Estado Islâmico, Abin e Estadão, uma combinação indigesta

Por Rogério Maestri

Nos últimos dias os brasileiros em geral foram acordados com uma notícia surpreendente, a necessidade apregoada por artigo no Jornal Estado de São Paulo da necessidade de prepararmos uma lei antiterrorismo devido a informações da Agência Brasileira de Inteligência que o Estado Islâmico procurava recrutar brasileiros para seus quadros.

Na direção de alguns órgãos de imprensa norte-americanos e europeus o fantasma do Estado Islâmico entrou em nossos lares, e pior o fantasma do recrutamento de jovens brasileiros para promoveram ações durante a Olimpíada no Rio de Janeiro.

Talvez as pessoas não estejam bem informadas, mas o recrutamento de jovens europeus para o Estado Islâmico é resultado de situações que passam ao longe da realidade brasileira, vejamos o porquê.

Tanto na França como na Inglaterra o recrutamento destes jovens é baseado principalmente na comunidade dos descendentes dos emigrados das ex-colônias. No caso da França os descendentes dos chamados Magrebinos, pessoas originárias do Magrebe região no norte da África que vai da Mauritânia até a Líbia, de uma forma e outra com maior ou menor intensidade foram colonizados pelos franceses e posteriormente para suprir a carência de mão de obra durante o século passado emigraram para a França. No caso Inglês este recrutamento é feito também em ex-colônias inglesas, como o Paquistão e outras.

A posição de ex-colônia e de emigração relativamente recente, duas ou três gerações, induz a ressentimentos tanto do lado do colonizado como do colonizador, e estes ressentimentos aforam exatamente nas gerações mais recentes principalmente pela falta de identificação com a cultura de países de forte identidade cultural como França e Inglaterra. Agravando este não sentimento de pertencimento a culturas mais sofisticadas há também a posição social que ocupam a maioria dos descendentes dos emigrantes em sociedades mais exigentes de padrões de conhecimento e cultura, ou seja, mesmo com uma educação pública razoável os filhos e netos de emigrantes não possuem o mesmo grau de cultura informal que os descendentes de famílias nativas de longa data ou mesmo de filhos de emigrantes de outros países europeus (italianos, portugueses, espanhóis e outros).

Esta barreira cultural, que cinicamente os intelectuais europeus na sua maioria avaliam como possível de transpor através da educação pública, impede que haja uma velocidade de ascensão social que se vê em comunidades de emigrantes europeus. Exemplo disto se vê que tanto Sarkozy como Manuel Valls, o primeiro filho de emigrantes húngaros e o segundo nascido na Espanha e naturalizado francês, conseguiram atingir os postos máximos na administração francesa (primeiro ministro e presidente da república).

As posições de um filho de emigrante europeu ou um francês naturalizado não causam espanto ao francês médio, em contraposição a isto um livro provocador de Michel Houellebecq (Soumission) que desenha um cenário para 2022 da eleição de um presidente muçulmano causa frisson e indignação de grande parte da população francesa, ou seja, a componente de rejeição ao descendente do emigrado magrebino é bem mais viva que aparência mostra. A resistência inglesa também é equivalente, porém a comunidade de emigrados é mais heterogenia que a francesa, logo não é tão claro o alvo da repulsa aos filhos de emigrantes.

A partir deste relato, que poderia ser estendido a outros países europeus, nota-se que a resposta aos convocados pelo Estado Islâmico não é motivada somente pela chamada, mas sim pelas diferenças internas que existe nos países europeus.

Nos Estados Unidos o problema é outro, com o constante apoio a Israel, com a intervenção brutal em países muçulmanos e, por mais paradoxal que seja, com o apoio dos Estados Unidos aos países que originam o movimento do Estado Islâmico, como a Arábia Saudita, trás para dentro do país as divisões internas e religiosas que há nos países do golfo e a ira dos muçulmanos.

Agora voltando ao Brasil, nunca colonizamos nada, nunca invadimos nenhum país, a comunidade muçulmana é dispersa e não guetizada como a europeia, os muçulmanos que vieram e vêm para o Brasil tem as mesmas dificuldades e facilidades dos outros grupos de emigrantes e até a poucos anos o povo brasileiro não tinha a mínima noção do que era o Oriente Médio, tanto que todos que vinham de lá eram chamados de Turcos!

As condições de aliciamento de brasileiros ao Estado Islâmico é a mesma que a dos brasileiros que foram servir ao exército norte-americano, ou seja, mais por oportunidades abertas do que portas fechadas leva que a institucionalização deste aliciamento e o volume do mesmo não sejam a tal ponto que necessite uma legislação de exceção para o combate ao terror.

Com isto tudo, parece claro que a formação de homens bombas para agir durante a Olimpíada, não motive a mudanças legais no Brasil, mas sim ao maior controle das fronteiras do país, pois se algo houver do tipo atentados é mais fácil procurar em estrangeiros que cheguem com o objetivo específico de perturbar a ordem e trazer a preocupação de fora do que nativos brasileiros saídos de grupos sociais que não existem.

Se a Agência Brasileira de Inteligência for realmente inteligente, ela detectará que o caminho não é este, porém se ela for inteligente e insistir na hipótese junto a grande imprensa é de se desconfiar quais são os verdadeiros motivos para a criação de legislação de exceção.

Redação

9 Comentários

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  1. Acredito que esse pessoal de

    Acredito que esse pessoal de inteligência deve ter em política posicionamentos semelhantes a Polícia Federal e as Polícias em geral. 

    Logo, é de se desconfiar…

  2. Se a Agência Brasileira de

    Se a Agência Brasileira de Inteligência for realmente inteligente, ela detectará que o caminho não é este, porém se ela for inteligente e insistir na hipótese junto a grande imprensa é de se desconfiar quais são os verdadeiros motivos para a criação de legislação de exceção.

    Well.. se o autor for “inteligente” pensaria: ora, é o Estadão.

    1. O Estadão sozinho?

      Seria muito óbvio, pois qual o interesse do Estadão por si só em criar uma legislação de exceção?

      Para mim é o princípio da cunha, com o pretexto de combater um Estado Islâmico que assusta senhoras e criancinhas no Brasil, introduziremos uma legislação de exceção com duras penas aos “terroristas” que terão uma definição ampla e vaga na possibilidade de futuramente empregar esta legislação contra toda e qualquer oposição.

      Quem viver, verá!

      1. Já se vê

           Existe nos orgãos conservadores, e não é de hoje, vem desde 2001, proposições, influências internas e externas, que levem o Brasil a estabelecer  uma “Legislação Anti-Terrorismo ” abrangente, pode-se ver claramente que virou – mexeu, aparece alguem, ou algum orgão a propor tal legislação, tanto que quando das manifestações de 2014, pulularam não apenas na midia conservadora, mas em seus arautos do legislativo, executivo e judiciario – incluindo alguns petistas -, projetos desta ordem.

             P.S.: Quanto ao “terrorismo islamico” ou “recrutamento para o ISIS ” , no hemisfério ocidental ( Américas & Caribe), o unico grupo a ser considerado, é o “Islamic Front ” ou “Jamaat – Al – Muslimeen ” , comandado, quem sabe ainda, por Omar Abdullah ( desaparecido ), que opera ( teoricamente ) a partir de Trinidad – Tobago, com ramificações possiveis nas Guianas, Florida, Canadá e Inglaterra ( onde ainda associado a movimentos islamicos radicais, de base inglesa, sobrevive ), que desde 2005 foi fortemente controlado pelos orgãos de segurança, sendo hj. praticamente inexistente, enquanto uma organização.

              Comunidade islamico brasileira e “triplice fronteira”: É até sacanagem considerar as comunidades sunitas ou xiitas brasileiras, como possiveis aderentes ao ISIS, as mais representativas ( São Paulo, São Bernardo, interior de São Paulo, MS, PR, RS , PE, BA ), já estão aqui há tantos anos e completamente integradas a nosso modo de vida, incluindo-se os xiitas chatinhos do Brás/Belem/Bresser, e os islamicos mais recem – chegados, em sua maioria nigerianos e de algumas regiões da Africa Ocidental, vieram para cá para fugir de suas guerras internas, não irão sair daqui, para entrar em outra – é lógico.

              Já a “encheção de saco “, dos orgãos de segurança americanos ( FBI e CIA ), que desde antes do 09/11/01, nos aporrinham ( Brasil, Paraguai e Argentina ), referente aos islamicos da “triplice fronteira”, quanto ao envio de dinheiro desta area, para “movimentos terroristas arabes ” ( de acordo com a visão americana ), já é uma “pagina virada” – todos estados limitrofes + orgãos de segurança externos a região, vigiam, mas não dá para impedir que uma familia envie dinheiro por vias legais, a seus parentes no Libano, Siria ou Jordania, já a outra “exportação islamica” da triplice fronteira, para os paises arabes – homens e mulheres jovens para efeito de casamento – caiu bastante nos ultimos anos, o inverso esta ocorrendo mais.

             P.S. 2 : ” O que faz a promulgação de uma lei abrangente contra – terrorismo ? ” : 1. Seu país torna-se um alvo; 2. É um germe de um futuro “estado policial” ; 3. Pode criminalizar movimentos legitimos da sociedade civil; 4. Nenhuma legislação derivada do medo é utili a democracia, a enfraquece.

  3. Dizem que, se a Dilma for

    Dizem que, se a Dilma for impichada e o Temer não assumir, assume o Eduardo Cunha que rápidamente instaurará o Estado Cristão Independente, que será conhecido internacionalmente como CRISIS…

  4. Que texto mais mal escrito.

    Que texto mais mal escrito. Em alguns trechos fica difícil entender devido à profusão de erros de pontuação. Que tal uma revisão antes de publicar?

     

  5. No Brasil, vão sofrer concorrência do tráfico.

    No Brasil não tem massa crítica para o ISIS, eles vão sofrer muita concorrência com o tráfico de drogas, que paga muito bem aos jovens.  Essa é na verdade uma pauta paga, introduzida por agente externo para causar instabilidade e medo, é a velha e ridícula teoria do controle. O Jornal O Estado de São Paulo é como o resto da mídia-empresa brasileira, se presta a interesses escusos.  O ISIS tem grande potencial para gerar leis de exceção, além de se prestar de álibi para a futura invasão do Petróleo, digo, dos estados do oriente médio. A matéria envolve a ABIN, pois o Jornal aprendeu, com a Lava Jato, que se ligar os holofotes da mídia os agentes e juízes vêm correndo, a serviço de sua pauta, como mariposas no cio.

  6. num país que só tem notícias

    num país que só tem notícias das corrupções depois que já roubaram bilhões, isso ainda quanto tem, só se pode falar de servilço   ¨ bundacreto ¨  , jamais de secreto

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