

O partido discute internamente se foi um erro sair com candidatura própria, e se questiona ainda a pressa com que declararam apoio a Guilier, logo após os resultados do primeiro turno, atitude que para alguns membros da Democracia Cristã foi algo desleal com a candidatura de Goic. Além do mais, se considera que os democratas-cristãos ainda não sabem qual espaço podem chegar a ter em um eventual governo de Guillier e, ainda, qual decisão irão tomar frente a uma parceria ou não durante o mandato.

Vozes da Frente Ampla

Eleito deputado nestas eleições, Tomás Hirsch, líder do Partido Humanista (PH), um dos seis partidos que compõem a Frente Ampla, nega que a coalizão vislumbre espaço num possível governo de Alejandro Guillier. Historicamente, o PH faz campanha ao voto nulo no segundo turno das eleições presidenciais.

“Não vejo ninguém dentro da Frente Ampla pensando em formar parte do governo. Temos perspectivas muito diferentes da Nova Maioria, sobre o que é necessário fazer no Chile”, afirmou Hirsch. No entanto, pergunta-se quais seriam as possibilidades de a coalizão agir de forma coordenada e única, dada a quantidade de partidos e suas naturais divergências.   

Logo após o resultado do primeiro turno das eleições, Guillier decidiu quem irá compor a nova equipe, entre os diferentes partidos que formam a coalizão Nova Maioria, para sua campanha neste segundo turno. Enquanto o Partido Socialista (PS) terá um papel central, o Partido Comunista (PC) protestou por ter sofrido o que chamou de “marginalização” dentro do quadro de líderes.

Assim, Guillier terminou por chamar a deputada do PC, Camila Vallejo, que foi líder de movimentos estudantis, e surgiu como destaque no cenário da política nacional, após as marchas de 2011, pela educação pública, durante o governo de Piñera. Vallejo é parte da nova geração de jovens que atuam com destaque na política chilena e se consolidaram a partir dos protestos pela educação. Outros ex-líderes estudantis estão na Frente Ampla.

Assine

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. eleitores….

    De forma livre, facultativa, soberana com abstenção de mais de 40%, em cédulas de papel, em urnas de madeira com visor de vidro transparente, a um custo irrisório, sem Fundo Partidário bilionário, sem horário em TV obrigatório, ditatorial, com custos milionários, sem TRE’s e TSE’s nabaescos, sem Urnas Eletrônicas ao custo de 550 milhões de reais?! E com aquele padrão de segurança, limpeza, bem estar, educação europeu? Pobre Chile, tem muito o que aprender com o Brasil. Como gastar 70 milhões de dólares fazendo Biometria obrigatoria e ditatorial por exemplo. 

    1. Não há siso na comparação de alho com bugalho

       

      Ze Sergio (quarta-feira, 29/11/2017 às 16:31),

      O Brasil e Chile são países que não se ajustam bem a uma comparação. A diferença entre população, área e renda é muito grande para fazer sentido comparação semelhante.

      Além disso, o Chile é um país com um nível de instrução bem melhor do que o Brasil. Para chegarmos ao nível deles vamos demorar muito tempo se fizermos um esforço concentrado para atingir tal meta. E com certeza um esforço assim para atingir meta como essa na educação vai precisar do sacrifício de quem no Brasil nunca foi dado ao sacrifício para a melhora da situação de outrem.

      Uma comparação mais razoável seria de Minas Gerais com o Chile. População, área e PIB semelhantes são pelo menos três dados relevantes para se fazer comparação. No nível de instrução talvez nós venhamos a encontrar os motivos para as diferenças que forem aparecendo.

      De todo modo a comparação com Minas Gerais, em que serão muitas as semelhanças, vai servir para mostrar que não há razão para tanto entusiasmo para falar da diferença entre o Brasil e o Chile.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 29/11/2017

  2. Você é capaz de mais bem tratar assunto a merecer melhor relato

     

    Maíra Vasconcelos,

    Com o perdão da crítica, mas você é capaz de fazer algo melhor.

    Já apurado cerca de 99,9% dos votos, o ex-presidente de centro-direita Sebastián Piñera, 67 anos foi o primeiro colocado com 36,6%. O jornalista de centro-esquerda Alejandro Guillier, 64, que já pertenceu a partidos que integraram a aliança governista Nova Maioria foi o segundo com 22,7%. A terceira foi a candidata da recém formada coalizão esquerdista Frente Ampla, Beatriz Sánchez, 46, com cerca de 20,3% dos votos. As pesquisas lhe davam ao redor de 12% dos votos, mas ela acabou tendo 20,3%,

    A candidatura da ultra-direita, encabeçada por José Antonio Kast, foi a quarta colocada com 7,9%. O quinto colocado, concorrendo pelo partido Democracia Cristã, que integrava a Nova Maioria foi Carolina Goic, que obteve 5,8%. E o sexto colocado com 5,7% dos votos foi Marco Enriquez-Ominami, candidato da centro-esquerda. Houve ainda a candidatura de Eduardo Artés candidato pela União Patriótica com cerca de 0,51% dos votos e que ficou em 7º lugar e a de Alejandro Navarro Brain, concorrendo pelo partido País que ficou em oitavo lugar com 0,36% dos votos.

    Como o voto é facultativo foi diminuto os votos nulos e brancos. O percentual de votos nulos foi de 0,98% e dos votos brancos foi de 0,59%. Do total eleitoral de 13 573 088 eleitores foram obtidos um total de 6 594 022 votos válidos e emitidos 6 699 627 votos representando 49,36% d0 eleitorado.

    Espero que uma próxima reportagem seja mais completa.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 29/11/2017

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador