O Golpe na Bolívia e o sono de nossa atitude, por Júlio Fisherman

E segue na Bolívia o desenrolar de um estado de exceção de evidente composição fascista. O insubmisso povo ameríndio boliviano segue, no entanto, resistindo a este processo

O Golpe na Bolívia e o sono de nossa atitude

Por Júlio Fisherman

E segue na Bolívia o desenrolar de um estado de exceção de evidente composição fascista. Buscando se passar por um governo de transição, que logo mais irá realizar novo processo eleitoral, a junta de facto está produzindo um expurgo político que muitos vendiam como algo que não encontraria mais espaço na história.

Dezenas de lideranças do Movimento ao Socialismo (MAS), partido do índio Evo Morales, têm sido perseguidas e aprisionadas de modo brutal e espetaculoso. Trata-se de um verdadeiro show de horrores. Buscam limpar o terreno para realizar um pleito viciado e manipulado até a medula, realizando de modo ainda mais torpe a tática canalha que no Brasil retirou Lula da disputa presidencial de 2018.

O insubmisso povo ameríndio boliviano segue, no entanto, resistindo a este processo com a disposição dos livres que ousam pagar com a própria morte a afirmação de sua liberdade. A mídia ocidental, para ir além da brasileira de quem não se poderia esperar nada dado seu cinismo descarado de sempre, vem tratando os diversos massacres com descaso, além de não nomear as coisas pelo nome.

O Golpe de coturnos já lançou uma sombra nefasta em toda a América Latina. Aí estão os projetos de lei de Piñera e Bolsonaro que, inspirados pelo que já se passa na Bolívia, dão carta branca ao fuzilamento de civis em manifestações. Os militares passam a sequer ter que se preocupar com questões legais quanto ao tratamento que já são incentivados a dispensar ao próprio povo. O terrorismo eleitoral do exército na reta final da eleição no Uruguai também é evidência.

No Brasil, o campo progressista segue numa postura defensiva/passiva e praticamente se limita a exortações para construção de uma aliança com uma suposta fauna de liberais esclarecidos que aqui não existe. Como se viu, esta turma “do meio” se associou sem rubor ao capitão da matilha do ódio para realizar o desmonte das políticas sociais e se possível sepultar de uma vez por todas qualquer projeto de nação em que a solidariedade seja o eixo.

Via de regra, os absurdos vão se tornando normalidade e todo o processo que aqui vivenciamos tem sido tratado, por tantos, como um sonho mau, um pesadelo que logo mais irá passar. Acontece que ao amanhecer podemos nos dar conta de que o sono de nossa atitude implicada produziu monstros.

Redação

2 Comentários

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  1. Estudei a história da Bolívia para um trabalho de faculdade. Nessa atividade descobri algo que é pouco conhecido no Brasil, acostumado a menosprezar os latino-americanos em geral e os bolivianos em particular: é um povo com uma história riquíssima, um povo guerreiro e lutador que sempre foi massacrado pela sua tal “elite”. Um povo que, não fosse por essa “elite” canalha teria criado uma sociedade maravilho num país riquíssimo.
    Essa tal “elite” merece um comentário particular: ela, na verdade, como em toda a América Latina, não passa de “kapo” do Império. A “elite” sul-americana faria inveja a qualquer chefe SS. Não deve nada a Amon Goeth.

  2. “Estado de exceção”? A Bolívia está submetida a uma violenta ditadura policial-militar concretizada sob a coordenação da embaixada dos EUA no país, subornando seus executores com milhões de dólares e asilo político.

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