A morte do iluminador Peter Gasper, parceiro de Niemeyer

Sugerido por alfeu

Do blog de Edson Sombra

Obituário: Peter Gasper, iluminador

O velório de Peter Gasper será realizado a partir das 15h de hoje na Capela II do Memorial do Carmo, no Rio. A cerimônia de cremação está marcada para amanhã. Gasper deixa um filho.

Desde 1983, ele desenvolvia os projetos de luz dos monumentos de Oscar Niemeyer, como o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional, a Catedral e a Torre Digital. Alemão naturalizado brasileiro, morreu de infarto aos 73 anos.

O alemão naturalizado brasileiro Peter Gasper estava para a iluminação das obras de Oscar Niemeyer como Joaquim Cardozo para a estrutura e Athos Bulcão para a integração arte-arquitetura. Gasper iluminou muitos dos projetos do arquiteto no Brasil e, em Brasília, o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional, a Catedral Metropolitana e a Torre de TV Digital, embora os projetos não estejam sendo executados como determinou o iluminador. Ele morreu na noite de quarta-feira, aos 73 anos, no Rio de Janeiro, vítima de infarto.

“Em alguns prédios, como o Congresso Nacional, acabaram com a iluminação e estão meramente pichando os monumentos com luz. Isso é inconcebível, por conta de questões estéticas, mas, principalmente, porque isso configura um desrespeito a Oscar Niemeyer” Peter Gasper

Palácio do Planalto

A parceria com Niemeyer começou na iluminação do Sambódromo, em 1983. Desde então, Peter Gasper recuperou os contornos das obras do arquiteto. Quando esteve em Brasília, há dois anos, se decepcionou com o desmazelo com o qual a Companhia Energética de Brasília (CEB) tratava os seus projetos. Foi duro: “Em alguns prédios, como o Congresso Nacional, acabaram com a iluminação e estão meramente pichando os monumentos com luz. Isso é inconcebível, por conta de questões estéticas, mas, principalmente, porque isso configura um desrespeito a Oscar Niemeyer”, disse Gasper à repórter Helena Mader.

Congresso Nacional

Pioneiro na arte da iluminação, ele é autor do projeto que recuperou, com a luz, o contorno do Cristo Redentor. Iluminou o histórico show de Frank Sinatra no Maracanã e as celebrações do papa João Paulo II no Aterro do Flamengo. Peter Gasper cuidou ainda da Torre Digital e também se decepcionou com o modo como o programa foi executado. Consta que ele definiu projetores de tal modo que o espectador tivesse a ilusão de que a torre brotava do espelho d’água. Mas o efeito não foi obtido porque não foram cumpridas à risca as determinações do iluminador.

Palácio da Alvorada

Oscar Niemeyer deixou recomendado em texto que somente Gasper tinha competência para desenvolver o projeto de iluminação da Torre Digital. “Não será fácil encontrar a solução adequada para sua iluminação. Somente um profissional familiarizado com essa tarefa poderá se incumbir de tal projeto. O que justifica a minha indicação do especialista Peter Gasper”, escreveu Niemeyer em texto enviado ao jornalista Silvestre Gorgulho e publicado em seu livro A flor do cerrado (página 136). 

Torre de TV Digital

Na visita que fez a Brasília em 2012, Peter Gasper lembrou que a CEB seguia corretamente as especificações do projeto, mas, com o tempo, foi desobedecendo às determinações. O modelo usado nas cúpulas do Congresso parecem, disse ele à época, “um farol de carro, com a única função de clarear”. E voltou a ser incisivo: “A CEB usa o argumento da economia. Até concordo com a necessidade de reduzir o consumo, mas sem mudar o conceito. O projeto foi aprovado pelo Niemeyer, mas acabou deturpado. Eles tratam os brasilienses como um bando de cegos sem senso crítico”. 

Fuga da guerra

Gasper tinha 11 anos quando chegou ao Brasil com a família, migrantes que buscavam escapar dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Morou em Petrópolis (RJ) e em outras várias cidades brasileiras, até se fixar em Porto Alegre e, aos 21 anos, se mudar definitivamente para o Rio. Estava decidido a fazer arquitetura e, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro ficava bem próxima à sede da hoje extinta TV Tupi, conseguiu emprego no departamento de cenografia da emissora. Só em 1983, com a primeira parceria com Niemeyer, Gasper tomaria o rumo da iluminação das obras de arquitetura, na qual era o mais reconhecido profissional.

Fonte: CONCEIÇÃO FREITAS – Correio Braziliense – 02/05/2014 – – 10:01:01

Redação

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