A oposição e sua política de “caso especial”, por Fábio de Oliveira Ribeiro

 

A insistência da oposição e da imprensa de diariamente tentar, se elevando a um ilusório pedestal ético, assaltar o poder conferido pelo povo à Dilma Rousseff na forma da CF/88 é irritante. A moralidade da imprensa (que sonega impostos, faz propaganda de políticos mafiosos e remete dinheiro para a Suíça ilegalmente) é nenhuma, a da oposição um exercício cotidiano de hipocrisia (coisa de bandido perseguido pelo MPF que pretende forjar a própria impunidade). Tudo isto está me deixando com muita raiva. Por isto hoje fui ao sebo.

O primeiro livro que me chamou a atenção foi “Ideologia e Utopia”, de Karl Mannheim, Editora Globo, Rio de Janeiro, 1956. O segundo foi “Conferências Artigos e Crônicas”, de Monteiro Lobato, editora Brasiliense, São Paulo, 1964. Os dois volumes estavam em bom estado então resolvi adquirir ambos.

Folheando a obra de Monteiro Lobato me deparei com o texto “Como os países se suicidam”, em que o autor se refere às riquezas minerais do Brasil. Diz ele:

“Temos antes de mais nada que os considerar como um depósito confiado à nossa guarda. Não somos os donos. O dono é o país. Reserva única, insubstituível, irreproduzível, que o passado nos legou e de que o futuro nos pedirá contas, fôrça é ter a seu respeito a mais sábia das políticas.”

As palavras de Monteiro Lobato encontram eco nas sábias políticas adotadas por Lula e Dilma Rousseff em relação ao Pré-sal. Urge, portanto, conservar o que nos foi confiado. Aqueles que querem entregar o que é nosso à sanha exploratória dos norte-americanos agem como se fossem donos de algo que pertence ao Brasil, algo que não é propriedade do PSDB, deste ou daquele senador tucano. O livro de Karl Mannheim folhearei um outro dia.

Lobato se notabilizou pela sua literatura infantil. Dai me veio a lembrança três coisas: minha infância, um programa de TV e uma história infantil. Começarei pela última.

Pedro e o Lobo. História conhecida, que hoje pode ser contada mais ou menos assim. Era uma vez num país distante uma oposição que ficava gritando “Impedimento, Impedimento, Impedimento”, tentando fazer a população acreditar que o Presidente era um lobo. A população corria para verificar o que estava ocorrendo e percebia que a oposição estava enganada, que ela mesma é que deveria ser impedida de continuar a dar alarmes falsos ou falsear a realidade. Esta história ainda não chegou ao fim. Se continuar gritando “Impedimento, Impedimento, Impedimento” a oposição corre o risco de ficar mais fraca do que já é ou de transformar a população num lobo que vai devorar o regime constitucional para poder devorar a própria oposição.

Os lobos evocaram em mim a imagem do cordeiro. Então, das cavernas de minha memória infantil emergiu uma história parecida com a de Pedro e o Lobo. Mas nesta o personagem principal é ingenuo e inofensivo. Não lembro o nome do teledrama. Do enredo lembro vagamente e desde logo peço perdão em caso de engano.  O protagonista meio retardado, representado pelo então jovem Rolando Boldrin, gostava de filmes de faroeste. Ele era muito querido, mas havia alguém que o odiava. O vilão fez para ele um revólver de madeira identico a um verdadeiro. Vestido de cowboy, com o revolver no coldre, o herói vai passear todo feliz. Abordado pela polícia ele pensa que tudo aquilo não passa de uma brincadeira. Ele saca o brinquedo e é morto. A oposição saca o Impedimento como se o mesmo fosse um brinquedo. O perigo de morte numa guerra civil é sempre real.

O Brasil já teve um presidente que dizia que a questão social era caso de polícia. Os dois últimos presidentes tratam a questão social como ela deve ser tratada, com carinho. A oposição, contudo, segue acreditando que a repressão policial é a única solução para a questão social. Quer reduzir a maioridade penal, aprovar a pena de morte, rebaixar o MST e os outros movimentos sociais à condição de grupos terroristas para que tudo seja solucionado como no princípio do século XX. A oposição não tem política, pois a repressão organizada, a violência estatal e a guerra – seja ela externa ou interna – são a própria negação da política (como, aliás, notou com grande tirocínio Hannah Arendt).

A não política da oposição é a política do “caso especial”. A minoria que representa uma minoria está apontando uma arma de madeira para a população brasileira. Mesmo não sendo ingenua – Aécio Neves, FHC, Caiado, Bolsonaro e seus “canetas” na imprensa estão agindo como vilões que conduzem nosso país a uma guerra civil – a oposição pode acabar como aquele personagem representado por Rolando Boldrin. É fato: nem a imprensa nem os oposicionistas tem controle do Estado e da população. A oposição deve, portanto, se conformar com a derrota eleitoral e fazer política, caso contrário a situação pode ser empurrada pelo povo a encerrar o jogo de maneira autoritária.

Memória é esquecimento. Só consegui lembrar as coisas da minha infância quando esqueci da realidade à minha volta procurando tesouros num sebo. Ao fazer o caminho de volta, da memória para o presente, fui capaz de reelaborar ambas. A oposição esqueceu que é oposição. Insiste em lembrar os bons tempos em que podia mandar e forçar todos à sujeição. Vem daí a sua tragédia e, sobretudo, sua ineficácia política e eleitoral.

Fábio de Oliveira Ribeiro

3 Comentários

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  1. Caso especial

    Ótimo texto. Não sei se a oposição levará à guerra civil. Mas que está levando o país ao caos e esmagando a “classe-que-vive-do- trabalho” (Ricardo Antunes) ao mais fundo do mais profundo poço, ah, isso está!

  2. O povo da Maré, há quase um

    O povo da Maré, há quase um ano sob intervenção de forças FEDERAIS, não vê a diferença entre o Estado opressor deste governo ou dos outros de maneira tão romanceada.

    Os índios, esquecidos por este governo defensor do agronegócio, também não vêem esse governo de maneira tão romanceada.

     

  3. Parabéns, Fabio de Oliveira

    Parabéns, Fabio de Oliveira Ribeiro, pelas sábias paalvras, em mais um texto brilhante. Concordo e vou além. Dilma Rousseff deveria se mirar no exemplo de Getulio Vargas, que não hesitou em assumir a responsabilidade pelo Poder que lhe era outorgado pelo povo e promover as mudanças necessárias para o Brasil. Lamentavelmente, a oposição há tempos exarcebou o seu papel ao adotar uma postura golpista. Não há como tolerar nesta chamada oposição a presença de fascistas e traidores da Pátria, mancomunados com os Estados Unidos para dilapidar o patrimônio nacional. Um Congresso chefiado por Eduardo Cunha e Renan Calheiros não representa o povo brasileiro e portanto não tem legitimidade para continuar operando. Coragem, Presidenta Dilma! O Brasil está ao seu lado!

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