do Observatório de Geopolítica
Maradona, maior
por Felipe Bueno
Numa pesquisa feita em dezembro passado, no auge das comemorações pela vitória da Argentina na Copa do Mundo de 2022, o nome de Lionel Messi aparecia como favorito do eleitorado para ser o novo presidente da República.
Na comparação daquele momento com Javier Milei e Cristina Kirchner, o camisa 10 tinha 37% das intenções de voto, e os principais adversários propostos pelo instituto responsável pela pesquisa ficaram, respectivamente, com 12% e 11%.
Messi, como bem sabemos, não foi candidato.
E os resultados do pleito de 22 de outubro levam a um segundo turno entre o ministro da Economia do atual governo e um extravagante pseudo-niilista político.
Nada que surpreenda o mundo em geral e o Brasil em particular. Quando tivemos a nossa oportunidade, que fique a lição, fomos derrotados pelo “não-político” e jogamos quatro anos no lixo.
Porém, à parte as análises políticas e econômicas que proliferam sobre o pleito argentino, meu objetivo é outro, motivado pela foto de uma parede nos arredores do estádio do Boca Juniors, em Buenos Aires, onde se lê La Boca sabe que Dieguito votaria a Sergio Massa presidente. Siempre Pelusa, nunca Peluca.
Gordo ou magro, sóbrio ou em estado alterado de consciência, em campo ou em alguma casa de repouso, Diego Armando Maradona sempre se posicionou politicamente.
Por isso mesmo, passou boa parte da vida sendo usado por oportunistas e aproveitadores, e cometeu muitos erros. Mas sempre teve um lado. Nunca pecou por omissão e foi, é e será um farol para boa parte da população, que seguirá o idolatrando em retribuição ao que “D10s”, falecido em 2020, ofereceu a ela.
Não ganhou sete bolas de ouro, nunca foi unanimidade planetária, nunca foi bom moço nem marido e pai ideal.
Ao contrário, entrou para a história como um dos gênios autodestrutivos que, de tempos em tempos, assombram a humanidade.
De volta a 2023, em tempos instáveis e tendendo ao extremismo, talvez seja a hora de Lionel, no mínimo, se pronunciar não por um candidato, mas ao menos pela manutenção da Argentina nas linhas da civilização.
Porque sabemos que, para além disso, há apenas a barbárie, e nessas eleições ela tem nome, sobrenome e corte de cabelo.
Messi, reconhecidamente em glorioso fim de carreira, deve pensar no futuro da família em terras austrais, e não passa pela cabeça de ninguém que ele defenda, por exemplo, o armamento da população para autodefesa, ele que recentemente soube do que a violência é capaz em sua Rosário natal, num atentado a bala contra o supermercado da família Roccuzzo.
Talvez seja hora de ser grande também em outro campo, como foram Maradona, Sócrates, Cantona, Caszely, Thuram e tantos outros. Talvez.
Felipe Bueno é jornalista desde 1995 com experiência em rádio, TV, jornal, agência de notícias, digital e podcast. Tem graduação em Jornalismo e História, com especializações em Política Contemporânea, Ética na Administração Pública, Introdução ao Orçamento Público, LAI, Marketing Digital, Relações Internacionais e História da Arte.
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